sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Astrônomos detalham colisão que moldou a Via Láctea, 10 bilhões de anos atrás


Sempre fui atraído pelo mistério e a imensidão incalculável do Universo que nos rodeia e no qual estamos inseridos. Lembro-me de, ainda criança, estar relaxado, deitado no chão da sala e fitando o teto, sempre elaborando hipóteses em papos com minha mãe sobre o tão atrativo e estimulante tema... e, décadas após, estar sempre a consultar um amigo, físico, acerca de dúvidas surgidas em leituras sobre novas descobertas no campo das ciências cósmicas. Ou o quanto me encantavam cenas de “sci-fi” como em “2001...” ou mesmo em meras “óperas espaciais” como “Star Wars”.

Mas o assunto é que, quando a Via Láctea ainda estava em seu início, um choque com uma galáxia menor mudou sua estrutura, e este impacto recheou o disco galáctico com outras estrelas, tornando-o mais denso. As estrelas que formam as cicatrizes da colisão contam a história dessa trombada. E um artigo publicado na revista Nature nessa 3ª feira (31/10) traz novas evidências de quando ela ocorreu, o tamanho das galáxias na época e de como elas rolaram juntas pelo espaço sideral.

Foi há 10 bilhões de anos. A pequena galáxia atropelada orbitava a Via Láctea e tinha cerca de 20% da massa que a nossa galáxia tinha na época. A conclusão foi possível graças a observações feitas pelo telescópio espacial Gaia, da ESA (Agência Espacial Europeia). Os cientistas mensuraram dados sobre a idade, química, distribuição e movimento das estrelas da galáxia anã que compõem parte substancial da Via Láctea. Essas estrelas têm características diferentes das demais estrelas da Via Láctea. Elas orbitam o centro galáctico em alta velocidade e em direção oposta a do nosso Sol, por exemplo. "O halo interior [da Via Láctea] é dominado por detritos de um objeto um pouco mais massivo que a Pequena Nuvem de Magalhães", dizem os pesquisadores liderados por Amina Helm, da Universidade de Groningen, na Holanda.

Os cientistas deram o nome de Gaia-Enceladus à galáxia anã em homenagem ao telescópio Gaia, lançado em 2013 para observar mais de um bilhão de objetos no céu. Enceladus, que completa o nome, é o filho de Gaia e Urano na mitologia grega. Nossa galáxia é composta por um centro no qual se encontra um buraco negro supermassivo, pelo famoso disco com seus braços em espiral e pelo gás interestelar circundante, chamado de halo. Há na galáxia entre 100 e 400 bilhões de estrelas.

"A fusão da Via Láctea com Gaia-Enceladus deve ter levado ao aquecimento do disco galáctico, contribuindo assim para a formação deste componente", afirma o artigo. Esse aquecimento também teria deixado o disco mais espesso.   Os cientistas já especulavam que toda essa estrutura tinha como origem a fusão com outra galáxia. Em um artigo suplementar publicado na Nature, Kim Venn, cientista do departamento da Universidade de Victoria, no Canadá, diz que o novo estudo traz contribuições importantes para a pesquisa desse choque, como dados sobre "a massa da galáxia satélite, quando a colisão ocorreu e se o evento envolveu uma única galáxia satélite".


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