domingo, 3 de abril de 2011

Minhas “Pensatas... dos outros” no domingo

Hoje, nessas “Pensatas de domingo” estou a postar dois ensaios: “Será que o Brasil comeu a conversa fiada do presidente Obama?” e “Crônica de uma ‘traição’ anunciada”. Ambos os textos do professor Jorge Moreira.


O professor Jorge de Brito Vital Moreira é colaborador deste blogue. Baiano, graduou-se em Ciências Sociais na UFBa. Pós graduou-se em Sociologia (México) e Literatura (EUA) onde recebeu o titulo de doutor (Ph.d) com tese sobre o escritor Antonio Callado.
Lecionou nas ‘University of California – San Diego’, ‘University of Minnesota’, ‘Washinton University’, ‘Lawrence University’ e atualmente na ‘University of Wisconsin’.
Publica regularmente ensaios sobre escritores brasileiros e latinoamericanos, é autor colaborador do livro “Notable Twenty Century Latin America Women” tendo publicado na Bahia o livro “Memorial da Ilha” e “Outras Ficcões”.

Atualmente escreve artigos e ensaios para o destacado diário “Rebelion” de grande circulação na Espanha e América Latina.

1. Será que o Brasil comeu a conversa fiada do presidente Obama?”

“A luta de classes existe, de acordo; mas é a minha classe, a dos ricos, a que dá a batalha... e vamos ganhando.”
Warren Buffett (“o terceiro homem mais rico do planeta”, revista Forbes)

Jorge de Brito Vital Moreira

Nos dias 19 e 20 de Março, o presidente dos EUA, Barack Obama, visitou o Brasil pela primeira vez desde que assumiu a função em 2009. Mister Obama, veio ao nosso país acompanhado de sua família, e teve uma agenda protocolar com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília. Logo, ele também visitou a favela Cidade de Deus na cidade do Rio de Janeiro onde (como Bill Clinton no passado) utilizou a sua imagem populista e a retórica demagógica para engabelar o povo brasileiro. Depois de fazer mais um discurso enganador no Theatro Municipal , Mister Obama seguiu a sua viagem para uma visita imperial ao Chile e a El Salvador.
Deixando de lado o protocolo e a diplomacia (sempre hipócrita e desonesta) do governo de Mister Obama (e dos demais presidentes estadunidenses), que vem sendo utilizada para defender os interesses imperiais da burguesia e do complexo industrial militar dos EUA, tratemos de entender quais são os objetivos fundamentais da visita do atual presidente ao nosso país.
Do ponto de vista econômico, muito alem dos negócios ligados aos jogos olímpicos, a administração Obama tem tido planos de usar a visita ao Brasil para ajudar os EUA a sair da gigantesca crise do sistema capitalista. Dado as vacilações da presidente Dilma Rousseff (em relação à compra dos aviões de combate), Mister Obama, tem como objetivo urgente tratar de desfazer o projeto de compra dos 36 aviões à firma francesa Dassault para, desta forma, beneficiar as companhias estadunidenses que abocanharia um contrato inicial de seis bilhões de dólares, colocando-se na perspectiva preferencial de que o contrato poderia se estender amplamente, elevando significativamente o valor da aquisição em dólares, se o governo de Dilma Rousseff, decide (como eles estão esperando), ordenar a compra de mais 120 aviões nos próximos anos.
Entre os objetivos políticos a curto e médio prazo, a administração de Obama pretende entorpecer a crescente coordenação e integração político-econômica entre determinados países da America do Sul, dado que eles têm sido importantes não somente para congelar o instrumento neo liberal do ALCA, como para frustrar as conspirações golpistas dos EUA na Venezuela, na Bolívia e no Equador.
Nesta direção, a administração de Obama, vai tratar de continuar semeando tempestades entre os governos más radicais da região (Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador) e os mais moderados (Brasil, Argentina e Uruguai), que juntos teem lutado para encontrar uma solução ao dilema: obedecer cegamente às ordens imperiais ou seguir lutando para realizar os ideais de libertação nacional que todos países do ALBA estão conquistando.
Sem duvida que entre os objetivos estratégicos da visita do presidente, o mais imediato (manifestado sistemática e histericamente pela mídia e os governos de Bush Jr. e Obama) é o de tratar de isolar ou destruir o governo (eleito democraticamente pelo povo venezuelano) do presidente Hugo Chávez e para consegui-lo, a Casa Branca (White House) apelará para qualquer mecanismo possível, quer seja ele de caráter legal, ilegal ou criminal.
Mas o objetivo fundamental dos EUA a médio e longo prazo é avançar no controle da região Amazônica, pois ela constitui o espaço territorial onde se encontram as extraordinárias riquezas que o imperialismo (reproduzindo a sua tendência histórica de se apropriar criminal e indefinidamente dos recursos naturais de outros países do planeta) deseja assegurar para a classe dominante dos EUA que, como já sabemos, pretende que toda a terra e suas riquezas naturais (água, minerais estratégicos, petróleo, gás, biodiversidade e alimentos) lhes pertencem por “direito natural”.
Historicamente, seria um gigantesco erro do governo brasileiro se no presente e futuro se decidir a comprar os aviões e a tecnologia militar de EUA, dado que tal compra, recolocaria nosso pais, mais uma vez, em uma posição de dependência e subordinação diante daqueles que estão tratando (veladamente) de se apropriar dos imensos recursos naturais da nossa região Amazônica.
Depois das inúmeras guerras de conquistas das riquezas dos países (1) que EUA veem invadindo sistematicamente durante mais de um século, ainda existirão brasileiros que acreditem que Estados Unidos será um bom amigo do Brasil e não apelará para o uso de sua força militar para defender os seus interesses arrebatando os recursos naturais da região amazônica?
E dentro do conjunto desses objetivos que observamos, juntos a vários patriotas brasileiros, que não foi nada casual que o império de EUA reativara a sua IV Frota pelos mares da América do Sul e do Caribe logo depois que Brasília anunciara o descobrimento de uma gigantesca jazida de petróleo submarino em frente ao litoral paulista.
Por tudo isso, tratarei de ampliar a resposta à minha pergunta inicial (será que o Brasil comeu a conversa fiada do presidente Obama?) apresentando para o público brasileiro meu texto “Crónica de una ‘traición’ anunciada” (publicado inicialmente em espanhol pelo jornal rebelión.org) que o blog “Novas Pensatas” me solicitou para publicá-lo em língua portuguesa.

1. Recentemente, durante a visita ao Brasil, o governo dos EUA, sob o comando de Barak Obama, decidiu atacar a Líbia para se apropriar dos recursos naturais (o petróleo) da nação africana. Para esconder as abomináveis intenções colonialistas e enganar a população mundial com o falso pretexto da “intervenção humanitária”, os EUA, junto à França, Inglaterra, Espanha e outros paises da OTAN, conseguiram uma resolução 1073 do Conselho de Segurança da ONU (que sabemos está sob o controle de EUA) para invadir a Líbia.
Mas a cumplicidade da ONU não conseguiu convencer a Ralf Nader, o candidato a presidência dos EUA, que expressou a sua indignação nas seguintes palavras: “Não fazemos mais que assassinar inocentes. Porque não nos pronunciamos dizendo o que pensam muitos experts em direito internacional? O governo Obama está cometendo muitos crimes de guerra. Se devemos fazer um juízo político de Bush, também deveremos fazer de Obama”.
Por outro lado, o representante Dennis Kucinich (Democrata por Ohio) assegurou que o presidente Barack Obama não tem autoridade constitucional para ordenar as forças armadas dos EUA a participar em um ataque contra Líbia. “Isso é um ato de guerra”, ele se pronunciou.
A Constituição dos EUA (U.S. Constitution. Article 1, Section 8) diz que somente o Congresso pode declarar guerra a um país. Portanto, de acordo com o representante Kucinich a decisão de Obama é inconstitucional e ele poderia ser submetido a juízo político (impeachment).
Os congressistas progressistas Maxine Waters (D-CA), Jerrold Nadler (D-NY), Donna Edwards (D-MD), Mike Capuano (D-MA), Rob Andrews (D-NJ), Sheila Jackson Lee (D-TX), Barbara Lee (D-CA), Eleanor Holmes Norton (D-DC) e Dennis Kucinich (D-Ohio), asseguraram que “todos eles fizeram objeções à constitucionalidade das ações do presidente Obama” durante a conferencia telefônica que tiveram com ele.
***

2. Crônica de uma "traição" anunciada

Jorge de Brito Vital Moreira
Rebelião

"Temos que pensar com o pessimismo da razão, mas agir com o otimismo da vontade. O socialismo é a esperança."
Antonio Gramsci

I

Quando o advogado e senador democrata Barak Obama publicou seu livro "The Audacity of Hope" ("A Audácia da Esperança"), as pessoas, penso eu, precisavam acreditar em alguma coisa nova (após a infame administração de Bush) e foram seduzidas pelo discurso de um advogado democrata estadunidense. No entanto, eu e umas poucas pessoas, como sempre, resistimos.

"Desculpem-me", disse eu, “mas eu não vou me iludir com as aparências e com a retórica bombástica (mas demagógica) dos políticos liberais burgueses. A propósito, não vou desperdiçar o meu voto com os republicanos ou democratas, pois eles são, na sua maioria, hipócritas, cínicos e/ou corruptos.”

No estilo “politicamente correto”, tudo na aparência de Obama (mulato esguio, elegante, alto, falante, educado, eloquente) sugere a aparencia de um " homem de bem". Em sua carreira de profissional liberal (advogado, político, senador, presidente), também se destaca, porque tudo nele é apresentado como um bom presente(de grego?). A realidade pura e simples é que nunca me enganei com a retórica oportunista dos advogados norte-americanos, e já naquela “tempo remoto", eu tinha que chamar o candidato Obama de "o palhaço das ilusões perdidas", porque só desta forma, poderia identificar o que ele realmente era: um dos maiores demagogos/populistas a serviço das corporações do Império estadunidense.

Como esperado, o tempo tem dado razão às minhas previsões pessimistas sobre o advogado liberal. Quase tudo que é importante no que prometeu e promete (não só na campanha eleitoral, mas sobretudo como o presidente em exercício), não foi, nem será cumprido. Vamos recordar aqui alguns exemplos de sua retórica bombástica e demagógica:

-“Acabar com a guerra no Iraque que Bush inventou e foi justificada com base em mentiras sobre Saddam Hussein e sobre a existência de ‘armas de destruição em massa, ADM, levando as tropas dos EUA à invasão daquele pais.”

-“Acabar com as prisões ilegais, as torturas e assassinato dos prisioneiros em Abu Ghraib (Iraque), Guantanamo (Cuba) e em outras prisões secretas existentes na Europa Ocidental e Oriental ao serviço dos EUA.”

- “Trazer os criminosos de guerra, torturadores e mercenários (contratados) dos EUA para ser julgado pelos tribunais estadunidenses (incluindo Bush, Cheney, Rumsfeld, os neo conservadores e os sionistas).”

Em contraste e contradição ao que ele prometeu, o que estamos vendo é a continuação e a expansão do mesma política do governo Bush para o Iraque, o Afeganistão, o Paquistão e os territórios palestinos ocupados por Israel; e, como se isso não bastasse, a administração de Obama tem sido ainda pior do que a administração de Bush com relação à América Latina. Aqui temos dois exemplos críticos:

- “O apoio e a legitimição do golpe militar e da ditadura (Micheletti) perpetrada contra o governo democraticamente eleito do presidente Manuel Zelaya e contra o povo hondurenho.”

- A construção de sete bases militares na Colômbia, com o intuito da expansão militar do "Plano Colômbia" e sua guerra suja contra a Venezuela, Bolívia, Equador e outros países da América Latina (Brasil incluído).”

- “Participar do G-15 em Copenhagen, a fim de assegurar a continuação da impunidade dos crimes ecológicos de EUA (esta nação super imperial) e do seu modo de produção capitalista imperialista. Essa impunidade é parte da luta dos EUA contra a preservação da natureza e da vida das pessoas nos países pobres e emergentes da Ásia, África e América Latina, e tudo isso foi denunciado ironicamente por Hugo Chávez, pelo G-15 e pelo Movimento pela Justiça Climática: "Se o tempo fosse um Banco (Obama e os líderes das nações mais ricas), já o teriam salvado."

A lista das traições aos eleitores dos EUA e a humanidade esperançosa é inegável e alguns dos colegas de Rebelión.org (começando com o sociólogo James Petras num artigo sobre a traição do candidato Obama ao reverendo Jeremiah Wright) (1) as vêm registrando e denunciando constante, oportuna e adequadamente. Não vou continuar com a lista dos tremendos golpes que o presidente Obama vem dando à humanidade, mas já podemos observar que os cidadãos nacionais e estrangeiros expressam nos seus rostos e nos seus olhos, o espanto intenso de pessoas que foram seduzidas e abandonadas pelo bandido.

Como é possível que Obama tenha ido a Oslo para receber o premio Nobel da Paz (!que cinismo brutal!) depois de ter tomado a decisão de enviar 30.000 soldados adicionais ao Afeganistão para continuar o genocídio iniciado pela administração Bush? Por agora, não teremos tempo para analisar “a outra guerra”, a “guerra secreta” de Obama. Apenas mencionaremos que na "guerra secreta" do Paquistão, EUA está utilizando mini aviões não tripulados para bombardear as aldeias paquistanesas:os resultados mostram os milhares de camponeses mortos por estas bombas.

Como é possível que o Comitê do Nobel possa continuar selecionando genocidas reconhecidos e criminosos de guerra (Henry Kissinger, Shimon Peres, Yitzhak Rabin) para receber o Prêmio Nobel da Paz?

Como pode a humanidade (e não monstros ou zumbis) continuar a apoiar esta ‘história universal da infâmia’, produzida pelos governantes do imperialismo (da ‘globalização’)?

Por que a maioria das pessoas nos Estados Unidos (EUA) continuam a ser reféns ou cúmplices (direta ou indiretamente) de crimes contra a humanidade, quando votam nos seus candidatos (democratas e republicanos) que são defensores da barbárie causada pela Império?

Como é que os cidadãos alfabetizados, educados e bem intencionados podem aceitar e justificar essa retórica demagógica e populista (falsas e hipócritas), este cinismo surpreendente de ‘Mister Obama’ (e dos anteriores presidentes dos EUA) e de outros políticos norte americanos contra os povos do terceiro mundo (Ásia, África e América Latina)?

II

Neste ponto, nós podemos e temos o direito de pensar que aqueles que continuam a acreditar no discurso de Obama sofrem de Ingenuidade ou desconhecimento do que é essencial para avaliar o desempenho dos presidentes dos EUA: o poder de fogo (do lucro) do complexo industrial militar e o poder de persuasão (lucro) dos bancos e das corporações – empresas relacionadas com os negócios bilionários com o petróleo do Oriente Médio (2) - que financiaram e financiam a maior parte dos candidatos a presidente, a senadores e deputados (republicanos e democratas), da imperial super nação estadunidense.
Enquanto isso, se nós realmente queremos abandonar a posição de passivos, de ingênuos ou de eternos ignorantes, devemos fazer um esforço para acordar deste pesadelo a cada dia, e começar a entender o que acontece conosco; devemos fazer um esforço para entender como funciona o sistema de dominação e exploração a que somos submetidos todos os dias.
Para ajudar no esforço de entender racionalmente o sistema de dominação a que estamos submetidos, gostaria de reiniciar (como o amor e fantasia), tentando sugerir – para quem ainda não sabe – o estudo de alguns conceitos básicos: hegemonia, dominação (consenso/coerção), mecanismos de controle da indústria do entretenimento (TV, filmes, jornais, escolas, igrejas, sindicatos, partidos políticos, os lobbies, as ONGs), intelectuais tradicionais /bloco histórico e outros) (3) que foram elaborados pelo grande político e filósofo italiano Antonio Gramsci (continuador do pensamento revolucionário de Marx, Engels e Lênin).(4)
Tenho a certeza que o estudo dos conceitos gramscianos responderá a nossa verdadeira esperança na redenção humana pois eles servem e servirão como um estímulo permanente para todos aqueles que não querem continuar sendo manipulados e enganados pela ideologia demagogica da "esperança" produzida pela retórica burguesa (a audácia) de políticos liberais (seja nos EUA, Ásia, África ou América Latina) no estilo Barak Obama e da CIA.
Somente desta forma, penso eu, começaremos a tomar consciência. Devemos compreender a crise geral do capitalismo; devemos dar os primeiros passos para sermos capazes de formar alianças políticas adequadas para agir eficazmente na construção de um mundo novo e melhor: um mundo radicalmente diferente desta monstruosa máquina de produzir e reproduzir a guerra, a fome, a miséria, o engano e o desespero; esta maquina que denominamos o modo de produção capitalista e seu super estado burguês, imperialista e "transnacional".

Notas:


1. James Petras, sobre o tema de um sermão do reverendo Jeremiah Wright http://www.rebelion.org/noticia.php?id=66302


2. Craig Murray , o ex embaixador britânico no Uzbequistão se enteirou e vomitou tudo que sabia. O ex embaixador viu os documentos secretos mostrando que a motivação para a agressão militar dos EUA e do Reino Unido ao Afeganistão tinha que ver com depósitos de gás natural no Uzbequistão e Turquemenistão. O Imperialismo queria um gasoduto, que evitaria a Rússia e o Iran e passaria através do Afeganistão. Para conseguir este objetivo se necessitava uma invasão. “Ao publico idiota dos EUA se podia enganar dizendo que a invasão era necessária ...para combater o "terrorismo" e os parvos acreditariam em mais uma mentira. Se considerarmos a implantação das forças dos EUA no Afeganistão, em comparação com outras forças dos países da OTAN no país, as forças dos EUA estão posicionadas para sem duvida proteger o percurso do gasoduto. Esse é o x do problema. Tem a ver com dinheiro, tem a ver com energia mas não tem a ver com a democracia. Adivinha quem foi o consultor que organizou com o então governador do Texas, George W. Bush, os acordos que dariam à corporação Enron os direitos dos campos de gás natural no Uzbequistão e Turquemenistão, e daria á corporação Unocal, o desenvolvimento de gasoduto trans Afeganistão? Foi Karzai, o atual "presidente" imposto pelos EUA (um tipo que não tem apoio dentro do país, além das baionetas ianques). O Embaixador Murray foi demitido do “Ministério dos Negócios Estrangeiros” britânico de onde se originaram as suas revelações. Sem dúvida, que esas foram as ordens de Washington para o nosso boneco britânico.” Veja Paul Craig Roberts , "República de idiotas" no site http://www.rebelion.org/noticia.php?id=94741


3. O conceito de hegemonia foi formulado por Gramsci para se compreender comparativamente a complexidade e o enorme poder de dominação da burguesia na Europa Ocidental, dominação esta que impediu a repetição da revolução de 1917 nas áreas de capitalismo avançado. Gramsci considerava que um sistema de poder era hegemônico por seu elevado grau de consenso alcançado na dominação das massas, e, consequentemente, a dominação podia reduzir o uso da violência para reprimi-los. Os mecanismos de controle utilizados para garantir este consenso se encontravam no complexo sistema de instituições culturais, tais como escolas, igrejas, partidos políticos, associações, jornais, TV, cinema, lobbies, organizações não governamentais. Todo o sistema servia para incutir uma subordinação passiva nas classes exploradas, através de um conjunto de ideologias retiradas do passado histórico e transmitidas por grupos de intelectuais que serviam à classe dominante. Esses intelectuais de modos de produção anteriores (tradicionais) poderiam ser anexados pela classe dominante atual ou os intelectuais poderiam ser gerado em seu próprio grupo social (orgânicos). Da mesma forma, o Estado burguês pode contar com o apoio e a lealdade das classes secundarias aliadas para forjar um bloco social compacto sob a sua liderança política. A hegemonia exercida pelo capital sobre o trabalho no Ocidente, através desta estrutura consensual, não só representou um obstáculo ao movimento socialista para realizar a sua revolução, mas continuava a manter a dominação e a exploração das classes subalternas no capitalismo. A crise econômica que foi fundamental para iniciar a revolução de 1917, não funcionou da mesma forma no Ocidente, devido ao fato de que a hegemonia dificultava um ataque frontal do proletariado. Assim, haveria a necessidade de gerar uma longa e complexa "guerra de posições" para combater a burguesia do capitalismo no Ocidente. (Veja as leituras sugeridas na nota 3)


4. Historicamente, verificou-se que um político revolucionário clássico podia ser lido (interpretação) desde três posições políticas: 1) a posição da direita política que postula (sem provar) que "Marx, Lênin, Gramsci, eram autores importantes no passado, mas que na atualidade já estão superados, toda vez que eles já não oferecem qualquer utilidade para o nosso tempo''; 2) a posição política da chamada "centro esquerda" (o eurocomunismo, a social democracia, a Terceira Via) que postula (sem nunca provar) que o "estudo cuidadoso" de Gramsci “autoriza políticas de ação social reformista com alianças abertas a todos os setores da sociedade” (abertas até mesmo aos governantes e aos exploradores do sistema: a grande burguesia nacional ou internacional, ou seja, aos grandes inimigos da classe dominada e dos explorados da sociedade capitalista: operários, camponeses e grupos subalternos).
Contrariamente à anterior, temos uma posição política da esquerda revolucionária cuja leitura (interpretação) destaca a natureza e o caracter dos escritos e das ações revolucionarias ( práxis) de Marx, Lênin e Trostsky. com o objetivo fundamental de destruir o modo de produção capitalista imperialista. É dentro dessa posição política radical que nós recomendamos a leitura de Gramsci e outros autores marxistas, que acredito, são imprescindiveis, não apenas para ajudar a refutar as leituras reformistas do filósofo italiano, mas para situá-lo dentro da tradição da esperança onde sempre pertenceu; à tradição marxista revolucionária que é essencial para derrubar o regime capitalista e a sociedade burguesa.


Bibliografia:


Antonio Gramsci. Cuadernos de la cárcel. México: Ediciones Era, 1981


Manuel Sacristán. El orden y el tiempo. Madrid: Trotta, 1998.


Manuel Sacristán. Antología de Antonio Gramsci. México: Siglo Veintiuno, 1970.


Perry Anderson. Las antinomias de Gramsci. México, Fontamara,1981.


David Forgacs. An Antonio Gramsci reader. New York: Schocken Books,1988.


Karl Marx. El capital: crítica de la economía política. Edición de Manuel\Sacristán. Barcelona: Grijalbo, 1976.


Marx y Engels. El Manifiesto Comunista. Buenos Aires: Ediciones Nuestra Propuesta , 2003.


Vladimir I. Lenin. El Imperialismo, Fase Superior del Capitalismo. Buenos Aires: Quadrata, 2004.


Néstor Kohan, Gramsci y Marx, hegemonía y poder en la teoría marxista (http://www.rebelion.org/docs/56508.pdf)


Salvador Lopez Arnal, Gramsci un comunista revolucionario digno de amor. (http://www.rebelion.org/docs/67172.pdf)

12 comentários:

Ieda Maria Schimidt disse...

Um texto bastante longo o do professor Moreira. Mas também acho-o bastante consistente e concordo com as suas posições políticas.

Tu sabe quais são as minhas, certo? Sempre estarei á esquerda. nesta luta por territórios livres nesta América Latina, libertada do imperialismo ianque.

Continuemos a nossa luta. Custe o que custar.

Jonga Olivieri disse...

Fala "gauchita guapa", fazia tempo que estava sumida daqui, mas que bom que voltou!
Quanto às suas, desculpe tuas ideias e posições políticas, nunca as questionei...
Por isto, continuaremos na luta, tchê!

Joelma disse...

A primeira reação que tive foi de preguiça em ler um texto tão grande.
Mas a medida que fui lendo e compreendendo o seu sentido e profundidade fui também me empolgando e conclui a leitura em pouco tempo.
Parabéns Professor pela bela análise dos interesses do s Estados Unidos nessa viagem de Barak Obama não só ao Brasil como a outros países da América Latina em que têm interesses estratégicos.

Jonga Olivieri disse...

Isso mesmo Joelma. Compreendeste bem o fato de um governo imperialista manter os seus tentáculos sobre a(s) vítima(s) como um polvo a abraçar seu alimento.
E que a diferença entre Ted Roosevelt, Bush I e II ou Obama está apenas na cor da pele, porque a verdadeira cor de seus pensamantos é verde como os dólares que ganham na exploração da América abaixo do Rio Bravo.

Anônimo disse...

Isso é que se pode chamar de uma virada de Obama 'pelo avesso' e uma 'espremida' do dito cujo até onde ele não agüenta mais. Uáu!
O presidente americano foi 'virado pelo avesso' mesmo.
Mas e quanto a ti, quando vai ser publicado o próximo capítulo da História Secreta da Rede Globo?
L.P.

Jonga Olivieri disse...

Luis, ainda nesta semana será publicado o 4º episódio da série sobre a "Grobo"...

Mário disse...

Gosto demais deste artigo ou será um ensaio (nunca sei a diferença) do professor Jorge Moreira.
Principalmente no tocante ao real interesse dessa visita de Obama encoberta pela grande media como algo saudável, divertido (funny, como diriam eles), mas na verdade uma pressão feroz dicutida olho no olho nas salas fechadas dos palácios presidencias.
Petróleo, gás, Amaônia... sim, Amazônia e toda a sua riqueza. Existem milhares de ONGs na Amazônia somente para encampa-la assim q ue for preciso. Isto porque os recursos já se esgotaram pelas terras outrora férteis do Estados Unidos da A mérica e hoje eles precisam vir a Amazônia onde têm todas as riquezas que precisam.
Mas tem mais por detrás de tudo isso.
Por isso mesmo a IV Frota foi reativada, Inicialmente porque Chávez precisva de um "chega pra lá'. De um "fica aí no teu lugar" seu mestiço FDP. Nós somos uma potência mundial e podemos destruir a Venezuela só com os mísseis de nossa frota naval e bélica no Caribe. Essa é a intençao real de Obama e Cia. L dta.
E o professor enfocou dissecando toods esses temas. Que ninguem fala, que ninguém divulga.ficando no “oba-oba” hipócrita da personalidade de B. Obama.
È preciso fazer com que o povo brasileiro entenda desta musica a metade. Por enquanto só ouviu um bl´-blá vazio e engandador.

Jonga Olivieri disse...

Disse tudo, e muiot bem Mário!

Dulce disse...

Dá gosto ler uma artigo como este!

Jonga Olivieri disse...

Concordo em pleno,Dulce.

Otero disse...

Gosto das suas Pensatas, mas tamb´m gostei das do professor. Apesar de acha-las um tanto quanto extensas. Porém no domingo temos mais tempo para isto. E acho que o meu foi bem aproveitado neste sentido.

Jonga Olivieri disse...

Bueno amigo! Antes assim, porque o professor Jorge Moreira é um estudioso dos problemas sociais nos EUA.