terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Brasil na corda bamba e PT saudações


Nunca o Partido dos Trabalhadores, fundado pelo sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva em 10 de fevereiro de 1980, viveu um momento de maior dramaticidade nesses seus 38 anos de existência. O PT, visto como responsável, principalmente durante os dois governos de Lula, por um novo posicionamento social e político do país que criou riqueza e abriu espaços a conquistas. Ou, como o próprio Lula afirmou, foi “um exemplo de convivência democrática na diversidade”. O PT, que era reconhecido como o partido de esquerda democrática mais importante das Américas, está hoje numa saia justa, acossado pela onda de autoritarismo de um ex-“milico” homofóbico, racista e violento: o capitão fascista Jair Bolsonaro, também conhecido como o “Coiso”.

É verdade que o PT não desapareceu arrastado pelo tsunami que castigou os partidos da velha guarda, começando pelo PSDB. Embora também abalado, o PT saiu vivo, elegeu a maior bancada de deputados federais (56) e levou ao segundo turno seu candidato, Fernando Haddad. Entretanto, hoje o PT é o alvo de todas as iras. O antipetismo parece querer arrastar tudo. O partido vive a tragédia de ser rejeitado por grande parte da população, os seguidores do “Coiso” ultradireitista sem biografia nem história. O PT sabe que muitos votarão no ex-capitão não porque morram de amor por ele, mas para impedir que o PT governe novamente. Como explicar esse ódio? O que aconteceu com este país que tão rapidamente e com tanta veemência bandeou-se para as fileiras de um nascente nazi-fascismo bolsonariano?

Nada nasce do nada nem na vida, nem na história... e o PT precisa fazer um exame de consciência com urgência. O curioso é que o primeiro a prever esse declínio do partido foi o próprio Lula que, antes de ser condenado e preso, confessou que seu partido “vivia um momento de cansaço”. Queixou-se de que seus quadros “só pensavam em cargos e empregos, em serem reeleitos. Ninguém mais trabalha de graça como antes”, afirmou. E chegou a pensar que o partido precisava “ser refundado”. Uma possibilidade que foi pensada depois dos escândalos do mensalão e do petrolão.

Faltou ao PT (partido que começou como de esquerda radical e que o pragmatismo de uma liderança sem ideologia transformou-se em social democrata). Hoje o PT representa uma esquerda social moderada em um país que vive majoritariamente na pobreza e que continua sendo um dos mais desiguais e injustos do mundo. Uma esquerda que foi reconhecida como democrática por todos os segmentos da sociedade, dos mais pobres e menos instruídos aos intelectuais e mais cultos. E que hoje seria uma força capaz de deter a onda de autoritarismo da extrema direita que parece ter contagiado, de repente, grande parte da sociedade.

Daí a séria responsabilidade do PT e de Lula em fazer, sem perder tempo, um exame de consciência que leve a uma rápida refundação. Algo que deve ser radical e urgente, como radical e urgente é o momento político que o país vive, o mais sombrio e incerto desde os anos de chumbo da ditadura. Para isso, o PT erraria se entendesse que para ressurgir do cataclismo que sofreu bastaria maquiar seu candidato, o acadêmico Haddad, eliminar a cor vermelha de suas bandeiras, retirar o rosto de Lula da campanha, fazer um corte de cabelo mais moderno, ou promover encontros noturnos em busca de duvidosas alianças com a direita, começando já a oferecer os habituais cargos e ministérios.

O PT, sem o qual o Brasil ficaria órfão de uma força progressista social e democrática, hoje mais necessária e urgente do que ontem, precisa falar à nação de coração aberto, sem complexos, mas também sem esconder seus pecados e suas culpas. A sociedade precisa ouvir de sua própria boca, que quer um Brasil unido, sem o fatídico e/ou sectário “nós contra eles”. Precisa apresentar um Brasil em que caibam todas as diferenças, um Brasil capaz de contribuir para renovar a política, hoje asfixiada por seus detratores e ferida por aqueles que deveriam tê-la preservado dos demônios da corrupção e da excessiva sede de se perpetuar no poder a qualquer preço. Insistir em colocar a culpa nos outros ou mostrar sede de vingança, caso volte ao poder, equivaleria a um suicídio político.

O Brasil precisa de resistência contra a barbárie e, ao mesmo tempo, de um diálogo de todas as forças democráticas para devolver à sociedade a esperança que parece ter perdido pelo caminho. É nos momentos históricos, quando um país parece ter perdido o rumo, que a sociedade deve saber reagir com maior confiança em si mesma e em seus melhores valores. Aqueles que o mundo de fora reconheceu e aplaudiu.


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