Por Cleber Eduardo e Francis Vogner dos Reis
Curadores
da 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes
“Crítico de cinema no “Jornal da Bahia” entre
1968 e 1972, José Umberto realizou “O Anjo Negro” em
1972, filme singular que não se enquadrava nem no Cinema Novo, nem no
“udigrudi” baiano. José Umberto é um desses cineastas que não se pode enquadrar
facilmente em movimentos e tendências do cinema brasileiro. Quando do
lançamento de “O Anjo Negro”, suas referências eram mais antropológicas e
sociológicas do que necessariamente cinematográficas. Na sequência, realizou
documentários em super-8, formato que deu visibilidade aos filmes de uma série
de cineastas baianos da década de 70. Durante os anos 80 e 90 realizou
trabalhos em vídeo para a TVE-Bahia/Irdeb.
“Revoada” é a volta de José Umberto para o
longa-metragem de ficção. Como “O Anjo Negro”, por mais que seja tentador (e
óbvio) vinculá-lo a tendências e tradições, o filme desafia as classificações
mais simples. É um filme de cangaceiros, ainda que não seja um filme do gênero
“cangaço”, que teve algumas releituras nas últimas décadas, como, por exemplo,
“Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas. É também diferente do
barroquismo profético de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, do conterrâneo
Glauber Rocha. O filme trata do derradeiro fim do cangaço, da sua queda, da
iminência da sua morte, aproximando-se de “O Dragão da Maldade contra o Santo
Guerreiro”, do mesmo Glauber Rocha, em sua continuidade na representação dos
fracassos das forças transformadoras diante da real realidade (na ficção). Em
“Revoada”, se há uma mística, é do mau agouro.
A história nos diz que os remanescentes do grupo
de Lampião foram todos assassinados, e isso José Umberto leva em consideração
ao não realizar um embate entre o bando de cangaceiros Vemos, por outro lado,
as tensões internas dentro do mesmo grupo, os elos de amizade, de amor e o medo
do fim. Nunca um filme brasileiro se concentrou no cangaço de modo tão
dramático e tão pouco épico. A câmera de José Umberto investe nos primeiros
planos e planos fechados. Os planos abertos ajudam a compor a agonia desse grupo
em meio à natureza vasta, bela e indiferente à morte iminente do grupo de
bandidos rebeldes. Os planos gerais não são de grandiosidade epopeica, mas de
desolação. O último plano do filme é uma bela imagem que seria a síntese da
aventura trágica desses cangaceiros.”
Um comentário:
ESSE É O CARA! seu filme deve ser MUTO BOM. Quando estréia no Rio?
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