Mais um texto do Professor Jorge Moreira, cujo currículo resumido está na coluna ao lado.
Diz o ditado popular: “não se pode tapar a luz do sol com o telefone celular”.
Diz o ditado popular: “não se pode tapar a luz do sol com o telefone celular”.
Todos aqueles que se deixaram iludir pelo uso da tecnologia e pelo discurso ideológico em prol do capitalismo estão atualmente surpreendidos pelo reaparecimento e expansão dos movimentos de protesto contra o neoliberalismo e a globalização capitalista.
Todos aqueles que dormiram sonhando que as palavras “luta de classes” e sua realidade social haviam deixado de existir na nossa sociedade globalizada, despertaram confundidos com a “ressurreição” da “guerra de classes” nos países da Europa, da América do Norte, da América do Sul, da Ásia e da África.
A eclosão, aumento e expansão dos movimentos de resistência contra o capitalismo na Grécia, na Islândia, no Egito, na Espanha, no Chile e nos EUA, se revelaram como prova cabal da necessidade de terminar com a dominação, a exploração, e a miséria produzidas pelo neoliberalismo e pela globalização (pela expansão do imperialismo) capitalista. Assim, os atuais movimentos de protestos respondem a um processo histórico onde, cada dia que passa, os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres na nossa sociedade.
Vejamos por exemplo o movimento de protesto "Vamos Ocupar Wall Street". Ele está crescendo diariamente e está se espalhando por outras cidades dos EUA: Boston, Chicago, Los Angeles, Portland, São Francisco, entre outras. Os manifestantes têm falado: "Nós, os 99% deste país não vamos mais tolerar a ganância e a corrupção do 1% restante".
Para aqueles que ainda se recusam a explicar o processo de enriquecimento da pequena minoria através da dominação e da exploração da grande maioria, gostaria de mostrar-lhes os novos dados sobre o aumento do empobrecimento da classe trabalhadora e da classe média neste país:
Recentemente, o censo dos EUA informou que 46,2 milhões de americanos viviam na pobreza em 2010 (2,6 milhões de aumento sobre 2009) para chegar a 15,1 por cento, a maior taxa de pobreza desde 1993. Em termos de números, é o maior total já registrado pelo censo desde que começou a medir essa categoria, há 52 anos. Em resumo, os dados do censo mostram que um de cada seis estadunidenses vive na pobreza e que o poder da classe média estadunidense vai se esgotando com o avanço do neoliberalismo.
Por isso (mesmo com a sabotagem e a ocultação da informação por parte da mídia), o movimento "Vamos ocupar Wall Street" continua crescendo e se fortalecendo progressivamente com a adesão dos sindicatos e dos estudantes que têm se juntado às marchas de protesto contra o aumento do desemprego e da repressão policial contra os manifestantes.
Faz pouco dias, por exemplo, foi dado início a uma ação judicial contra a prisão em massa de 700 pessoas que participaram no sábado passado, de uma marcha na Ponte do Brooklyn durante as manifestações do movimento.
A ação acusa o Departamento de Polícia de Nova York de um "esforço premeditado, planejado, preparado com antecedência e calculado para limpar as ruas de manifestantes e perturbar o crescente movimento de protesto naquela cidade."
Os protestos de "Vamos ocupar Wall Street" entraram agora numa nova fase, pois na quarta feira passada o movimento pôde produzir a maior concentração de pessoas até aquela data. Isso se deve a que os sindicatos municipais da cidade e os estudantes universitários começaram a se juntar aos manifestantes na marcha pelo município.
Deve-se também a adesão de um conjunto de intelectuais e artistas da esquerda política dos Estados Unidos: o filósofo Noam Chomsky, o cineasta e ativista Michael Moore, a artista Yoko Ono (viúva do Beatle John Lennon), Susan Sarandon.
Na ultima manifestação do movimento “Vamos Ocupar Wall Street” (na quarta feira passada, dia 5 de outubro), milhares de pessoas encheram as ruas do centro de Nova York para participar do maior protesto realizado até hoje. Dezenas de milhares de pessoas, junto aos membros dos sindicatos de massa e dos estudantes, marcharam desde a Praça da Liberdade Foley Square até o local do acampamento de protesto onde centenas de manifestantes estão dormindo durante quase três semanas.
Atualmente, para milhões de pessoas dos EUA e outros países do mundo, Wall Street é símbolo do que existe de pior na realidade neoliberal e anti democrática. Para elas, Wall Street representa a financeirização da economia, onde os recursos do Estado e os investimentos são controlados pelo capital financeiro que está destruindo as indústrias, o emprego e prejudicando muitos outros setores produtivos.
Wall Street é fonte de uma grande desigualdade e injustiça social no país. Em Manhattan, na cidade de Nova York, um 1% da população (uma minoria) controla 60% da riqueza.
Wall Street também é, para muitos, a fonte da mais alta corrupção por causa de sua influência e financiamento das campanhas políticas dos presidentes e outros cargos políticos. Assim, o setor financeiro tem dado dinheiro para membros de ambos partidos: republicanos e democratas.
Ultimamente muitos estadunidenses também estão se dando conta de que o presidente democrata Obama foi comprado pelo capital financeiro de Wall Street.
Apesar do crescimento do movimento, existem críticas ao mesmo pelos dois lados: o da direita e o da esquerda política dos EUA. Neste texto só comentaremos algumas criticas da esquerda, pois, como sabemos, a direita estadunidense só manifesta o seu interesse para conservar a ordem social vigente, além de contar com o serviço da grande mídia dos EUA (Fox, CNN, ABC, NBC e outras) para defender seus interesses e as suas críticas ao movimento.
Por isso vou comentar rapidamente duas das críticas da esquerda ao movimento que me parecem pertinentes.
A primeira crítica tem que ver com seu objetivo central: "que o presidente Barack Obama ordene uma Comissão Presidencial que seja encarregada de pôr fim à influencia que o dinheiro tem nos nossos representantes em Washington".
A segunda esta relacionada à heterogeneidade (diferentes mentalidades) dos indivíduos e dos grupos e com a falta de líderes que sejam capazes de criar uma organização para gerar as ideias, os compromissos e as atitudes que sejam consequentes com os objetivos estabelecidos coletivamente.
Na primeira crítica se levanta a questão da ingenuidade do objetivo (ou demanda) já que muitos duvidam (com razão) de que o presidente Barack Obama tenha poder ou vontade política para atuar contra os grupos financeiros que sustentam a sua campanha política e a dos representantes democratas.
Na segunda crítica se levanta a questão da falta de uma organização do movimento já que sua falta o deixaria débil, a mercê da manipulação política dos partidos existentes, sobretudo, da manipulação do partido democrata que historicamente tem atuado efetivamente nesta direção.
No início, o partido democrata aparece como se estivesse apoiando as demandas do movimento, logo começa a atuar para esvaziá-las do seu conteúdo rebelde, finalmente trata de capitalizar os membros do movimento para votar a favor dos democratas nas eleições em turno.
Historicamente, esse tipo de atuação do Partido Democrata tem esvaziado e frustrado a luta dos movimentos sociais por objetivos progressistas. Um exemplo recente deste tipo de manipulação foi conseguir esvaziar o movimento dos jovens contra a Guerra do Iraque, pois o objetivo central do partido era anexar os participantes do movimento à campanha presidencial do candidato democrata John Kerry. A derrota da luta foi dupla: nem John Kerry ganhou as eleições, nem o movimento contra a guerra do Iraque pode levantar o voo que necessitava.
Diante da proximidade das eleições presidenciais nos EUA, não duvido da consideração de que o partido democrata vai tentar mais uma vez frustrar, esvaziar e paralisar a luta política contra “Wall Street”, o neoliberalismo e a globalização.
Desde meu ponto de vista, as duas críticas são importantes e necessárias para chamar a atenção aos perigos que o movimento está exposto, pois dadas as experiências políticas vividas e aprendidas, nenhuma reforma econômica, social e política importante podem ser obtida através da participação do Partido Democrata e muito menos dos republicanos.
Nesse ponto, a minha sugestão seria que deveríamos deixar de perder nosso tempo com os princípios, interesses e objetivos do Partido Democrata e vamos usar a nossa energia (gerada pela injustiça e pela indignação social) para produzir uma nova organização política neste país: devemos construir uma nova organização cujos princípios e objetivos democráticos sejam formulados a partir dos interesses socialistas e coletivos; e da efetiva participação política das classes sociais da base da pirâmide da nossa sociedade.
6 comentários:
O Professor Jorge Moreira, sobre ser um 'schoolar' de alto nível, possui percepção muito aguda da crise pela qual passa o capitalismo. Seus textos, além de extremamente esclarecedores, servem ao leitor para ampliar seus conhecimentos acerca do 'débacle' que se anuncia em breve, cuja ponta do 'iceberg', no entanto, já está à vista de todos.
Suas postagens são muito boas. Por isso mesmo a publiquei ontem à noite.
Alem do mais o assunto é muito quente e precisa ser melhor compreendido. A grande mídia não tem conseguido esconder ou omitir pela evid~encia dos acontecimentos. Mas não se referem às origens do problema como o faz o professor.
Sim, o antigo pescador de mariscos da aprazível Ilha da Maré vai a fundo na questão, vai às causas dos problemas.
Muito boas as observações do professor sobre os protestos nos Estados Unidos e a crise capitalista que a cada dia fica mais grave!
E tem-se mesmo que ir a fundo, pois a desinformação e/ou distorção causada pela mídia burguesa é uma verdadeira lavagem cerebral.
Hoje, ficamos sabendo apenas aquilo que lhes interessa, a não ser que busquemos alternativas fora dos canais oficiais.
A crise do capitalismo é irreversível. E as massas populares estão reclamando a exploração cada vez mais escancarada.
Os protestos de Wall Street são uma prova disso no coração do poder estabelecido!
Postar um comentário