Segundo o texto datado de 21/02/2005, autoria de Tavares, jornalista (1), que
transcrevo na íntegra, podemos comparar a
mecânica das eleições em Cuba com a ocidental e com isto verificarmos que,
apesar de alguns problemas existentes no Socialismo Burocrático (modelo
Soviético), em que a existência de um partido único (2) tornou-se sua principal
contradição (fatal) após o domínio de Stalin, é bem mais democrática do que o
praticado nos países que se dizem (errôneamente) democráticos. Para ter-se uma
ideia, nos primeiros anos da URSS, até partidos burgueses existiam (coisa que,
aliás condeno), para além de outras diversas organizações proletárias.
“Quem se
alimenta unicamente das informações que aparecem na televisão ou nos jornais da
grande imprensa pode não saber, mas a ilha de Cuba está vivendo mais um de seus
processos eleitorais, que acontecem a cada dois anos e meio. São as eleições
para as Assembléias Municipais de Poder Popular, democracia direta, na qual
cada pessoa do bairro ou da localidade vota no seu representante. Aquele ou
aquela que ali vive e viverá, levando para o poder central as demandas daquele
lugar. Nesse tipo de eleição, o protagonista é o povo e a lógica da democracia
representativa não tem lugar. Parece não haver espaço para a compra de votos
nem para falcatruas de gente que engana o povo com promessas falsas. Os
candidatos são escolhidos por seus vizinhos, o voto é secreto, livre e o
escrutínio é público. Quem cuida das urnas são as crianças, coisa única no
mundo.
Desde o dia
15 de fevereiro iniciaram as inscrições de eleitores que acontecem sempre sob a
coordenação de Comissões Eleitorais Locais. Ou seja, a lista de votantes é
feita pela gente do lugar e afixada nos pontos de maior circulação. Qualquer
erro ou problema é logo corrigido e a pessoa tem a chance de acompanhar tudo de
perto. O voto em Cuba não é obrigatório. Feitas as inscrições de votantes,
começam os comícios nos bairros e comunidades rurais. É neles que despontam os
candidatos que, no mais das vezes, já são aqueles que trabalham e estão
inseridos no dia-a-dia das demandas das comunidades. Segundo a lei cubana, uma
localidade precisa ter sempre mais de um candidato. Não há eleições com
candidatos únicos, por isso, a disputa é sempre grande. Os comícios reúnem
milhares e a escolha dos delegados locais é feita nas assembléias públicas.
Para se eleger o candidato ou candidata precisa alcançar mais de 50% dos votos.
Depois, os eleitos precisam prestar contas periodicamente aos seus eleitores e
podem ter seus mandatos revogados a qualquer momento se o povo assim decidir.
Outra coisa
interessante no processo cubano é que os delegados eleitos para as Assembléias
de Poder Popular não recebem nada por isso e muito menos precisam gastar
fortunas para serem candidatos. Em Cuba não há campanhas eleitorais nos moldes
que vivemos no Brasil, por exemplo. Lá, é da responsabilidade das Comissões
Eleitorais a exposição das fotos e da biografia dos candidatos. Até o dia 27 de
março, em mais de 15 mil localidades deverão acontecer 41.500 assembléias
públicas, que definirão os seus delegados. A votação será no dia 17 de abril e
estes delegados farão parte, depois, do Conselho Nacional.
Ramona
Curbelo é delegada da comunidade de Gastón desde 1976. Ganhou sua primeira
eleição quando tinha 18 anos, foi a mais jovem já eleita e a segunda mulher a
exercer esse cargo no país. Entrevistada pelo jornalista Pastor Batista Valdés,
ela fala destes 26 anos dedicados à comunidade e ao país e a sua relação com a
gente que a elegeu. “Quando estou movendo céus e terras para resolver algum
problema da comunidade, são os meus eleitores que mais se ocupam da minha casa.
Eles a limpam, lavam a roupa e me trazem comida para que eu não tenha que
cozinhar”. Pastor então pergunta como ela pode exercer seu mandato com tantas
dificuldades materiais. “Com a minha capacidade pessoal e a inteligência do
povo. É incrível o que se pode conseguir com a sabedoria da comunidade. Também
temos relações com as empresas, mas, sobretudo, temos sinceridade com a
população. Além disso, rendemos contas da nossa gestão”.
Enquanto
isso, o governo dos “guardiões da democracia”, liderado por George Bush,
liberou mais de 15 milhões de dólares para financiar oficialmente as atividades
dos chamados dissidentes cubanos que vivem nos Estados Unidos. Segundo
documento assinado pelo presidente estadunidense e que veio a público em 6 de
maio de 2004, isso é só “uma pequena parte dos recursos que serão usados para
por fim rapidamente ao regime cubano, para fazer surgir uma Cuba livre”. Pois
é. É o mesmo cara que ganhou uma eleição fraudada e que se arvora no direito de
mandar embora os sírios do Líbano enquanto acossa os iraquianos com uma invasão
criminosa. Quem, em sã consciência, pode dar qualquer crédito a um homem
desses? Quem pode querer esta democracia?”.
1. Publicado em Adital – Notícias da América Latina e Caribe, com o título Eleições em Cuba - livres e diretas.
2.
No caso de Cuba, candidatos sem partido (independentes) tambem podem se
inscrever
3 comentários:
Para alguém postular um cargo nas câmaras, assembléias ou no congresso, tem que arranjar recursos astronômicos, fazer coligações espúrias, o que restringe o acesso de pessoas sérias e que não possuem condições de arranjar dinheiro nem tem paciência para realizar articulações. Não opino sobre a 'democracia' cubana, mas o relato é convincente sobre o processo eleitoral. Aliás, aquele que deseja 'servir ao povo', ser seu representante, deveria ganhar o mínimo para a sua sobrevivência.
O poder político a partir dos soviets, desde a revolução de 1905 na Rússia mostrou um tipo de democracia muito mais ampla e real. Uma democracia que funciona in facto de cima para baixo.
Quando se diz: "Não opino sobre a 'democracia' cubana, mas o relato é convincente sobre o processo eleitoral" mostra o quanto a ditadura de classe (burguesa) através da também ditadura da sua media dirigida deturpa as cabeças das pessoas.
Achamos que aqui é "democracia" e lá não é simplesmente porque esta media deforma a realidade a partir de esteriótipos, como essa farsa do “voto universal” que é um engôdo. Aí conduzem as pessoas a acharem que o que existe em Cuba é ditadura, porque não informam sobre as eleições na ilha. Isto como se nos EUA não houvesse o tal “cara (Bush filho) que ganhou uma eleição fraudada”.
O fato é que os que estão no poder no mundo ocidental-cristão são o fruto do que existe de mais fundo em corrupção e enganação.
Fantástico o final do texto deste jornalista analisando a "democracia" nos Estados Unidos, seguramente o país que tem a classe política mais corrupta do mundo.
Eusébio Alencastro
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