Jorge Vital de Brito
Moreira
Depois da eleição
presidencial de 2012 nos EUA, parte da esquerda estadunidense (a que não se
deixou manipular pelo discurso demagógico do presidente Barack Obama e seus
partidários democratas), começou a expressar sua crítica não somente ao
resultado da eleição como à sua própria forma antidemocrática, monopolizada por
dois partidos. Como podemos observar, o título deste ensaio é semelhante ao slogan brasileiro “se correr o bicho
pega, se ficar o bicho come” e indica a profunda desilusão, da referida esquerda,
com o resultado eleitoral.
Nas campanhas dos
candidatos republicano e democrata de 2012 foram gastos, conjuntamente, mais de
seis bilhões de dólares: uma escandalosa quantidade de dinheiro que colocou a
eleição presidencial deste ano como a mais cara da história dos Estados Unidos.
É assombroso que
isso tenha acontecido num país afogado por uma dívida externa atual de 16,4
trilhões de dólares e pela esmagadora crise econômico social, onde dezenas de
milhões de pessoas ficaram desempregadas e outras dezenas de milhões perderam
suas residências (casas, apartamentos, condomínios) por não poderem pagar as
prestações mensais.
Os recentes dados oficiais mostram que a desigualdade econômico/social
existente nos Estados Unidos continuou ampliando-se durante o ano passado. De
acordo com os dados do Censo (United States Census Bureau), os
estadunidenses mais ricos aumentaram sua participação na riqueza total em 4,9
por cento, enquanto o ingresso médio chegou ao seu nível mais baixo, desde
1995. Os dados atuais revelam que 46,2 milhões de estadunidenses vivem na
pobreza.
Gastar seis bilhões de dólares nas campanhas de dois candidatos num país
com o número de 46,2 milhões de pobres é indicio da obscenidade moral e da
decadência ética e política dos candidatos presidenciais da nação
estadunidense.
É chocante que na eleição presidencial mais cara da história, a
pobreza tenha raramente sido mencionada nas campanhas de ambos os candidatos. O
mesmo poderia ser dito a respeito da dívida externa de 16,4 trilhões de
dólares.
Isso é especialmente assustador, num período em que os dados mostram
que de cada seis americanos, um é pobre; que o país tem mais de 16 milhões de crianças
vivendo na pobreza; que as taxas de pobreza dos negros e latinos são duas vezes
maiores que entre os brancos; que há maior pobreza entre as mulheres do que
entre os homens; e que a taxa de mulheres que vivem na pobreza extrema atingiu
níveis recordes.
O estudo, divulgado pelo grupo de vigilância da mídia estadunidense,
FAIR (Fairness and Accuracy in Reporting),
revela que a pobreza como um problema estadunidense, foi quase invisível na cobertura
da mídia sobre a corrida presidencial de 2012. O estudo constatou que das
10.489 histórias de campanha eleitoral (pesquisadas pela FAIR), apenas 17 das
histórias (isto é, 0,2 por cento) abordaram o problema da pobreza de uma forma
que se poderia classificar de séria.
A maior decepção, entre os críticos simpatizantes, é que em 2008, o
presidente Barack Obama foi visto e propagandeado como o candidato anti pobreza,
mas na sua reeleição em 2012, quatro anos depois, ele mal mencionou essa
pobreza, apesar do número de pobres e a dívida externa do país terem subido
durante o seu governo.
Uma posição
de maior lucidez, provem de intelectuais não simpatizantes, tais como, Noam
Chomsky, James Petras, Cornel West, Tavis Smiley, cujas críticas ao governo
Obama têm sido arrasadoras.
O caso do
professor negro Cornel West (que em 2008 apoiou incondicionalmente a campanha
de Obama), é exemplar: indignado pela demagogia e manipulação do atual
presidente, ele rompeu as relações com o ocupante da Casa Branca e se
transformou num dos mais ferozes críticos do presidente.
Desde o
rompimento, o professor Cornel West vem dando entrevistas em jornais e canais
de TVs estadunidenses contra o governo do presidente. Nelas, ele tem exposto as
razões porque abandonou a equipe de Barak Obama e tem denunciado reiteradamente
a aliança de Obama com os plutocratas de Wall
Street, chegando a dizer que “Obama
is a black mascot of Wall Street oligarchs and a black puppet of corporate
plutocrats” (“Obama é a mascote negra dos oligarcas de Wall Street e a negra marionete dos plutocratas corporativos”).
Cornel West,
Noam Chomsky e James Petras, também vêm denunciando as guerras criminosas dos
EUA no Oriente Médio, devido à submissão do governo Obama aos interesses
geopolíticos do governo de Israel e da AIPAC (o lobby sionista de maior poder nos EUA), que está bem acostumada a
subornar quase toda a classe política estadunidense. Se os leitores estiverem
interessados em obter mais informação sobre o poderoso papel da AIPAC na
determinação da política externa americana, vejam o link do vídeo que se encontra no Youtube, intitulado “AIPAC-What Every American Should Know” (AIPAC- O que todo americano deve saber”):
Se dispõem
de tempo, leiam também o livro, The Israel Lobby and U.S. Foreign
Policy de John Mearsheimer e Stephen
Walt que é atualmente uma das fontes de informação mais autorizadas sobre o papel da
AIPAC nos governos dos EUA.
Atualmente
(novembro de 2012), na transição do primeiro para o segundo período
presidencial do governo Barack Obama, o estado de Israel e suas forças armadas estão
executando, mais uma vez, uma brutal e criminosa ofensiva contra os Palestinos,
com a cumplicidade dos EUA.
Não podemos
esquecer que o próximo 27 de dezembro de 2012, marcará o quarto ano da “Operação
Chumbo Fundido”, a ofensiva genocida de Israel contra a Faixa de Gaza. Durante
22 dias de ataques implacáveis por terra e por ar, mais de 1.400 moradores de
Gaza, a maioria civis, foram assassinadas pelo estado de Israel. O
"Relatório de Goldstone"
das Nações Unidas, descreveu os assassinatos de palestinos, como crimes de
guerra e crimes contra a humanidade por parte de Israel. E não podemos esquecer
que estes crimes de Israel se iniciaram em 2008, entre 27 de dezembro a 18 de janeiro, dois dias antes do início
oficial do primeiro governo de Barack Obama.
Quase quatro anos
depois, nada mudou: graças a cumplicidade dos EUA, o estado e governo de Israel
continuam impunes. E a região de Gaza permanece em ruínas. Por que? Porque a comunidade
internacional tem medo de enfrentar e punir os crimes de guerra do Estado de
Israel.
Israel em
contrapartida, apoia incondicionalmente, as políticas genocidas dos EUA contra
os povos do terceiro mundo. Recentemente, pela 16ª vez, a comunidade
internacional condenou na Assembléia Geral da ONU, o bloqueio dos Estados
Unidos contra Cuba: 184 países votaram a favor de colocar um final nessa
política criminosa dos EUA. Logicamente, os Estados Unidos e Israel, votaram
contra suspender o bloqueio. Pela vontade política unilateral e extremista
destas duas nações anti-democráticas e imperialistas, nada muda, nem mudará.
Apesar dos seus
poderosos recursos e da suposta autoridade moral, as Nações Unidas e várias
organizações humanitárias internacionais não oferecem tão pouco mais do que
retórica aos palestinos.
Desta forma, a
impunidade de Israel, a cumplicidade dos EUA (e dos países europeus), e a passividade
das Nações Unidas, são as três realidades ético políticas responsáveis por
Israel continuar matando Palestinos em Gaza.
E neste segundo
período do governo de Barack Obama, existe pouquíssima esperança que alguma
coisa mudará na política da Casa Branca para os pobres estadunidenses ou para
os países pobres do terceiro mundo.
Assim,
o título deste texto, descreve, na opinião da esquerda estadunidense, o
julgamento do passado, do presente e do provável futuro político dos EUA: “A
boa notícia é que Romney perdeu, a má notícia é que Obama ganhou”.
4 comentários:
O Professor Jorge Moreira sempre nos trazendo revelações surpreendentes.
Continue, Professor, você tem escrito pouco e sempre acrescenta muito!
Muito boa matéria!
Realmente esta matéria do Professor Moreira resume a opinião da esquerda dos EUA no julgamento do passado, do presente e de um provável futuro político naquele país.
O que nós vemos, em relatórios como o do Committee for a Responsible Federal Budget (Comitê por um Orçamento Federal Responsável), é um espetáculo de contorcionismo.
Bom, há uma maneira muito simples de sustentar que um déficit fiscal gigantesco é ruim, mas sua redução no longo prazo é boa – a saber, argumentando que não se deve cortar o déficit quando a economia está em crise e o país se encontra numa armadilha de liquidez, impedindo que a expansão monetária sirva de contrapeso à contração fiscal.
Tavim
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