segunda-feira, 14 de março de 2011

A dança do rei “gago” e o enigma do “patinho feio”*. Freud explica?


Dois filmes a que assisti na semana passada, por acaso dois filmes que tratam da mente humana, seus caminhos e possibilidades... Ou, quem sabe, também os seus descaminhos.


I

O primeiro deles, dirigido por Tom Hooper, um realizador britânico que ainda não chegou aos 40 anos de idade, trata da gagueira do príncipe George, o segundo na sucessão ao trono inglês, que torna-se rei devido à renúncia de seu irmão mais velho, que escandalizou não somente a realeza britânica como o mundo todo (o “caso Simpson”). E para agravar a situação, numa época em que, devido ao advento do rádio, o rei precisava fazer discursos.
“O discurso do Rei” (The King’s Speech), Hooper tem o apoio do grande ator Geoffrey Rush, mais um austaliano a somar-se a uma tradição que se iniciou com Errol Flynn, o famoso “Robin Hood” dos anos 30.
Geoffrey, que ficou bastante conhecido na série “Piratas do Caribe” (no papel do Capitão Barbossa), na minha opinião, domina e engole todo o elenco, apesar de Colin Firth --Oscar de melhor ator (1)--, estar muito bom no papel de George VI, o rei gago, pai da atual rainha da Inglaterra, Elizabeth II. Firth, um ator bastante rodado, completou 50 anos em 2010.
Porém, o mais importante foco desta história está na luta pela superação da gagueira de George VI, com a ajuda, de Lionel Logue (Geoffrey), um psicoterapeuta “autodidata” que se empenha na cura de “Sua Alteza Real” e futuro Rei da Inglaterra, despertando para o seu consciente os traumas de sua rígida educação, que, entre outras coisas, fê-lo tornar-se destro à força, situação muito comum naqueles tempos.
O que nos mostra que todo ser humano, seja um simples cidadão comum ou um rei, sofrem da mesma forma problemas os quais teem que enfrentar... E superar a duras penas e muita persistência, sofrimento, e mesmo dor. O que Hooper nos passa com uma grande habilidade.

II

O segundo foi “Cisne negro” (Black Swan) do jovem diretor estadunidense Darren Aronofsky, que realizou apenas cinco filmes (o primeiro foi um Sci-Fi denominado “Pi”), tendo mais dois, até hoje inéditos de seus tempos de estudante.
Neste bem engendrado filme de suspense, um suspense crescente e ininterrupto, no qual, Beth MacIntyre (Winona Ryder), a primeira bailarina de uma companhia, que está prestes a se aposentar, e o posto acaba por ficar com Nina (2) após rigorosa seleção, pois “O Lago dos Cisnes” requer uma bailarina capaz de interpretar tanto o “Cisne Branco” com inocência e graça, quanto o “Cisne Negro”, que representa malícia e sensualidade. Uma personagem que possui sérios e graves problemas íntimos, em especial com sua mãe (Barbara Hershey), uma mulher possessiva, ex bailarina frustrada que projeta sua decepção em Nina, e a mima como um bebê.
Pressionada por Thomas Leroy (Vincent Cassel), um exigente diretor artístico, ela passa a enxergar uma concorrência desleal vindo de suas colegas, em especial Lilly (Mila Kunis). O processo de desintegração mental de Nina, a partir deste “complexo de perseguição” é um verdadeiro estudo psicanalítico de um comportamento psicótico que chega às raias da loucura.
E esta é a realidade alucinante deste filme em que nos confundimos entre a realidade e a alucinação, o que de fato acontece e o que se passa apenas na cabecinha conturbada de Nina. Não é apenas o suspense, mas a tentativa de descobrir o que é ou não, de fato quais são os fatos, que nos prendem à engrenagem da evolução descritiva, a que assistimos, imóveis na poltrona, olhos fixos na tela. Porque a cada instante pode aparecer um pequeno detalhe que nos possa levar ao que é verdade. Ou não.
O final, surpreendente, após um suspense de um crescendo ininterrupto é um exemplo do quanto a “cabeça”, o inconsciente em particular, é capaz de construir e/ou destruir. São os enigmáticos caminhos e descaminhos da mente humana.

III

Como se diz popularmente: “Freud explica”. Ou, em alguns casos: “Esta, nem Freud explica”...

(*) Usei, de forma simbólica, a correlação com o “patinho feio”, para fazer uma comparação entre o Cisne Negro, interpretação que quase afasta Nina do duplo --e difícil-- papel, pois se, doce como era incorporava muito bem o “Cisne Branco”, já para o “Cisne Negro”, seus problemas “psíquicos” dificultavam-na de uma grande “performance”, tornando-se o estopim para o seu comportamento “esquizóide”.

1. “O Discurso do Rei”, ganhou os Óscares de melhor filme, melhor diretor, melhor ator e melhor roteiro original.

2. Natalie Portman (por sinal belíssima) venceu o Óscar como melhor atriz por sua interpretação em “Cisne Negro”.


8 comentários:

Joelma disse...

Ótima a sua comparação entre esses dois filmes.
Ainda não fui ver "O Discurso do REi", mas pretendo ir esta semana. Mas "Cisne Negro" é isto mesmo, apesar de que sai confusa o cinema.
Até hoje não ficou claro para mim o que de fato aconteceu.
Mas acheo um ótimi filme apesar de toda essa d´vida.

Jonga Olivieri disse...

Joelma, vá assistir "O discurso do rei" assim que puder. O filme é muito bom!

Anônimo disse...

Ao contrário da Joelma eu assisti somente "o Discurso do Rei", e a sua crítica mostra muita coisa que pensei.
Primeiro da fragilidade do ser humano. Até da expressão que fulano está com o rei na barriga. Pois, reis são iguais a qualquer um, inclusive cagam e mijam.
E também quanto a interpetação de Geoffrey Rush. Um grande ator. E só o associei ao capitão Barbosa do
Piratas do Caribe depois que você falou disso.
Mas vou assistir o Cisne Negro ainda essa semana.
L.P.

Jonga Olivieri disse...

Se o rei na barriga for o George VI, deve dar uma tremenda crise de soluços, não LP?
Mas, amigooo, vai assitir "Cisne Negro". Vale a pena...

Simey Lopes disse...

eu ainda n vi nenhum, mas pretendo ver, minha viu o discurso do rei, e só dele por uma semana, parece interessante.
Um filme que quero assistir tambem é esse o ritual, mas nem sei se vale apena!

Jonga Olivieri disse...

Simey querida, não entendi bem a sua primeira frase, porém deduzi que você quis dizer que “sua” (mãe, irmã, amiga, tia) seja lá quem for assistiu “O discurso do rei”. Mais alguma coisa relativa a esta semana. Em suma que o filme parece interessante.
Quanto a “O ritual”, o tema não me agrada, apesar de gostar demais do ator Anthony Hopkins.
Mas você é uma jovem (e bela) mulher e talvez esteja na fase de curtir os temas de terror.
Vi muitos quando mais novo, mas hoje, assisto apenas os de “terrir”, como “A dança dos Vampiros” de Roman Polansky e “Jovem Frankenstein” de Mel Brooks, meus preferidos.

Simey Lopes disse...

desculpe os erros, eu escrevi com presa e não revisei, eu disse que minha mãe assistiu e só falou dele a semana inteira. Eu tenho mania de comer palavras, quando não letras. rs
Quanto a seu comentario, primeiro agradeço pelo elogio, segundo, achei que vc fosse gostar por causa que algumas de suas postagens, recentes, é justamente sobre a igreja, imaginei alguma crítica do tipo, rs.

Jonga Olivieri disse...

Ô menina. Eu também erro tanta coisa nesses comentários. Na verdade este local para se escrever é pequeno e quando escrevemos muito, cá em baixo não se lê o que está em cima.
O ideal é bater no word e dar um "copy" e "paste"...
Mas nem sempre (ou quase nunca) tenho saco para isso!
Quanto ao filme. É que já gostei de filmes de "terror" num passado alguma coisa distante. Mas hoje prefiro outros gêneoros de filme.