domingo, 16 de setembro de 2018

Pensatas de Domingo. Um “paciente” que marcou a história


Após a derrota da campanha das Diretas Já no Congresso, habilmente, Tancredo Neves construiu sua vitória no Colégio Eleitoral, pelo voto indireto. Quando as dores que começou a sentir às vésperas da posse se tornaram insuportáveis, Tancredo apelou aos médicos que o assistiam em Brasília a sedá-lo, para minimizar a dor, pedindo um ou dois dias, até a posse, pois a situação política frente aos militares era extremamente delicada.

A leitura do livro de Luís Mir, inspirou o diretor Sergio Rezende (1) a realizar este filme que conta a série de erros da equipe médica que assistiu Tancredo Neves no Hospital de Base, em Brasília. Erros que continuaram no Hospital das Clínicas, para o qual o paciente foi transferido em São Paulo e que terminaram em sua trágica morte. Quem tenha assistido ao caminhão dos bombeiros transportando o seu corpo pela capital paulista rumo ao aeroporto ao som de Coração de Estudante não se lembre da dramaticidade daquela transmissão de TV?

O Paciente – o caso Tancredo Neves é um filme bem feito - muito bem feito. Rezende fez um filme baseado em prontuários médicos. Seco, duro. A ficção nasce dos diálogos que dão sustentação a cenas que a história registra - os médicos reuniram-se, a família decidiu. Tancredo Neves está sozinho com a mulher, Risoleta Neves, no quarto de hospital. Não houve testemunhas desses diálogos, mas o autor os imagina e Rezende lhes dá forma. Tudo muito austero.

Segundo o diretor: “(...) Embora eu diga que o filme não é político, partidário, ele começa e termina com o povo nas ruas, e isso é político. Tancredo uniu o Brasil nas Diretas Já e no seu funeral. Fiz filmes que foram elogiados, criticados. Filmes dos quais as pessoas gostaram, ou que odiaram. Mas confesso que nunca fiz um filme que tenha revelado esse apelo emocional. Mostramos O Paciente em préestreias em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte. Agora mesmo, vim de uma sessão para estudantes. E as pessoas choram, as pessoas se emocionam. Todo mundo conhece uma história parecida, de gente que lutou e esteve por um triz de alcançar. De gente que tombou vítima de erros médicos.”

Quanto ao elenco, Othon Bastos é o sempre genial Othon Bastos, desde Corisco de Deus e o Diabo na Terra do Sol até este irretocável Tancredo. Esther Góes no papel de Risoleta Neves, simplesmente brilhante. E mais, Paulo Betti, Otávio Muller, Luciana Braga e Emilio Dantas tambem desempenhando seus papéis com excelentes desempenhos ajudam a reproduzir momentos de nossa infeliz história!

1. Sergio Rezende dirigiu entre outros, “Leila para sempre Diniz” (1975), “O Homem da Capa Preta” (1986), “Lamarca” (1994), “Guerra de Canudos” (1997), “Mauá – o Imperador e o Rei” (1999), “Zuzu Angel” (2006).


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