quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um novo Vietnam?

Esta postagem foi transcrita de reportagem publicada no Jornal do Brasil em 29/06/2010.

Cem soldados estrangeiros foram mortos em junho no Afeganistão
A Otan anunciou nesta terça-feira a morte de um de seus soldados no Afeganistão, o que faz chegar a 100 o número de militares estrangeiros mortos em junho, de longe o mais sangrento em oito anos e meio de guerra, segundo contagem da AFP.
O departamento da Defesa dos EUA indicou na noite de segunda-feira (25) que um de seus soldados morreu em 24 de junho na província de Farah, leste.
O balanço de baixas desde 1º de junho, com 100 mortos, superou amplamente o número de 77 mortos em agosto de 2009, até agora o mês mais violento desde o começo da ofensiva das forças internacionais para tirar do poder os talibãs em dezembro de 2001, segundo contagem da AFP estabelecido com base no site independente icasualties.org

O que os estadunidenses & Companhia não estão a enxergar é que o Afeganistão, que Alexandre não conseguiu conquistar, que humilhou a Rainha Victoria e preparou a tumba da momenklatura soviética, já é um novo Vietnam em sua história. A deles mesmo, porque alguns satélites dos EUA, como a Austrália tambem estiveram naquela guerra e na “calamitosa” derrota no extremo oriente.

domingo, 27 de junho de 2010

Cenas de domingo

Cena 1
Estava outro dia a assistir “A grande família”, certamente o único programa da Rede “Grobo” que me permito ver. Um pelo seu texto primoroso, cujos diálogos conseguem ser inteligentes. Dois porque as situações são de fato engraçadas. Não é à toa que o original e a inspiração do programa foi do Vianinha.
Mas estava eu a falar sobre o fato de assistir ao referido “teatrinho televisivo” quando comecei a pensar que aquele subúrbio era meio que idealizado... Que não existe uma periferia daquele tipo e qualidade, quando me lembrei que há muito tempo atrás –quase 40 anos – esteve aqui no Rio o meu primo Alberto; e veio com um amigo.
Pois bem, o tal amigo tinha uma parenta que morava num subúrbio da vida, longe pra dedéu. Ele me perguntou e eu não sabia onde seria o tal do bairro que não me recordo o nome. Mas prontamente peguei um Guia Rex (na época era este) e nos pusemos a pesquisar. Até que eu saquei o caminho e combinamos lá ir, no dia seguinte.
Acordamos cedinho. Fomos para o carro e pusemo-nos a caminho. Foi uma longa jornada.
Mas o choque foi à chegada. O tal subúrbio era um bairrozinho gostoso, arborizado, cujos nomes de ruas eram todos de pedras, como Rua Rubi, Turmalina, etc. Limpo e organizado era uma utopia real! A gente o via, a gente o sentia, estávamos lá, naquele cena maravilhosa que eu nunca pensei que existisse! Mas pelo menos “existiu” algures...

Cena 2
Tenho sempre referido neste blogue à questão de que o “politicamente correto” cortou o lado mais engraçado das piadas. Sim. Aquele negócio de dizer que a “bicha” entrou no recinto e deu um gritinho já não é permitida. Assim como outras designações que definiam de cara uma cena hilariante. Tinha a velha piada do“negão” por exemplo. Pois bem, esta palavra tambem caiu na lista das proibidas. Daí você dizer que o afro descendente ia andando pela rua, etc, não tem lá muita graça. Mas pelo menos para esta eu arranjei uma expressão que, creio eu a substitui à altura. É o “afrão” descendente. Pelo menos aí acho que pode ficar mais próxima do original...

Cena 3
Tem um casal amigo nosso que mora em São Paulo desde os anos 1970. O Gustavo ainda menino ia conosco e amava o fato de ter seus “priminhos” postiços para brincar era ótimo. E durante muitos anos nós fomos, em torno de duas vezes por ano em Sampa porque era bom para nós e para ele. Com essa história fizemos passeios memoráveis ao Simba Safari, ao Parque da Água Branca e tantos outros, até difíceis de enumerá-los em sua totalidade.
Mas eles que moravam na Alameda Joaquim Eugênio de Lima, ali, pertinho da Avenida Paulista de onde a gente ia para qualquer lugar resolveram comprar um apartamento e saíram daquela região privilegiada, cheia de cinemas, restaurantes e fast-foods da vida; e o compraram num bairro mais distante, perto do Morumbi. Um ótimo apartamento, mas daqueles que a gente tem que pegar o carro para chegar à civilização.
Porem, uma Universal dessas resolveu instalar uma grande igreja num terreno baldio que ficava ao lado do condomínio em que moravam. E, cúmulo da falta de sorte, no muro colado ao lado deles. Aí começaram as noitadas de rezas e ruídos. Daqueles que não deixavam as pessoas dormirem, que tinha até que se chamar a polícia. Enfim, um verdadeiro transtorno na vida de quem tem mais o que fazer na manhã seguinte.
Numa noite daquelas, o nosso amigo, que é alto e barbudo, pegou uma manta vermelha e chegou na varanda do seu apê, levantou os braços e gritou. Gritou para valer e mais de uma vez: “Eu sou o diaaabooo! Nós não estávamos lá, mas pelo que ele contou, foi uma verdadeira polvorosa entre os “crentes” lá embaixo. A coisa deu tanto o que falar que ele repetiu a cena por várias noites alternadamente.
Bom, hoje eles saíram de lá e compraram um outro no Brooklin... Pelo menos lá não há “igrejotas” do bispo Macedo! Ou qualquer outra...

Cena 4
Uma cena patética, mas tal e qual já havia acontecido com o (des)governador Sérgio Cabral aqui no Estado do Rio, agora os tambem picaretas e governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, e de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, afirmaram na quarta-feira passada, em visita às áreas atingidas por enchentes nos dois Estados, que comprovaram que as fortes chuvas da semana passada “superaram qualquer previsão meteorológica”. As referidas enchentes já contabilizam 51 mortos em consequência da tragédia. E nenhum deles fala em responsabilidades (ou seriam irresponsabilidades?) do governo quanto a medidas prévias. É como se as administrações nunca tivessem culpa alguma do ocorrido. É tudo culpa única e exclusivamente da natureza...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Estadunidenses e/ou iunairistêitis

O Facebook tem um universo bastante amplo de participantes. Bom, há coisa de umas duas semanas atrás, me envolvi numa discussão sobre a cada vez maior polêmica de se os estadunidenses podem rogar-se o direito de se auto-intitularem “americanos”, ou não.
A coisa começou porque uma conhecida, comentando algum fato usou o termo “iunairistêites” para se referir a estadunidenses. Li e gostei. De imediato, comentei na sua nota a minha aprovação à denominação, dizendo que defendia o fato de que, como os hispânicos, deveríamos adotar “estadunidenses” para quem nasce nos EUA...
Alguns momentos depois –porque na web é tudo muito rápido–, veio a resposta de um sujeito a defender o fato de que eles (os estadunidenses) são “americanos” por direito. Juro que a primeira reação que tive foi de nem responder à provocação... Mas, nessas horas o sangue fala mais alto e escrevi uma resposta na qual exponho o fato do continente ser América, e todos nascidos por essas bandas, termos direito ao uso da denominação, e eles serem apenas “estadunidenses”.
Mas não é que o gajo continuou a defender com insistência alegando que o país era Estados Unidos da “América”, e que nenhum outro país do continente usava América em seu nome... Depois fez um outro comentário, desta feita em inglês, alegando que o termo estadunidense não tinha correspondente em inglês. Ao que retruquei (tambem em inglês) que havia, e que era “Uesseen”.
Como a direita não costuma ter muitos argumentos, o nível começou a descer –da parte dele, claro– e na última, ele mesmo admitiu que realmente a coisa estava virando “melê”... Ao que lhe respondi que concordava e usei aquela gíria: “fui...”, deixando a polêmica de lado. Mas de tudo isto ficou o “iunairistêites”. Uma palavra que pode ser aplicada no futuro.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Mais Saramago

O professor André Setaro me enviou esta obra prima que é a introdução do discurso perante a Real Academia Sueca quando do Nobel. De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz...

O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo
Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa.
Ainda que fossem gente de bom carácter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável. Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que accionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira".
Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira. Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia.
Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas. Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo.
Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranqüilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza". Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos.
Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprias filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.
Muitos anos depois, escrevendo pela primeira vez sobre este meu avô Jerónimo e esta minha avó Josefa (faltou-me dizer que ela tinha sido, não dizer de quantos a conheceram quando rapariga, de uma formosura invulgar), tive consciência de que estava a transformar as pessoas comuns que eles haviam sido em personagens literárias e que essa era, provavelmente, a maneira de não os esquecer, desenhando e tornando a desenhar os seus rostos com o lápis sempre cambiante da recordação, colorindo e iluminando a monotonia de um quotidiano baço e sem horizontes, como quem vai recriando, por cima do instável mapa da memória, a irrealidade sobrenatural do país em que decidiu passar a viver.
A mesma atitude de espírito que, depois de haver evocado a fascinante e enigmática figura de um certo bisavô berbere, me levaria a descrever mais ou menos nestes termos um velho retrato (hoje já com quase oitenta anos) onde os meus pais aparecem: "Estão os dois de pé, belos e jovens, de frente para o fotógrafo, mostrando no rosto uma expressão de solene gravidade que é talvez temor diante da câmara, no instante em que a objectiva vai fixar, de um e de outro, a imagem que nunca mais tornarão a ter, porque o dia seguinte será implacavelmente outro dia...
Minha mãe apóia o cotovelo direito numa alta coluna e segura na mão esquerda, caída ao longo do corpo, uma flor. Meu pai passa o braço por trás das costas de minha mãe e a sua mão calosa aparece sobre o ombro dela como uma asa. Ambos pisam acanhados um tapete de ramagens. A tela que serve de fundo postiço ao retrato mostra umas difusas e incongruentes arquiteturas neoclássicas". E terminava: "Um dia tinha de chegar em que contaria estas coisas. Nada disto tem importância, a não ser para mim. Um avô berbere, vindo do Norte de África, um outro avô pastor de porcos, uma avó maravilhosamente bela, uns pais graves e formosos, uma flor num retrato - que outra genealogia pode importar-me? a que melhor árvore me encontraria?"

José Saramago
Segunda-feira, 7 de dezembro de 1998

domingo, 20 de junho de 2010

Pérolas de Saramago (Republicação)

Publiquei esta postagem em 23/11/2009. Em homenagem a este gênio, que foi uma das maiores expressões da língua portuguesa (1) após Camões e que faleceu no dia 18 deste mês, a republico.

Saramago estava inspirado nas respostas às acusações da “Igreja ‘Universal’ (2) Apostólica Romana”, devido aos seus comentários por ocasião do lançamento de seu novo livro, "Caim", no domingo passado.
Nesta mais recente obra, ele conta de forma irônica a história de Caim, filho de Adão e Eva que assassinou premeditadamente seu irmão Abel, retomando o tema bíblico que tocara em seu livro “O evangelho segundo Jesus Cristo”, lançado em 1992.
Mas vamos às pérolas antológicas do autor, sem sombra de dúvidas, maior escritor contemporâneo da língua portuguesa, na sua polêmica com a Máfia do Vaticano, que se “ofendeu”, até porque o autor havia deixado claro – ironicamente – que “... sua obra não causará problemas com a Igreja Católica porque os católicos não lêem a Bíblia”.
“A Bíblia é um "manual de maus costumes... Um catálogo de crueldade com o pior da natureza humana”.
"O deus da Bíblia é vingativo, rancoroso, má pessoa e não é confiável".
"Na Bíblia há crueldade, incestos, violência de todo tipo, carnificinas. Isso não pode ser desmentido; mas bastou que eu o dissesse para suscitar esta polêmica... Há incompreensões, já sabemos que sim, resistências, também sabemos que sim, ódios antigos".
"O que eles querem e não conseguem é colocar ao lado de cada leitor da Bíblia um teólogo que diga à pessoa que aquilo não é assim, que é preciso fazer uma interpretação simbólica, e a isto chamam exegese (3)".
"Sou uma pessoa que gera anticorpos em muita gente, mas não ligo. Continuo fazendo meu trabalho".
"Às vezes dizem que sou valente. Talvez seja valente porque hoje não há Inquisição. Se houvesse, talvez não teria escrito este livro. Me apóio na liberdade de expressão para poder escrever".
“Deus e o demônio não estão no céu e no inferno, mas ‘na nossa cabeça’; deus não fez nada durante a eternidade, depois que criou o Universo, ao sétimo dia descansou e não fez mais nada”.
"É obra! É magia! Quase um milagre que certos setores tenham conseguido dizer tanto em relação a um livro que não leram".
Como refresco, o autor esclarece que “A Bíblia tem coisas admiráveis do ponto de vista literário”.
E sobre o seu próximo livro a ser lançado no próximo ano:
"Espero que não seja tão polêmico. Não ando atrás das polêmicas. Tenho convicções e as expresso".

(1) Tenho afirmado ser ele a "maior expressão pós Camões". No entanto a afirmação tem gerado muitas controvérsias, preferindo assim, em respeito ao pensamento tradicional, colocá-lo entre as maiores. Até que seja isto provado de forma mais efetiva.
(2) Mais uma vez a lembrar que Universal em latim é Católico. No caso do Brasil é curioso, pois coincidentemente a sua rival do bispo Macedo vem a ser a “Igreja ‘Católica’ do Reino de Deus”.
(3) A palavra exegese deriva do grego exegeomai, exegesis; ex tem o sentido de ex-trair, ex-ternar, ex-teriorizar, ex-por; quer dizer, no caso, conduzir, guiar.

Fontes: “Folha Online” e “O Publico” (Portugal) de 21/10/2009.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago (1922/2010)


Esta nota não se propõe a ser uma notícia, mas apenas uma homenagem ao maior escritor da língua portuguesa pós Camões...

O caminho mais fácil. Ou a história de ponta cabeça


Transcrito do blogue “Cultura, Política e Cinema” (link ao lado), de comentário na postagem sobre Kazimir Malevicht. O texto é de Larissa Ramina, Doutora em Direito Internacional pela USP, professora da UniBrasil e da UniCuritiba.

“Amós Oz (1), intelectual israelense que representa a esquerda engajada, declarou com razão que o bloqueio da Faixa de Gaza origina-se da errônea suposição de que o Hamas pode ser derrotado pela força das armas, ou que o problema palestino pode ser esmagado, em vez de solucionado. Entretanto, a única maneira de remover o Hamas é chegar a um acordo para a criação de um Estado independente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, conforme as fronteiras definidas em 1967, com capital em Jerusalém Oriental. A paz só retornará de mãos dadas com a dignidade do Estado palestino, sem muros nas fronteiras. Muros, guetos, racismo, apartheid, deveriam ficar todos esquecidos no século XX.”

(1) Amós Oz, nascido em Jerusalém (1939), é um premiado escritor israelense, romancista e jornalista. Foi um dos fundadores em 1977 do Movimento PAZ AGORA, defende negociações com os palestinos e ao contrário de outros no movimento de paz israelense, ele não se opõe à construção de uma barreira entre Israel e Cisjordânia, mas acredita, como o PAZ AGORA, que ela deve se situar ao longo da Linha Verde. A nota é minha.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Frase do dia

Enquanto começa o tal do futebol, a tal da Copa d'África, eu aqui a trabalhar divulgo uma frase que, até onde eu saiba, acabei de criar. Pelo menos a imaginei, embora não possa provar sua autoria:
O futebol
é o "crack"
do povo!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Existem estrelas no céu?

Um céu de estrelas” foi o filme exibido no “Cine Ibermédia” de ontem, domingo, 13 de junho, que conta a história de Dalva, uma cabelereira do bairro da Mooca, que decide romper um relacionamento de 10 anos com Vítor, um metalúrgico, também do bairro.
Em seguida, ganha um concurso de cortes de cabelos e uma passagem para concorrer às finalíssimas em Miami. Vê nesta viagem a possibilidade de se livrar do universo opressivo em que vive e ficar por lá, mesmo que ilegalmente, afastando-se da mãe e do complicado ex-noivo.
O filme começa quando Dalva está arrumando sua mala para viajar no dia seguinte. Ainda não teve coragem de contar para a mãe. Neste momento toca a campainha e é Vítor quem chega.
O crescendo de violência é bem conduzido in extremis pela realizadora, entremeado com cenas de sexo, eróticas (em momento algum pornográficas), por vezes brutais e tensas.
O filme que tem como um dos roteiristas Jean-Claude Bernadet, é dirigido pela paulista Tata Amaral (1) é o seu primeiro longa (1996) e tem à frente do elenco Leona Cavalli, que estrelou, entre outros Carandirú e Olga.
Filme de orçamento considerado baixo, em torno dos 380 mil dólares, ganhou os Prêmios de Melhor Filme no Festival de Cinema Latino em Boston (EUA), e no Festival de Trieste (Itália), para alem do Prêmio Coral de Melhor Ópera Prima e Melhor Montagem, no Festival de Havana, todos em 1997, o Prêmio Especial do Júri por Um Céu de Estrelas, no Festival de Cinema e Cultura da Américas - Biarritz 1996.
......
(1) Tata participou de diversos curtas entre 1986 e 1994 realizou quatro longas e três curtas entre 1997 e 2009, sendo “Trago comigo” o seu último trabalho, uma mini série realizada para a TV Cultura (São Paulo)

domingo, 13 de junho de 2010

Frases de domingo, por Karl & Groucho



Aproveito o sobrenome de dois pensadores fundamentais, Karl e Groucho Marx. O primeiro por ser aquele que criou ao lado de Friedrich Engels, as bases do Materialismo Histórico (1); o outro, pelo seu anarquismo social, um dos grandes críticos aos costumes do século XX.

“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.”
Karl Marx
Uma frase essencial à compreensão do seu raciocínio quanto ao papel da humanidade no curso da história.

“Não entro para clubes que me aceitam como sócio.”
Groucho Marx
Groucho, que não aguentava mais um vendedor de cotas de clube, lançou esta frase que virou um clássico. Será que depois dela o sujeito não desistiu da profissão?

“A religião é o ópio do povo.”
Karl Marx
Um pensamento tão forte e conclusivo que depois estendeu-se e generalizou-se, como por exemplo: “o futebol é...”, etc...

“Acho que a televisão é muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o aparelho, vou para a outra sala e leio um livro.”
Groucho Marx
Mesmo se considerando que esta frase foi dita lá pelo final dos ‘40, creio, em certos casos, ser válida até hoje”

“A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes.”
Karl Marx
Uma verdade atual, apesar da classe dominante querer afirmar que “a ideologia acabou” criando a “Ideologia da Não Ideologia”.

“Atrás de todo homem bem-sucedido, existe uma mulher. E, atrás desta, existe a mulher dele.”
Groucho Marx
Eis a visão anarquista de Groucho. Nesta ele fala de amantes. Quer coisa mais atual?

“As ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante.”
Karl Marx
O que vem a reforçar todas as frases do pensador aqui citadas...

“Eu nunca me esqueço de um rosto, mas, no seu caso, ficarei feliz em abrir uma exceção.”
Groucho Marx
Hilariante e sutil forma de dizer: “você é um merda!”

(1) Sempre que posso relembro que o próprio Marx, o Karl abominava o termo “Marxismo”; Por isso somente me refiro ao seu pensamento como “Materialismo Histórico”, como ele o batizou.

sábado, 12 de junho de 2010

60 anos do Clube de Cinema da Bahia

Apesar de ser em Salvador e muitos de meus leitores não estarem lá, julgo-me na obrigação de divulgar esta programação (das melhores) na comemoração do aniversário do seu clube de cinema que copiei dos blogues de Stela Borges e André Setaro...

PROGRAMAÇÃO: de 26/06 a 01/07
Sessões às 16:30 e 19:00 HORAS

SALA WALTER DA SILVEIRA

Dia 26/06
16h30
Filme: Em Busca do Ouro (The Gold Rush), EUA-1925
Direção: Charles Chaplin
Elenco:Charles Chaplin, Mack Swain e Tom Murray
Duração: 83 min

Sinopse: Um pobre vagabundo, seguindo os rastros de outros tantos, viaja em busca do ouro no Alasca. No meio de uma tempestade de neve, ele consegue encontrar uma cabana, mas lá tem que disputar espaço com outro homem, um bandido. Jim McKay, outro que está em busca do ouro, surge e acaba salvando a vida do vagabundo, e os dois tornam-se amigos.

19h
Filme: Cidadão Kane (Citizen Kane), EUA, 1941
Direção: Orson Welles
Elenco: Orson Welles, Joseph Cotten, Dorothy Comingore, Agnes Moorehead e Ruth Warrick.
Duração:119 min

Sinopse: Figura mitológica da imprensa norte-americana, o multimilionário Charles Foster Kane morre sozinho na sua extravagante mansão e dá um último sussurro: “rosebud”. Na tentativa de descobrir o significado da palavra, um repórter procura pessoas que conviveram e trabalharam com Kane. Elas relatam a vida e a ascensão dele, mas não ajudam a decifrar a charada de sua morte.

Dia 27/06
16h30
Filme: O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potyomkin), URSS, 1925
Direção:Sergei Eisenstein
Elenco: Aleksandr Antonov, Vladimir Barsky e Grigori Aleksandrov.Duração:75 min.

Sinopse: Baseado em fatos reais, conta peculiaridades da Rússia czarista, que, em 1905, viu um levante anteceder a Revolução de 1917. Estamos no navio de guerra Potenkim, com marinheiros cansados de serem maltratados, comendo carne estragada pensando que ela estava perfeita. Alguns marinheiros se recusam a comer e, então, os oficiais ordenam a execução dos “desertores”. A tensão aumenta e a situação perde o controle.

19h
Filme: Rashomon (Rashômon), JAP – 1950
Direção:Akira Kurosawa
Elenco:Toshirô Mifune, Masayuki Mori e Machiko Kyô.
Duração:88 min.
Sinopse:No Japão do século 12, um fazendeiro e sua mulher são atacados numa floresta. Ela é violentada; ele morre. Ao longo do julgamento do caso, cada uma das quatro testemunhas, inclusive o fantasma do fazendeiro assassinado, conta o ocorrido segundo diferentes pontos de vista. Na busca da versão real, o drama questiona o próprio conceito de verdade.

Dia 28/06
16h30 e 19h
Filme: Desencanto (Brief Encounter), GB, 1945
Direção: David Lean
Elenco:Celia Johnson e Trevor Howard.
Duração:86 min

Sinopse:Em um café numa estação de trem, a dona de casa Laura Jesson encontra o doutor Alec Harvey. Embora ambos já sejam casados, gradualmente apaixonam-se um pelo outro. Eles, então, continuam encontrando-se toda semana no mesmo local, mesmo sabendo que seu amor é impossível.

Dia 29/06
16h30
Filme: Vidas Secas, BR, 1963
Direção:Nelson Pereira dos Santos
Elenco:Átila Iório,Genivaldo Lima, Gilvan Lima e Orlando Macedo.
Classificação:14 anos

Sinopse - Família de retirantes, Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia, que, pressionados pela seca, atravessam o sertão em busca de meios de sobrevivência.Inspirado na obra de Graciliano Ramos.

19h
Filme: Antes da Revolução (Prima della revoluzione),ITA, 1964
Direção:Bernardo Bertolucci
Elenco:Adriana Asti e Francesco Barilli
Duração:115min

Sinopse: Parma, 1964. Fabrizio, um jovem de 22 anos, passa por uma fase de indecisão política e afetiva. Apesar de renegar a burguesia, não se sente à vontade no movimento revolucionário, pois se considera à frente das ideologias da esquerda. Ao mesmo tempo, vive um amor conturbado com sua tia.

Dia 30/06
16h30
Filme: Deus e o Diabo na Terra do Sol, BR,1964
Direção:Glauber Rocha
Elenco:Othon Bastos,Geraldo Del Rey,Sonia dos Humildes e Yoná Magalhães.
Duração:115 min

Sinopse:O cangaceiro Manuel e sua mulher Rosa são obrigados a viajar pelo sertão, após ele ter matado o patrão. Em sua jornada, eles acabam cruzando com um Deus negro, um diabo loiro e um temível homem. Esta é considerada a obra-prima de Glauber Rocha.

Dia 1/07
16h30
Filme: Paixão dos Fortes (My Darling Clementine, EUA – 1946
Direção:John Ford
Elenco:Walter Brennan,Victor Mature, Linda Darnell e Roy Roberts
Duração:97 min
....
Sinopse: Wyatt Earp é o lendário xerife de Dodge City, mas hoje ele se limita a viajar com seus irmãos carregando gado. Em uma das viagens, ele deixa seu irmão mais novo tomando conta do rebanho enquanto vai ao saloon. Quando volta, encontra o pequeno morto e decide aceitar trabalhar no cargo de xerife da cidade, tentando trazer a justiça ao local.
19h Filme: Bandido Giuliano (Salvatore Giuliano), Itália -1961
Direção:Francesco Rosi

Elenco: Frank Wolff, Salvo Randone, Pietro Cammarata e Ugo Torrente
Duração:125 min.

Sinopse: O filme conta a história verídica do bandido siciliano Salvatore Giuliano, e de suas relações com a Máfia e o poder.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Record

Podem notar que ainda no início de junho o total de baixas dos invasores estadunidenses (161) já superou o total das perdas de 2008 (155), segundo dados do i-casualties.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Rir é bom pra tosse!

Recebi esta de um primo. Desses fowards da vida. Mas ri tanto... tanto, que resolvi publicá-la aqui. At last: rir é mesmo o melhor remédio!

O papa chegou ao Brasil em missão não oficial e trouxe um motorista afro-descendente.
Ele tinha um compromisso e estava atrasado, o motorista não passava de 80 km/h; a toda hora o papa falava pro afro-descendente andar mais rápido e nada...
E ele continuava nos 80 km/h.
Aí o papa, impaciente disse: “Deixe que eu mesmo irei dirigindo”. E foi...
O afro-descendente ficou no banco de trás e o próprio papa foi levando o carro a 140km/h.
Foi quando um guarda rodoviário mandou o papa parar, mas quando viu quem era, resolveu passar um rádio pro chefe dizendo:
- Chefe peguei um cara importante voando na Dutra, o que que eu faço???!!!
- Quem é... Um deputado? perguntou o chefe.
- Não chefe é mais importante.
- É um senador?
- Não chefe é mais importante ainda.
- Então é um governador de Estado!
- Que nada chefe é mais importante ainda...
- Então só pode ser o próprio presidente!!!
- É mais importante que o próprio presidente, chefe...
- PUXA, nesse caso então... Só pode ser o papa!!!
- Que nada chefe. O papa é apenas o motorista dele. É São Benedito... em pessoa!!

domingo, 6 de junho de 2010

Pensatas dominicais

Gosto desta época do ano no Rio de Janeiro. É frio para muitos, basta olhar as roupas em torno, mas para mim é muito agradável o frio dos trópicos, um friozinho mais para o frescor, uma temperatura que transforma o Rio de Janeiro num “Jardim do Éden”. Agora mesmo, são seis e dezoito da matina. Aqui ao meu lado começa a clarear, pássaros voam animados. E por isso mesmo vou tomar um café quente... Com a gata a se enroscar entre as minhas pernas... Dura esta vida!

Eu não aguento mais falar de futebol... E olha que a Copa ainda nem começou... Mas como dizia Nelson Rodrigues: “o futebol é a pátria de chuteiras”. Afinal, durante o evento ninguem escapa, tal a massificação da mídia e o tumulto causado pelos festejos que transformam o país num grande carnaval; ou dependendo, numa grande quarta feira de cinzas!

E por falar em “pátria”, a caipirinha já é reconhecida um clássico e igualada a muitos outros da coquetelaria mundial, como os famosos Dry Martini, Sidecar, Cosmopolitan, Singapore Sling, Piña Colada, Mojito, Cuba Libre...
Uma simples combinação de limão, açúcar, cachaça e gelo. E foi exatamente esta simplicidade (e uma dose de rusticidade) que atraiu muitos bartenders do mundo inteiro a se aventurarem primeiramente no preparo de uma caipirinha, e depois ao uso da cachaça como ingrediente, hoje, base até para outros coquetéis.
"E mais uma vez o mundo se curva perante o Brasil!"

Agora falando sério: Israel cometeu mais um ato terrorista. Só que alguns reclamam de forma por vezes e aparentemente “severas”, mas, no fundo no fundo a pizza rola bunitim! E não quero estragar o meu domingo com isto. Não vai dar em nada, nem os nazi-sionistas vão rever suas posições de extermínio em massa dos palestinos. Eles lá é que cheguem ou “nos façam chegar” às conclusões desejadas...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Infilosofias

Através da leitura de Pierre Lévy, um “infilósosfo”, ou filósofo da informática, tem-se aberto e/ou consolidado para mim uma nova dimensão do universo. É como se estivéssemos a viver uma ficção científica, sendo nós mesmos os seus personagens. Abaixo alguns trechos de textos (1) que provam esta realidade de ampliação da cultura com o advento do computador, e, mais ainda com a expansão da web.

“...Com o advento da escrita, o saber é carregado pelo livro. O livro, único, indefinidamente interpretável, transcendente, que contém supostamente tudo: a Bíblia, o Alcorão, os textos sacros, os clássicos, Confúcio, Aristóteles… No caso, o intérprete é que domina o conhecimento. Desde a prensa até esta manhã, um terceiro tipo de conhecimento vê-se assombrado pela figura do cientista, do científico...”
“... Quando Diderot e d’Alembert publicavam sua grande Enciclopédia. Até aquele momento, então, um pequeno grupo de homens podia ter a esperança de dominar a totalidade dos saberes (ou ao menos os principais) e propor aos outros o ideal desse domínio. O conhecimento ainda podia ser totalizado, somado. A partir do século XIX, com a ampliação do mundo, com a progressiva descoberta de sua diversidade, com o crescimento cada vez mais rápido dos conhecimentos científicos e técnicos, o projeto de domínio do saber por um indivíduo ou um pequeno grupo tornou-se cada vez mais ilusório. Tornou-se hoje evidente, tangível para todos, que o conhecimento passou definitivamente para o lado do não-totalizável, do indominável. Não podemos senão desistir...“
“... A partir do século XX, com a ampliação do mundo, a progressiva descoberta de sua diversidade, o crescimento cada vez mais rápido dos conhecimentos científicos e técnicos, o projeto de domínio do saber por um indivíduo ou por um pequeno grupo tornou-se cada vez mais ilusório...”
“... O saber-fluxo, o saber-transação de conhecimento, as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão modificando profundamente os dados do problema da educação e da formação. O que deve ser aprendido não pode mais ser planejado, nem precisamente definido de maneira antecipada. Os percursos e os perfis de competência são, todos eles, singulares e está cada vez menos possível canalizar-se em programas ou currículos que sejam válidos para todo o mundo...”
“... O essencial, porém, reside num novo estilo de pedagogia que favoreça, ao mesmo tempo, os aprendizados personalizados e o aprendizado cooperativo em rede. Nesse quadro, o docente vê-se chamado a tornar-se um animador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos, em vez de um dispensador direto de conhecimentos.
A segundo reforma envolve o reconhecimento do aprendido. Ainda que as pessoas aprendam em suas experiências profissionais e sociais, ainda que a escola e a universidade estejam perdendo progressivamente seu monopólio de criação e transmissão do conhecimento, os sistemas de ensino públicos podem ao menos dar-se por nova missão a de orientar os percursos individuais no saber e contribuir para o reconhecimento do conjunto de know-how das pessoas, inclusive os saberes não-acadêmicos...”
“... Na Web, tudo está no mesmo plano. Não obstante, tudo está diferenciado. Não há nenhuma hierarquia absoluta, e cada sítio é um agente de seleção, de encaminhamento ou de hierarquização parcial. Longe de ser uma massa amorfa, a Web articula uma multidão aberta de pontos de vista; porém, essa articulação opera-se transversalmente, em rizoma, sem ponto de vista de Deus, sem unificação superior. Que esse estado de coisas gera confusão, cada um o reconhece. Novos instrumentos de indexação e pesquisa precisam ser inventados, conforme atesta a riqueza dos trabalhos atuais sobre a cartografia dinâmica dos espaços de dados, os “agentes” inteligentes ou a filtragem cooperativa das informações. Ainda assim, quaisquer que sejam os progressos vindouros das técnicas de navegação, é muito provável que o ciberespaço conserve sempre seu caráter profuso, aberto, radicalmente heterogêneo e não-totalizável...“
“...Ouve-se às vezes, porém, o argumento de que certas pessoas passam horas ‘frente à tela’, isolando-se dos outros. Não resta dúvida de que não podemos encorajar os excessos. Mas será que dizemos de quem lê que ele ‘passa horas diante de papel’? Não. Porque a pessoa que lê não está se relacionando com uma folha de celulose, mas está em contato com um discurso, com vozes, com um universo de significado que ela contribui para construir, para habitar com sua leitura. Que o texto esteja numa tela não muda em nada o fundo da questão. Trata-se ainda de leitura, embora, conforme vimos, as modalidades da leitura tendam a transformar-se com os hipertextos e a interconexão geral...”

(1) Os textos acima, foram compilados de “Cibercultura”, de Pierre Lévy.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Espionagem

Documentos liberados à Folha de São Paulo pelo Arquivo Nacional após 25 anos de sigilo demonstram que o governo do então presidente José Sarney, espionou os principais focos de críticas da sociedade civil brasileira.
As informações são da reportagem de Rubens Valente, intitulada “Governo espionou críticos mesmo após fim da ditadura; veja documentos”, publicada na edição desta segunda-feira (31 de maio) do citado jornal, lida em sua versão online.
Segundo ela, “o governo interceptou cartas, infiltrou agentes e produziu listas de nome e endereços dos principais protagonistas da oposição. Entre os investigados estão os sem-terra, sindicatos, grupelhos de esquerda e membros de entidades como OAB.”
Alguns exemplos como “Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra”, de 22/04/1986, ou a “Tática do PCB para o Movimento Sindical”, de 24/06/1985, as “Atuais Estruturas e Principais Militantes do Partido Revolucionário Comunista – PRC, de 09/05/1988, a “Radicalização na Atuação de Organizações Subversivas no Brasil, de 19/02-1990, são, entre dezenas, alguns dos documentos citados pela reportagem da FSP.

Inquirido pelo próprio jornal, o polêmico atual presidente do Senado, o “honorável bandido” (1) declarou que “o trabalho do SNI, naquele período, pareceu-me sempre burocrático, e o seu ministro-chefe encontrava-se comigo em reuniões de trabalho, das quais participava com os chefes da Casa Civil e da Casa Militar, e se restringia a me transmitir notícias que, em geral, já eram do conhecimento da mídia. Logo que assumi, dei instruções para que o órgão suspendesse toda e qualquer atividade no que se referia a investigar a vida particular das pessoas (2), dizendo que isso não correspondia a nenhum interesse de Estado.”
E mais adiante: “... Eu assumi o governo com o programa trazido pela ‘Aliança Democrática’ e, nesse documento, não constava a extinção do SNI; ao contrário, a orientação que (o presidente eleito) Tancredo Neves sempre pregava é que não tivéssemos revanchismos. Acredito que as extinções posteriores foram apenas troca de siglas...”, e mais adiante: ...De minha parte, não havia nenhum acompanhamento direto até mesmo porque o MST estava começando mas apenas informações informais que me eram trazidas pelo chefe do SNI sobre acampamentos...”

(1) Inspirado no título de um livro de Palmério Doria sobre o clã Sarney e suas ações, principalmente no Maranhão.
(2) Informação que não procede, pois entre os documentos citados existem vários nomes como Geraldo Pereira ou Dulcineia Pavan (militantes do MST) e ainda Márcio Thomaz Bastos (OAB de São Paulo).