Recebi esta semana, graças à interferência
de meu primo Durval, o livro sobre seu pai, meu tio e padrinho de saudosa
memória, cujo texto de abertura transcrevo abaixo:
“A Santa Casa da Bahia, através do seu diretor técnico assistencial do
Hospital Santa Izabel, Ricardo Madureira, encontrou recentemente documentos de
1961 do então diretor Dr. Durval Pessoa Olivieri. Era um relatório que havia
sido endereçado ao provedor da época com planejamento e ações realizadas no
hospital. Eis então a surpresa de encontrar informações e ideias tão atuais…
uma verdadeira preciosidade!(...)”
Lembro-me como se fosse hoje de
meu querido e saudoso tio e padrinho sentado em seu gabinete –em casa– a
descrever com o entusiasmo que lhe era tão peculiar as metas que desejava
alcançar no hospital que dirigia. Muitas vezes eu e meus primos Alberto (seu
filho) e André Setaro, trocando pernas pelo bairro de Nazaré, íamos ao Hospital
Santa Izabel e constatávamos suas ações hoje finalmente compreendidas e reconhecidas...
pois não é que os gênios muitas vezes dialogam com o futuro?
E prossegue o texto: “(...) Ao analisar cuidadosamente cada
projeto ali descrito, chegou-se a conclusão de que aqueles documentos deveriam
ser relembrados e que o médico que tanto contribuiu para a instituição merecia
ser homenageado. Em 30 de julho de 2018 a Santa Casa lançou o livro Durval
Olivieri – Um médico à frente do seu tempo, que integrou as
celebrações pelos 125 do HSI, com uma justa referencia ao homem que atuou de
maneira visionária como diretor do Santa Izabel na década de 60.”
Que maravilha!, pois ao ler este
texto meus olhos marejaram de orgulho e saudade de um tio tão querido quanto
fundamental em minha existência, pois foi dele em minha adolescência que ouvi
as primeiras referências ao socialismo e à necessidade de um mundo mais
igualitário e humano.
Durvalito, como carinhosamente o
chamávamos, veio a falecer de câncer em São Paulo(1) no ano de 1993. Doente, escreveu
dois importantes livros (capas reproduzidas em anexo). Em “O outro – entre a
cura e o cuidado”, procura levar o leitor a refletir sobre o ser, o ser-doente e o ser-com-o-doente,
a partir da vida e experiência dele como médico, que entendia que a visão corpo-máquina do modelo cartesiano não
era suficiente para compreender grande parte das enfermidades e dos problemas
humanos.
Já na importante narrativa analítica
“Reflexões de um médico enfermo” descreve como se apresenta o Ser do médico doente. Analisa que os
homens não são perturbados pelas coisas, mas, principalmente, pelas visões que
têm delas, sendo possível que o Ser
doente, no médico, apresente algumas características extremamente especiais.
Esses livros ainda podem ser encontrados à venda em livrarias como a Saraiva e
Cultura com vendas on-line.
Esta publicação constituiu-se
numa merecida homenagem a um médico competente, ou melhor dizendo brilhante
cujas visões avançadas finalmente estão sendo compreendidas. Ora viva!
1. Era conhecido por seus precisos diagnósticos. Minha irmã Maria
Célia, esteve com ele em sua última semana no hospital e ele lhe falou: “Não
tenho mais do que dois dias de vida!”. Foi na mosca! Dois dias depois ele
faleceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário