Sempre fui atraído pelo mistério
e a imensidão incalculável do Universo que nos rodeia e no qual estamos inseridos.
Lembro-me de, ainda criança, estar relaxado, deitado no chão da sala e fitando
o teto, sempre elaborando hipóteses em papos com minha mãe sobre o tão atrativo
e estimulante tema... e, décadas após, estar sempre a consultar um amigo,
físico, acerca de dúvidas surgidas em leituras sobre novas descobertas no campo
das ciências cósmicas. Ou o quanto me encantavam cenas de “sci-fi” como em “2001...”
ou mesmo em meras “óperas espaciais” como “Star Wars”.
Mas o assunto é que, quando a
Via Láctea ainda estava em seu início, um choque com uma galáxia menor mudou
sua estrutura, e este impacto recheou o disco galáctico com outras estrelas,
tornando-o mais denso. As estrelas que formam as cicatrizes da colisão contam a
história dessa trombada. E um artigo publicado na revista Nature nessa 3ª feira
(31/10) traz novas evidências de quando ela ocorreu, o tamanho das galáxias na
época e de como elas rolaram juntas pelo espaço sideral.
Foi há 10 bilhões de anos. A pequena galáxia
atropelada orbitava a Via Láctea e tinha cerca de 20% da massa que a nossa
galáxia tinha na época. A conclusão foi possível graças a
observações feitas pelo telescópio espacial Gaia, da ESA (Agência Espacial
Europeia). Os cientistas mensuraram dados sobre a idade, química, distribuição
e movimento das estrelas da galáxia anã que compõem parte substancial da Via
Láctea. Essas estrelas têm características diferentes das demais estrelas da
Via Láctea. Elas orbitam o centro galáctico em alta velocidade e
em direção oposta a do nosso Sol, por exemplo. "O halo interior [da
Via Láctea] é dominado por detritos de um objeto um pouco mais massivo que a
Pequena Nuvem de Magalhães", dizem os pesquisadores liderados por Amina
Helm, da Universidade de Groningen, na Holanda.
Os cientistas deram o nome de Gaia-Enceladus
à galáxia anã em homenagem ao telescópio Gaia, lançado em 2013
para observar mais de um bilhão de objetos no céu. Enceladus, que completa o
nome, é o filho de Gaia e Urano na mitologia grega. Nossa galáxia é composta
por um centro no qual se encontra um buraco negro supermassivo, pelo famoso disco com seus
braços em espiral e pelo gás interestelar circundante, chamado
de halo. Há na galáxia entre 100 e 400 bilhões de estrelas.
"A fusão da Via Láctea com
Gaia-Enceladus deve ter levado ao aquecimento do disco galáctico, contribuindo
assim para a formação deste componente", afirma o artigo. Esse aquecimento
também teria deixado o disco mais espesso. Os cientistas já especulavam
que toda essa estrutura tinha como origem a fusão com outra galáxia.
Em um artigo suplementar publicado na Nature, Kim Venn, cientista do
departamento da Universidade de Victoria, no Canadá, diz que o novo estudo traz
contribuições importantes para a pesquisa desse choque, como dados sobre
"a massa da galáxia satélite, quando a colisão ocorreu e se o evento
envolveu uma única galáxia satélite".
Nenhum comentário:
Postar um comentário