domingo, 30 de dezembro de 2012

Pensatas de domingo



2012, o ano que não terminou

Infeliz ou até felizmente, assisti a retrospectiva do ano da Rede Globo em sua reprise no canal GloboNews. Uma demonstração claríssima de como falar sobre tudo e não dizer nada sobre alguma coisa. Uma técnica que, aliás, é marca registrada da emissora.
São frases cortadas, raciocínios incompletos, cenas não explicadas. Tudo feito de forma perfeita para que ao se chegar ao final o espectador na se lembre de quase nada do que foi mostrado ao longo de quase um hora. A ciência da desinformação...
E quando disse: “... ou até felizmente...” é porque é sempre importante comprovar na prática aquilo que sempre falamos, mas nem sempre assistimos, até porque não sou um espectador assíduo da emissora.
Mas 2012 foi um ano que não terminou --ou se explicou-- por outros motivos. Taí o “Mensalão” e seu longo e caro processo que chegou ao seu ápice sem um desfecho muito claro. Ou com um “cheirinho de pizza” no ar. Quem garante que penas serão cumpridas? Quem é capaz de afirmar que pela primeira vez as elites vão mesmo ser presas? Chegou o fim do ano... E com ele o recesso. O ano que vem, bem, o ano que vem a conversa pode ser outra.
O jogo político no Brasil é cercado de jogos viciados. E entre eles a chantagem é um dos que mais pesam. A “oposição” tem o rabo preso e o pé na lama. O risco eminente de uma CPI do Valereoduto envolvendo o PSDB e acusações recentes contra Álvaro Dias pode desarticular todas as jogadas desta dita oposição depois do carnaval. Na verdade, a classe política se defende como um todo acusando-se e defendendo-se de “pecados” muito semelhantes.
Até agora, o que aconteceu foi um grande show da mídia, que pode ser rapidamente substituído por outro qualquer, mormente em ano de eleições e Copa das Confederações. Um prato feito para se trocar de assunto. Por outro lado, a crise nos Estados Unidos e seu “abismo fiscal”, cada vez mais evidente, reflexo da crise do capitalismo mundial e a precária situação na Europa, podem de um momento para outro se transformarem nas notícias do momento. E tudo indica que sim!
Obama, apesar de estar em seu último governo, poderia até mudar a sua política e tornar-se mais incisivo em direção à “esquerda”. Mas, particularmente não creio que o fará. Ele já provou por A mais B que é incapaz de peitar alguma atitude em prol das classes menos privilegiadas. Pelo contrário, está comprometido até o fundo com o 1% que o mantem no poder. O resto é discurso e mise-en-cène. Simplesmente...
Enquanto isso, aqui na América ao sul do Rio Bravo, o agravamento da doença de Hugo Chávez só faz aumentar as nuvens cinzentas sobre o futuro. Uma chance para o imperialismo consolidar posições frente à sua maior e efetiva oposição.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Pensatas de domingo. Portugal, o sonho acabou




Fui morar em Portugal, especificamente na cidade do Porto em 1990. À época já havia um certo número de brasileiros por aquelas bandas, principalmente nas áreas de odontologia e publicidade. Mas nada comparável ao que ocorreu, principalmente na década seguinte, já neste século 21, quando aconteceu uma enxurrada em direção ao outro lado do Atlântico.
Um exemplo mais recente: nos primeiros anos deste século, o número dos pedidos de entrada de brasileiros em Portugal disparou: foi de 320 para 1.791, crescendo mais rapidamente do que a média de todas as nacionalidades. Em 2011, os brasileiros representavam 88% do total de imigrantes, ante 69% em 2007.
Portugal passou a abrigar uma das maiores colônias brasileiras no exterior. Segundo  relatório do Itamaraty, em 2008, era a 5ª maior do mundo. Os brasileiros ainda constituem a principal comunidade estrangeira no país, de acordo com o governo português, com 119.363 imigrantes legais.
Em 2003, o desemprego português era de 6,3%, quase a metade do brasileiro naquela época, de  12,4%. Mas com a crise na zona do Euro, as coisas mudaram do vinho para a água.
Dados do Instituto de Emprego e Formação Profisisonal (IEFP) indicam que o número de brasileiros inscritos em centros de emprego saltou de 5 mil em março de 2008 para 10,7 mil no mesmo mês de 2011. A taxa média de desemprego entre os imigrantes como um todo, em 2010, foi quase o dobro da média nacional – 19% contra 10,8%.
A pequena cidade de Ericeira, a 50 km de Lisboa é um dos redutos de imigrantes do Brasil. Com a crise, porém, os brasileiros retornaram ao país, secando a economia desta e de outras cidades inteiras.
Nos povoados da Costa da Caparica, onde a baixa de brasileiros foi maior, supermercados vendem até 60% menos, pequenos shoppings foram abandonados, restaurantes ficaram vazios e 40% de agências imobiliárias pararam de funcionar. Com menos contribuições, a prefeitura teve de cortar salários de funcionários.
Lá, o número de brasileiros chegou a 4.000, de uma população de 13 mil. No primeiro trimestre de 2012, restavam 1.500.
Segundo o anuário de 2010 do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), observa-se um crescente movimento de retorno ao Brasil. O número de emigrantes brasileiros em retorno voluntário é o melhor indicador deste fenómeno: 1.444.
Isto faz-me lembrar de quando morei lá. Em uma conversa com o tio português de um conhecido, ele dizia: “Isto cá é um país pequeno, ó pá... Se muitos brasileiros vierem não vão caber...” E tinha lá suas razões. O sonho de uma vida melhor e mais estável por terras lusas acabou. Mas, o mais curioso é que agora os portugas estão voltando a invadir o Brasil já que por lá a fonte secou!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O banho de sangue lá e cá... Um paralelo


É evidente que nos EUA existe uma doença social que motiva o crime, causada por diversos motivos, pelo sistema, desde o individualismo, a competição e a solidão sociais à neurose do poder e a cultura do hamburger.
Curiosamente, no nosso caso, tambem reflexos sociais do sistema somam. Apesar do número bem menor de armas de fogo em circulação na população do que por lá, registramos, em 2010, 36 mil vítimas fatais de tiros. O montante é 3,7 vezes superior ao dos estadunidenses, que tiveram 9.960 mortes, colocando o Brasil no topo dos que mais registram óbitos por armas de fogo no mundo.
Baseado em estimativas colhidas em 2007, nos Estados Unidos, havia 270 milhões de armas em posse da população, contra 15 milhões no Brasil. Não fica claro, entretanto, se os números daqui são apenas de armamentos registrados, ou também se englobam estimativas de armas ilegais. O que fica claro é que eles lá vivem bem mais "armados" do que nós por aqui.
Mas enquanto nos EUA a taxa de óbitos por arma de fogo é de 3,2 por 100 mil habitantes em 2010, no mesmo ano, os brasileiros contavam 19,3 mortos por 100 mil. O fato é que isto comprova que existe uma cultura da violência neste país.
Não há dúvida que a legislação contra armas no Brasil é muito mais dura que nos EUA, onde é fácil o acesso a armamentos. Começando a cair na real, há grande número de armas contrabandeadas e ilegais por aqui. Há o tráfico de drogas, há uma população miserável nas comunidades, bombardeada pelos apelos de consumo burgueses. Em suma há uma desigualdade social gritante que leva à violência; desde uma criança a correr atrás de um simples “tênis de grife”.
E não podemos negar que o extermínio das populações nativas foi (e ainda é) violento e desmedido. Que a escravidão provocou revoltas e quilombos sangrentos e reprimidos a ferro e fogo. E finalizando, que o mito de que o Brasil é um país pacífico, teve todas as provas de repressão escritas e arquivadas, queimadas no início do século passado por Ruy Barbosa, cumprindo uma decisão das elites no poder.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Pensatas de domingo



Uma história banhada em sangue


O massacre em Columbine, no condado de Jefferson, Colorado, em abril de 1999 deixou 15 mortos e cerca de 50 feridos. Apesar de centenas de outros anteriores ao longo da história estadunidense, foi a partir dele que se iniciou um debate mais sério acerca da questão do porte de armas nos Estados Unidos. Mas isto é um longo imbróglio que tem origens no texto da própria Constituição daquele país... E que nunca conseguiu evoluir.
Indo de um lado ao outro, crescemos neste mundo, sob influência do cinema hollywoodiano que glorificou o pistoleiro, o “gatilho mais rápido” no duelo de rua, em que o “mocinho” nem sempre um “bom moço”, mas um criminoso que marcava no cabo de seus Colts o número de vítimas que eliminava. Para alem disso, o western tambem tornou heróis os matadores de índios; aqueles que possibilitaram um dos maiores extermínios da história no mundo moderno.
A história dos Estados Unidos mitificou figuras como Buffalo Bill, David Crocket ou o General Custer, só para lembrar alguns, que foram assassinos de nativos, cujas terras foram arrancadas a tiros de revólveres, fuzis e canhões numa lambança de sangue sem precedentes. Para alem disso criou dezenas de cowboys alegóricos, desde Tom Mix a Roy Rogers ou Gene Autry, que tambem povoaram os seriados dos cinemas e as páginas das histórias em quadrinhos, muito populares, principalmente a partir dos anos 1930.
Nos EUA, três de seus presidentes foram assassinados. Claro que todos com armas de fogo! Fora a violência racial, o racismo ostensivo contra os negros e outras minorias raciais que ceifaram milhares de vidas numa curta história de pouco mais de dois séculos.
Mas voltando à Constituição, a segunda emenda, de 1791, garante o porte de armas a qualquer estadunidense. Compram-se armas de todo tipo em supermercados, postos de gasolina ou qualquer loja que as venda. Sem necessidade de comprovar absolutamente nada do indivíduo que as adquire. Segundo cálculos, existem mais de 300 milhões de armas de fogo em solo dos Estados Unidos, nas mãos de sabe-se lá quem...
Isto, torna imensurável os crimes em massa ocorridos ao longo dos anos. Somente neste ano (2012), foram sete (1), sendo que este último, ocorrido 6ª feira, 14 de dezembro, na Sandy Hook, uma escola para crianças até os nove anos em Newtown, pequena e (outrora) pacata cidade, de pouco mais de 20.000 habitantes no estado de Connecticut, próximo a Nova Iorque, provocou a morte de 27 vítimas; a maioria entre seis e sete anos de idade.
A questão não é o gesto em si. Mas o crime maior, que há por trás dele e possibilita que ele aconteça com a facilidade com que ocorreu. E a doença social que faz parte dele. O maior problema é que os mais conservadores não admitem tocar na emenda da Constituição, achando-a inalterável. O que faz com que o “banho de sangue” continue.

1. Em 2 de abril, um atirador matou sete pessoas e feriu três ao fazer disparos na universidade de Oakland, Califórnia.
Em 20 de julho, atirador mascarado matou 12 pessoas, ferindo 58 quando abriu fogo contra espectadores do filme da série “Batman, o Cavaleiro das Trevas", em Denver, Colorado.
Em 5 de agosto: um atirador matou seis pessoas durante o culto de domingo de um templo “Sikh” em Oak Creek, Wisconsin, antes de ser morto por um policial.
Em 24 de agosto: duas pessoas foram mortas e oito ficaram feridas num tiroteio no lado de fora do Empire State Building, Nova Iorque.
Em 27 de setembro, um ex-funcionário matou cinco pessoas e tirou a própria vida em tiroteio numa empresa de Minneapolis, Minnesota.
Em 21 de outubro, três pessoas são mortas em um SPA em Milwaukee, Wisconsin, incluindo a ex-mulher do atirador, que tambem se matou.
E finalmente este narrado acima em 14 de dezembro, na escola primária Sandy Hook em Newtown, Connecticut...