Sandra
Starling*
Publicado
em 13/09/2012 na “Tribuna da Internet” e transcrito neste blogue.
Acompanhei pela TV, nos EUA, a
recente convenção do Partido Democrata, realizada em Charlotte, Carolina do
Norte. O entusiasmo já não era o mesmo da convenção anterior, ocorrida em
Denver, há quatro anos. Os jornalistas informaram a presença de 25 mil
delegados no centro de convenções; em 2008, eram mais de 100 mil militantes num
estádio de futebol. Não houve surpresas. O nome de Barack Obama como candidato
à presidência foi confirmado unanimamente. Agora, o slogan “Forward” (em
frente) substitui o batido “Yes, we can” (sim, nós podemos).
O que realmente surpreende é uma
candidatura moderada ser acusada pelos oponentes republicanos de “socialista”.
Obama não permitiu sequer que a palavra “Deus” deixasse de constar da
plataforma do partido. Da mesma forma, exigiu que fosse escrito no programa,
como sempre aconteceu, que Jerusalém deve ser considerada a capital do Estado
de Israel. É bom esclarecer que nenhum governo norte-americano, até hoje, deu
passos concretos para retirar a embaixada de Tel Aviv.
A estrategista da campanha
republicana, Mary Matalin, registrou que Obama tem procurado, o tempo todo,
mostrar-se amigável ao empreendedorismo. Em suas referências à criação de novos
empregos (mais de 4 milhões, mas com salários mais baixos do que os concedidos
antes da crise de 2008), sempre destaca que são postos no setor privado. Tudo
para desfazer a imagem de esquerdista, o que, efetivamente, ele não é.
No ideário democrata, todos os
discursos giram em torno de uma expressão mágica: “classe média”.
É A CLASSE
MÉDIA, ESTÚPIDO
Afinal, o novo mantra de James
Carville, estrategista democrata (e ainda marido da mencionada Mary Matalin),
é: “It´s the middle class, stupid!”. Em sua carismática fala, o ex-presidente
Bill Clinton reforçou o clichê da doutrina neokeynesiana. Por sua vez, Joe
Biden, o vice de Obama, tentou definir, em seu pronunciamento, o que é ser da
classe média. De suas redondilhas e seus circunlóquios, pode-se deduzir o que
seja isso: dê-me algum emprego, um seguro-saúde e um financiamento subsidiado
para a universidade de meu filho, e pronto! Nada mais me importa.
Isso se parece com as palavras de
Lula, ao dizer que o pobre se contenta com pouco. Pensar que as sociedades
possam ser organizadas de uma forma diferente é algo complicado, que não cabe a
qualquer um.
As pesquisas vêm indicando a
aprovação do governo Obama (53%), e, se não houver nenhum acidente de percurso,
o democrata deverá ser reeleito.
Curiosamente, leio, ao mesmo
tempo, a tão citada matéria da “Forbes” sobre a presidente Dilma Rousseff.
Carville volta à cena como autor do próximo livro a ser lido pela chefe de
governo brasileira, definida, agora, como uma “ex-marxista que estimula o
empreendedorismo”. Resta saber até quando essa história de “classe média” dará
certo nos EUA e no Brasil.
O mais bizarro é que até alguns
oráculos do capitalismo têm revisitado os livros de Marx em busca de uma
resposta consistente, antes que a labareda da próxima crise, como diria Jards
Macalé, venha lamber tudo!
(*) Aos 38 anos, Sandra Starling
foi a primeira candidata do PT ao governo de Minas Gerais. Depois foi deputada
estadual, federal, secretária municipal de educação e secretária executiva do
Ministério do Trabalho e Emprego, advogada e professora de Sociologia,
Metodologia e Direito.
Em junho de 2010 desligou-se do PT, alegando que: “o erro do partido foi ter se locupletado do que encontrou. E que o Ministério Público Federal não durma distraído…” aliando-se então ao Movimento Marina Silva.
Em junho de 2010 desligou-se do PT, alegando que: “o erro do partido foi ter se locupletado do que encontrou. E que o Ministério Público Federal não durma distraído…” aliando-se então ao Movimento Marina Silva.
2 comentários:
"It´s the middle class, stupid!"´é uma das melhores conclusões a que se pode chegar.
Afinal a classe média é a pequeno burguesia. E Marx já havia falado sobre a sua estupidez!
Excelente este texto da Sandra Starling!
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