Jorge Vital de Brito Moreira, o Professor Moreira, nos envia este excelente conto. Leia-o com
atenção...
A DUPLA VIA CRUCIS DO
CORPO QUE MENTE
Porra! Não é a primeira vez! No passado aconteceu
com uma mexicana! Quando a conheci me atraiu os olhos verdes e o olhar enigmático.
Imaginei que podia ser uma pessoa interessante e que valeria uma aventura amorosa
com ela.
Dali começou o romance, ainda que,
naquele tempo, ele andasse metido numa ligação conflitiva com uma colombiana:
uma relação apaixonada, sensual e destrutiva mas que persistia por 4 anos.
Quando foi à cama com a dos olhos
verdes, descobriu que seu corpo era bem diferente do que imaginara. Era a primeira vez que teve que fazer um
grande esforço de concentração para impedir que a decepção visual arruinara o
sexo a dois.
Suspendeu as lembranças, levantou-se e abriu a porta do
quarto. Caminhava para a sala quando o telefone tocou. Levantou o gancho e
colocou no ouvido. Como de costume, ela perguntou-lhe se não queria jantar
fora. “Não, não e não”, e desligou. Sentou no assento de madeira, ligou o
computador e começou a escrever.
Que
caralho de vida!
Naquele tempo, colocava uma grande dose
de entusiasmo para que seu corpo não recusara o dela. Com pouco surgiu o
desinteresse, o tédio e a repulsa. E começou a racionalização: porque tinha os peitos caídos... porque não tinha pernas bonitas... porque tinha um cheiro enjoado... porque não tinha a
bunda das baianas.
Porra!
Porque essa intensa paixão pelos corpos jovens e bem proporcionados das meninas
das praias da Bahia? Porque este anseio estético? Não consigo entender;
necessito escrever.
Sentiu o desconforto da madeira na
bunda. Ergueu-se, procurou e encontrou uma almofada para amaciar o traseiro.
Voltou a sentar diante do computador.
Que
merda de situação!
Chegou á conclusão de que já não
podia continuar fazendo sexo com ela. Aí apareceu uma conversa cretina do tipo "não estou interessado
em sexo, só estou interessado em ternura". Ou então dizia-lhe "não
posso manter uma relação amorosa com você;
o que eu posso oferecer-lhe é uma boa amizade".
Então a
conversa transformou-se em pura racionalização que tratava de justificar a
agressão passiva. Dizia-lhe "pensei que nossa transação ajudaria a me
livrar da colombiana mas nada disso aconteceu. Sei que é difícil admitir, mas confesso-lhe
que ainda sigo apaixonado por ela."
Quanto mais tentava explicar-lhe o
que estava passando, mais as suas palavras, implícita ou explicitamente,
rejeitavam a relação. Ele falava e falava, horas e horas tratando de justificar-se.
Algumas vezes ela chorava; ele também. No final de cada encontro, sentiam-se
cansados, tristes, deprimidos e impotentes.
O alarma tocou na porta da frente e
ele foi atender. Era seu vizinho. Perguntou-lhe se não queria ver o jogo de
futebol. “Não, obrigado...” e voltou ao computador.
Porra!
Não posso ter paz nesse apartamento. Porque as pessoas estão sempre me
interrompendo? Onde é que eu estava
mesmo? Ah! Como ela ficou golpeada: viveu tudo aquilo como uma imensa rejeição.
Nem era para menos. Ela entregou-se à relação. Enamorou-se. Deu tudo que tinha. Havia feito planos. Sua
vida que era triste e sem sentido, de repente iluminou-se. Quando tudo parecia
ir de vento em popa, o desgraçado decidiu cair fora do barco.
"Porque? Quem sabe... ele se explicou
algumas vezes mas ela não sabia si o que
ele contou era a verdade"... Ele
era um sedutor irresponsável, um sujeito leviano com as palavras, um típico criador
de ilusões nos corações femininos".
O Telefone tocou. Ele atendeu. Um
amigo o convidava para ir ao cinema. “Não, quero ficar sozinho, mas muito
obrigado...”
Porra!
Por prometer coisas que não podia
cumprir, agora me sinto culpado. Sou um
irresponsável... um cara agressivo e desumano, que causa a dor de tanta
gente... Sou um miserável insensível... um tipo egoísta que nunca pode parar de
ferir as pessoas que me amam...
Algumas vezes, por querer seguir no
poder, ele se sentia como um vil prostituto. Na realidade, era apenas um
estudante que tratava de escrever a sua tese de pos graduação. Para complicar a
história, vivia longe do Brasil e estava exilado, fugido da ditadura militar do
seu país.
Putos
tempos difíceis.
Atualmente, conseguiu um trabalho e
se sente algo útil. Trabalha como
professor para uma universidade dos EUA and
it's okay. Claro que não representa
tudo o que ele desejaria ser mas está contente de viver na gringolandia, pelo menos por enquanto.
Ele acredita que não deveria
desperdiçar a oportunidade de ser alguém nesta vida. Ser alguma coisa positiva
neste mundo, independentemente do coração das mulheres.
Porra!
algo me perturba. Estou me repetindo. Está acontecendo outra vez...
O telefone tocou, ele não atendeu. O
ruído insistiu, insistiu, insistiu. Por fim atendeu e era ela. Perguntou-lhe se
não queria sair ou algo parecido. “Não, não e não”, disse ele. Então perguntou-lhe
se queria falar por telefone. Ele disse que sim e começou a ler o que tinha
escrito:
A DUPLA VIA CRUCIS DO
CORPO QUE NÃO MENTE
Porra! Não é a primeira vez! No passado
aconteceu com uma mexicana! Quando a conheci me atraiu os olhos verdes e o
olhar enigmático. Imaginei que podia ser uma pessoa interessante e que valeria
uma aventura amorosa com ela.
Dali começou o romance, ainda que,
naquele tempo, ele andasse metido numa ligação conflitiva com uma colombiana:
uma relação apaixonada, sensual e destrutiva mas que persistia por 4 anos.
Quando foi à cama com a dos olhos
verdes, descobriu que seu corpo era bem diferente do que imaginara. Era a primeira vez que teve que fazer um
grande esforço de concentração para impedir que a decepção visual arruinara o
sexo a dois.
Suspendeu as lembranças, levantou-se e abriu a porta do
quarto. Caminhava para a sala quando o telefone tocou. Levantou o gancho e
colocou no ouvido. Como de costume, ela perguntou-lhe se não queria jantar
fora. “Não, não e não”, e desligou. Sentou no assento de madeira, ligou o
computador e começou a escrever.
Que
caralho de vida!
Naquele tempo, colocava uma grande dose
de entusiasmo para que seu corpo não
recusara o dela. Com pouco surgiu o desinteresse, o tédio e a repulsa. E
começou a racionalização: porque tinha
os peitos caídos... porque não tinha
pernas bonitas... porque tinha um cheiro
enjoado... porque não tinha a bunda das baianas.
Porra!
Porque essa intensa paixão pelos corpos jovens e bem proporcionados das meninas
das praias da Bahia? Porque este anseio estético? Não consigo entender;
necessito escrever.
Sentiu o desconforto da madeira na
bunda. Ergueu-se, procurou e encontrou uma almofada para amaciar o traseiro.
Voltou a sentar diante do computador.
Que
merda de situação!
Chegou á conclusão de que já não
podia continuar fazendo sexo com ela. Aí apareceu uma conversa cretina do tipo
"não estou interessado em sexo, só estou interessado em ternura". Ou
então dizia-lhe "não posso manter
uma relação amorosa com você; o que eu posso oferecer-lhe é uma boa
amizade".
Então a
conversa transformou-se em pura racionalização que tratava de justificar a
agressão passiva. Dizia-lhe "pensei que nossa transação ajudaria a me
livrar da colombiana mas nada disso aconteceu. Sei que é difícil admitir, mas
confesso-lhe que ainda sigo apaixonado por ela."
Quanto mais tentava explicar-lhe o que
estava passando, mais as suas palavras, implícita ou explicitamente, rejeitavam
a relação. Ele falava e falava, horas e horas tratando de justificar-se.
Algumas vezes ela chorava; ele também. No final de cada encontro, sentiam-se
cansados, tristes, deprimidos e impotentes.
O alarma tocou na porta da frente e
ele foi atender. Era seu vizinho. Perguntou-lhe si não queria ver o jogo de
futebol. “Não, obrigado...” e voltou ao computador.
Porra!
Não posso ter paz nesse apartamento. Porque as pessoas estão sempre me
interrompendo? Onde é que eu estava
mesmo? Ah! Como ela ficou golpeada: viveu tudo aquilo como uma imensa rejeição.
Nem era para menos. Ela entregou-se à relação. Enamorou-se. Deu tudo que tinha. Havia feito planos. Sua
vida que era triste e sem sentido, de repente iluminou-se. Quando tudo parecia
ir de vento em popa, o desgraçado decidiu cair fora do barco.
"Porque? Quem sabe... ele se explicou
algumas vezes mas ela não sabia si o que
ele contou era a verdade"... Ele
era um sedutor irresponsável, um sujeito leviano com as palavras, um típico criador
de ilusões nos corações femininos".
O Telefone tocou. Ele atendeu. Um
amigo o convidava para ir ao cinema. “Não, quero ficar sozinho, mas muito
obrigado...”
Porra!
Por prometer coisas que não podia cumprir, agora me sinto
culpado. Sou um irresponsável... um
cara agressivo e desumano, que causa a
dor de tanta gente... Sou um miserável insensível... um tipo egoísta que nunca pode parar de ferir
as pessoas que me amam...
Algumas vezes, por querer seguir no
poder, ele se sentia como um vil prostituto. Na realidade, era apenas um
estudante que tratava de escrever a sua tese de pos graduação. Para complicar a
história, vivia longe do Brasil e estava exilado, fugido da ditadura militar do seu pais.
Putos
tempos difíceis.
Atualmente, conseguiu um trabalho e
se sente algo útil. Trabalha como
professor para uma universidade dos EUA and it's okay. Claro que não representa tudo o que ele
desejaria ser mas está contente de viver na gringolandia, pelo menos por
enquanto.
Ele acredita que não deveria
desperdiçar a oportunidade de ser alguém nesta vida. Ser alguma coisa positiva
neste mundo, independentemente do coração das mulheres.
Porra!
algo me perturba. Estou me repetindo. Está acontecendo outra vez...
O telefone tocou, ele não atendeu. O
ruído insistiu, insistiu, insistiu. Por fim atendeu e era ela. Perguntou-lhe se
não queria sair ou algo parecido. “Não, não e não”, disse ele. Então
perguntou-lhe se queria falar por telefone. Ele disse que sim e começou a ler o
que tinha escrito:
2 comentários:
Um exercício com a posição do narrador (“ele”,“eu”) dentro da história, este conto reflexivo do Professor dá mostras de sua vitalidade como pensador que não se restringe as agruras textuais do discurso sisudo.
Subtil!
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