Nunca o Partido dos
Trabalhadores, fundado pelo sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva em 10 de
fevereiro de 1980, viveu um momento de maior dramaticidade nesses seus 38 anos
de existência. O PT, visto como responsável, principalmente durante os dois governos
de Lula, por um novo posicionamento social e político do país que criou riqueza
e abriu espaços a conquistas. Ou, como o próprio Lula afirmou, foi “um exemplo
de convivência democrática na diversidade”. O PT, que era reconhecido como o
partido de esquerda democrática mais importante das Américas, está hoje numa
saia justa, acossado pela onda de autoritarismo de um ex-“milico” homofóbico,
racista e violento: o capitão fascista Jair Bolsonaro, também conhecido como o
“Coiso”.
É verdade que o PT não
desapareceu arrastado pelo tsunami
que castigou os partidos da velha guarda, começando pelo PSDB. Embora também
abalado, o PT saiu vivo, elegeu a maior bancada de deputados federais (56) e
levou ao segundo turno seu candidato, Fernando Haddad. Entretanto, hoje o PT é
o alvo de todas as iras. O antipetismo parece querer arrastar tudo. O partido
vive a tragédia de ser rejeitado por grande parte da população, os seguidores
do “Coiso” ultradireitista sem biografia nem história. O PT sabe que muitos
votarão no ex-capitão não porque morram de amor por ele, mas para impedir que o
PT governe novamente. Como explicar esse ódio? O que aconteceu com este país
que tão rapidamente e com tanta veemência bandeou-se para as fileiras de um
nascente nazi-fascismo bolsonariano?
Nada nasce do nada nem na vida, nem
na história... e o PT precisa fazer um exame de consciência com urgência. O
curioso é que o primeiro a prever esse declínio do partido foi o próprio Lula
que, antes de ser condenado e preso, confessou que seu partido “vivia um
momento de cansaço”. Queixou-se de que seus quadros “só pensavam em cargos e
empregos, em serem reeleitos. Ninguém mais trabalha de graça como antes”,
afirmou. E chegou a pensar que o partido precisava “ser refundado”. Uma
possibilidade que foi pensada depois dos escândalos do mensalão e do petrolão.
Faltou ao PT (partido que
começou como de esquerda radical e que o pragmatismo de uma liderança sem
ideologia transformou-se em social democrata). Hoje o PT representa uma
esquerda social moderada em um país que vive majoritariamente na pobreza e que
continua sendo um dos mais desiguais e injustos do mundo. Uma esquerda que foi
reconhecida como democrática por todos os segmentos da sociedade, dos mais
pobres e menos instruídos aos intelectuais e mais cultos. E que hoje seria uma
força capaz de deter a onda de autoritarismo da extrema direita que parece ter
contagiado, de repente, grande parte da sociedade.
Daí a séria responsabilidade do
PT e de Lula em fazer, sem perder tempo, um exame de consciência que leve a uma
rápida refundação. Algo que deve ser radical e urgente, como radical e urgente
é o momento político que o país vive, o mais sombrio e incerto desde os anos de
chumbo da ditadura. Para isso, o PT erraria se entendesse que para ressurgir do
cataclismo que sofreu bastaria maquiar seu candidato, o acadêmico Haddad,
eliminar a cor vermelha de suas bandeiras, retirar o rosto de Lula da campanha,
fazer um corte de cabelo mais moderno, ou promover encontros noturnos em busca
de duvidosas alianças com a direita, começando já a oferecer os habituais
cargos e ministérios.
O PT, sem o qual o Brasil ficaria
órfão de uma força progressista social e democrática, hoje mais necessária e
urgente do que ontem, precisa falar à nação de coração aberto, sem complexos,
mas também sem esconder seus pecados e suas culpas. A sociedade precisa ouvir
de sua própria boca, que quer um Brasil unido, sem o fatídico e/ou sectário
“nós contra eles”. Precisa apresentar um Brasil em que caibam todas as
diferenças, um Brasil capaz de contribuir para renovar a política, hoje
asfixiada por seus detratores e ferida por aqueles que deveriam tê-la
preservado dos demônios da corrupção e da excessiva sede de se perpetuar no
poder a qualquer preço. Insistir em colocar a culpa nos outros ou mostrar sede
de vingança, caso volte ao poder, equivaleria a um suicídio político.
O Brasil precisa de resistência
contra a barbárie e, ao mesmo tempo, de um diálogo de todas as forças
democráticas para devolver à sociedade a esperança que parece ter perdido pelo
caminho. É nos momentos históricos, quando um país parece ter perdido o rumo,
que a sociedade deve saber reagir com maior confiança em si mesma e em seus
melhores valores. Aqueles que o mundo de fora reconheceu e aplaudiu.
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