A atual crise capitalista mundial estourou em meados de 2007,
quando se declarou a quebra de importantes fundos de investimento aplicados na
especulação com ativos imobiliários. Foi o que arrastou Wall Street a uma tremenda
queda das cotizações dos valores negociados na principal bolsa de valores do
mundo. E alcançou seu apogeu em 15 de setembro do ano seguinte quando foi
declarada a bancarrota de um dos maiores bancos de investimento estadunidense–
o Lehman Brothers. E era apenas a ponta
do iceberg. O que estava posto então era a situação de emergência do sistema
financeiro internacional, à beira de uma quebra generalizada. O establishment
mundial se debateu entre uma extensa nacionalização do sistema bancário para
tentar manter em pé a atividade econômica semiparalisada ou seu resgate formal
mediante uma injeção colossal de dinheiro e subsídios que evitasse um colapso
terminal.
O montante de recursos utilizados para este fim se estima na
magnitude equivalente à totalidade de produção anual dos EUA, da ordem de 15
trilhões de dólares, uma quarta parte aproximadamente do produto bruto mundial,
uma quantidade sem precedentes na história do capitalismo.
A eclosão da crise financeira foi seguida por uma
depressão econômica de alcances igualmente planetários. As economias mais
desenvolvidas registraram uma queda superior a 3% em 2009, depois da estagnação
durante o ano anterior. Nos primeiros meses da crise o estouro dos mercados de
ações e a produção industrial alcançavam registros superiores aos alcançados na
pior crise da economia capitalista até então, a de 1929. Diferente daquela,
contudo, os analistas consideraram, praticamente por unanimidade, que o curso
subsequente do desmoronamento (que na década de 30 se prolongou como um
ladeirão abaixo por amos e anos) desta vez seria limitado por um massivo
resgate financeiro que havia sido evitado setenta anos atrás. De fato, no fim
de 2009, era declarado oficialmente o fim da recessão.
Porem, os dados que mostraram para provar que a marcha para o
abismo havia sido detida, e, inclusive, revertida, eram enganosos. A situação
de falência dos bancos foi dissimulada por manipulações do que se chama
“contabilidade criativa” para superestimar o valor de ativos desvalorizados. Os
indicadores da atividade econômica se encontravam também distorcidos, do mesmo
modo que os lucros das empresas que se apresentavam nas contas nacionais. As
cifras da economia real, tais como o nível de emprego, o volume de crédito ou
investimento – para citar as mais significativas – mostravam para quem quisesse
ver que não se recuperaram mesmo do solavanco.
A suposta recuperação da recessão a partir da segunda metade do ano de 2009
repousava no relançamento de uma atividade especulativa enorme que, sobretudo,
reproduzira o mesmo mecanismo que havia conduzido ao colapso da chamada “bolha”
imobiliária de 2007, quando os preços das moradias começaram a baixar, as
taxas de juros a subir e os devedores privados ingressaram em massa na fila de
suspensão de pagamentos de suas hipotecas, arrastando assim os fundos a
galope, montados nestas últimas. Foi uma bola de neve que varreu tudo a seu
redor, liquidando um negócio fictício que se apoiava em uma hipertrofia do
endividamento para sustentar a superprodução de edifícios e urbanizações.
Não para resgatar as vitimas, mas os deus algozes: os bancos e
companhias financeiras golpeadas pelo vendaval. A partir de 2008 se inflou,
então, um novo endividamento, ainda que, desta vez às custas das finanças
públicas e, também, em uma dimensão homérica. Seu estouro foi mais rápido ainda
e é o terreno em que se desenvolve a crise agora, decretando a quebra das
economias de países e regiões inteiras. O caso mais notório foi da Grécia (mas
também da Islândia, Irlanda e, antes, os países bálticos) que, há mais de um
ano, se desenvolve penosamente como a crônica de um “default” anunciado.
O default “nacional” é
o terreno emblemático da nova fase da crise que afeta as elos mais débeis da
cadeia da economia globalizada, um fenômeno que domina as vicissitudes da crise
na atualidade urbi et orbe.
Uma análise
oportuna sobre este tema indica que, a suspensão de pagamentos da dívida dos
Estados Unidos é um fato que se evidencia desde muito tempo atrás. O que acontece
é que a administração estadunidense tem deixado de pagar sua dívida pública faz
bastante tempo, o que se oculta pelo fato de que, se limita a renová-la, com
mais dívida, incrementando assim explosivamente seu valor. A causa principal
deste crescimento é a acumulação de juros que se paga com a emissão de divida
nova. A taxa de crescimento da dívida supera o PIB.
Seu valor
nominal, sempre crescente, dissimula uma estrepitosa queda de seu valor real,
que não é outra coisa senão uma expressão da desvalorização do dólar. A dívida
pública ianque vale, em termos de ouro, 12% do que valia em 2005. Isto quando a
dívida pública federal cresceu vertiginosamente nos últimos anos até alcançar
14 trilhões de dólares, e quando o déficit fiscal do exercício de 2011 supera
10% deste produto.
Um comentário:
Como de hábito, artigo antenado contemporaneidade
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