quarta-feira, 28 de março de 2012

Sobre Manuel Sacristán e György Lukács


Professor Jorge Vital de Brito Moreira

Entre clásicos: Manuel Sacristán-György Lukács é um livro abrangente sobre a relação entre Manuel Sacristán Luzón (Madrid, 1925 - Barcelona, 1985) o maior filósofo espanhol marxista do século XX e o brilhante filósofo húngaro György Lukács (Budapeste, 1885 - Budapeste, 1971) um dos mais importantes (ao lado de Antonio Gramsci) pensadores marxistas de século XX.
Este ensaio sobre os dois clássicos do pensamento marxista é o resultado de muitos anos de pesquisas realizadas pelo professor e filósofo espanhol Salvador López Arnal e dedicadas ao trabalho intelectual de Manuel Sacristán (1), assim como à sua correspondência com György Lukács (2) que se realizou durante décadas da segunda metade do século XX.
Ao longo da correspondência entre os dois, podemos assistir a um notável e riquíssimo intercambio de  experiências intelectuais e políticas a respeito de Marx e do marxismo, de filosofia moderna, de epistemologia contemporânea, de metodologia científica e da práxis socialista revolucionária. As cartas revelam que eles compartilhavam um objetivo fundamental: o conhecimento das lutas dos trabalhadores para tratar de superar racionalmente os problemas da constituição do projeto de emancipação do ser humano através da transformação revolucionária da sociedade na direção do comunismo democrático.
Assim, o livro do professor Salvador López Arnal (3) se desenvolve na forma de um longo diálogo que começou entre Sacristán e Lukács a partir da edição castelhana dos trabalhos do pensador húngaro que estiveram sob a responsabilidade editorial do filósofo e lógico espanhol.
O conteúdo do livro de López Arnal está distribuido ao longo de 230 páginas e organizado através de uma introdução, de 22 capítulos numerados em algarismos romanos, um epílogo constituído por um poema de Bertolt Brecht, dois anexos, uma bibliografia e um índice analítico e nominal.
No decorrer dos capítulos, López Arnal nos dá a conhecer, em detalhes, as partes mais importantes da correspondência privada travada entre os dois marxistas ao longo de décadas de amizade e nos trás ao conhecimento as conferencias, os ensaios críticos (4) e os textos introdutórios de Sacristán aos livros de Lukács em língua espanhola.
Entre os muitos livros de Lukács traduzidos, introduzidos e anotados en espanhol por Sacristán se encontram o brilhante Historia y consciencia de clase, o polémico El Asalto a la razón; e outros quase tão influentes como os dois primeiros: El joven Hegel y los problemas de la sociedad capitalista; Goethe y su época; La estética; El realismo y su poética; El alma y las formas; La novela histórica; La teoría de la novela; Obras completas de Lukács.
Seguindo os passos da relação por cartas entre Lukács e Sacristán, López Arnal procura articular diversos campos do saber ocidental para obter, no seu livro, uma iluminada síntese entre biografia intelectual, marxismo, história cultural, história da filosofia, teoria estética e teoria política do século XX .

Porém, as cartas também evidenciam que a amizade, o diálogo e a colaboração solidária entre Lukács e Sacristán não estavam isentas de tensão, de incompreensão e de silêncio mutuo. López Arnal nos mostra como as divergências centrais entre os dois filósofos estavam determinadas pelas contradições objetivas e subjetivas do seu momento histórico: enquanto Lukács (desconhecendo os instrumentos filosóficos obtidos com o avanço das ciências modernas) lutava por uma teoria e práxis marxista a partir da filosofia especulativa de origens hegelianas, Sacristán  lutava para conseguir não somente uma posição racional e equilibrada para a tensão entre o pensamento hegemônico (de características analíticas e lógico positivistas) e o pensamento revolucionário marxista, mas também lutava para lograr uma posição racional e equilibrada para o conflito entre o pensamento marxista de orientação reformista cientificista e o marxismo de corte dialético e revolucionário.

Salvador López Arnal nos mostra que a diferença de formação entre os dois pensadores era um dos fatores determinantes da tensão e da discordância entre eles: Enquanto Lukács era um filósofo que procedia primeiramente de uma orientação filosófica que o situava amplamente dentro das "ciências do espírito" de tradição neo kantiana (Simmel, Dilthey, Max Weber), Sacristán era um filósofo e lógico que procedia de uma orientação filosófica familiarizada com a “tradição analítica e positivista” sendo um crítico e tradutor não só das trabalhos de György Lukács, mas das obras de ciências humanas em geral e de ciências exatas em particular, além de ser possuidor de um amplo e profundo conhecimento atualizado do campo da lógica matemática e da metodologia das ciências modernas.

Para mostrarnos a complexidade do filósofo espanhol, o livro também evidencia que Sacristán, como Lukács e Gramsci, era um lúcido dirigente político, um destacado formador de quadros socialistas e comunistas (para o PCE e o PSUC) para lutar através do conhecimento racional e plausível para a mudança radical e revolucionária da sociedade capitalista.

Apesar das diferenças nas discussões de questões teórico metodológicas, Sacristán e Lukács estavam de acordo nas questões políticas fundamentais; todas elas relacionadas com a urgente necessidade de encaminhar (desde uma posição anti stalinista) a revolução proletária na direção do socialismo realmente democrático.

Essa identidade anti Stalin compartida pode ser constatada decisivamente na reação de indignação e repulsa dos dois pensadores à invasão da Checoslováquia pelos tanques e tropas do Pacto de Varsóvia em agosto de 1968. Poucos dias depois da desgraça, György Lukács escrevia: “Estimado camarada Aczel: Considero mi deber comunista informarle que no puedo estar de acuerdo con la solución de la cuestión checa… Como consecuencia de esto debo retirarme de mi participación en la vida pública húngara de los últimos tiempos”.

Da mesma maneira, Manuel Sacristán, um dia depois, escrevia a Xavier Folch del PSUC: “El asunto me parece lo más grave ocurrido en muchos años… La cosa, en suma, me parece final de acto, si no ya final de tragedia.”

Além da pertinência dos capítulos que se concentram na discussão dos assuntos teóricos e políticos importantes para a práxis socialista, muitos capítulos do livro também revelam direta ou indiretamente as complexas e difíceis relações que se estabelecem entre a editora, o autor, o editor responsável, o tradutor, os direitos autorais, o temor da censura, da opressão franquista, quando se tomava a decisão de publicar um livro em espanhol de um extraordinário pensador revolucionário como Lukács na Espanha de Francisco Franco.
Ainda que todos os capítulos tem uma parte e uma função imprescindível para a totalidade do livro de López Arnal,  o capítulo XI  “La consciência de classe  en la historia” atraiu a minha atenção (5) de um modo especial por ser não somente um dos capítulos mais substantivos e indicadores da profundidade intelectual entre os dois pensadores mas como prova do enorme respeito e admiração que sentia o filósofo espanhol pelo filósofo húngaro:

 “La obra del filósofo marxista húngaro Georg Lukács tiene dimensiones enciclopédicas y, al mismo tiempo, la penetración aguda, profunda y audaz del ensayo y del experimento teórico. La vida intelectual de Lukács ha sido -y sigue siéndolo, en una vejez tan lúcida que conforta a quien la conoce- una constante captación de las fuentes del pensamiento marxista. El sólido conocimiento de los clásicos y la intensa actividad revolucionaria del filósofo explican en general su extraordinaria intimidad con el tronco vivo del marxismo. Pero, de todos modos, su arraigo en el pensamiento social ha tenido a veces manifestaciones incluso asombrosas. El caso de Historia y consciencia de clase -que presentó ideas de los Manuscritos económico-filosóficos de Marx unos diez años antes de que estos fueran descubiertos- puede ejemplificar el excepcional carácter de la relación de Lukács con la matriz del marxismo.
Ya eso bastaría para hacer de la obra de Lukács un fondo de conocimiento y método de estudio obligado para todo  el que se interese por la historia del pensamiento socialista productivo, no simplemente imitativo o didáctico.” (Pags 110-111)

Mas pese a todo o respeito e admiração que sentia e expressava Manuel Sacristán pelo filósofo húngaro (e por História e consciencia de clase), não evitava fazer reparos à incompreensão de Lukács da relação entre método marxista “ortodoxo”, falsidade material das proposições marxistas e  falta de dialética de sua epistemologia para o conhecimento da história. Assim, podemos observar numa nota onde  Sacristán critica a Lukács por desconhecer a  analise marxista da divisão social do trabalho e do sistema de exploração do trabalhador na Idade Média; e o critica também por aplaudir as equivocadas palavras de Max Weber de que a empresa capitalista se baseia no cálculo em vez da exploração.  López Arnal cita no seu livro:

El punto débil de todas las acusaciones a la moderna división del trabajo consiste en que autores no ven al artesano o al campesino precapitalista como productos históricos, como cultura: no ven en su “armoniosa unidad” el fruto de la brutal opresión, de la necesidad y escasez económicas y de la ignorancia no menos brutal -por lo que hace a toda la sociedad, también al noble y al clérigo- acerca de la misma existencia humana. Y así no ven -los críticos reaccionarios- la necesidad histórica de la “fragmentación” del hombre, no absorbido por el “centro” único, (?) divino de “sentido”, del hambre, la enfermedad, el terror, ni ven -los lukácses- la necesidad intelectual de una fuerte restricción en su faz ideológica, la progresividad de la intuición de la autocomprensión del hombre “centrado” en la ignorancia. En línea de ese pensamiento, Lukács llega a atribuir al capitalismo, como esenciales, rasgos de toda producción científica, incluso (y exacerbadamente) de la socialista y de la comunista. Así lo hace, por ejemplo, al aplaudir estas palabras de Max Weber: “La moderna empresa capitalista se basa internamente ante todo en el cálculo [Escritos políticos, Munchen 1921, p. 142]  (p. 107, p. 138) cuando lo menos que Lukács tendría que contraponer a esa  apologética disfrazada es que la empresa capitalista descansa ante todo en la explotación

Para concluir esta pequena resenha sobre este grande livro, gostaria  de afirmar que não tenho dúvidas de que o leitor marxista, socialista, comunista (ou o leitor apenas interessado na história de idéias decisivas para o mundo contemporâneo), encontrarão em Entre clásicos: Manuel Sacristán-György Lukács de Salvador López Arnal, uma recriação rigorosa do espaço dialógico estabelecido por dois clássicos do marxismo e que funciona e funcionará como um excelente guia para uma viagem através da teoria e práxis revolucionária do passado, do presente e provavelmente do futuro.

1. Manuel Sacristán Luzón estudou direito e filosofia, em Barcelona, e estudou lógica matemática e filosofia da ciência em Münster, na Vestfália (Alemanha), onde conheceu Ulrike Meinhof. Em seu retorno, ele tornou-se um professor não titular na Faculdade de Artes e da Faculdade de Economia da Universidade de Barcelona, onde ensinava Fundamentos de Filosofia e Metodologia da Ciência, respectivamente.
A carreira acadêmica de Sacristán foi atropelada pelo franquismo que  o expulsou em 1965 da Universidade por sua posição política anti Franco e foi readmitido como professor após a morte do General Franco, foi nomeado professor de Metodologia das Ciências Sociais na Universidade de Barcelona.
Durante o ano letivo 1982/1983 lecionou na Universidade Nacional Autônoma do México. Neste país Azteca, conheceu a sua segunda esposa, a professora e sóciologa Maria de los Angeles Lizón. Desde 1947 foi criador, participante e diretor de destacadas revistas e periódicos políticos e culturais de Espanha: Qvadrante, Laye, Quaderns de Cultura Catalana (revista publicada clandestinamente pelo PSUC), Nous Horitzons,  Materiales. Em 1979, junto à sua primeira esposa Giulia Adinolfi, fundou Mientras Tanto, uma nova revista, para reconsiderar o programa de emancipação comunista à luz da crítica ecológica e feminista de matriz marxista.
Ao longo de sua vida, Sacristán desenvolveu um intenso trabalho como editor e tradutor para várias editoras espanholas. Ele traduziu sete dezenas de obras de diversos autores, entre os quais se encontram Marx, Engels, Gramsci, Adorno, Karl Korsch, Lukács, Galvano Della Volpe, Galbraith, E. Fisher, Labriola, Marcuse, Agnes Heller, G. Markus, E. P. Thompson, Mario Bunge e outros. Entre seu trabalho como autor salienta a Introdução à lógica e à análise formal (Barcelona, Ariel, 1969) e de numerosos artigos e textos postumamente recolhidos em vários volumes de panfletos e materiais (Barcelona, Icaria, 1983-1985).

Em 1975, projetou uma edição crítica em espanhol das obras completas de Marx e Engels em 68 volumes, sob o selo Editorial Grijalbo. Neste projeto somente doze volumes puderam vir a luz pública, incluindo as traduções de Sacristán para o Livro 1 e 2 do Capital de Marx e do Anti-Dühring de Engels. Sacristán também produziu, editou e traduziu uma antologia dos textos de Antonio Gramsci para a editora Siglo XXI. Seu trabalho intelectual e editorial sempre foi dirigido pelo compromisso com a pesquisa e o ensino nas áreas filosóficas, metodológicas e a crítica cultural, alem da constante intervenção no debate ideológico politico da sua época.

Para os brasileiros que ainda não sabem da importância do lógico e filósofo Manuel Sacristán Luzón para o movimento e a organização marxista na Espanha, esclareço que Sacristán foi membro da direção do PSUC e PCE e na clandestinidade desenvolveu um intenso trabalho político na frente acadêmica e cultural . A partir das crises de 1968 (o maio francês e a invasão da Checoslováquia) as suas diferenças com a linha oficial dos dois partidos, o levaram a demitir-se de todos os cargos partidários, mas continuou em posições de base até o fim dos anos setenta. Junto com a sua esposa, a filólogo hispânica Giulia Adinolfi, Sacristán, teve um papel fundamental na formação das Comissões de Trabalhadores de Ensino (Comisiones Obreras de la enseñanza) e também foi membro do Comitê Antinuclear de Catalunha (CANC), ativamente até a sua morte no seio do movimento eco-pacifista e anti-NATO.

Até sua morte em 27 de agosto de 1985, aos 59 anos, Manuel Sacristán desenvolveu uma intensa luta política e intelectual tornou-se, sem dúvida, um dos mais importantes filósofos políticos do século XX da Espanha. Atualmente, MSL é considerado na Espanha por muitos pensadores como o “Gramsci espanhol”.  De seu matrimonio com Giulia Adinolfi teve uma filha, a matemática Vera Sacristán.


2. György Lukács nasceu na Hungria de uma família burguesa. Estudou e completou seu doutorado em filosofia em 1906. Tempos depois, viveu em Berlim e Heidelberg de 1909-1914, onde foi influenciado por Simmel e Weber e onde também fez amizade com Ernest Bloch. Ao voltar para Budapeste ingressou no Partido Comunista da Hungria em 1918 e foi comissário da educação no governo de Béla Kun. Após a queda de Kun, ele emigrou para Viena, para Berlim e para a União Soviética. Em 1956, sua oposição ao stalinismo e sua participação na revolta húngara, conduziu-lhe à posição de Ministro da Cultura do governo Nagy porém depois da invasão soviética, exilou-se na Romênia, retornando à Hungria  em 1957.

Lukács foi um dos pensadores mais complexos e representativos da cultura contemporânea. Por um lado, seu trabalho  concentrou-se, no campo da teoria literária, especialmente, na área da narrativa (no romance), onde fez importantes contribuições para a análise estética; por outro lado, Lukács evoluiu da filosofia idealista hegeliana  para o marxismo revolucionário desenvolvendo uma forte crítica às correntes filosóficas representadas pelo positivismo lógico e pelo existencialismo. Sua obra, escrita em húngaro e alemão, inclui livros extremamente influentes como A Teoria do Romance para a estética e História e consciência de classe para o pensamento marxista.

Seus estudos estiveram sempre intimamente relacionados com a sua atividade política, como foi evidenciado pela publicação de Historia e Consciência de classe, obra teórica fundamental para os marxistas apesar de ter sido publicamente condenada e, mais tarde, repudiada pelo próprio autor.  Os seus trabalhos (formando o mais amplo e decisivo corpus filosófico daquele período), proporcionaram as bases para o nascimento do denominado  “Marxismo Ocidental” que se destaca por sua clara  e vigorosa oposição às teses positivistas da Segunda e da Terceira Internacional, rejeitando também o cientificismo e as tendências dogmáticas nascidas no interior do marxismo. Fora do âmbito marxista, os trabalhos de György Lukács tem sido de grande importância para o debate  cultural europeu e internacional.

Em 1932, Lukács publicou os Manuscritos Econômico Filosóficos de 1844 de Karl Marx que ressaltava o tema da alienação e da continuidade entre Marx e Hegel e teve uma extraordinária  influencia possibilitando interpretações alternativas para a compreensão da obra de Karl Marx. Assim,  Lukács realizou uma reinterpretação dos temas fundamentais da obra de Marx e se posicionou contra a concepção da dialética como lei natural. Em oposição a Engels, Lukács enfatizou a centralidade do problema da consciência de classe como crítica da alienação no capitalismo, concentrando-se no método dialético e na categoria de totalidade que para ele deveriam  ser realizados tanto na prática como no interior do  sujeito histórico.
O tema da relação entre Hegel e Marx também aparece em obras posteriores de Lukács onde destacava a dívida de Marx com o pensamento dialético e o método hegeliano, especialmente evidente nas suas primeiras obras.
Para conhecer a cronologia dos aspectos importantes da  vida e  obra de György Lukács veja o link:


3) O escritor Salvador López Arnal é conhecido e respeitado como um dos mais competentes estudiosos  da vida e obra filosófica, lógica e política de Manuel Sacristán.
López Arnal tem sido um destacado discípulo do filósofo, lógico, tradutor, professor e escritor Manuel Sacristán Luzón e é, atualmente, um dos mais notáveis divulgadores da sua obra: sua produção de diversos livros e de mais de três dezenas de artigos sobre Sacristán dão testemunho veemente da importância dos seus textos para o conhecimento da obra deste brilhante filósofo marxista

Além de ser Professor tutor de Matemáticas na UNED e instrutor de informática dos ciclos formativos no IES Puig Castellar de Santa Coloma de Gramenet (Barcelona) é filósofo e autor de livros sobre a situação da ciência, da cultura e da política no mundo de hoje e colabora regularmente na revista El Viejo Topo, Rebelión.org, Espai Marx, Sin permiso. López Arnal é co roteirista e co editor, junto con Joan Benach y Xavier Juncosa, do filme documentário "Integral Sacristán" (El Viejo Topo, Barcelona).
Recentemente, o blog “Novas Pensatas”, teve a oportunidade e a honra de publicar para o leitor brasileiro um texto introdutório de López Arnal sobre Manuel Sácristán. Veja o link:

4. Das várias abordagens de Manuel Sacristán (1925-1985) à obra de G. Lukács cabe destacar os ensaios: “Sobre la noción de razón e irracionalismo en G. Lukács”; “Nota necrológica sobre Lukács”; “Sobre el marxismo ortodoxo  de György Lukács”, todos incluidos no livro Sobre Marx y marxismo, Icaria, Barcelona, 1983; o ensaio “György Lukács”, no livro Papeles de filosofía, Icaria, Barcelona, 1984; e “¿Para qué sirvió el  realismo de Lukács?” no livro Pacifismo, ecologismo y política alternativa, Barcelona, Icaria, 1987.

5. Provavelmente porque também já tinha tido um conhecimento antecipado do conteúdo do capítulo em diferentes ocasiões:
Na primeira ocasião, foi relatado pessoalmente pelo Prof. Manuel Sacristán Luzón numa aula de Metodologia de las Ciências Sociales no curso de posgraduação da UNAM; a segunda, num ensaio do proprio Salvador López Arnal intitulado “Antología de textos de Manuel Sacristán sobre György Lukács (1885-1971)” publicado por rebelion.org; a terceira no anexo 2, do excelente livro “Sobre Dialéctica”, editado por Salvador López Arnal para a editora “El Viejo Topo”.
Estas versões anteriores e a versão atual do livro “Entre clásicos: Manuel Sacristán-György Lukács, conservam aproximadamente o mesmo conteúdo mas apresentam a relação forma/conteúdo de maneira  distinta. Em todo caso, a relação  forma/conteúdo do livro atual, é a que me parece melhor expressada.

domingo, 25 de março de 2012

Pensatas de domingo... Os cinemas da minha vida!


Domigo passado falei da noite e de bares do Rio da minha juventude. Hoje, resolvi falar de cinemas. Cinemas que marcaram minha infância e continuaram até os anos 1990; antes que os shoppings acabassem com as salas de exibição de rua.
Os três Metros no Rio eram caracterizados pelo ar condicionado, numa época em que isto ainda era raro. Lembro que lá em casa tinha apenas um daqueles mágicos aparelhos muito propícios para a temperatura escaldante da cidade. Mas olha, passar na porta do Metro Copacabana em dia de “verãozão” carioca era uma dádiva dos deuses. Tinha gente que ficava parada na porta só pra refrescar um pouquinho e ganhar forças para continuar a caminhada.
Naquele cinema assisti várias vezes, ainda criança, os famosos “Festivais Tom & Jerry” que passavam todas a manhãs de domingo com as maldades daquele ratinho sádico contra o idiota do gato, a vítima que se supunha ser o “vilão”. Mas, também a Metro era quem produzia os filmes de Tarzan, e, pelo menos alguns dos musicais de Elvis Presley, isso também e ainda nos finais dos 50 e início dos 60. O cinema ia abaixo quando o roqueiro começava a cantar. E exibir o seu característico rebolado.
Ao lado, quase coladinho mesmo, ficava o Art Palácio que me despertou quando na adolescência começava a me interessar pelo cinema europeu. Vi muitos filmes da Nouvelle Vague, como “Trinta anos esta noite” de Louis Malle e italianos, a exemplo de “La dolce vita” de Fellini, obra que me marcou profundamente. Era uma sala mais simples, porém ampla, como grande parte dos cinemas da época.
E até digo isso porque no posto seis, tinha um mini cinema, o Alvorada, que se intitulava “cinema de arte” e que também exibia filmes europeus em quantidade. Por exemplo, “Morangos Silvestres” e “O sétimo selo” de Bergman eu assisti ali. Cinemas do gênero surgiram depois, tais como o Riviera, também no mesmo posto seis que tinha a característica de promover festivais de países cuja cinematografia era pouco conhecida por essas bandas. Como o tcheco, o polonês, o japonês, o indiano e por aí afora. Aquela sala, proporcionou-me ver filmes como “Um dia, um gato” de Vojtech Jasny ou “A faca na água” de Polansky.
Copacabana tinha muitos cinemas. O Ritz foi um dos primeiros a ser derrubado e ficava entre a Figueiredo Magalhães e a Siqueira Campos. Lembro de ter assistido um filme de Cantinflas no Ritz. Na própria Siqueira Campos ficava o Flórida. Mais o Ricamar, o Rian, que tinha o privilégio de ficar na avenida Atlântica, de frente par o mar. O Alaska, cinema quase na vertical. E um no Leme que eu nem me lembro mais o nome. Além do famoso Caruso que também era excelente.
Saindo de Copacabana, o saudoso Veneza e o velho São Luis. E digo o ”velho” porque os que foram construídos no lugar dele são arremedos daquela esplendorosa sala exibidora. Também no Largo do Machado um poeira em que eu ia muito, o Politeama. Era enorme. Pra se ter uma idéia hoje há um grande super mercado no mesmo lugar. Pertinho dali, indo na direção do Catete o exótico Azteca (foto acima). Depois veio o Condor Largo do Machado, que também distribuía muitos filmes europeus. O Condor, quando acabou sofreu uma reforma e virou dois, os Largo do Machado I e II.
Um capítulo a parte foi o Paissandu, que – criminosamente (1) – cerrou as portas em 2008. Naquela sala, para além dos grandes lançamentos do cinema de vanguarda no mundo, ainda havia o Festival de curta metragens patrocinado pelo Jornal do Brasil. Mas filmes como “Cinzas e diamantes” de Jerzy Andrzejwski e “Kanal” de Wajda passaram em sua tela. Ou “O incidente” de Larry Peerce, uma película da Escola Independente de Nova Iorque. O Paissandu foi a marca de uma geração que levou o seu nome.
No Leblon, o próprio Leblon, o Miramar que como diz o nome, como o Rian, também ficava na praia. Em Ipanema o Astória, o Ipanema e o Pirajá. Até no jardim Botânico, tinha o Floresta, um poeira horroroso que caracterizava os chamados cinemas de bairro. Mas eram baratíssimos; e viviam cheios.
Botafogo tinha vários poeiras. O Nacional, quase na esquina da Real Grandeza com Voluntários. Este depois passou por uma reforma, subiu de categoria e foi rebatizado como Bruni Botafogo. Mas tinha também o Botafogo que um dia havia sido o Star. E o Guanabara. Um “poeirão” quase na praia, esquina com a rua da Passagem. Este cinema tinha a característica de nas noites de verão abrir as portas laterais para que ficasse mais fresco. Neste bairro, depois surgiram o Ópera e os Coral e Escala, esses cinemas gêmeos, que estrearam com os filmes de André Cayatte “Confissões de um homem casado” num e “Confissões de uma mulher casada” no outro. Os Coral e Escala, com a decadência viraram salas de filmes pornô durante muitos anos, e hoje o local abriga o excelente complexo do Unibanco Arteplex.
Na cidade havia também os cinemas “passa tempo”. Tinham este nome porque exibiam curtas, na época chamados de shorts, desenhos e filmetes de todo o tipo. Nunca longa metragens. Como seu nome dizia, tinha um relógio grande embaixo da tela e eram muito usados para se passar o tempo enquanto se esperava um compromisso qualquer. Você podia ficar o tempo que precisasse neles. O Cineac Trianon era o mais famoso deles e ficava na Avenida Rio Branco. Tinha um longo hall de entrada com atrações, como um famoso faquir que ficava dias sem água ou comida em cima de pregos numa redoma de vidro, cercado de cobras.
E na Tijuca? A praça Saens Pena era uma mini Cinelândia. Tinham muitos cinemas ali, como o famoso Olinda. E nos arredores, como na Haddock Lobo e Conde de Bonfim. Mais longe um pouco, andando na direção da cidade havia o Madrid. E um outro cineminha (poeira) quase no Estácio, que eu não lembro o nome. Mas foi lá que uma ocasião, despenquei de Botafogo para assistir “O ladrão de Bagdá” em reprise, pois queria ver este famoso filme antigo de Korda com o ator indiano Sabú. Os poeiras tinham a vantagem de passar muitas reprises. Talvez por ser mais barato, mas era muito bom que isso acontecesse.
Tem ainda o capítulo dos subúrbios, mas desses não conheci nenhum. No entanto Madureira, Cascadura e Méier, ao que consta tinham muitos cinemas. E bons.

(1) Considero criminoso a prefeitura não haver tombado o Paissandu. Quando a rede Estações resolveu fechar a sala, as autoridades poderiam ter interferido para que continuasse a existir. Houve até um abaixo assinado neste sentido, mas...

sexta-feira, 23 de março de 2012

Trotsky e a atualidade

Os diversos textos abaixo são muito importantes para que se entenda a principal teoria de León Trotsky, a “Revolução Permanente” e como ele estava correto em suas críticas a Stalin e o que ocorreu na URSS. É conveniente lembrar que as situações citadas pelo autor referem-se às condições e conflitos históricos da época, finais dos anos 1920, início dos 30.

(...) A teoria da revolução permanente exige, na atualidade, a maior atenção da parte de todo marxista, uma vez que o desenvolvimento da luta ideológica e a da luta de classe fez o problema sair definitivamente do domínio das recordações de velhas divergências entre os marxistas russos, para apresenta-lo em ligação com o caráter, os laços internos e os métodos da revolução internacional em geral...
...Quaisquer que sejam as primeiras etapas episódicas da revolução nos diferentes países, a aliança revolucionária do proletariado com os camponeses só é concebível sob a direção política da vanguarda proletária organizada como partido comunista (1)...
... A revolução socialista não pode realizar-se nos quadros nacionais. Uma das principais causas da crise da sociedade burguesa reside no fato de as forças produtivas por ela engendradas tenderem a ultrapassar os limites do Estado nacional. Daí as guerras imperialistas, de um lado, e a utopia dos Estados Unidos burgueses da Europa, de outro lado. A revolução socialista começa no terreno nacional, desenvolve-se na arena internacional e termina na arena mundial. Por isso mesmo, a revolução socialista se converte em revolução permanente, no sentido novo e mais amplo do termo: só termina com o triunfo definitivo da nova sociedade em todo o nosso planeta...
... Com a criação do mercado mundial, da divisão mundial do trabalho e das forças produtivas mundiais, o capitalismo preparou o conjunto da economia mundial para a reconstrução socialista (2)...
... A teoria do socialismo num só país, brotada no estrume da reação contra Outubro, é a única que se opõe, de maneira consequente e definitiva, à teoria da revolução permanente.
Ao tentarem os epígonos, compelidos pela crítica, limitar à Rússia a aplicação da teoria do socialismo num só país, por causa de suas peculiaridades (extensão territorial e riquezas naturais), as coisas só fazem piorar, em lugar de melhorar. A renúncia à atitude internacionalista conduz, inevitavelmente, ao messianismo nacional, isto é, ao reconhecimento de vantagens e qualidades peculiares ao país, capazes de lhe conferir um papel que os demais países não poderiam desempenhar.
A divisão mundial do trabalho, a subordinação da indústria soviética à técnica estrangeira, a dependência das forças produtivas dos países avançados em relação às matérias primas asiáticas etc., etc., tornam impossível a Construção de uma sociedade socialista autônoma e isolada em qualquer região do mundo...
... A teoria do nacional-socialismo degrada a Internacional Comunista, que fica reduzida ao papel de arma auxiliar na luta contra a intervenção armada. A política atual da Internacional Comunista, o seu regime e a escolha dos seus dirigentes correspondem perfeitamente à sua decadência e transformação num exército de emergência, que não se destina a resolver, de maneira autônoma, as tarefas que se lhe apresentam...
... O programa da Internacional Comunista, obra de Bukhárin, é eclético do princípio ao fim. É uma tentativa desesperada de ligar a teoria do socialismo num só país ao internacionalismo marxista, que não pode, entretanto, ser separado do caráter permanente da revolução mundial (3). A luta da Oposição de Esquerda por uma política justa e um regime são na Internacional Comunista indissoluvelmente ligadas à luta por um programa marxista. A questão do programa, por sua vez, é inseparável da questão das duas teorias opostas: a teoria da revolução permanente e a teoria do socialismo num só país (4). O problema da revolução permanente já ultrapassou, há muito tempo, o limite das divergências episódicas entre Lênin e Trotsky, inteiramente esgotadas pela história. Trata-se, agora, da luta entre as idéias fundamentais de Marx e de Lênin, de um lado, e o ecletismo centrista, de outro lado.

1. À época ainda era o partido que, na concepção de Trotsky deveria comandar a revolução mundial.

2. O próprio Marx havia dito isto numa etapa anterior do capitalismo. Trotsky a repetiu, mas hoje isso está mais claro ainda.

3. Note-se a visão internacionalista de L. T. quanto à revolução que se oponha ao poder burguês, este sim em contradição com a globalização.

4. A história contou o que aconteceu ao stalinismo e sua política suicida e irresponsável de “construir o socialismo num só país”...

domingo, 18 de março de 2012

Pensatas d'outros tempos

O Lamas ontem e hoje
Anos 1960... Havia um sujeito cuja alcunha era “Filósofo”. Meio baixinho, o “cabra” circulava pelas noites cariocas, sempre nos bares frequentados pela esquerda, a “festiva” (1), em particular. O dito personagem, lá pras tantas, já de pileque subia numa cadeira e fazia um discurso “inflamado”. No final, todos aplaudiam.
Mas, como o “Filósofo” havia todo um folclore que pairava pelas madrugadas da cidade. No Cinerama, o barzinho que ficava ao lado do cinema Paissandu, lembro-me das figuras que iam sempre --mas sempre mesmo--, com “Ulisses” ou “O Capital” debaixo do braço. “Ulisses” era a grande coqueluche da época. Em tradução da Civilização Brasileira, a leitura do livro de Joyce era quase que obrigatória. Acontece que a simbologia do autor em sua narrativa, embaralhava demais a corações e mentes nem sempre preparadas para compreendê-la. O resultado é que virou moda mesmo. Poucos entendiam, mas todos discutiam. E a pergunta “: você já leu Ulisses?” era das mais comuns naqueles tempos.
Quem carregava “O Capital” sob o suvaco, naturalmente queria dizer e mostrar ao público circunvizinho que entendia Marx e era íntimo de suas ideias.
Tudo isto contado assim, parece simples. Mas, olha, a coisa era pra lá de complicada. Porque no auge das bebedeiras, chegavam a dar medo algumas reações e discursos numa época de repressão e violência com os militares no poder. Certamente que eles (os milicos) encaravam tudo aquilo como uma espécie de “gueto”, e, certamente vigiavam e catalogavam, somente vindo a tomar medidas repressoras mais violentas à medida que sentissem a coisa extrapolar a área circunscrita, e, logicamente demarcada da “porralouquice” etílica, de uma esquerda que falava para a própria esquerda, num círculo vicioso, quase um moto contínuo.
Mas, além do Cinerama, ia-se muito ao Lamas. Não muito longe dali, uns três longos quarteirões e se chegava lá, em pleno Largo do Machado, entre a garagem dos bondes da Light e o cinema São Luis. As caras eram as mesmas, mas o lugar era muito mais charmoso. Existiram poucos bares como o Lamas. Pensando bem, muito mais do que isso, um restaurante. E o melhor filé (2) da cidade.
Na frente, a tabacaria e a banca de frutas. Frutas de todos os tipos e origens, algo precioso e colorido. Na tabacaria, desde o Continental (sem filtro) até o mais sofisticado fumo Dunhill, sem contar os charutos cubanos. Mas, detalhe, ali você também comprava um Pimentel ou uma cigarrilha Talvis da vida.
No meio o restaurante, café e bar. Não era enorme, mas ao adentrar sentia-se o peso da história. Naquelas cadeiras, que hoje teriam quase 140 anos de existência(3), sentaram, em outros tempos, os traseiros de Getúlio Vargas, Monteiro Lobato, Oswaldo Aranha e até Machado de Assis, personalidades que fizeram história na política e na cultura deste país.
Nos fundos, passando uma porta de molas no melhor estilo “saloon” de faroeste, a maior sala de sinuca que eu conheci. Pelo menos que eu conheci... E o mais engraçado, ou até desgraçado, o banheiro ficava após aquela gigantesca sucessão de mesas de bilhar. Triste é que quando se chegava lá, às vezes ainda tinha que se enfrentar uma fila para tirar a bendita “água do joelho”.
Não me lembro de ter saído do Lamas sóbrio, a não ser depois que casei e fomos algumas vezes jantar; algo bem mais civilizado. Naqueles tempos de antanho, geralmente comprava uma maçã ou pera, saindo trôpego do local, e, sabe-se lá como, acordava inteirinho em casa no dia seguinte. Porém, foram longas e acirradas discussões sobre o futuro do Brasil e do mundo. Muita briga com o pessoal do “partidão” a ouvir discursos do “Filósofo” em cima de uma cadeira naquele burburinho de vozes que só as casas noturnas têm.
Havia também os bares do Leblon e Ipanema. O Degrau, o Alvaro’s, o Jangadeiro, o Zepellin. Mais uma vez, as mesmas caras, os mesmos debates as mesmas propostas de uma época de filósofos e filosofadas. Uma época muito rica em minha memória.

1. Esquerda “festiva” era aquela que vivia apenas de discurso, geralmente não militava, e se opunha ao regime e/ou sistema de forma descompromissada, em bares e festinhas, como diz o nome...

2. O Lamas mudou-se dali para a rua Marques de Abrantes, quando o prédio foi demolido para a construção do metrô. Mas até hoje serve o seu filé, que continua famoso, se bem que eu acho que não é mais como aquele. Ou será puro romantismo?

3. O Lamas mudou-se em meados dos anos 1970.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pequena homenagem a César Vallejo e a Che Guevara

Esta postagem é um texto do Professor Jorge Moreira
Veja dados sobre o autor ao lado.
 
No dia 16 de março de 2012, será celebrado no Perú, na América Latina (e em outras partes do planeta), os 120 anos do nascimento do escritor peruano César Abraham Vallejo Mendoza (1), considerado como um dos maiores inovadores da poesia do século XX.

O poeta César Vallejo nasceu no dia 16 de março de 1892, em Santiago de Chuco, no Peru e transformou-se num dos mais originais poetas do Peru e de toda a América Latina.

Vallejo viveu a primeira parte de sua existência no seu país natal mas a segunda parte foi vivida na Europa, principalmente  em Paris, na França,  onde faleceu em 15 de abril de 1938.

Do meu lado, gostaria de acompanhar a celebração desta data tão significativa, dando a conhecer aos jovens leitores de Nova Pensatas, um dos mais celebres poemas de César Vallejo, LOS HERALDOS NEGROS (2) gravado pela voz marcante do extraordinário revolucionário argentino Ernesto Che Guevara (3)

LOS HERALDOS NEGROS

Hay golpes en la vida, tan fuertes. ¡Yo no sé!
Golpes como del odio de Dios; como si ante ellos,
la resaca de todo lo sufridose empozara en el alma. ¡Yo no sé!

Son pocos; pero son. Abren zanjas oscuras
en el rostro más fiero y en el lomo más fuerte.
Serán tal vez los potros de bárbaros atilas;
o los heraldos negros que nos manda la Muerte.

Son las caídas hondas de los Cristos del alma,
de alguna fe adorable que el Destino blasfema.
Estos golpes sangrientos son las crepitaciones
de algún pan que en la puerta del horno se nos quema.

Y el hombre. Pobre. ¡Pobre! Vuelve los ojos, como
cuando por sobre el hombro nos llama una palmada;
vuelve los ojos locos, y todo lo vivido
se empoza, como charco de culpa, en la mirada.

Hay golpes en la vida, tan fuertes. ¡Yo no sé!


1) Ouvi o nome de Vallejo pela primeira vez quando estudava um curso de pós-graduação no México e tive a oportunidade de ler o trabalho 7 Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana de José Carlos Mariátegui, o mais importante filosofo e escritor marxista peruano.

Tempo depois tive a sorte de participar como estudante do doutorado de Hispanic and Luzo-Brazilian Literature and Linguistics de um seminário de literatura Latino Americana.
Foi neste seminário onde pude ler e estudar os poemas de César Vallejo e conhecer algo de sua desconhecida  biografia  e das suas grandes amizades na França com  artistas como Pablo Picasso, Pablo Neruda, o poeta Huidobro e outros.

Foi também estudando para aquele seminário que descobri que  Vallejo era um poeta marxista; um poeta  que viajava com frequência para a Rússia  para ter contacto direto com a revolução Bolchevique. Esta era, na opinião de muitos estudiosos de literatura, uma das principais razões porque seu nome e a sua obra de orientação marxista e revolucionaria devia ser propositadamente silenciada, ignorada e excluída en alguns contextos nacionales.

2) O poema LOS HERALDOS NEGROS, é o primeiro poema do primeiro livro de poemas de César Vallejo, que leva o titulo Los Heraldos Negros (1919).
Em seguida, Vallejo publicou o experimental e revolucionário poemário intitulado Trilce (1922).

Escritor difícil e complexo, Vallejo publicou uma obra variada constituída de textos de poesia, narrativa, teatro e ensaio.

Entre os seus livros de poemas mais admirados (além de Los Heraldos Negros e deTrilce)  se encontram España, aparta de mí este caliz (1937) e  Poemas Humanos (1939)

3) Vocês poderão escutar o poema na voz de Che Guevara na postagem abaixo ou no seguinte link: