sábado, 30 de maio de 2009

Nada é impossível

Foi no início dos anos 1990 que alguém me falou que no futuro cinema seria transmitido via satélite e se assistiria a um filme, simultaneamente em qualquer lugar deste planeta. Uma estréia seria feita desta maneira. Na ocasião eu julguei que isso estaria muito distante. Está bem, já havia computador, mas a internet, de certa forma engatinhava. Dois anos depois já estávamos com ela mais desenvolvida, mas ainda era bastante insipiente. Um ou outro “guifezinho” primário que achávamos o máximo, mas, essencialmente as publicações eram à base de texto corrido.
Passado este tempo que nos separa, vemos que tudo isto é muito viável. Já é possível baixar filmes, e muito em breve com a banda larga evoluindo na velocidade em que está já os estaremos baixando em alta definição nos nossos computadores em questão de segundos e não com a demora que ainda existe. Toneladas de bytes já suprimem cada dia mais problemas para downloads. E, detalhe importante, as estréias não serão apenas em cinemas, mas em casa ou qualquer lugar que a gente esteja. O que parecia ficção – ou alucinação – tornou-se uma realidade.
Em 1994, houve um papo na agência de publicidade em que eu trabalhava sobre baixar fotos pela internet. Alguém tinha ido a Nova Iorque e contava que viu profissionais escolhendo fotos num banco de imagens (naquela época ainda não aberto fora da empresa), e as baixando para leiautar. Achamos uma coisa estupenda, a ouvir aquela narrativa entre incrédulos e embasbacados. Mal sabíamos que parcos anos depois estaríamos a abolir os livros de referências de fotografias do Image Bank e outros bancos de imagens e adotando até os mesmos fornecedores, mas via web.
Às vezes esquecemos o quão veloz é esta transformação tecnológica que vivemos. E digo isto porque há pouco tempo estava a conversar com alguém e disse-lhe que a mídia impressa está com os dias contados. E o sujeito com quem eu falava retrucava: “... Mas certamente vai demorar um tempo...”. E eu pensava justamente qual seria a medida deste tempo. A realidade é que as mudanças hoje galopam. Vejam o que aconteceu com a fotografia digital nos últimos cinco ou seis anos.
Sou de uma geração que ainda pegou a máquina de escrever e o telex, viu surgir o fax, o VHS, o CD, o DVD e o Pen Drive... Agora estamos a entrar na era do Blu-Ray. Meu primeiro computador caseiro (em 1993) tinha um HD com menos de dois megabytes. E isso era coisa pra dedéu! Estamos em tempos de gigabytes e crescendo para mais. Nada é impossível... Podem escrever.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dr. Strangelove

Quando assisto aos rumores da crise que se estabeleceu no oriente, mais precisamente na Coreia, lembro de imediato que os únicos que usaram a bomba nuclear para destruição em massa foram os estadunidenses ao final da II Guerra Mundial, quando as lançaram sobre Hiroshima e Nagasaki, destruído as cidades, matando e deixando grandes sequelas em centenas de milhares de seres humanos.
Também, os EUA não se importam com o que os israelenses ou os indianos fazem com as suas bombas atômicas. É o tal negócio: “desde que esteja do meu lado, tudo bem.” E não se trata de uma defesa do regime norte coreano, mas sim uma tentativa de colocar os pontos nos iii. Considero o governo da Coreia do Norte totalitário e militarista. Vou mais longe, é um resquício do stalinismo. Mas, o que dizer do governo ianque?
Sempre achei que a comunidade internacional, via ONU ou seja lá o que for, deveria estar vigiando todos os países que teem armas de destruição em massa, até que elas sejam totalmente eliminadas. Inclusive os EUA. Afinal são eles que estão mais envolvidos em guerras ao redor do mundo, mormente depois que se nomearam “xerifes universais”. Por outro lado, é importante ressaltar que hoje existe um total superior a 10 mil ogivas nucleares, metade delas naquele país.
A Coreia do Norte está a provocar com ações como a explosão de uma bomba nuclear subterrânea, o lançamento de mísseis e outras cositas más, porém as medidas a serem tomadas, deveriam ser de fato uma iniciativa internacional. Enquanto os Estados Unidos estiverem à frente de prováveis retaliações, a situação tende a se agravar podendo levar a uma guerra sem precedentes. Ou será que ainda não vimos este filme?

O título desta matéria é uma citação a Dr. Fantástico (Dr Strangelove), 1964, obra de Stanley Kubrick, uma sátira a correntes extremistas dentro do exército estadunidense em que Peter Sellers desempenha três papéis, inclusive o do personagem título, um “importante” cientista alemão capturado durante a guerra a serviço dos EUA, cujos instintos nazistas são manifestados inconscientemente em gestos e atitudes agressivas.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Mais alguns lugares em Sampa

Lembrei-me de mais alguns locais em São Paulo. Aliás, atendendo a pedidos, inicio uma série falando deles. Aqui vai mais uma dica...

O Mestre da Batidas, um bar na avenida Clodomiro Amazonas, não me lembro o número, em um bairro próximo a Pinheiros e os Jardins. As batidas de frutas, feitas pelos dois portugueses – donos do boteco – eram algo meio indescritível. Sim, o Armando e o Antônio eram de fato mestres nas batidinhas de frutas tupiniquins, as quais, apesar de lusos, conheciam com muita intimidade. Ainda me lembro, tantos anos depois, o sabor daquela de maracujá, ou de côco, de tangerina ou de carambola. É impossível esquecer.
Além disso havia um balcão repleto de tiragostos também difíceis de apagar da memória pelo menos para quem provou aqueles acepipes. Conheço algo semelhante na Adega Pérola, aquele boteco que fica na rua Siqueira Campos em Copacabana. Mas o melhor mesmo era a linguiça espetada num garfão, assada e bem tostada em álcool e servida cortadinha em finas fatias com tomate e cebola fartamente regadas a azeite. Coisa de português... Uma delícia de babar. Principalmente saboreada entre um gole e outro das batidinhas maravilhosas de todos os sabores imagináveis.
A última vez que estive no Mestre das Batidas foi cerca de 20 anos atrás, quando, visitando um casal de amigos os arrastei para provar os comes e bebes do lugar. Soube na época que um dos sócios havia morrido; o que me entristeceu de certa forma. Mas o bar continuava com o mesmo nível e clima da época em que o conheci, em finais dos anos 1960. Nem sei se ainda existe, mas, caso algum leitor vá por aquelas bandas, é só perguntar pelo Mestre das Batidas, na Clodomiro Amazonas. Agora, beba devagar. Porque as batidas são maravilhosas... Mas podem “pegar” na curva.

domingo, 24 de maio de 2009

Pensatas de domingo

A Editora Globo está anunciando na televisão o lançamento de uma revista esportiva com informações e análises sobre o Brasileirão, contendo matérias de toda a equipe esportiva da Rede Globo. Mas o mais engraçado mesmo é o preço da referida publicação, que custa R$ 9,99... Gente, onde é que nós estamos? Porque não lascam logo R$ 10,00 e não se fala mais nisso!
Falar em Globo, no quadro de repórteres da TV tem uma Gioconda Brasil e uma Monalisa Perrone... Tremenda redundância.

A produção mundial de aço em abril foi de 89 milhões de toneladas métricas, uma redução de 23,6% na comparação com igual mês de 2008, informou a World Steel Association, associação que engloba os produtores de aço.
No continente americano, a produção em abril caiu 53,4% nos Estados Unidos (3,9 milhões de toneladas métricas) e 40,7% no Brasil (1,7 milhão).
Já a União Europeia registrou queda de 48,6% (a 9,5 milhões). Na Rússia, foi de 30,1% (7,4 milhões).
Enquanto isso na Ásia, a redução foi de 3,9% na China (43,4 milhões), 43,6% no Japão (5,7) e 10,5% na Coreia do Sul (4,1).

Após o internamento da candidata e ministra da Casa Civil Dilma Roussef na semana passada, o sr. da Silva, durante uma visita a um centro de foguetes na China, afirmou que a hipótese do terceiro mandato está descartada. Será que foi mesmo pro espaço? Custo a acreditar.

Por seu lado, a ministra rebateu as críticas da oposição tucana sobre falta de transparência na Petrobras. Indiretamente, ela atacou a gestão de FHC ao declarar que se houve caixa preta na Petrobras, isso ocorreu no período dos governos dele.
“Essa história da falar que a Petrobras é uma caixa preta... A Petrobras pode ter sido uma caixa preta em 97, 98,99, 2000. A Petrobras de hoje é uma empresa com nível de contabilidade dos mais apurados do mundo. Porque caso contrário os investidores não a procurariam como sendo um dos grandes objetos de investimento. Investidor não investe em caixa preta deste tipo”, declarou.

Falei outro dia do Ponto Chic e do Bauru, o sanduíche que foi inventado naquela casa paulistana. Já havia lembrado numa Pensata da Salada Paulista, uma lanchonete que não existe mais, mas que era excelente, quase na mitológica esquina de Ipiranga com São João.
Hoje vou lembrar com grande prazer do Zi Tereza, uma pizzaria que é outra casa maravilhosa. Em 2004, quando fiz um trabalho de cerca de três meses por terras bandeirantes, voltei lá e a pizza continuava tão boa quanto era há 40 anos atrás, quando morei e trabalhei naquela cidade. Olha, é bom saber que o que era bom, permanece bom... Mas por aquelas bandas, isto é comum.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Frases para ficar

Estava no aniversário de cem anos de minha tia-avó Celina, quando durante o cerimonial, um primo, filho dela, citou a frase de um dramaturgo estadunidense cujo nome era Wilson Mizner (1893/1933), que, infelizmente eu não conhecia.
A frase era “A vida é dura e os primeiros cem anos são os piores”. E o fato de dizer que “... infelizmente eu não conhecia” é porque o referido autor tem outras máximas simplesmente geniais. Julgava que Millôr Fernandes e Groucho Marx eram os grandes e imbatíveis frasistas, mas a eles posso tranquilamente somar este Mizner.
Seguem abaixo algumas dessas citações:

"Quando se rouba de um autor, chama-se plágio; quando se rouba de muitos, chama-se pesquisa".

"Um bom ouvinte não é apenas popular em todos os lugares, mas também, depois de algum tempo, aprende alguma coisa"

“Não quero saber em que língua a ópera será cantada, desde que seja em uma língua que eu não entenda”

“A pessoa que está sempre declarando não ser burra suspeita disso”

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Depois da cerveja e do chocolate...

Após chegar ao agronegócio, setor que prosperou por décadas e foi responsável por uma parte expressiva do crescimento brasileiro, a crise econômica deixou poucas chances de tranquilidade. No ano passado, a safra atingiu o recorde de 143,8 milhões de toneladas. As exportações do agronegócio em 2008 também bateram recorde: US$ 71,9 bilhões. Apesar do crescimento em relação a anos anteriores, os números positivos já podem ser considerados coisa do passado, apenas pelo desempenho parcial em 2009.
A crise reduziu de forma expressiva as exportações dos produtos agrícolas, atingindo em cheio a Sadia, maior produtora no segmento, que se tornou a primeira empresa não-financeira brasileira a admitir perdas ligadas diretamente à crise. Essas perdas da Sadia somaram R$ 760 milhões, devido também a uma aposta equivocada quanto ao valor do dólar que causou grande desvalorização das suas ações na bolsa. Em função desses fatores a sua dívida bruta evoluiu de R$ 8,5 bilhões para R$ 9,4 bilhões em cinco meses (dezembro de 2008 a março deste ano.
Consequentemente, a Sadia e a Perdigão (a segunda maior do setor) assinaram esta semana um contrato de fusão, criando a gigaempresa Brasil Foods que nasce entre as 10 maiores em alimentos do continente, maior produtora e exportadora mundial de carnes processadas e terceira maior exportadora brasileira, atrás apenas da Petrobras e da Vale. Com 119 mil funcionários, 42 fábricas e mais de R$ 10 bilhões em exportações por ano, a gigante surge com um faturamento anual líquido de R$ 22 bilhões.
Depois das fusões e absorções no capital financeiro (bancos), nos setores de bebidas (Brahma e Antártica) e de chocolates (Nestlé e Garoto), a concentração de capital e formação de trustes chega aos embutidos e produtos agropecuários.

domingo, 17 de maio de 2009

Pensatas dominicais

Estive lendo sobre o surgimento da escova de dentes. Nós que já nascemos usando as de cerdas de náilon (lançadas em 1938), mal podemos imaginar que eram originalmente feitas com pelos de porco e foram inventadas somente em 1498 pelos chineses. E o pior é que antes disso tudo recomendava-se fazer bochechos de urina para tirar o mau hálito. Imagine só um beijo, um selinho que fosse naquela época!

Após algum tempo ausente, a Tribuna da Imprensa está de volta à internet em forma de blogue assinado pelo Hélio Fernandes. Pelo menos isso... Ah, o endereço continua o mesmo: http://www.tribunadaimprensa.com.br/

Enquanto isso, a crise econômica se agrava no velho mundo. A França entrou oficialmente em recessão, segundo o Instituto Nacional de Estatística francês, e a Alemanha declarou recessão técnica (termo usado quando o PIB tem seis meses seguidos de queda). Desde o terceiro trimestre do ano passado, aquele país viu suas exportações, a base de sua economia, encolherem. A pior crise desde 1970.

E a gripe Mexicana continua fazendo vítimas. Nos Estados Unidos já somam cinco. No mundo foram 72 mortes num total superior a 8.400 contaminados, a maioria no México. Bom, não é nada se comparada à epidemia da Espanhola (1918) que matou tantos que se chegou a empilhar os corpos nas ruas de muitas cidades em todo o mundo. Inclusive no Rio de Janeiro.

O governo do sr. da Silva já gastou R$ 6,3 bilhões de reais com propaganda no período 2003/2008. Uma verbinha considerável. Sobre o seu antecessor, o famigerado FHC, não foram divulgados dados completos, mas nos anos 2000, 2001 e 2002, os gastos somaram cerca de R$ 3,3 bilhões. Em se tratando de metade do tempo, trata-se de um empate técnico.

Não sei se o Baurú continua tendo a popularidade de outros tempos – anteriores à invasão McDonald’s – mas pelo menos é um sanduíche ainda bastante conhecido. Não me importo se ficar repetitivo, mas não canso de dizer que o melhor Baurú que existe é o do Ponto Chic (1), um excelente botequim que fica no Largo do Paissandú, 27, em plena avenida São João em Sampa. Ali, existe um busto em bronze do criador do famoso prato, Casemiro Pinto Neto, cujo apelido era Baurú, por ser natural daquela cidade e era frequentador do estabelecimento. Quem tiver a oportunidade de ir ao Ponto Chic, vá e experimente. Garanto que não se arrependerá.

Em tempo, lembrei que o sanduíche foi inventado no século XVIII por um lorde do almirantado inglês que resolveu um belo dia colocar uma fatia de presunto no meio de um pão. A propósito, o sobrenome do sujeito era Sandwich.

O escândalo do uso de dinheiro público para fins particulares explodiu depois que o Daily Telegraph publicou uma lista de pedidos de reembolso no Parlamento. Os itens incluíam alimentação, móveis, consertos em residências e até filmes pornô. Alguns parlamentares chegaram a devolver milhares de Libras para os fundos públicos. Agora, um secretário de Justiça foi suspenso de suas funções e acusado da quebra do regulamento ministerial após uma denúncia de que ele teria pedido reembolso de auxílio-moradia de valor muito superior à quantia que ele gastava por mês. Isso na Grã Bretanha. Quem diria!

Já por terras tupiniquins, o deputado licenciado do DEM (DF) Robson Rodovalho cedeu cota de passagens aéreas para pastores participarem de evento evangélico realizado em Brasília em agosto de 2007. O evento foi apoiado pela igreja fundada naquela cidade pelo próprio deputado.

(1) O bar possui mais duas filiais em São Paulo, nos bairros Paraiso e Perdizes (que eu não conheço). Além do mais o Baurú do Ponto Chic é muito melhor do que se come por aí. Vem com abundante recheio de rosbife cortados finíssimos, acrescido de uma mistura de quatro tipos de queijo derretidos, fatias de tomate e pepino no pão francês. Hummm!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Dennis Hopper e a estética da violência

Escrevi esta crítica em 1970. Posteriormente a revisei, sem alterar a sua forma original, tendo publicado em 06/02/2007 no antigo Pensatas.

Easy Rider é uma obra cuja maior força e expressão estão contidas em sua dura e cruel realidade. Na verdade, é uma síntese. A síntese de um longo caminho traçado pelo cinema novo estadunidense desde o seu esboço com a Escola Independente de Nova Iorque, até os nossos dias com novas correntes que chegaram a alcançar a produção hollywoodiana, da qual é ele um expressivo representante.
É inútil uma análise de Easy Rider alijada de um mergulho objetivo na realidade atual daquele país, seus conflitos e contradições mais recentes, que são em essência o objeto principal da tese do filme, por isto mesmo, um filme polêmico em suas raízes e temática. Constitui-se em seu todo como um retrato da sociedade ianque contemporânea. É um espelho da desordem, um aprofundamento concreto nas contradições de um estado em transição. Sua dinâmica concentra-se de tal forma nesta lógica do absurdo, que transborda e desemboca numa estética da violência. Na verdade é Easy Rider a negação do status quo, o lado oposto ao american dream e ao próprio american way of life. Sua antítese exposta na mais pura e despretenciosa linguagem: o american nightmare.
No tocante à sua proposta, é uma obra abrangente. Tanto em termos de pura exposição, quanto crítica. Seu sentido polêmico está escorado nas bases de seu objetivo que não deixa margem a dúvidas ou meias suposições. A tomada de posição (favorável ou contrária) é sintomática por parte do espectador, fazendo dela uma obra polêmica e consciente em sua finalidade. Easy Rider obedece a um crescendo rítmico que desemboca em seu violento final, lógico por sinal, dentro de toda a ilógica chocante que pretende expor.
O conflito entre o homem e o meio, entre a moral vingente e um novo modo de vida - mesmo que transitório - a realidade e a fantasia, a agressão e a busca da paz, a perspectiva e a falta da mesma são uma constante no filme, que atinge o ponto fundamental de sua mensagem. Os “cavaleiros” errantes, seu sentido de liberdade e revolta à ordem constituída, são a paródia de uma história forjada em mitos. Na verdade o "herói forasteiro" e "sem destino", é uma constante da iconografia da história norte americana. Faz parte de uma mitologia que tem por trás de si, a síntese e a contradição máxima do capitalismo selvagem e individualista.
Easy Rider, traz uma forte e clara mensagem de liberdade, mas constitui-se, por outro lado numa dura e também clara advertência. Não propõe meios termos. Muito pelo contrário, é radical. Para alguns chegará a constituir-se numa realização panfletária. Easy Rider é também o reflexo da evolução do pensamento de uma nova esquerda naquele país. Surge, não como uma obra esporádica e feita ao acaso, mas como a conseqüência consciente de um processo de amadurecimento de posições de alguns setores mais avançados da intelligentsia nos Estados Unidos.
Seus personagens situam-se num prisma realmente inserido no espelho global deste contexto de final dos anos sessenta, do movimento hippie, da fuga à sociedade de consumo, da revolta, do nihilismo. Na verdade, o filme não se perde em especulações vazias, nem tampouco em metáforas jogadas. É tão claro e objetivo, cru e real. E a direção segura de Dennis Hopper, deixa-nos, sem dúvida alguma, a conclusão final de um filme seguro no seu projeto e realização.

domingo, 10 de maio de 2009

Hábitos de domingo

Voltemos às velhas pensatas dominicais, uma forma de lembrar coisas e falar de outras que acontecem agora, de forma sucinta.

A crise econômica deverá acrescentar mais de 20 milhões de desempregados no mundo até finais de 2009, segundo estimativas da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Complementando a postagem anterior, a Editora Sundermann acaba de lançar o livro “O imperialismo e a crise da economia mundial”, coletânea de textos de Trotsky sobre a transição entre Inglaterra e EUA na hierarquia de dominação econômica e a sua relação com a crise econômica de 1929.

O problema do word é que agora preciso arranjar uma versão atualizada com o acordo ortográfico (nem sei se já existe), pois este programa acentua palavras de forma automática, o que nos obriga a estar desfazendo essas acentuações.

Agradeço nesta postagem (já o fizera na matéria “Ainda de cinemas”) a contribuição do leitor Luiz Paulo que lembrou que o cinema que ficava em frente ao Madrid era o Comodoro e não o Bruni-Tijuca, conforme eu havia dito. Este último era na Praça Saens Pena.

E por falar em coisas de outros tempos, lembrei há poucos dias do Salada Paulista, um bar que existia na avenida Ipiranga, quase esquina de São João, em Sampa, que era um barato. Aos moldes de então um fast-food, mas de qualidade. Juro, já houve coisas assim. Por incrível que pareça.

Aqui no Rio, o Bob’s de Ipanema e o de Copacabana eram lanchonetes pelo menos frequentáveis. Mas por essas terras o melhor mesmo sempre foram os estabelecimentos especializados em galetos. Até hoje existem muitos na cidade e em alguns bairros como Copacabana ou Tijuca. E sempre com direito a um bom chopinho...

Em São Paulo é que existiam uns bares com umas ideias de girico no tocante a chopes. Uma vez entrei num que oferecia um tal de Maracanã. Experimentei. Era uma tulipa gigantesca que tinha uma também muito grande desvantagem. O chope ia esquentando, esquentando e no final estava intragável. Bom mesmo é o Garoto (1) aqui do Rio que a gente verte rapidinho.

(1) Não confundir com Garotinho... Este foi difícil de descer.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Profeta da História

Leon Trotsky foi o maior opositor a Stalin, e à teoria do “socialismo em um só país”. Foi assassinado no México, país em que estava exilado, após ter rompido com o regime soviético liderado pelo ditador, que o mandou matar. A sua visão sobre as distorções na revolução russa, levaram Isaac Deutscher, seu maior biógrafo a denominá-lo profeta. Mas não foi apenas da URSS que fez análises. A seguir, trechos também proféticos extraídos do livro “Os Estados Unidos e a crise de 1929” escrito em julho de 1936.

“Dotados de grandes riquezas e de um aparelho produtivo altamente desenvolvido, os Estados Unidos elevaram-se no curso da guerra (1) ao nível de potência imperialista dirigente do mundo.
(...)
O imperialismo norte-americano não pode estender mais, nem sequer manter sua posição atual no mundo, sem fazer um grande corte na parte do poder mundial atualmente entre as mãos de outras potências imperialistas, sem atacar o nível de vida das massas da América Latina, da Europa e da Ásia (2), os quais explora direta ou tira proveito indiretamente.
(...)
A economia e a política dos Estados Unidos dependem das crises, das guerras e das revoluções em todas as partes do mundo. A própria dimensão do capitalismo americano e seus recursos, seu relativamente tardio aparecimento na cena mundial, o declínio geral e as perturbações características desta época do capitalismo mundial combinam-se para assegurar um ritmo rápido à evolução econômica dos Estados Unidos e, conseqüentemente também, ao desenvolvimento político da burguesia e da classe operária nos Estados Unidos.
(...)
A questão básica não se resolve calculando a produção, mas por meio de uma análise dos antagonismos econômicos. O nó da questão é este: Os Estados Unidos e, em parte o Japão, estão empurrando a Europa a um beco sem saída, não estão deixando nenhum mercado para suas forças produtivas (...) ao empurrar os europeus mais e mais para uma franja estreita do mercado, os Estados Unidos estão preparando atualmente um nova deterioração sem precedentes das relações internacionais, tanto entre os Estados Unidos e Europa como dentro da mesma Europa.”
E o de uma entrevista concedida ao jornal inglês “Manchester Guardian” na mesma ocasião, na qual citou:
“... As bases materiais dos EUA não têm precedentes. Sua preponderância potencial no mercado mundial é superior à preponderância real da Inglaterra no período de apogeu de sua hegemonia mundial... Esta energia potencial se transformará inevitavelmente em energia cinética, e algum dia o mundo será testemunha de uma grande explosão da agressividade ianque em todos os cantos do planeta."

(1) Trotsky refere-se aqui à I Guerra Mundial.
(2) É importante lembrar, mais uma vez, que este texto foi escrito em 1936.

domingo, 3 de maio de 2009

De resfriados e outras doenças

Confesso que eu não sei por que cargas d’água o diabo da gripe não foi logo batizada de Mexicana. Vieram com a tal Gripe Suína, que acabou tendo que mudar para Gripe A, porque causou uma confusão danada que provocaria um verdadeiro desastre na indústria e na comercialização de carnes de porco.
O fato é que a Espanhola, em 1918 vitimou, segundo alguns, precisamente 60 milhões e segundo outras fontes entre 20 e 100 milhões de pessoas ao redor do planeta. Inclusive o contingente brasileiro que seguia para a Grande Guerra e pereceu em costas d’África sem nem chegar à Europa. Ironias da história!
Mas porque uma foi Espanhola e a outra não pode ser Mexicana? Bom, já que nasceu, ou pelo menos se expandiu a partir daquele país, nada mais lógico e menos confuso do que isto. O fato é que agora, e apesar de estar a se transformar em pandemia, a tal Gripe A parece não ser tão resistente a medicamentos quanto se alardeou no seu início. Foi mesmo a omissão e a incompetência do governo daquele país em tratar adequadamente a questão.
Será que não passou de um mero resfriado mariachi? Só o futuro dirá...

Televisão aberta é um martírio, uma aberração, algo que não se consegue chegar a alguma conclusão que não seja a de que a “TV é o crack do povo”. Fora um ou outro telejornal, quase não se consegue assistir o que vai à sua volta. Chega-se à conclusão que trata-se de uma doença grave; sem cura.
Mas eis que ao assistir o novo programa de auditório da Adriane Galisteu, que tá bem... não é essa coisa toda, mas pelo menos dá para ficar frente ao aparelho televisivo, algo muito difícil, mormente em programas do tipo. Não sei se pelo carisma da apresentadora, bem menos chata do que os chatões em seus domingões, mas o fato é que “Toda Sexta” (é o nome do programa), é algo que dá para rir e passar o tempo sem certas baixarias do tipo aviõezinhos de notas de vinte reais e coisas do gênero.

E a doença do sistema? Possibilidades de melhora ela não tem lá muitas. O problema maior é o antídoto que foi semi-destruído pela história no decorrer do século XX.
O ponto central é que o capitalismo vem se esgotando desde algumas décadas. Mas o desastre provocado pelo stalinismo atrasou em pelo menos uns 50 anos as possibilidades de uma retomada dos debates em cima das propostas de Marx, para além das camadas herméticas da intelectualidade acadêmica. Algo muito grave mesmo, pois a máquina de propaganda do capitalismo e das classes dominantes soube muito bem aproveitar a contradição gerada pelo próprio regime burocrático que se dizia (note-se: se dizia) seguidor de suas ideias. Concretamente, seria o momento de evoluir propostas, um século e meio depois de Marx, e, a partir da realidade atual do capitalismo, chegar a parâmetros reais para saídas possíveis em nosso dias.
Enquanto isto, vamos assistir o sistema tentando se reciclar a partir do nada, e, não encontrando um obstáculo à frente tentar respirar um pouco, muito embora o seu fôlego venha a ficar cada vez menor quando conseguir vir à tona neste afogamento inevitável. Novamente... ironias da história!

Mas a mais estúpida de todas as doenças está bem ao nosso lado, em Brasília. Nosso Parlamento insiste em mordomias e outras atitudes que achincalham o povo brasileiro. E o pior de tudo é que agora ficaram claros os reflexos deste mal crônico no Poder Judiciário. Vade retro!