Por Mauro Santayana – Publicado no Jornal do Brasil em 11 de novembro de
2014 e reproduzido neste blogue, pelo fato de ser uma análise excelente do que
se passa no Brasil atualmente.
Está em curso, há anos, nas
"redes sociais" insidiosa campanha de agressão à democracia e
crescentes ataques às instituições.
Quem cala,
consente. Os governos do PT têm feito, em todo esse período, cara de
paisagem. Nem mesmo quando diretamente insultados, ou caluniados, os dirigentes
do partido tomaram qualquer providência contra quem os atacava, ou atacava as
instituições, esquecendo-se de que, ao se omitirem, a primeira vítima foi a
democracia. Nisso, sejamos francos, foram precedidos por todos os governos
anteriores, que chegaram ao poder depois da redemocratização do país.
Mergulhados
na luta política e na administração cotidiana dos problemas nacionais, nenhum
deles percebeu que o primeiro dever que tínhamos, nesta nação, depois do fim do
período autoritário, era regar e proteger a frágil flor da Liberdade, ensinando
sua importância e virtudes às novas gerações, para que sua chama não se
apagasse no coração dos brasileiros. Se, naquele momento, o da batalha pela
reconquista do Estado de Direito, cantávamos em letras de rock que queríamos
votar para presidente, hoje parece que os polos da razão foram trocados, e que
vivemos sob a égide da insânia e da vilania.
Em absoluta
inversão de valores, da ética, da informação, da própria história,
retorna a velha balela anticomunista de que Jango — um latifundiário
liberal ligado ao trabalhismo — ia implantar uma ditadura cubano-soviética no
Brasil, ou que algumas dezenas de estudantes poderiam derrubar, quatro anos
depois, um regime autoritário fortemente armado, quando não havia nenhuma
condição interna ou externa para isso.
Quem cala,
consente. Os governos do PT têm feito, em todo esse período, cara de
paisagem. Nem mesmo quando diretamente insultados, ou caluniados, os dirigentes
do partido tomaram qualquer providência contra quem os atacava, ou atacava as
instituições, esquecendo-se de que, ao se omitirem, a primeira vítima foi a
democracia. Nisso, sejamos francos, foram precedidos por todos os governos
anteriores, que chegaram ao poder depois da redemocratização do país.
Mergulhados
na luta política e na administração cotidiana dos problemas nacionais, nenhum
deles percebeu que o primeiro dever que tínhamos, nesta nação, depois do fim do
período autoritário, era regar e proteger a frágil flor da Liberdade, ensinando
sua importância e virtudes às novas gerações, para que sua chama não se
apagasse no coração dos brasileiros. Se, naquele momento, o da batalha
pela reconquista do Estado de Direito, cantávamos em letras de rock que
queríamos votar para presidente, hoje parece que os polos da razão foram
trocados, e que vivemos sob a égide da insânia e da vilania.
Em absoluta
inversão de valores, da ética, da informação, da própria história,
retorna a velha balela anticomunista de que Jango — um latifundiário
liberal ligado ao trabalhismo — ia implantar uma ditadura cubano-soviética no
Brasil, ou que algumas dezenas de estudantes poderiam derrubar, quatro anos
depois, um regime autoritário fortemente armado, quando não havia nenhuma
condição interna ou externa para isso.
Quem cala,
consente. Os governos do PT têm feito, em todo esse período, cara de
paisagem. Nem mesmo quando diretamente insultados, ou caluniados, os dirigentes
do partido tomaram qualquer providência contra quem os atacava, ou atacava as
instituições, esquecendo-se de que, ao se omitirem, a primeira vítima foi a
democracia. Nisso, sejamos francos, foram precedidos por todos os governos
anteriores, que chegaram ao poder depois da redemocratização do país.
Mergulhados
na luta política e na administração cotidiana dos problemas nacionais, nenhum
deles percebeu que o primeiro dever que tínhamos, nesta nação, depois do fim do
período autoritário, era regar e proteger a frágil flor da Liberdade, ensinando
sua importância e virtudes às novas gerações, para que sua chama não se
apagasse no coração dos brasileiros. Se, naquele momento, o da batalha
pela reconquista do Estado de Direito, cantávamos em letras de rock que
queríamos votar para presidente, hoje parece que os polos da razão foram
trocados, e que vivemos sob a égide da insânia e da vilania.
Em absoluta
inversão de valores, da ética, da informação, da própria história,
retorna a velha balela anticomunista de que Jango — um latifundiário
liberal ligado ao trabalhismo — ia implantar uma ditadura cubano-soviética no
Brasil, ou que algumas dezenas de estudantes poderiam derrubar, quatro anos
depois, um regime autoritário fortemente armado, quando não havia nenhuma
condição interna ou externa para isso.
Agora, para
muitos que se manifestam pela internet, quem combatia pela democracia virou
terrorista, os torturadores são incensados e defendidos, e prega-se abertamente
o fim do Estado de Direito, como se o fascismo e o autoritarismo fossem solução
para alguma coisa, ou o Brasil não fosse ficar, política e economicamente,
imediata e absolutamente, isolado do resto do mundo, caso fosse rompida a
normalidade constitucional.
Ora, os
mesmos internautas que insultam, hoje, o Judiciário, sem serem incomodados —
afirmando que o ministro Toffoli fraudou as eleições — já atacaram pesadamente
Aécio Neves e sua família, quando ele disputava a indicação como candidato à
Presidência pelo PSDB em 2010. São eles os mesmos que agridem os
comandantes militares, acusando-os de serem "frouxos" e estarem
controlados pelos comunistas, e deixam claro seu desprezo pelas instituições brasileiras,
incluindo as Forças Armadas, pedindo em petição pública à Casa Branca uma
intervenção dos Estados Unidos no Brasil, como se fôssemos reles quintal dos
EUA, quando são eles os que se comportam como abjetos vira-latas, em sua
patética submissão ao estrangeiro.
São eles os
que defendem o extermínio dos nordestinos e a divisão do país, como se apenas
naquela região a candidata da situação tivesse obtido maioria, e não
estivéssemos todos misturados, ou nos fosse proibida a travessia das fronteiras
dos estados.
São eles
que inventam generais de araque, supostos autores de manifestos igualmente
falsos, e usam, sem autorização, o nome de oficiais da reserva, em documentos
delirantes, tentando manipular, a todo momento, a base das Forças Armadas e as
forças de segurança, dando a impressão de que existem sediciosos no
Exército, na Marinha, na Aeronáutica, quando as três forças se encontram
unidas, na execução de projetos como o comando das Operações de Paz da
ONU no Haiti e no Líbano; as Operações Ágata, em nossas fronteiras; o novo Jato
Cargueiro Militar KC-390 da Embrer; o novo Sistema de Mísseis Astros 2020 da
Avibras; ou o novo submarino nuclear brasileiro, no cumprimento, com louvor, de
sua missão constitucional.
O site SRZD,
do jornalista Sérgio Rezende, entrou em contato com oficiais militares da
reserva, que supostamente teriam "assinado" um manifesto, que
circula, há algum tempo, na internet. O texto se refere a "overdose de
covardia, cumplicidade e omissão dos comandantes militares" e afirma
que, como não há possibilidade de tirar o PT do poder, é preciso dar um golpe
militar, antes que o Brasil se transforme em uma "Cuba Continental".
Segundo o
SRZD, todos os oficiais entrevistados, incluindo alguns generais, negaram
peremptoriamente terem assinado esse "manifesto" e afirmaram já ter
entrado em contato com o Ministério do Exército, denunciando tratar-se o
e-mail que divulgava a mensagem de uma farsa e desmentindo sua participação no
suposto movimento.
Por mais que
queiram os novos hitlernautas, os militares brasileiros sabem que o governo
atual não é comunista e que o Brasil não está, como apregoam os “aloprados” de
extrema direita que tomaram conta da internet, ameaçado pelo comunismo
internacional.
Como dizer
que é comunista, um país em que os bancos lucram bilhões, todos os trimestres;
em que qualquer um — prerrogativa maior da livre iniciativa — pode montar
uma empresa a qualquer hora, até mesmo com apoio do governo e de instituições
como o Sebrae; no qual investidores de todo o mundo aplicam mais de 60 bilhões de
dólares, a cada 12 meses, em Investimento Estrangeiro Direto; onde
dezenas de empresas multinacionais se instalam, todos os anos, junto às
milhares já existentes, e mandam, sem nenhuma restrição, a cada fim de
exercício, bilhões e bilhões de dólares e euros em remessa de lucro para e
exterior?
Como taxar
de comunista um país que importa tecnologia ocidental para seus armamentos,
tanques, belonaves e aeronaves, cooperando, nesse sentido, com nações como a
França, a Suécia, a Inglaterra e os Estados Unidos? Que participa de manobras
militares com os próprios EUA, com países democráticos da América do Sul e com
democracias emergentes, como a Índia e a África do Sul?
Baboso,
atrasado, furibundo, ignorante, permanentemente alimentado e realimentado por
mitos e mentiras espatafúrdias, que medram como fungos nos esgotos mais
sombrios da Rede Mundial, o anticomunista de teclado brasileiro é sobretudo
hipócrita e mendaz.
Ele acredita
"piamente" que Dilma Rousseff assaltou bancos e matou pessoas e que
José Genoino esquartejou pessoalmente um jovem, começando sadicamente pelas
orelhas, quando não existe nesse sentido nenhum documento da ditadura
militar.
Ele vê em um
site uma foto da Escola Superior de Agricultura da USP, a Esalq, situada em
Piracicaba, e acredita, também, "piamente", que é uma foto da mansão
do "Lulinha", que teria virado o maior fazendeiro do país, junto com
seu pai, sem que exista uma única escritura, ou o depoimento — até mesmo
eventualmente comprado — de um simples peão de fazenda ou de um funcionário de
cartório, que aponte para alguma prova ou indício disso, como de outras
"lendas urbanas", como a participação da família do ex-presidente da
República na propriedade de um grande frigorífico nacional.
Ele crê,
piamente, e divulga isso, todo o tempo, que todos os 600 mil presos brasileiros
têm direito a auxílio-reclusão quando quase 50% deles sequer foram julgados, e
menos de 7% recebem esse benefício, e mesmo assim porque contribuíram
normalmente, antes de serem presos, para a Previdência, durante anos, como
qualquer trabalhador comum.
Nada contra
alguém ser de direita, desde que se obedeçam as regras estabelecidas na
Constituição. Nesse sentido, o senhor Jair Bolsonaro presta um serviço à
democracia quando diz que falta, no Brasil, um partido com essa orientação
ideológica, e já se declara candidato à Presidência, por essa provável
agremiação, ou por essa parcela do eleitorado, no pleito de 2018.
Os mesmos
internautas que pensam que Cuba é uma ditadura contagiosa e sanguinária, da
qual o Brasil não pode se aproximar, ligam para os amigos para se gabar de seu
novo smartphone ou do último gadget da moda, Made in República Popular da
China, que acabaram de comprar.
Eles são os
mesmos que leem os textos escritos, com toda a iberdade, pela opositora cubana
Yoami Sanchez — já convenientemente traduzidos por
"voluntários" para 18 diferentes idiomas — e não se perguntam, por
que, sendo Cuba uma ditadura, ela está escrevendo de seu confortabilíssimo,
para os padrões locais, apartamento de Havana, e não pendurada em um pau de
arara, ou tomando choques e sendo espancada na prisão.
Mas
fingem ignorar que 188 países condenaram, na semana passada, em votação
de Resolução da ONU, o embargo dos Estados Unidos contra Cuba, exigindo o fim
do bloqueio.
Ou que os
EUA elogiaram e agradeceram a dedicação, qualidade e profissionalismo de
centenas de médicos cubanos enviados pelo governo de Havana para colaborar, na
África, com os Estados Unidos, no combate à pandemia e tratamento das milhares
de vítimas do ebola.
Ou que a
Espanha direitista de Mariano Rajoy, e não a Coreia do Norte, por exemplo, é o
maior sócio comercial de Cuba.
Ou que
há poucos dias acabou em Havana a XXXIII FIHAV, uma feira internacional
de negócios com 4.500 expositores de mais de 60 países — aproximadamente
90% deles ocidentais — com a apresentação, pelo governo cubano, a ávidos
investidores estrangeiros, como os italianos, canadenses e chineses, de
271 diferentes projetos de infraestrutura, com investimento previsto de mais de
8 bilhões de dólares.
Radical,
anacrônica, desinformada e mais realista que o rei, a minoria antidemocrática
que vai, eventualmente, para as ruas e se manifesta raivosamente na internet
querendo falar em nome do país e do PSDB, pedindo o impeachment da presidente
da República e uma intervenção militar, ou dizendo que é preciso se armar para
uma guerra civil, baseia-se na fantasia de que a nação está dividida em duas e
que houve fraude nas urnas, mas se esquece, no entanto, de um "pequeno"
detalhe: quase um terço dos eleitores, ou mais de 31 milhões de
brasileiros, ausentes ou donos de votos brancos e nulos, não votaram nem em
Dilma nem em Aécio, e não podem ser ignorados, como se não existissem, quando
se fala do futuro do país.
Cautelosa e
consciente da existência de certos limites intransponíveis, impostos pelo pudor
e pela razão, a oposição tem se recusado a meter a mão nessa cumbuca, fazendo
questão de manter razoável distância desse pessoal.
Guindado,
pelo voto, à posição de líder inconteste da oposição, o senador Aécio Neves,
presidente do PSDB, por ocasião de seu primeiro discurso depois do pleito,
no Congresso, disse que respeita a democracia permanentemente e que
"qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de
retrocesso terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das
liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e
truculenta estão no outro campo político, não estão no nosso campo
político".
Antes dele,
atacado por internautas, por ter classificado de
"antidemocráticas" as manifestações pedindo o impeachment da
presidente Dilma e a volta do autoritarismo, o sociólogo Xico Graziano, também
do PSDB, já tinha afirmado que "a truculência dessa cambada fascista que
me atacou passa de qualquer limite civilizado. No fundo, eles provaram que eu
estava certo: não são democratas. Pelo contrário, disfarçam-se na liberdade
para esconder seu autoritarismo".
E o
vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman, também negou, no dia
primeiro, em São Paulo, que o partido ou a campanha de Aécio Neves estivessem
por trás ou apoiassem — classificando-as de "irresponsáveis" — as
manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
É
extremamente louvável a iniciativa do presidente da OAB, Marcus Vinícius
Furtado Côelho, de pedir a investigação e o indiciamento, que já estão em
curso, pela Polícia Federal, com base na Lei do Racismo por procedência, dos
internautas responsáveis pela campanha contra os nordestinos, lançada logo após
a divulgação do resultado da eleição.
Mas, se essa
campanha é grave, mais grave ainda, para toda a sociedade brasileira, tem sido
a pregação constante, que já ocorre há anos, pelos mesmos internautas, da
realização de um Golpe de Estado, do assassinato e da tortura de
políticos e intelectuais de esquerda, e de "políticos" de modo geral,
além do apelo à mobilização para uma guerra civil, incluindo até mesmo a
sugestão da compra de armas para a derrubada das instituições.
Cabe ao STF,
ao Ministério Público, ao TSE, e aos tribunais eleitorais dos estados, que
estão diretamente afeitos ao assunto, e à OAB, por meio de seus dirigentes,
pedir, como está ocorrendo nos casos de racismo, a imediata investigação, e
responsabilização, criminal, dos autores desses comentários, cada vez mais
rançosos e afoitos, devido à impunidade, e o estabelecimento de multas para os
veículos de comunicação, que os reproduzem, já que na maioria deles
existem mecanismos de "moderação" que não têm sido corretamente
aplicados nesses casos.
A Lei 7.170
é clara, e define como "crimes contra a Segurança Nacional e a Ordem
Política e Social, manifestações contra o atual regime representativo e
democrático, a Federação e o Estado de Direito".
Há mais de
30 anos, pelas mãos de Tancredo Neves e de Ulisses Guimarães — em uma luta da
qual Aécio também participou — e de milhões de cidadãos brasileiros, que foram
às ruas, para exigir o fim do arbítrio e a volta do Estado de Direito, o Brasil
reconquistou a democracia, pela qual havia lutado, antes, a geração de
Dilma Rousseff, José Dirceu, José Serra e Aluísio Nunes, entre outros.
Por mais que
se enfrentem, agora, essas lideranças, não dá para apagar, de suas biografias,
que todos tiveram seu batismo político nas mesmas trincheiras, enfrentando
o autoritarismo.
Cabe a eles,
principalmente os que ocupam, neste momento, alguns dos mais altos cargos da
República, assumir de uma vez por todas sua responsabilidade na defesa e
proteção da democracia, para que a Liberdade e o bom-senso não esmoreçam, nem
desapareçam, imolados no altar da imbecilidade.
Jornalistas,
meios de comunicação, Judiciário, militares, Ministério Público, Congresso,
Governo e Oposição, precisamos, todos, derrubar os pilares da estupidez,
erguidos com o barro pisado, diuturnamente, pelas patas do ódio e da
ignorância, antes que eles ameacem a estabilidade e a sobrevivência da nação, e
da democracia.
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