domingo, 30 de março de 2014

Pensatas de domingo e a crise mundial do capital



A atual crise capitalista mundial estourou em meados de 2007, quando se declarou a quebra de importantes fundos de investimento aplicados na especulação com ativos imobiliários. Foi o que arrastou Wall Street a uma tremenda queda das cotizações dos valores negociados na principal bolsa de valores do mundo. E alcançou seu apogeu em 15 de setembro do ano seguinte quando foi declarada a bancarrota de um dos maiores bancos de investimento estadunidense– o Lehman Brothers. E era apenas  a ponta do iceberg. O que estava posto então era a situação de emergência do sistema financeiro internacional, à beira de uma quebra generalizada. O establishment  mundial se debateu entre uma extensa nacionalização do sistema bancário para tentar manter em pé a atividade econômica semiparalisada ou seu resgate formal mediante uma injeção colossal de dinheiro e subsídios que evitasse um colapso terminal.

O montante de recursos utilizados para este fim se estima na magnitude equivalente à totalidade de produção anual dos EUA, da ordem de 15 trilhões de dólares, uma quarta parte aproximadamente do produto bruto mundial, uma quantidade sem precedentes na história do capitalismo.

A eclosão da crise financeira foi seguida por uma depressão econômica de alcances igualmente planetários. As economias mais desenvolvidas registraram uma queda superior a 3% em 2009, depois da estagnação durante o ano anterior. Nos primeiros meses da crise o estouro dos mercados de ações e a produção industrial alcançavam registros superiores aos alcançados na pior crise da eco­nomia capitalista até então, a de 1929. Diferente daquela, contudo, os analistas consideraram, praticamente por unanimidade, que o curso subsequente do des­moronamento (que na década de 30 se prolongou como um ladeirão abaixo por amos e anos) desta vez seria limitado por um massivo resgate financeiro que havia sido evitado setenta anos atrás. De fato, no fim de 2009, era declarado oficialmente o fim da recessão.

Porem, os dados que mostraram para provar que a marcha para o abismo havia sido detida, e, inclusive, revertida, eram enganosos. A situação de falência dos ban­cos foi dissimulada por manipulações do que se chama “contabilidade criativa” para superestimar o valor de ativos desvalorizados. Os indicadores da atividade econômica se encontravam também distorcidos, do mesmo modo que os lucros das empresas que se apresentavam nas contas nacionais. As cifras da economia real, tais como o nível de emprego, o volume de crédito ou investimento – para citar as mais significativas – mostravam para quem quisesse ver que não se re­cuperaram mesmo do solavanco.

A suposta recuperação da recessão a partir da segunda metade do ano de 2009 repousava no relançamento de uma atividade especulativa enorme que, sobretudo, reproduzira o mesmo mecanismo que havia conduzido ao colapso da chamada “bolha” imobiliária de 2007, quando os preços das moradias come­çaram a baixar, as taxas de juros a subir e os devedores privados ingressaram em massa na fila de suspensão de pagamentos de suas hipotecas, arras­tando assim os fundos a galope, montados nestas últimas. Foi uma bola de neve que varreu tudo a seu redor, liquidando um negócio fictício que se apoiava em uma hipertrofia do endividamento para sustentar a superprodução de edifícios e urbanizações. 

Não para resgatar as vitimas, mas os deus algozes: os bancos e companhias financeiras golpeadas pelo vendaval. A partir de 2008 se inflou, então, um novo endividamento, ainda que, desta vez às custas das finanças públicas e, também, em uma dimensão homérica. Seu estouro foi mais rápido ainda e é o terreno em que se desenvolve a crise agora, decretando a quebra das economias de países e regiões inteiras. O caso mais notório foi da Grécia (mas também da Islândia, Irlanda e, antes, os países bálticos) que, há mais de um ano, se desenvolve penosamente como a crônica de um “default” anunciado.

O default “nacional” é o terreno emblemático da nova fase da crise que afeta as elos mais débeis da cadeia da economia globalizada, um fenômeno que domina as vicissitudes da crise na atualidade urbi et orbe.

Uma análise oportuna sobre este tema indica que, a sus­pensão de pagamentos da dívida dos Estados Unidos é um fato que se evidencia desde muito tempo atrás. O que acontece é que a administração estadunidense tem deixado de pagar sua dívida pública faz bastante tempo, o que se oculta pelo fato de que, se limita a renová-la, com mais dívida, incrementando assim explosivamente seu valor. A causa principal deste crescimento é a acumulação de juros que se paga com a emissão de divida nova. A taxa de crescimento da dívida supera o PIB.

Seu valor nominal, sempre crescente, dissimula uma estrepitosa queda de seu valor real, que não é outra coisa senão uma expressão da desvalorização do dólar. A dívida pública ianque vale, em termos de ouro, 12% do que valia em 2005. Isto quando a dívida pública federal cresceu vertiginosamente nos últimos anos até alcançar 14 trilhões de dólares, e quando o déficit fiscal do exercício de 2011 supera 10% deste produto.

 

Um comentário:

André Setaro disse...

Como de hábito, artigo antenado contemporaneidade