Essas críticas de Saramago à igreja católica
são de 2009, mas, em homenagem à passagem de ano, a publico aqui.
O escritor José Saramago¹ acusou o papa Bento XVI
de “cinismo” e defendeu que à “insolência reacionária” da igreja há que
responder com a “insolência da inteligência viva”.
“Que Ratzinger tenha a
coragem de invocar deus² para reforçar o seu neo-medievalismo universal, um deus
que jamais viu, com o qual nunca se sentou a tomar um café, demonstra apenas o
absoluto cinismo intelectual da personagem”, disse Saramago em Roma, durante um
colóquio com o filósofo italiano Paolo Flores D’Arcais, noticiou hoje o jornal
italiano Il Fatto Quotidiano.
O Prêmio Nobel da Literatura 1998 encontra-se na
capital italiana para apresentar o livro “O
Caderno”, em que estão compilados textos que escreveu entre setembro de
2008 e março deste ano no seu blogue, e reunir-se com amigos italianos, como a
Prémio Nobel da Medicina 1986, Rita Levi Montalcini.
Na conversa que manteve com Flores D’Arcais,
Saramago assegurou que é um “ateu tranquilo”, mas que agora está mudando de
ideias.
“Às insolências reacionárias da Igreja Católica
há que responder com a insolência da inteligência viva, no bom sentido, da
palavra responsável. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os
dias pelos presumíveis representantes de deus na terra, a quem na realidade só
interessa o poder”, afirmou.
Segundo Saramago, interessa pouco à Igreja o
destino das almas e o que sempre procurou é o controle dos seus corpos.
“A razão - acrescentou - pode ser uma moral.
Usemo-la”.
Inquirido sobre se a ausência de empenhamento de
escritores e intelectuais pode ser uma das causas da crise da democracia, o
escritor disse que sim, mas que não só, já que toda a sociedade está nessas
condições e isso leva a uma crise de autoridade, da família, dos costumes, uma
crise moral em geral.
Saramago advertiu para o crescimento do
"fascismo” na Europa e mostrou-se convencido de que nos próximos anos
“atacará com força”.
Por isso - sublinhou -, “temos de preparar-nos
para enfrentar o ódio e a sede de vingança que os fascistas estão a alimentar”.
“Apesar de ser claro que se apresentarão com
máscaras pseudo democráticas, algumas das quais circulam já entre nós, não
devemos deixar-nos enganar”, frisou.
Antes de Roma, Saramago esteve em Milão, Turim,
Alba e Pontedera, onde se encontrou com os seus leitores e criticou o
primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.
Em declarações ao diário L’Unità, o escritor disse que Berlusconi é a “doença do país” e
hoje, na conversa com Flores D’Arcais afirmou que o que mais caracteriza a
esquerda, no plano internacional, é a “falta de ideias”.
A direita, de acordo com Saramago, não precisa de
ideias para governar e isso vê-se em Berlusconi, “que não tem nenhuma”, mas a
esquerda, “se não tem ideias, não tem nada que oferecer aos cidadãos”.
A visita de Saramago a Roma ocorre dias antes do
lançamento do seu mais recente romance, “Caim”,
em que o escritor se ocupa novamente da religião e que será simultaneamente
editado em português (em Portugal e no Brasil), espanhol e catalão.
1. José Saramago
– 16 de novembro de 1922, Aziganha, Portugal/18 de junho de 2010, Tías,
Espanha.
2.
A palavra “Deus” com a inicial em maiúscula está no original do texto do jornal
português Público. Como tenho certeza
que Saramago jamais escreveria assim, corrigi para “deus”.
2 comentários:
Saramago foi um gênio, com certeza o maior escritor da língua portuguesa de todos os tempos.
Maior do que Camões, Machado de Assis, Jorge Amado ou Eça de Queirós.
Não somente concordo com este ponto de vista, como já o postei aqui neste blogue.
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