terça-feira, 27 de novembro de 2018

Um poema triste e poderoso


A sensibilidade de Renata Pallottini (1) que nos remete ao assassinato de Marielle Franco e de todos aqueles que tombaram em uma dura luta contra o fascismo e o preconceito, levando também um pedaço de nós... um pedaço sigmificativo de nós mesmos!
  

OS MORTOS
  
Os mortos estão deitados

mas os seus nomes tremulam sobre as campinas como flâmulas,

voam sobre as campinas a memória de suas faces

e a brancura de seus ossos perduráveis;

dizei, dizei dos mortos o que vos parecer,

eles estão deitados sob o limo com os olhos fechados,

com fibras e raízes onde estavam os olhos,

e com sumos e chuvas no lugar que era a boca;

Só a nossa lembrança os reúne e os congrega,

somos nós nossos mortos e estamos enterrados

e jazemos nós mesmos misturados às flores.

Dizei portanto as sentenças e os crimes,

já não podeis condenar-nos à morte.

Já pouco importa.

Porque estamos deitados,

vitoriosos e sós, imaculados, livres,

com as mãos cheias de terra e de silêncio.

  
1. Renata Monachesi Pallottini é uma dramaturga, ensaísta, poetisa e tradutora brasileira, nascida em 20 de janeiro de 1931 em São Paulo (SP).
Dramaturga, ensaísta e tradutora. Escritora que, apesar de mais dedicada à poesia, tem intensa atividade em dramaturgia e tradução, tendo obras encenadas por criadores assíduos da cena nacional, tais como Silnei Siqueira, Ademar Guerra, José Rubens Siqueira, Marcia Abujamra e Gabriel Vilela.
Após fazer o Curso de Filosofia Pura na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) entre 1949 e 1951, e formar-se na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), em 1953, segue para a França, iniciando estudos de teatro nos cursos livres da Sorbonne Nouvelle, em Paris, em 1959. De volta ao Brasil, entra para a Escola de Arte Dramática (EAD), cursando dramaturgia e crítica de 1961 e 1962.
Renata Pallottini doutora-se pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, em 1982.
Apesar de intensa atividade no teatro, na TV, como professora e em atividades administrativas ou políticas, é na poesia que Renata Pallottini encontra seu chão mais rico e fecundo. Todas as outras formas em que se tem debruçado levam a marca inconfundível do poético, o que a caracteriza e diferencia como criadora.


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