Quando a Constituinte ia começar eu morava em Belo
Horizonte e era Diretor de Criação na Livre Propaganda Brasileira, uma
agência, como dizia o seu nome, livre em sua essência, uma casa de fato
vanguardista na propaganda mineira e brasileira. A Livre havia participado da
campanha de Tancredo para presidente e tinha contas como a Camig, cuja linha criativa era realmente inovadora.
No post abaixo deste, publiquei uma peça de 10
segundos para a campanha criada para um dos poucos clientes não governamentais,
o Jornal de Casa: VT de 10 segundos
com base na logomarca da Campanha Constituinte 86. Direção de
Arte/Direção de Criação: Jonga Olivieri; Redação: Tonico Mercador/Murilo
Antunes; Direção do VT: Jaak Bosman.
Falando um pouco mais da Livre, suas principais contas eram do governo de Minas Gerais à
época de Helio Garcia, o famoso Dojão (1), e o meu caso com a Livre estendeu-se por muitos meses de
paquera, e depois... um curto casamento. Bom, isto porque, característica do
mercado mineiro, conta de governo é um negócio que sustentava naquela época
cerca de 70% do mercado. No caso da Livre,
era mesmo 99,9%. E acontece que a agência, numa dessas desastrosas mudanças
políticas (2), ficou apenas com seu 0,01% de contas privadas e ela obviamente
naufragou. O que não quer dizer que os oito meses que lá passei não tenham sido
realmente inesquecíveis.
Tudo começou quando eu estava em outra agência de
Beagá, a ASA. Com a saída do Zuim (3),
o pessoal da Livre precisava de um
novo Diretor de Criação. E começaram a me sondar. Foram alguns meses de papo,
algumas negativas e, finalmente, o famoso ditado "de uma boa cantada
ninguém escapa". Arrumei minhas malas e lá fui eu para a Livre. Uma agência sui generis, que tinha um boxer perambulando pelas suas
dependências, um papagaio e um pátio interno que mais parecia uma miniatura do
paraíso. Tinha fogão de lenha ao ar livre, muitas plantas e uma frondosa
mangueira. Uma equipe que eu achava perfeita: o Boca, o Alvinho, o Wanderley.
Depois ainda veio o Tonico Mercador para reforçar esse time. No RTVC o Juninho
e sua assistente, a Claudinha, que além de competente era um colírio para os
olhos.
A Livre
era uma agência tão dupirú, que todo mês tinha lá um regabofe sortido e fartamente
mineiro, repleto de chope e cachaça da melhor em torno do seu fogão de lenha. E
o melhor é que o pessoal que ia lá com frequência, além dos clientes era nada
mais nada menos do que a turma do Clube
da Esquina. Eles mesmos, Toninho Horta, Milton Nascimento e outros. Gente
da pesada, porque a Livre tinha
surgido como Quilombo, e depois
desdobrou-se. O Marcinho, um dos seus sócios, continuava inclusive como
produtor musical e a Quilombo também
continuava a existir numa casa próxima a ela, e que também tinha papagaio,
cachorro, e um ambiente que mais parecia um quadro da Djanira.
A propósito, os outros sócios eram o Murilo
Antunes, um puta dum poeta, um performático, um intelectual mineiro de primeiro
time e o Pardal, artista plástico, duas figuraças.
1.
O Helio Garcia, segundo o ti-ti-ti da época, sentava numa mesa e bebia “demais
da conta”. Daí o apelido de Dojão, o carro que consumia muito combustível.
2.
Esta vale a pena contar! Newton Cardoso ganhou as eleições para governador de
Minas, mas acontece que nas prévias Helio (Dojão) Garcia não o apoiou. Bem, as
agências que fizeram sua campanha foram as três que atendiam o governo do Helio.
Quando tomou posse, Newton retirou todas as contas de governo da Livre, da
Setembro e da Conexão...
3.
Jackson Drumond Zuim, um dos mais criativos publicitários que conheci em toda a
minha vida era o Diretor de Criação da Livre antes de minha ida para lá.
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