Publiquei esta postagem em “Casos” da Propaganda.
Mas tambem acho ser um bom motivo para uma pensata...
Uma conhecida me chamou para
criar e executar o cenário de uma peça de teatro amador. Confesso que fiquei
muito feliz com isso. Afinal, aposentado, estou a deixar a publicidade, tendo
apenas dois clientes que mantenho quase que por diletantismo e, no momento,
dedico-me à pintura; ramo em que, aliás, venho obtendo bons resultados.
Arregacei as mangas, baseado em uma ideia, que, se não for
inédita, pelo menos a considerei bastante original. E parti para as ruas atrás
de materiais, lojas e fabricantes de produtos que se adequassem ao cenário por
mim pensado.
Aproveitando para falar da ideia: pensei em um fundo de
palco branco com os cenários (eram dois ambientes) desenhados em preto e
posteriormente plotados. Passei em três gráficas rápidas até conseguir o melhor
preço.
Exemplo (simplificado)
para o cenário
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Depois foram os blocos (tipo puf) que serviam de assentos e ao mesmo tempo, remanejados,
formariam as mesas do ambiente. Inicialmente, pensara em madeira, porem nem
cheguei a orçar porque sabia que é caríssima. Fiz os orçamentos em caixas de
papelão que, segundo o fornecedor aguentariam o peso de um adulto sentado. Bom,
pelo menos eu (92 quilos), sentei, mexi pra lá e pra cá, e me pareceram
confiáveis. Alem do mais eram dobráveis e fáceis de guardar por ficarem planos.
Não conformado, cheguei a uma descoberta ao pesquisar no Google: blocos de Isopor. Fui na loja –na
Praça Tiradentes–, e os achei muito resistentes ao peso, e, apesar de não serem
quadrados eram possíveis de serem usados.
Havia ainda a pintura desses acessórios. Optei pelo “Pó
Xadrez”, que misturado à água torna-se semelhante à tinta acrílica e eram bem
mais em conta. Rolinhos para a pintura dos cubos completavam o material para a
confecção do cenário.
Resumo da ópera, os custos ficaram em:
Total com caixas de papelão:
R$ 3.344,40 (três mil, trezentos e
quarenta e quatro reais e quarenta centavos).
Total com cubos de isopor:
R$ 4.790,40 (três mil, trezentos e
quarenta e quatro reais e quarenta centavos).
Os cubos coloridos
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Em reunião com a cliente, ela
achou muito caro e fora de seu budget.
Como não havíamos falado (até então) em verba, parti para um novo levantamento
de materiais tentando reduzir para os R$ 500,00 (quinhentos reais) que ela fixou
como limite. Um desafio, mas a minha vida em publicidade sempre esteve marcada
por clientes com pouca verba... E como ganhei prêmios com anúncios e campanhas
com soluções criativas, porém baratas. Os anúncios Alltype (1) foram um exemplo disto!
Fui à luta!
A primeira coisa que pensei foi
em fazer os fundos de palco pintados com a mesma tinta “Pó Xadrez”, mas no caso
apenas pretas. Ao custo de R$ 6,50 cada caixa, a coisa já ia ficar mais barata
aí. Alem disso, orcei estes painéis em gorgurão e plástico. O plástico ganhou
disparado. Os dois painéis pintados ficariam em R$
226,80 (duzentos e vinte e seis reais e oitenta centavos), contra
os R$ 3.120,00 (três mil, cento e vinte reais) da plotagem.
Rolinhos e tintas eram baratinhos
e pouco mudaram no montante. Precisaria alugar um Retroprojetor para ampliar os desenhos, mas o aluguel tambem pouco
somava no total. O resultado é que o preço caiu para R$
340,90 (trezentos e quarenta reais e noventa centavos). Mamão com açúcar.
O total ficou abaixo do budget...
Infelizmente a cliente resolveu não concretizar o trabalho. Por e-mail, comunicou-me a decisão de
desistir do projeto. Fiquei a pensar se não gostou. Mas nas reuniões que
fizemos ela não havia manifestado isto, somente se fixando na questão dos
custos, não tendo em momento algum se oposto ou criticado a ideia. Quem sabe apareceu
um outro cenógrafo com mais know how
na área? Ou ainda como disse a Jackie em comentário no blogue “Casos” da Propaganda: “(...) Será que
ela entendeu?”
De qualquer maneira registrei os
cenários na 6ª feira, e aproveito esta postagem para anunciar que este projeto
está à disposição de quem queira comprá-lo (2). Podemos negociar, certo?
1.
Anúncios em que se usavam apenas letras, evitando as fotos, muito caras na
época.
2.
Detalhe: como era um grupo amador não estava a cobrar nada do meu trabalho...
7 comentários:
Eu hein! Atitude estranha e hesitante. Realmente um motivo para pensar (pensata) e refletir um pouco sobre sutilezas do comportamento humano.
E digo isto porque sou psicanalista!
Concordo com a dra. Joelma. Há "sutilezas" estranhíssimas e mal contadas por trás disso tudo!
Afinal de contas o cenário é muito bom!
Até parece que você esaqueceu os tempos de publicidade, amigo!
Quantas campanhas excelentes acabaram no lixo? Eu perdi a conta!
Neste caso, quem sabe, você consegue revender a idéia?
Você me lembrou, que uma das melhores campanhas que fiz, acabou recusada pelo “Banco Nacional”; apesar de termos produzido três comerciais básicos como exemplo, peitados prela Produtora.
Tenho até isto contado numa postagem no blogue “Casos” da Propaganda.
A ideia era valorizar o banco (nos seus 35 anos de existência) como grande apoiador cultural, pois, afinal o “Nacional” apoiara muitos filmes – inclusive do Cinema Novo –, o esporte e inúmeras peças teatrais.
Resumo da ópera: filmamos depoimentos com Nelson Rodrigues, Grande Otelo e João Saldanha. Os filmes ficaram “ducacete”, mas o cliente preferiu fazer uma “colcha de retalhos” de velhos comerciais. Todos bons (como do impagável gerente “José”, intepretado pelo Zacarias, o do lançamento do cartão Nacional, o primeiro com “retrato do dono” e outros) mas virou um ‘mélange’ meio sem pé nem cabeça porque eram pedacinhos sem nexo.
Alguns anos depois fiquei sabendo que foi por pura medida de economia. O "Banco Nacional" já começava a decair...
E poucos anos depois, incorporou-se à "União de Bancos Brasileiros", que posteriormente batizou-se de "Unibanco".
Acontece, cara, acontece! O que importa é que o seu trabalho é muito bom. Sem dúvida nenhuma!
Que absurdo!
Otávio (Tavim)
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