quinta-feira, 21 de abril de 2011

“Antes... Antes se tem que pensar o filme...”


A frase deste título é proferida pelo professor André Setaro na excelente e bem produzida entrevista produzida pela TV UFBa (1), como diz o seu nome a TV da Universidade Federal da Bahia, onde André leciona na cadeira de cinema da FaCom (Faculdade de Comunicação). Ele chegou a formar-se em Direito, mas sempre manteve o objetivo de persistir no cinema.
Carioca de nascimento, André foi para a Bahia ainda na sua primeira infância. Convivi com ele, ainda adolescentes, quando rodávamos pelas tortuosas ruas da velha Salvador, pois naqueles tempos pretéritos (2) a cidade de Salvador era bem menor e provinciana do que hoje.
Juntos conhecemos Walter da Silveira e suas exibições de filmes raros como as animações do escocês Norman McLaren produzidas no Canadá, ou a obra de Buñuel e Fritz Lang, sempre acompanhadas de palestras e comentários por ele proferidas. Coisa rara numa época em que não havia vídeos. DVDs? Nem pensar!
Walter, talvez tenha sido o maior conhecedor de cinema que este país já conheceu. Ou melhor a Bahia conheceu. Isolado do centro nervoso da cultura (Rio e São Paulo) era até conhecido nos círculos de iniciados e aficionados do cinema, mas nunca conseguiu uma projeção nacional a exemplo de outros críticos e ensaístas seus contemporâneos.
Uma parte da entrevista é passada na Sala Walter da Silveira que André define como “quase uma cinemateca”. Mas vale a pena conhecer o pensamento deste ensaísta, professor e crítico de cinema que é André Setaro, herdeiro de Walter da Silveira e sua rica relação com o cinema.

1. A entrevista é dirigida por Sophia Midian com produção de Helen Campos .
2. Palavra que André Setaro gosta de empregar em seus textos...

10 comentários:

André Setaro disse...

Embora tenha acordado depois das 'galinhas', mas quase simultaneamente com 'elas', para não lembrar aquela história entre você e seu querido pai sobre "acordar primeiro do que as galinhas", eis que me deparo com o vídeo de minha entrevista feita comigo pela Tv Ufba, que você a apreciou, segundo me disse em e-mail.

O fato é que, apesar de minha pachorra habitual, falo a verdade e constato fatos e, quando digo certas coisas, as pessoas não gostam. Tenho uma certa tendência a desagradar, considerando minha natureza irônica e algumas vezes provocativa, principalmente em relação ao medíocre cinema baiano atual e a tendência à valorização de sua época de ouro, que se deu nos anos 60 com o Ciclo Baiano de Cinema ('Barravento', de Glauber Rocha, 'A grande feira' e 'Tocaia no asfalto', ambos de Roberto Pires, 'O grito da terra', de Olney São Paulo, 'Sol sobre a lama', de Palma Netto/Alex Viany, entre outros.

Obrigado pela 'força' na divulgação neste já tão prestigiado blog pensador.

Jonga Olivieri disse...

Uma das virtudes desta sua entrevista é justamente bolir com alguns setores que se acomodaram com um futuro (hoje o presente), mormente no cinema baiano.
Mas isto, embora muito importante, é, por outro lado, muito importante aí, especificamente na Bahia. Por que não dizer: um assunto doméstico. E roupa suja se lava em casa!
Porém há um lado universal na sua conversação ao abordar o cinema, a construção de um filme e outros aspectos semelhantes que você, por falar sempre nisso, provavelmente nem se tocou, mas falou bem e de forma didática e compreensível .
E tem também a sua análise empolgante sobre o cinema de Glauber e o entusiasmo por “Deus e o diabo na...”. Porque do jeito que a cultura despenca hoje, tem que lembrar para que não esqueçam nomes como ele ou Walter da Silveira. Aquela pergunta sobre Walter que não foi respondida, num curso de cinema é grave e reflete a alienação das novas gerações.
A produção/roteiro me impressionou pela segurança e esmero com tomadas boas, como a do copo enquadrando você e a entrevistadora (aliás que entrevistadora!) e tantos momentos dignos de nota. Um bom trabalho da equipe...

Joelma disse...

O Professor Setaro, que conheço por seu intermédio, mas que nunca havia visto falando e andando.
A propósito disto tenho que observar que ele tem característivas interessantes neste sentido sendo muito engraçado ao falar com formalidade e andar muito engraçado.
E falou coisas muito interessantes sobre o cinema, ontem, hoje e amanhã.

Jonga Olivieri disse...

André sempre falou assim. Tem uma característica muito formal, como você bem observou.
E conhece muito de cinema. Quando ele refere que "antes se tem que pensar o filme" fala tudo. Tudo mesmo. E por esta razão coloquei esta frase no título.

Anônimo disse...

O que me impressionou é que a entrevista tem um roteiro cinematográfico. Começa com Setaro no carro, depois corta para o cigarrinho e a cerveja o que me levou a crer que são hábitos do (a essa altura) personagem.
Quando entra na entrevista já temos uma ideia dele. Isto é puro cinema. Me lembrou Felini.
Muito boa postagem.
L.P.

Mário disse...

Muito ineressantes as idéias e o conhecimento dele sobre cinema!

Jonga Olivieri disse...

Esta parte, Luis é com Sophia Midian, a diretora, que realmente conduziu uma excelente enxcelente entrevista...

Jonga Olivieri disse...

Mário, quando digo que o André é uma dos maiores conhecedores de cinema no Brasil, não é à toa... Ele é mesmo!

André Setaro disse...

O que poderia ter sido apenas uma entrevista acabou por ser um retrato 8 X 6 do entrevistado, com Sophia a destacar certas particularidades do retratado (eu mesmo, modéstia à parte). Sophia, aqui para nós, é uma beleza de mulher. Faz filmes, é cineasta, além de jornalista e produtora de tv.

Jonga Olivieri disse...

Sim André. Estou em contato no 'facebook' com ela. É simplesmente uma menina genial, cheia de planos e sonhos.
Coisa rara nesses tempo´pós modernos em plena "barbárie" do sistema em que caracteres e personalidades se decompõem devoradas pela marcha acelerada da história.