domingo, 24 de fevereiro de 2013

Dica de domingo... Uma programação importante


O evento "Marx: A criação destruidora", citado na postagem desta última sexta feira se realiza no Sesc Pinheiros entre os meses de março e maio de 2013, com a participação de alguns dos mais renomados marxistas do Brasil e do exterior.
 

Segue abaixo a programação completa:

MARX: A CRIAÇÃO DESTRUIDORA
No SESC Pinheiros (Rua Paes Leme, 195 – Pinheiros – Tel. 11 3095-9400)

REALIZAÇÃO | Boitempo Editorial e SESC
APOIO | Fundação Lauro Campos, Fundação Maurício Grabois, Fundação Rosa Luxemburgo e FAU-USP

Etapa 1. De Hegel a Marx … e de volta a Hegel! A tradição dialética em tempos de crise

De 05 a 08 de março de 2013

Curso de introdução à obra de Slavoj Žižek seguido de conferência internacional do filósofo esloveno

Curso | Introdução à obra de Slavoj Žižek
Mediação de João Alexandre Peschanski
Auditório do SESC Pinheiros

05/03 | 19h00 | Aula 01 – Žižek e a Política
com Alysson Leandro Mascaro (filósofo do Direito, USP/Mackenzie)

06/03 | 19h00 | Aula 02 – Žižek e a Psicanalise
com Christian Dunker (psicanalista, USP)

07/03 | 19h00 | Aula 03 – Žižek e a Filosofia
com Olgária Mattos (filósofa, USP)

Conferência de Slavoj Žižek
Teatro Paulo Autran

08/03 | 14h | Exibição do documentário de longa-metragem Žižek! (Astra Taylor, 2005)

20h00 | Conferência internacional De Hegel a Marx … e de volta a Hegel! A tradição dialética em tempos de crise
Com Slavoj Žižek (filósofo e psicanalista, Eslovênia)

Etapa 2. IV Seminário Margem Esquerda: Marx e O Capital
22 e 23 de março de 2013

Seminário com debates e conferências internacionais com alguns dos principais estudiosos marxistas do Brasil e do mundo

22/03
16h30 | Debate Sobre os estudos d’O capital no Brasil
Com Emília Viotti da Costa (historiadora, USP), Emir Sader (sociólogo, CLACSO/UERJ), João Quartim de Moraes (filósofo, UNICAMP), José Arthur Giannotti (filósofo, USP) e Roberto Schwarz (crítico literário, USP). Mediação de Sofia Manzano

20h00 | Conferência internacional Os manuscritos de Karl Marx e Friedrich Engels
Com Michael Heinrich (MEGA, Alemanha). Mediação de Augusto Buonicore

23/03
15h | Debate O marxismo brasileiro hoje
Com Antonio Carlos Mazzeo (sociólogo, Unesp-Marília), Marcelo Ridenti (historiador) e Marcos Del Roio (sociólogo). Mediação de Alexandre Linares

17h | Debate Crítica da economia política hoje
Com Francisco de Oliveira (sociólogo), Leda Paulani (economista, USP), Paul Singer (economista) e Virgínia Fontes (economista, UFF). Mediação de Ruy Braga

19h | Conferência internacional Lendo O capital
Com David Harvey (geógrafo, Reino Unido), apresentação de Gilberto Cunha Franca (geógrafo, UFSCAR). Mediação de Marcio Pochmann (economista, Unicamp)

Etapa 3. IV Curso Livre Marx-Engels
De 07 a 15 de maio de 2013

O curso, com curadoria de José Paulo Netto, contará com aulas de alguns dos principais nomes do marxismo brasileiro em uma apresentação temática e cronológica da obra de Karl Marx e Friedrich Engels

07/05
15h30 | Aula 01 | A crítica ao idealismo: o proletariado e a práxis revolucionária
Com Ricardo Antunes (Unicamp)

19h00 | Aula 02 | A crítica ao idealismo II: política e ideologia
Com Antonio Rago (PUC-SP)

08/05
15h30 | Aula 03 | A relevância e atualidade do Manifesto Comunista
Com José Paulo Netto (UFRJ)

19h00 | Aula 04 | Análises concretas da luta de classes
Com Osvaldo Coggiola (USP)

14/05
15h30 | Aula 05 | Estado e Direito: Forma política e forma jurídica
Com Alysson Mascaro (USP/Mackenzie)

19h00 | Aula 06 | A crítica ontológica do capitalismo
Com Mario Duayer (UERJ)

15/05
15h30 | Aula 07 | Trabalho e crítica da economia política
Com Jorge Grespan (USP)

19h00 | Aula 08 | Democracia e socialismo
Com Ruy Braga (USP)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Atualidade do pensamento de Marx em debate


Em conjunto ao lançamento da nova edição de "O Capital", a Boitempo e o Sesc-SP promovem, a partir de 5 de março a 15 de maio no Sesc-Pinheiros - SP, (telefone (11) 3095 9400), um ciclo de palestras e debates sobre Marx que terá a participação de mais de 20 intelectuais de diversas áreas do conhecimento, incluindo convidados internacionais de renome, como o filósofo esloveno Slavojiek, o geógrafo britânico David Harvey, que lançará, na ocasião, o livro "Para entender 'O Capital'", e o cientista político alemão Michael Heinrich.
Heinrich tinha 14 anos quando começou a ler Karl Marx, ainda no colégio. Hoje, aos 55, trabalha no MEGA, codinome do projeto alemão Marx-Engels-Gesamtausgabe, que vem reestabelecendo os textos e publicando em edições críticas todas as linhas já escritas pela dupla.
O professor, que virá ao país para uma palestra em 22 de março intitulada "Os Manuscritos de Karl Marx e Friedrich Engels", é autor de um popular livro de apresentação chamado "Uma Introdução aos Três Volumes de 'O Capital" (sem edição brasileira).
A menção aos "três volumes" no título de seu livro não é casual. Quais seriam as suas sugestões para entender bem o intrincado "O Capital"?
"Vou resumir todas minhas dicas em uma só", responde. "Leia 'O Capital' na íntegra."
Heinrich, que vem trabalhando em perspectiva não ortodoxa marxista (o próprio Marx se disse "não marxista" em carta para o genro Paul Lafargue, lembra ele) para recuperar o legado intelectual do autor, diz que certos livros de introdução desvirtuam os objetivos da obra.
"As três partes do livro formam uma unidade. Se você ler apenas o primeiro volume terá uma visão não só incompleta, como errada. O sentido integral, mesmo de categorias como valor e mercadoria, só se revela com o final do livro", afirma.
É preciso, diz ele, questionar o que Marx tenta analisar de fato. "Não era o capitalismo inglês nem o capitalismo do século 19, mas sim a organização interna do modo de produção capitalista, em seu ideal médio, como Marx resume no final do volume 3."
Nessa perspectiva, sustenta ele, a leitura do livro hoje faria muito mais sentido (e a Folha perguntou a importantes intelectuais brasileiros "por que ler Marx hoje"). "Grande parte da análise que ele faz do capitalismo se aplica muito mais ao que aconteceu no século 20 e no 21 do que ao tempo dele."
Heinrich diz que um dos grandes enigmas para ele "é entender como o trabalho de um homem que devotou a maior parte da vida à análise do capitalismo e fez pontuais notas sobre a sociedade capitalista é considerado o responsável por um modelo social extremamente autoritário chamado 'socialismo'".
Testemunha da queda do Muro de Berlim, em 1989, ele assistiu o interesse por Marx na Alemanha desabar, até ganhar empuxo novamente no final dos anos 1990.
Ele defende o projeto no qual trabalha, o MEGA (também chamado de MEGA-2, para se diferenciar de iniciativa semelhante dos anos 1920) por difundir uma visão mais científica de Marx.

Três intelectuais brasileiros explicam as razões pelas quais os escritos de Karl Marx são importantes até os dias de hoje e, por isso, ainda merecem leitura.

ROBERTO SCHWARZ, crítico literário
"Como percepção da sociedade moderna, não há nada que se compare a 'O Capital', ao 'Manifesto Comunista' e aos escritos sobre a luta de classes na França. A potência da formulação e da análise até hoje deixa boquiaberto. Dito isso, os prognósticos de Marx sobre a revolução operária não se realizaram, o que obriga a uma leitura distanciada. Outros aspectos da teoria, entretanto, ficaram de pé, mais atuais do que nunca, tais como a mercantilização da existência, a crise geral sempre pendente e a exploração do trabalho. Nossa vida intelectual seria bem mais relevante se não fechássemos os olhos para esse lado das coisas."

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI, filósofo:
"Os textos de Marx, notadamente 'O Capital', fazem parte do patrimônio da humanidade. Como todos os textos, estão sujeitos às modas, que, hoje em dia, se sucedem numa velocidade assombrosa. Depois da queda do Muro de Berlim, o marxismo saiu de moda, pois ficava provada de vez a inviabilidade de uma economia exclusivamente regida por um comitê central 'obedecendo a regras racionais', sem as informações advindas do mercado. Mas a crise por que estamos passando recoloca a questão da especificidade do modo de produção capitalista, em particular a maneira pela qual esse sistema integra o trabalho na economia. O desemprego é uma questão crucial. As novas tecnologias tendem a suprir empregos. Na outra ponta, o dinheiro como capital, isto é, riqueza que parece produzir lucros por si mesma, chega à aberração quando o capital financeiro se desloca do funcionamento da economia e opera como se a comandasse. A crise atual nos obriga a reler os pensadores da crise. Como cumprir essa tarefa? Alguns simplesmente voltam a Marx como se nesses 150 anos nada de novo tivesse acontecido. Outros alinhavam as modas em curso com os textos de Marx, apimentados com conceitos do idealismo alemão, da psicanálise, da fenomenologia heideggeriana. Creio que a melhor coisa a fazer é reler os textos com cuidado, procurando seus pressupostos e sempre lembrando que a obra de Marx ficou inacabada e sua concepção de história, adulterada, por ter sido colada, sem os cuidados necessários, a um darwinismo respingado de religiosidade."

LEANDRO KONDER, filósofo:
"Os grandes pensadores são grandes porque abordam problemas vastíssimos e o fazem com muita originalidade. A perspectiva burguesa, conservadora, evita discuti-los. E é isso o que caracteriza seu conservadorismo. Marx é o autor mais incômodo que surgiu até hoje na filosofia. Conceitos como materialismo histórico, ideologia, alienação, comunismo e outros são imprescindíveis ao avanço do conhecimento crítico. Por isso, mais do que nunca é preciso frequentá-los."

Dados obtidos na “Folha online”

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Pensatas de domingo




Existem muitas coisas entre o céu a Terra,
alem dos aviões de carreira

Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrenos, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1980; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.
  
Segundo a revista italiana Panorama, o papa tomou a decisão de renunciar após conhecer o resultado de parte da investigação que havia ordenado para determinar como documentos pessoais dele acabaram nas mãos de jornalistas italianos e que escancararam a corrupção na Cúria.
  
Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.
  
Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo estadunidense Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.
  
João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.
  
Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Pensatas de domingo: ainda sobre o novo livro de Assange




Em “Cypherpunks – liberdade e o futuro da internet” (1), Assange e seus coautores enfocam uma dimensão dessa batalha ainda pouco conhecida no Brasil. Trata‑se do que o autor chama de “militarização do ciberespaço”, a vigilância das comunicações em rede por serviços de segurança e inteligência de diversos países.
Na obra, Assange, ao lado dos companheiros de armas – e eficientes desenvolvedores de códigos digitais – Jérémie Zimmermann, Jacob Appelbaum e Andy Müller Maguhn, disseca temas essenciais que estão definindo, hoje, os principais embates sobre como deve ser o futuro da internet.
Ele detalha: “Quando nos comunicamos por internet ou telefonia celular, que agora está imbuída na internet, nossas comunicações são interceptadas por organizações militares de inteligência. É como ter um tanque de guerra dentro do quarto. [...] Nesse sentido, a internet, que deveria ser um espaço civil, se transformou em um espaço militarizado. Mas ela é um espaço nosso, porque todos nós a utilizamos para nos comunicar uns com os outros, com nossa família, com o núcleo mais íntimo de nossa vida privada. Então, na prática, nossa vida privada entrou em uma zona militarizada.”.
No WikiLeaks, a ideia era manter um canal totalmente seguro para o envio de documentos, com uma criptografia poderosa, que fosse não apenas inviolável a ataques, mas que erradicasse qualquer informação sobre a sua origem. A tecnologia, acreditava Assange, seria libertadora: permitiria que as fontes internas de organizações – denunciassem violações por parte de governos e empresas sem medo. Nada mais de encontros em garagens subterrâneas, como fizera o famoso “Garganta Profunda”, codinome do informante dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, no escândalo Watergate, que levou à queda do presidente Richard Nixon em 1974.
Assange está em prisão domiciliar no Reino Unido – no momento de publicação deste livro, ele se encontra isolado mais de duzentos dias na embaixada equatoriana, onde recebeu asilo diplomático.

1. À venda no Brasil: http://outroslivros.lojavirtualfc.com.br/prod,IDLoja,23256,IDProduto,3768551