terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Aonde vai parar a crise?

Autoridades governamentais brasileiras, afirmaram de pés juntos que a crise iria passar ao largo. Mas o mais curioso é que não levaram em consideração que esta crise não é apenas nos EUA, e que, mesmo sendo somente ali, se desdobraria pelo mundo e refletiria aqui. Não somos uma ilha, e mesmo se fossemos, não estaríamos imunes ao seu custo. Talvez se, quem sabe, um asteróide perdido no espaço conseguiria.
Um efeito bola de neve se expande por todos os países. Afinal, a economia é globalizada e trata-se de uma crise sistêmica do capitalismo.
“O capital é trabalho morto, que apenas se reanima, à maneira dos vampiros, sugando trabalho vivo e que vive tanto mais quanto mais trabalho vivo suga”, disse Marx em “O Capital”. O que resume um pouco do princípio de que continuarão os mais pobres a pagar pelos desacertos e aventuras financeiras dos mais ricos.
Segundo Marx, “... para o mercado, a discrepância possível entre compras e vendas precisa ser corrigida e, quando isso acontece, verifica-se a não coincidência entre os valores daquilo que se comprou e agora tem que pagar com o dinheiro de uma venda que pode não ocorrer. Segue-se um violento ajuste de contas, e os valores desaparecem.” Mas a crise do capitalismo não assinala simplesmente o simples momento negativo, da não coincidência, e sim a possibilidade de que essa situação permaneça por muito tempo.
Previamente as multinacionais estão a despedir em massa não somente em suas sedes nos países ricos, mas em suas filiais do terceiro mundo. Todos os dias, ouvimos ou lemos notícias do tipo que “a Philips demitirá 6.000 trabalhadores”, ou que “o banco holandês ING despediu 7.000 pessoas” em todas as suas unidades. Desde o agravamento da crise mundial, em julho de 2008, mais de 350 mil demissões em todo o mundo já foram anunciadas. Sendo que a essas, acrescentem-se cerca de 79 mil (1) que aconteceram ontem (26/01/2009), superando os 400.000. Entre muitas, a Pfizer, a Nextel e a General Motors, encabeçam a lista dos cortes junto com a Caterpillar que lidera o grupo e demitiu 20 mil funcionários, totalizando 18% de sua força de trabalho. No Japão 12 empresas automobilísticas já anunciam 25 mil cortes para o mês de março.
Por outro lado, enquanto a média de desemprego no Brasil em 2007 foi de 9,3% – a menor taxa anual desde 2002 –, somente em dezembro de 2008, ela chegou ao preocupante número de 130 mil na indústria paulista. E declarações da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) prevê que o nível de emprego ainda vai continuar em queda nos primeiros meses de 2009.
E não se iludam, porque isso é apenas o começo. Estamos a sentir os reflexos do que acontece lá fora, e, inevitavelmente nos atinge, passo a passo. A questão mais complexa de tudo isto, é que ainda não se pode mensurar a extensão real desta crise e até aonde ela poderá chegar. Como a crise é sistêmica, ela é muito mais profunda do que podemos imaginar e o seu destino final, mais ainda.

Citações de Marx extraídas da publicação da Folha de São Paulo: “Entenda a crise econômica pela ótica de Karl Marx”.

(1) Agência Estadão.

10 comentários:

Ieda Schimidt disse...

Houve muitas outras, mas esta, que é a pior crise desde a de 1929, está sendo muito braba. Vai ser uma peleia dura.

Jonga Olivieri disse...

E que peleja!

Anônimo disse...

Pelo comportamento das Bolsas de Valores a gente pode medir o quanto essa crise está s´eria. A muito tempo se espera uma estabilização e ela não chega. Continuam despencando em todos os lugares.
Otávio

Anônimo disse...

O desemprego nso EEUU alcançou o maior índice, somente equivalente ao de 1945. É mole?

Jonga Olivieri disse...

Bom, as bolsas despencaram e tá difícil aprumarem. Vez por outra dão um sinal positivo, mas via de regra estão descendo... pra baixo...

Jonga Olivieri disse...

Procê ver...

Ieda Schimidt disse...

Neste ano de 2009 mais de 3 milhões de trabalhadores perderão o seu emprego na América Latina.
E a OIT anunciou que esta perda, em todo o mundo (para o mesmo período) será de 50 milhões.
Es una buemba!

André Setaro disse...

Conversando com pessoas ditas cultas, sempre estou a me referir à grande crise, mas, para minha estupefação, a reação não corresponde a esta. O fato é que a maioria das pessoas não tem consciência da crise. Já não falo daquelas menos aquinhoadas pela sorte, a classe média baixa, que continua a andar pelos corredores dos shoppings como se nada tivesse acontecido. Crise? Que crise? Um detalhe pequeno, aparentemente sem significação. Meu plano de saúde, Sul América, há vinte anos que o possuo, sempre o paguei no Bradesco. Semana passada, quando fui pagá-lo, entrei no Bradesco e postei-me, "comme il faut", na fila dos idosos - e ninguém reclamou. O caixa fez as devidas anotações de juros e multas (pago sempre com 12 dias de atraso) e, de repente, quando ia passá-lo na máquina, disse-me assustado: "Mas é para pagar no Banco Real, desculpe-me ter feito as anotações, mas penso que o banco pode receber se você for hoje mesmo." Por que a Sul América, empresa de grande porte, tirou os seus pagamentos do "Bradescompleto" e os transferiu para o Real? Há algum 'angu de caroço' nessa feijoada financeira. Podes crer, bicho!

Jonga Olivieri disse...

A previsão de crescimento da economia mundial caiu de 2,2%, anunciada pelo FMI em novembro para 0,5%, sendo a pior desde o pós-guerra.
No Brasil, os cálculos mais otimistas beiram os 1,8%, quando anteriormente estavam no patamar de 3 a 3,5%. E é claro que isso vai se refletir no emprego. Afinal, quem é que paga o pato?

Jonga Olivieri disse...

De um modo geral não se deu para sentir os efeitos da crise de forma mais ampla.
O negócio é que eles vão se alastrando de forma (aparentemente) silenciosa. Até certo ponto, claro. Os preços de certas coisas que não subiam faz muito tempo, são um exemplo disto.
Mas já se podem enxergar outros sintomas bem gritantes. O que é um aviso, um alerta de que coisas anormais estão se sucedendo na economia.
O caso do seguro pode ser uma delas.