A década de 1970 seria marcada por acontecimentos importantes na história do
cinema. Bernardo Bertolucci, saído do
enorme sucesso ocorrido em O último tango em Paris,
decidiu exercer a maior riqueza de detalhes possível na forma de um dos maiores
épicos já
realizados na sétima arte: Novecento, um filme de 1976, com produção de Alberto Grimaldi, fotografia
de Vittorio Storaro,
trilha sonora de Ennio Morricone, filmado em Emilia, na Itália e
com duração total de 5h25m.
E um elenco
estrelado por Robert De
Niro, Gérard Depardieu, Dominique Sanda, Francesca Bertini, Laura Betti, Werner
Bruhns, Stefania Casini, Burt Lancaster, Sterling Hayden, Anna Henkel, Ellen
Schwiers, Alida Valli, Romolo Valli, Bianca Magliacca, Giacomo Rizzo, Pippo
Campanini e Donald Sutherland.
O filme proporciona uma retrospectiva
histórica da Itália desde o início do século 20 até o término da II Guerra
Mundial, com base na vida de Olmo (Gérard Depardieu), filho bastardo de
camponeses, e Alfredo (Robert De Niro), herdeiro de uma rica família de
latifundiários, que apesar de nutrirem uma amizade desde a infância, são
colocados em pólos política e ideologicamente antagônicos por conta de suas
origens sociais, retratando o intenso cenário político que marcou a Itália e o
mundo nas primeiras décadas do século 20, representado pelo fortalecimento das
lutas proletárias ligadas ao socialismo em oposição à ascensão do fascismo.
Lembro de sua primeira cena, quando um
bêbado, em plena madrugada, adentra o pátio de um palácio anunciando aos berros
a morte de Verdi. Simbolicamente ali se estabelecia o fim de uma era e o inicio
de um novo mundo.
Quem conhece Bertolucci,
sabe que o diretor é ideológico a ponto de modelar cenários surreais para
emplacar suas mensagens. Uma das maiores preocupações de sua vida, foi abordar
a questão das cicatrizes que o fascismo deixou ao ser eliminado da Itália
depois do término da II Guerra Mundial. Em Novecento, o cineasta foi
além disso e decidiu contar como tudo se iniciou.
É muito curioso que Novecento
seja um filme tão regular dada a sua duração gigantesca. Em suma, acompanhamos
a vida de três indivíduos: Olmo, Alfredo e Attila (Donald Sutherland). Olmo e Alfredo nasceram no mesmo dia, mas em situações totalmente
opostas no começo do século 20. Olmo é filho de um camponês que trabalha por anos
na propriedade da família de Alfredo. Apesar da divisão de classes entre
empregado e patrão, uma grande amizade surge entre os dois meninos. Porém os
anos passam, as guerras acontecem e o mundo moderno passa a se expandir,
polarizando ainda mais o cenário político conturbado da Itália.
Finalmente, com Olmo e Alfredo já crescidos, há uma boa introdução
para apresentar essas novas versões dos personagens. Olmo foi transformado
pelas trincheiras da Primeira Guerra enquanto Alfredo viveu protegido no
terreno idílico de sua família, mas apostando na popularização da mecanização
do trabalho manual, visto como uma ameaça para a força de trabalho camponesa.
Uma luta entre a visão feudal e a capitalista da exploração do trabalho no
campo.
E
para finalizar, segundo palavras do próprio Bertolucci: “A ideia principal de Novecento consistia
torcer as necessidades dramáticas e narrativas para dar espaço à introdução de
elementos humanos, culturais e sociais: os elementos do mundo dos camponeses da
Emília. Na fase final do filme, eu procurei misturar essas duas necessidades,
para ultrapassar documentário e ficção e chegar a algo que parece a mim muito
próximo da representação da ideologia, uma ideologia expressa em termos
políticos”
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