domingo, 25 de outubro de 2009

Duas pensatas para um domingo


Como?
“O governo dos Estados Unidos se mostrou hoje "muito preocupado" com a decisão da Justiça da Nicarágua que abre caminho para a reeleição do presidente do país, Daniel Ortega.
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Ian Kelly, disse em comunicado que esta decisão, adotada na segunda-feira passada, segue uma pauta de comportamento que ‘ameaça minar a base da democracia da Nicarágua’.”

A notícia acima (Folha Online) tem uma incongruência notável. Como o governo estadunidense, que sempre manteve a reeleição de seus presidentes, sendo que inclusive somente veio a limitá-las (a apenas duas vezes) em meados do século passado, pode opor-se a isto? E o mais grave de tudo, condenar a receita como antidemocrática.
É muita falta de se olhar no espelho, ou de olhar para o próprio umbigo. Ou será que lá é diferente dos outros países? Sim, são perguntas que ficam no ar à espera de uma resposta à altura de sua gravidade.

Risos matinais na Eldorado
Aconteceu quando eu morei em São Paulo em finais dos anos 60 e princípios dos 70.
Toda manhã, ao acordar eu ia ao banheiro levando um radinho de pilha. E ligava na Rádio Eldorado, do Grupo do Estado de São Paulo, onde havia um jornal sério e bastante informativo de cerca de uma hora de duração. Era uma forma de sair de casa bem informado sobre as notícias, condições de trânsito aqui ou ali. Enfim, tudo o que se precisa saber para estar em dia com as coisas.
A Rádio Eldorado era tão austera que não permitia nem spots, jingles, ou qualquer tipo de comerciais gravados. A propaganda era lida de forma séria por locutores de cabine. Normas de uma emissora que pecava pela austeridade.
O rádio jornal era apresentado por dois locutores que também falavam pausadamente sem estardalhaços. Mas, justamente o que eu gostava era esta personalidade própria que destoava das outras rádios privadas, e, me deixavam mais ligado na informação propriamente dita.
Um dia, um dos compenetrados locutores, em determinado instante começou a rir. Sim... Surpreendente, mas soltou (embora as prendendo) umas boas risadinhas. Daí a instantes, o outro também se riu de algo que até hoje não sei o que foi. Achei estranho, mas passou. No dia seguinte, lá pelas tantas, novamente a mesma situação de risos descontrolados.
Mas, até hoje me intriga o que possa ter causado a situação. Provavelmente alguma palhaçada, algum gesto ou situação engraçada. Sempre fico a imaginar que ambos devem ter levado um “esporro” em regra, e, sem dúvida, até a ameaça de serem despedidos. Eu sei que a coisa terminou e tudo voltou ao normal.

9 comentários:

Ieda Schimidt disse...

São dois pesos e duas medidas.
Uribe quer se reeleger, mas não é risco para a democracia porque é alinhado com eles.
Os israelenses têem a bomba, mas não é perigo para a paz mundial porque estão alinhados com eles.
É até engraçado, para não dizer que é triste.
A outra pensata é engraçada e leve. Tuas postagens contrabalançam estes elementos muito bem.

Jonga Olivieri disse...

Gosto de contrabalançar o sério com um pouco de humor.
Afinal, a vida precisa de um pouco disso.

Anônimo disse...

Realmente não têm como reclamar dos outros com reeleição. Acho até que eles inventaram isto.
Anselmo

Jonga Olivieri disse...

Não posso responder à sua pergunta. O que sei é que a reeleição existe nos EUA, senão desde a fundação do país, faz tempo.
F. D. Roosevelt, por exemplo, foi eleito quatro vezes seguidas. É muita azeitona para uma empada só.
Teve lá suas razões para tal, pois tirou o país do fundo do poço, tornou-se popular e foi o mais "socialista" de todos os presidentes daquele país em todos os tempos.
Porém, daí em diante começou a limitação para apenas dois períodos consecutivos.

maria disse...

Adorei o caso dos risos. Mas isso deve acontecer mesmo. De repente um faz uma gracinha, o outro ri e dai em diante é uma peste mesmo.

André Setaro disse...

Os EUA usam dois pesos e duas medidas. Quando não há 'perigo', aceitam tudo, mas quando há a possibilidade de uma 'persona non grata' continuar, põem a boca no mundo.

Mas falando em rádio e em São Paulo, lembrei-me agora de José Carlos Menezes, sergipano que você conheceu em Salvador e que foi morar na capital paulista, autor do argumento de 'Perâmbulo'. Menezes, achava, era muito grave e sério e não aceitava ironias. O argumento de 'Perâmbulo' era muito simplório e simplistas, mas valeu como um exercício de cinema, isto quer dizer: como uma idéia, mesmo uma idéia rudimentar, pode se converter em imagens em movimento.

Jonga Olivieri disse...

Isso mesmo. Tenho um conhecido que trabalhou em rádio e dizia que isto aconteia demais. Até em rádio novelas quando a pessoa não podia rir de forma alguma, fingia que estava chorando enquanto ria. Quer dizer, forçava um choro.

Jonga Olivieri disse...

O José Carlos morou em São Paúlo, lembro disto. Morava na Brigadeiro Luis Antônio, perto de umas obras enormes que estavam sendo feitas na época.

Jonga Olivieri disse...

Esclarecendo questão levantada anteriormente por Anselmo, segue uma explicação mais detalhada, transcrita da Coluna do Helio Fernandes na Tribuna da Imprensa e publicada em 01/11/2009:

“ (...) Nos EUA, os Fundadores da República, depois da derrota da Inglaterra, (1776 a 1781) ficaram mais 5 anos (de 1781 a 1786) discutindo como seria a Constituição. Depois de grande debate, ficou decidido que a Constituição seria votada numa Constituinte que funcionou ente 1787/1788. Ao contrário do Brasil, promulgada a Constituição, elegeram pelo VOTO DIRETO, o primeiro presidente.
A maior discussão foi a respeito do mandato, Washington, Jefferson, Madison, e lógico, muitos outros, queriam mandatos fixados e sem reeleição. Perderam, ou melhor, foram massacrados, pelos que pretendiam MANDATOS ININTERRUPTOS. Isso vigorou até o “efeito Roosevelt”.
Antes de Roosevelt, ninguém se elegeu (ou quis) o terceiro mandato. Quando Roosevelt ganhou 4 vezes, o partido Democrata e o Republicano, se reuniram e decidiram através de emenda constitucional. “O presidente pode se reeleger por mais 4, depois não pode ser NOMEADO ou ELEITO para qualquer coisa”. Isso vigorou a partir de 1952, o general Eisenhower começou a determinação constitucional.”