domingo, 6 de março de 2011

Pensatas de domingo sobre o "pesadelo" estadunidense

Negros em plantação de algodão no sul dos EUA
em fins do século XIX.
Assisti, ao vivo e em preto e branco à evolução das lutas sociais dos negros por terras, naquele país, acima do Rio Grande. Sem trocadilhos, naqueles anos 60 do século passado não existia televisão a cores no Brasil. E os jornais de cinema também não eram em technicolor.

Lembro que um amigo meu, certa vez contou-me um caso que aconteceu com ele justo na década de 1960, quando fazia seu Mestrado no estado de Illinois, e, em determinada ocasião resolveu pegar um ônibus e passar uma folga mais prolongada em alguma praia quentinha da Flórida.
Viagem longa... Atravessando um país continental num ônibus da Greyhound.
Encontrava-se dormindo à noite quando foi despertado pelo motorista. Sonolento ouviu o cara, um tanto aflito, a lhe pedir que fosse para uma cadeira na frente do veículo. Meio sem compreender nada, sonolento, virou-se para o outro lado, suspendeu o cobertor encobrindo o rosto e tentou reembalar o seu pacífico sono. Entrementes, o sujeito não saiu do seu lado. Depois de algum tempo o motorista explicou-lhe que estavam entrando em um estado em que as leis proibiam negros de andar nos coletivos em lugares à frente dos brancos.
Resumo da ópera: após alguns minutos de discussão, meu amigo inconformado e resmungando foi obrigado a trocar de poltrona com o “sub” cidadão de cor parda, que, humildemente dirigiu-se à poltrona que ele sabia ser o “seu lugar”.
Para nós brasileiros, este caso parece absurdo porque o racismo aqui é camuflado e hipócrita. Mas por aquelas plagas, este pensamento era, e creio, é até hoje comum. Pelo menos à população branca e ignorante lá pelos lados do Mississipi, Missouri, Alabama e outras paragens de um país até hoje atrasado, que o vento nunca conseguiu levar.
E por falar nisso, no início de sua campanha, chegava a pensar se Mr. Obama, caso eleito, chegaria ao final do seu mandato. Afinal, quatro presidentes estadunidenses já morreram de forma violenta em pleno exercício do poder, a saber: Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley e John Kennedy; o que me lembra sempre de que é tradicional e parte da “democracia” local. Para além dos atentados que não resultaram, no caso os de Gerald Ford e Ronald Reagan. Será que teve mais algum?
Mas quando digo “... chegaria ao final, etc”, é porque acreditava que ele poderia ser minimamente coerente com o seu discurso.
Hoje, noto que a “quase todos” decepcionou, em igualmente “quase todos” os sentidos. Levei algumas “boas porradas” neste blogue, quando punha em dúvida que ele fosse “peitar” o establishiment. As pessoas botavam muita fé nele. Apostavam nele. Nunca ligaram sua brilhante campanha à força da propaganda (advertising e marketing), armas fortes do capitalismo ianque.
No entanto, ele é apenas o representante da ala Democrata do “Partido Único”, na “ditadura da burguesia” vigente nos Estados Unidos (1). Está certo que esta corrente é menos à direita do que a Republicana. Os Democratas têm uma tendência “social-democrata”, reformista, de certo modo estatizante. Uma esquerda “cor de rosa”...
Mas o que se tem visto nos EUA, em especial na eleição executiva, é muito semelhante ao que ocorreu no Brasil. Como o sr. Lula da Silva, Obama foi posto na presidência do país única e exclusivamente para conter as revoltas populares.
Porém, o simples fato de ser um nigger (2), pode levar correntes mais radicais da direita, tipo os chamados “hate groups” da vida, a cometer atos de uma loucura doentia e alucinada que tanto marcam a história daquele país (3).
Aguardemos, pois, os fatos e o desenrolar da história. Somente isto poderá nos dizer se o “sonho” de Martin Luther King poderá algum dia se tornar uma realidade. Ou se aquele seu “dream” tão enfático num dos mais belos, cadenciados e emocionantes discursos que jamais tive(mos) a oportunidade de assistir continuará sendo, na verdade apenas mais um capítulo do “american nightmare” estadunidense.


2. O termo NIGGER, é, provavelmente a mais ofensiva palavra em inglês. Seu grau de intensidade tem aumentado acentuadamente nos últimos anos, embora tenha sido usado de forma pejorativa desde a Guerra Revolucionária...


3. Um colega de Faculdade definia os EUA como “uma criança que havia crescido demais no tamanho, mas não na cabeça”. Se pensar bem é isso mesmo!

10 comentários:

Popeye disse...

Eu era muito criança quando aconteceu aquela manifestação toda. Mas quem não reviu a lgum dia quase querend o chorar o discurso de Luther King?
"I have a dream......" depois novamente "I have a dream...." e novamante "I have a dresm".
Você defimiu muito bem aquele discurso como cadenciado. Acho que foi a melhor definição que já vi sobre ele. a sua cadencia

Jonga Olivieri disse...

Tem mesmo uma linda cadência aquele discurso. E notava-se a emoção de Martin Luther King ao falar. Lindo. Uma passagem belissima da luta da humanidade por direitos iguais e a liberdade do gênero.

Joelma disse...

Sabe que você tem razão? Obama decepcionou geral. Mas eu acredito que a crise que Bush largou como batata quente nas mãos dele ajudou muito as falhas que vem acumulando.
Como você disse, só o tempo dirá se o American Nightmare vai continuar ou se Ubama conseguirá fazer alguma coisa.

Jonga Olivieri disse...

Olha só Joelma, pode anotar:

1. Obama não conseguirá fazer nada.

2. E se conseguir, algum "hate group" entrará em ação, e ele certamente sofrerá um atentado.

3. Ninguém chega à presidência dos Estados Unidos impumemente. Em outras palavras, para chegar àquele posto já está comprometido. só pra não dizer comprado, que é a palavra certa.
Já está completamene amarrado aos interesses dos grupos financeiros e industriais que o elegeram, com os bilhões de US$ que gastaram na campanha eleitoral mais cara do mundo!

Anônimo disse...

Pleno domingo de carnaval. Fui ao cinema a tarde e estava vazio e tranqüilo. Os Blocos já haviam saído mais cedo e eu cheguei numa boa.
Gostei quando cheguei em casa e abri este blog que um amigo meu anotou num guardanapo de papel uma noite qualquer dessas no balcão do Bracarense.
E te conto tudo isto porque justamente hoje, ao chegar em casa eu abri o teu link e descobri um dos melhores blogs (que tu aportuguesas para blogue) que já vi. E olha que acompanho alguns bons.
Quero te parabenizar por este post e por outros que li an passant, mas que me agradaram bastante.
"Pensatas de Domingo Sobre o 'Pesadelo' Estadunidense" é muito bom, bem escrito e bate com o que eu penso sobre a "democracia" norte-americana. Indo mais à frente, a "democracia" tal e qual a conhecemos na sociedade burguesa contempoânea. Esta da pós-derrubada do Muro de Berlim e derrocada da União Soviética.
Fique certo de que prometo que vou continuar a ler o teu blog (ou blogue).
Luiz Paiva

Jonga Olivieri disse...

Gostei muito do suas posições, caro Luiz.
Por acaso você gosta das teses de Trotsky? Ou as conhece?
Caso queira é fácil, vá ao MIA (Marxists Internet Arquive) na internet e procure no índice 'Leon Trotsky' vai encontrar quse toda a b=obrra de Trotsky (e também outros pensadores ligados ao pensamento de Marx).
Abraços e obrigao pelo interesse.

Jonga Olivieri disse...

O site é: http://www.marxists.org/
E o nome da página é "Marxists Internet Archive".
Escolha a língua na barra superior, caso não queira em inglês.
Exemplo: clicando em português vai abrir outra página em que embaixo tem uma indicação para escolher o autor. Selecione Trotsky e aparecerá o que existe em português no MIA.
Caso fale inglês, terá uma quantidade maior de obras à sua disposição.
Mas existem muitas obras em espanhol e catalão, línguas muito parecidas com a nossa.
É isso aí!

Anônimo disse...

Muito obrigado.
Embora conheça um pouco das idéias de Trotsky, não conhecia o site e por isso mesmo vou acessar.
Coma a suas dicas ficou mais fácil.
L.P.

Manoel disse...

Tudo muito claro. Tudo muito explicado e comprovado pelos acontecimentos nos EUA.
E a historinha do seua migo é chocante.

Jonga Olivieri disse...

Essa historinha foi-me contada pelo Constantino, um amigo que não vejo há anos da época em que morei em Sampa.
E ele tinha uma outra muito interessante. Na cidade (em Illinois) que ele morava só haviam reidido dois brasileiros. Coincidentemente naquela mesma ocasião.
Ele, filho de europeus, um metro e 90 de altura.
E um outro, Barriga Verde, desscendente direto de alemães, um pouco mais alto do que ele.
E os gringos olhavam para eles espantados.
Quando diziam que não sabiam que os brasileiros eram tão altos, eles respondiam que aquela era a estatura média da população no Brasi.