Cresci a ouvir, quase que uníssono,
os adultos de então a “cair de pau” nas populares ”chanchadas” da Atlântida, em
seus atores e suas produções, segundo eles vergonhosa. Enquanto isso as filas
nos cinemas eram enormes. O povo gostava do gênero e o prestigiava. “Mau gosto”,
“cafonice”, “ignorância”, diziam alto e bom som os preconceituosos pequeno-burgueses
que criticavam os chamados irônica e pejorativamente de “filmes nacionais”.
Esses dias revi no YouTube Nem
Sansão nem Dalila com Oscarito, direção do excelente Carlos Manga (1), obra
que vem a provar o contrário de tudo isso. Diz a sinopse do filme: “O barbeiro Horácio sofre um insólito
acidente e vai parar no Reino de Gaza, no século IV antes de Cristo. Lá conhece
Sansão, dono de uma força descomunal que vem de uma milagrosa peruca. Horácio,
porém, troca a peruca de Sansão por um isqueiro, transforma-se num homem forte
e poderoso e passa a reinar em Gaza”... muito bom, esbaldei-me de rir;
valeu a pena!
Gente, aquilo era comédia, a mais
pura comédia!!! E mais, todas eram grandes comédias em sua essência. Alem do
que em conjunto com a produção da Vera Cruz, com estúdios em São Bernardo do
Campo (SP), a carioquíssima Atlântida era uma parte ativa da indústria
cinematográfica brasileira.
Podemos citar películas como Sai de Baixo, Matar ou Correr, Batedor de
Carteiras, Pé na Tábua, O Homem do Sputnik, Os Dois Ladrões, Barnabé Tu És Meu,
Carnaval Atlântida, Os Apavorados, Matemática Zero - Amor Dez, Vamos com Calma e tantos outros,
estrelados por Grande Otelo, Fada
Santoro, Cyll Farney, Violeta Ferraz, Ankito, Eva Todor, Colé, Renata Fronzi,
Zé Trindade, Eliana Macedo, José Lewgoy, Virginia Lane, Zezé Macedo e o
genial Oscarito, só pra citar algumas
como exemplos de filmes e intérpretes engraçados e que marcaram um período em
que o Brasil ainda tentava ser uma democracia, apesar dos Lacerdas, Magalhães Pintos e
outros fiasdaputa da época. Sim,
porque o espírito político dominante determinava mentes sãs em corpos sãos.
Chanchadas à parte, vamos lembrar
que outras comédias como Quanto Mais
Quente Melhor (Billy Wilder) ou Divórcio
à Italiana (Pietro Germi), tambem podem ser consideradas chanchadas. E não
foram realizadas pela Atlântida...
1. conheci Carlos Manga em 1988 quando dirigiu um filme/comercial
criado por mim e Marcos Vinícius Ferraz para o Procel (Programa de Economia de
Energia Elétrica) da Eletrobras, na VS Escala em que o Manga habilmente reproduziu
o clima de “Janela Indiscreta” de Hitchcock, de acordo com nosso roteiro (assista
clicando no link abaixo).
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