domingo, 24 de novembro de 2013

Pensatas de domingo




Podemos afirmar que os antigos dirigentes do PT até 2005 (quando foram afastados em virtude do escândalo do “Mensalão”) se degeneraram bem antes do início do governo Lula, e que, de “socialistas” não tinham mais nada há algumas décadas.
Dirceu se integrou ao regime da ”democracia” burguesa no Brasil (em pleno governo do general Figueiredo), quando a partir de 1979 na companhia dos sindicalistas do ABC, fundou o PT rejeitando a tese Marxista do socialismo científico, advogando a implantação do social reformismo no país para executar as “reformas necessárias” para desenvolver um capitalismo mais dinâmico e “avançado socialmente”.
Genoino rompeu com o PCdoB em 1980, após participar da guerrilha do Araguaia, para empreender a fundação do PRC que viria a se dissolver no PT no início da década de 1990 como tendência “Democracia Radical”. O projeto programático do PRC nunca foi revolucionário, apesar da formalidade nominal, quando ganharam a prefeitura de Fortaleza em 1985, elegendo Maria Luiza (que depois viria a romper com Genoino) e governaram para favorecer os empresários locais.
Mas se Dirceu e Genoino já há muito tempo não representam os interesses sociais do proletariado, executando no governo central do PT uma plataforma neoliberal em sintonia com as oligarquias dominantes, nem por isso “merecem” ser encarcerados pelo principal foco da reação política no Brasil, a fascistizante aliança entre o Partido da Imprensa Golpista (PIG) e os sinistros ministros do STF. Se foram presos, e isto deve ficar absolutamente cristalino, não foi em função do crime de corrupção, no caso específico do “Mensalão” cobrança de comissões de grandes empresas prestadoras de serviços para o estado desviadas para o “caixa 2” do PT, foram submetidos a este dantesco circo midiático da reação em razão de seu passado, e o mais importante, para depurar o PT e ajudar a impor no partido uma nova direção totalmente “afinada” com o governo Dilma.
Não é demais lembrar que Dirceu seria o candidato do PT à presidência da república em 2010, quando foi “abatido por fogo amigo” na crise do “Mensalão”. Agora as hienas do PIG comemoram as prisões dos dirigentes do PT como um símbolo no marco histórico da “moralidade pública”, como se não fossem apenas uma quadrilha de corruptos e sonegadores associados aos piores traficantes e bandidos capitalistas deste país.
Na verdade, porem, Dirceu, Genoino, etc, veem a ser mesmo presos políticos deste regime, uma “democracia” dos ricos, que assim como o antigo regime militar é apenas a forma política como se apresenta institucionalmente a ditadura do capital.
E o “Mensalão mineiro”, bem como o do “Propinoduto” Tucano, como é que ficam?

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Desamericanizar¹ o mundo




Noam Chomsky
* Tradução para o espanhol de Jorge Anaya para Rebelion
Publicado em Brasil de Fato


Durante o mais recente episódio da farsa de Washington que deixou o mundo atônito, um comentarista chinês escreveu que se os Estados Unidos não podem ser um membro responsável do sistema global, talvez o mundo deva se separar do Estado pária que é a potência militar reinante mas que perde credibilidade em outras áreas.
A fonte imediata do desastre em Washington foi a virada acentuada à direita dada pela classe política. No passado, os Estados Unidos foram descritos, com algum sarcasmo, mas não de forma imprecisa, como um Estado de um partido único: o partido dos negócios, com duas facções chamadas republicanos e democratas.
Não mais. Ele continua a ser um Estado de partido único, mas agora tem uma única facção, os republicanos moderados, chamados Novos Democratas (como a coalizão no Congresso os designou): não é uma organização republicana, mas há muito tempo abandonou qualquer pretensão ser um partido parlamentar normal. O comentarista conservador Norman Ornstein, do American Enterprise Institute, descreveu os republicanos atuais como “uma insurgência radical, ideologicamente extremista, que zomba dos fatos e acordos e despreza a legitimidade de sua oposição política”: um perigo grave para a sociedade.
O partido está em serviço permanente para os muito ricos e o setor empresarial. Como não podem ganhar votos com essa plataforma, se viram forçados a mobilizar setores da sociedade que são extremistas, pelos padrões mundiais. Insanidade é o novo padrão entre os membros do Tea Party e vários outros grupos informais.
establishment republicano e seus patrocinadores corporativos esperavam usar esses grupos como um aríete no ataque neoliberal contra a população, para privatizar, desregular e limitar o governo, mantendo as áreas que servem à riqueza, como as forças armadas.
Ele teve algum sucesso, mas agora descobre, para seu horror, que não pode controlar as suas bases. Assim, o impacto sobre a sociedade do país torna-se muito mais grave. Um exemplo é a reação contra a Affordable Care Act e o desligamento virtual do governo.
A observação do comentarista chinês não é totalmente nova. Em 1999, o cientista político Samuel P. Huntington advertiu que, para a maior parte do mundo, os Estados Unidos tornaram-se “a superpotência desonesta”, sendo vistos como “a principal ameaça externa às sociedades”.
Nos primeiros meses da presidência de George Bush, Robert Jervis, presidente da Associação Americana de Ciência Política, alertou que “aos olhos de grande parte do mundo, o Estado primordialmente desonesto hoje são os Estados Unidos”. Tanto Huntington quando Jervis advertiram que tal rumo é imprudente. As consequências para os Estados Unidos podem ser danosas.
Na edição mais recente da Foreign Affairs, a publicação líder do estabilishment, David Kaye examina um aspecto da forma como Washington se separa do mundo: a rejeição de tratados multilaterais “como um esporte”. Explica que alguns tratados são rejeitados de imediato, como quando o Senado “votou contra a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em 2012 e o Tratado de Proibição de Testes Nucleares, em 1999”.
Outros são descartados por falta de ação, incluindo as relativas a questões como direitos trabalhistas, econômicos ou culturais, espécies ameaçadas de extinção, poluição, conflitos armados, a preservação da paz, armas nucleares, direito do mar e discriminação contra as mulheres.
A rejeição das obrigações internacionais, escreve Kaye, “tornou-se algo tão arraigado que os governos estrangeiros já não esperam a ratificação do Washington ou a sua plena participação nas instituições criadas pelos Tratados. O mundo segue adiante, as leis são feitas em outro lugar, com participação limitada (se houver) dos Estados Unidos”.
Apesar de não ser nova, a prática tornou-se mais acentuada nos últimos anos, juntamente com a aceitação silenciosa dentro do país da doutrina de que os Estados Unidos têm todo o direito de agir como Estado pária.
Para tomar um exemplo típico, há algumas semanas as forças especiais dos EUA sequestraram um suspeito, Abu Anas Libi, nas ruas de Trípoli, capital da Líbia, e levaram-no a um navio para interrogá-lo sem permitir a presença de um advogado nem respeitar seus direitos. O secretário de Estado John Kerry disse a repórteres que a ação foi legal porque estava de acordo com as leis estadunidenses, sem causar maiores comentários.
Os princípios só são valiosos se são universais. As reações seria um pouco diferentes, é inútil dizer, se as forças especiais cubanas sequestrassem o proeminente terrorista cubano Luis Posada Carriles em Miami e o levassem à ilha para interrogá-lo julgá-lo de acordo com as leis cubanas.
Apenas os Estados desonestos podem cometer tais atos. Mais precisamente, o único Estado desonesto que tem poder suficiente de agir com impunidade, nos últimos anos, para conduzir ataques a seu critério, para semear o terror em grandes regiões com ataques de drones e muito mais. E para desafiar o mundo de outras maneiras, por exemplo, com o persistente embargo contra Cuba continuar, apesar da oposição do mundo inteiro, fora Israel, que votou com seu protetor quando as Nações Unidas condenaram o bloqueio (188-2) em outubro passado.
Pense o mundo o que pensar, as ações americanas são legítimas porque assim dizemos que são. O princípio foi enunciado pelo eminente estadista Dean Acheson, em 1962, quando instruiu a Sociedade Americana de Direito Internacional de que não há impedimento legal quando a América responde a um desafio ao seu “poder, posição e prestígio”.
Cuba cometeu um crime quando respondeu a uma invasão dos EUA e, em seguida, teve a audácia de sobreviver a um ataque orquestrado para trazer “os terrores da Terra” para a ilha, nas palavras de Arthur Schlesinger, assessor de Kennedy e historiador.
Quando os Estados Unidos conquistaram a sua independência, procuraram juntar-se à comunidade internacional de seu tempo. Assim, a Declaração de Independência começa expressando preocupação em relação ao “respeito decente pelas opiniões da humanidade”.
Um elemento crucial foi a evolução de uma confederação desordenada para uma “nação unificada, digna de celebrar tratados”, de acordo com a frase da historiadora diplomática Eliga H. Gould, que assistiu às convenções da ordem europeia. Para obter esse status, a nova nação também ganhou o direito de agir como quisesse na esfera doméstica. Assim, poderia agir para se livrar de sua população indígena e expandir a escravidão, instituição tão “odiosa” que não poderia ser tolerado na Inglaterra, como decretou o ilustre jurista William Murray em 1772. A avançada lei inglesa foi um fator que levou a sociedade proprietária de escravos a sair do seu alcance.
Ser uma nação digna de ratificar tratados conferia, portanto, muitas vantagens: o reconhecimento externo e a liberdade para agir sem interferência no seu território. E o poder hegemônico traz outra oportunidade, a de se tornar um Estado pária, que desafia livremente o direito internacional enquanto enfrenta crescente resistência no exterior e contribui para a sua própria decadência, com as feridas que inflige a si mesmo.

1. O termo “desamericanizar” (eu teria usado “desestadunizar”) veio no original do documento.

Noam Chomsky é professor emérito de linguística e filosofia no MIT, em Cambridge, Massachusetts, EUA. Seu livro mais recente é o Power Systems: Conversas sobre revoltas democráticas globais e os novos desafios à Empire EUA. Entrevistas com David Barsamian (Conversas sobre revoltas democráticas no mundo e novos desafios para o império dos Estados Unidos).

domingo, 10 de novembro de 2013

Pensatas de domingo e um amigo na Academia




A Cadeira 23, fundada pelo primeiro presidente da ABL, Machado de Assis, e que já teve como ocupantes, entre outros, Jorge Amado e Zélia Gattai, agora tem Antônio Torres em seu lugar.
  
Nascido em 1940 em Junco (hoje Sátiro Dias), pequena cidade no sertão baiano, Antônio Torres estudou em Salvador, onde começou a trabalhar como repórter no Jornal da Bahia. Depois foi publicitário em São Paulo e no Rio de Janeiro, tendo sido diretor de criação na Denison e outras agências. Eu o conheci na Salles em 1981, quando ele me confessou que, sendo simplesmente um redator, teria mais tempo para se dedicar à escrita do que sendo diretor de criação.
  
Aliás sua estreia como romancista ocorrera nove anos antes, em 1972, com o romance Um Cão Uivando para a Lua. E desde então, publicou outras 15 obras, entre elas os romances Essa Terra (1976) e Um Táxi para Viena D'Áustria (1991), todos traduzidos para muitas línguas, entre elas o francês, o que lhe valeu a condecoração de Chevalier des Arts et Lettres, concedida em 1998 pelo governo francês.
  
Antônio Torres também recebeu outros prêmios literários, entre eles o Machado de Assis, da própria ABL, concedido em 2000. Os romances e livros de contos do escritor teem como cenários tanto o meio rural como a vida urbana ou ainda a história do Brasil, como é o caso de Meu Querido Canibal (2000), que relata a saga dos índios tamoios, na época da fundação da cidade do Rio de Janeiro.
  
Foi uma conquista que muito me alegrou e recordou nossas caminhadas semanais pelas praias de Copacabana e Ipanema, e os muitos almoços, nos tempos em que morava no Rio, e eu acompanhava com grande interesse o dia a dia de suas atividades literárias.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Minhas experiencias com racismo e luta de classes nos EUA

Jorge Vital de Brito Moreira

Um dos mais importantes sociólogos estadunidense, James Petras, afirmou recentemente, numa entrevista para a Rádio Centenário do Uruguai: A política econômica tanto de Barack Obama como do Congresso não melhoraram as os verdadeiros índices de desemprego nem reduziram as desigualdades. Por exemplo, os últimos dados que temos indicam que nos EUA os 400 mais ricos teem mais riqueza  que 160 milhões de pessoas. Ou seja, menos de 1% tem mais riqueza do que a metade da população. A situação pode ser mais grave."
 (“La política económica tanto de Barack Obama como del Congreso, ni han mejorado las verdaderas tasas de desempleo ni han reducido las desigualdades. Por ejemplo, las últimas cifras que tenemos indican que en Estados Unidos los 400 más ricos tiene más riqueza que 160 millones de personas. Es decir, menos del 1% tiene más riqueza que la mitad de la población. La situación no puede ser más grave.”)
Os  dados recentes mostram que a parte da população composta por pretos, latinos e as mulheres,  é a mais prejudicada na repartição de renda (na luta de classes) dentro dos EUA.
 Assim, mais uma vez, fica demonstrado que a luta de classes, a luta racial e de gênero são os temas sociais mais importantes nesta nação e por isso, deveriam ocupar lugares privilegiados nos programas de Estudos Culturais das escolas e universidades, pois a proletarização da classe média, o aumento da discriminação laboral e salarial por diferença sexual e racial, continuam em ascensão e como diz James Petras, “a situação não pode ser mais grave”.
Pesem as evidências através dos fatos e dos dados, o discurso hegemônico da classe dominante, continua tratando de enganar ou mistificar a população do país e mundial, circulando sistematicamente duas grandiosas mentiras: 1) que a crise sócioeconômica já foi resolvida, 2) que a eleição de Barak Obama “provou” que já não existe racismo ou discriminação racial nos Estados Unidos. Nem uma coisa nem outra.
Gostaria de relatar aqui experiências racistas que sofri (a primeira quando estudante e as outras como professor universitário) desde que comecei a estudar e  viver neste pais, pois elas desmentem as falsas afirmações que os defensores do sistema capitalista propagam incansavelmente entre a população estadunidense e mundial. É necessário que resistamos ao discurso hegemônico da classe dominante denunciando as experiências e os fatos que lhe contradizem,
Quando era estudante do Ph.D. em Hispanic and Luso Brazilian Literature  and Linguistics of the University of Minnesota, estava acostumado, depois das aulas no Department of Spanish and Portuguese, a ir à Dinky Town ou à  West Bank para tomar café. Nessas horas, conversava frequentemente com estudantes estadunidenses. Enquanto bebíamos café e estava acostumado a ouvir a pergunta se eu era estudante grego ou árabe. Eu, naturalmente, respondia que nasci no Brasil e que era um estudante brasileiro.
Mas os estudantes pareciam que não tinham estudado geografia, pois não sabiam onde se localizava o Brasil, nem a Argentina, nem o Uruguai, nem o Chile, nem a Bolívia, nem outros países da América do sul. A situação me fazia recordar um exemplo típico do que estou escrevendo. Aconteceu no Brasil, durante o período em que Ronald Reagan era presidente dos EUA. Durante um banquete em Brasília, Reagan levantou-se da mesa e propôs um brinde ao "povo da Bolívia". Na minha opinião, a ignorância de Reagan (que para a colonizada mídia brasileira pareceu simplesmente uma gafe), parece ser a realidade cotidiana de milhões de estadunidenses.
            No inverno, quando a neve se derretia nas cidades de Minneapolis e Saint Paul (Twins Cities) formava grandes poças dágua nas ruas asfaltadas, e era senso comum que os carros transitassem pelo meio da rua evitando molhar-se e molhar as pessoas que andavam pela calçada (sidewalk). Dado que eu era um Teaching  Assistant (aluno de pós-graduação que ensinava português, espanhol e literatura aos estudantes estadunidenses) no Departament of Spanish and Portuguese, não tinha recursos para comprar um carro. Assim, era obrigado a tomar o ônibus nas paradas locais, todos os dias da semana.
Um dia estava esperando o ônibus para ir a Universidade quando vi que um Chevrolet vermelho, que se movimentava pelo meio da rua, mudou rapidamente de direção. Dirigiu-se diretamente para a grande poça de água que estava na minha frente, jogando muita água sobre meu corpo.
Devido àquela agressão, fiquei todo molhado e tive que voltar para a minha casa para trocar de roupa. Perdi a minha primeira aula e tive que esperar pelo ônibus seguinte, meia hora depois. Fiquei meditando, tratando de entender o que passou, porem não encontrava a razão para aquela agressão.
De noite, quando cheguei em casa, liguei a televisão,  e escutei a noticia de que o ex presidente George Bush (o pai) decretou os bombardeios aéreos ao Iraque, começando a primeira guerra no Golfo Persico contra Saddam Hussein.
No dia seguinte, estava esperando o ônibus na mesma parada quando vi um carro Ford preto movimentando-se pelo centro da rua. Suspeitando que o motorista poderia tratar de cometer o mesmo tipo de agressão que o outro, fiquei bem atento.
Minha suspeita foi correspondida: o carro Ford mudou de direção e dirigiu-se diretamente para a poça dágua na minha frente. Rapidamente, me escondi atrás do booth de ônibus e, por frações de minutos, pude evitar um segundo banho de água.
            Dali, por diante, não foi difícil entender que aqueles dois indivíduos estavam me confundindo com um pessoa nascida no Iraque, e por essa razão “merecia” aquelas agressões racistas.
            Essa experiência ilustra e resume mais um capítulo da historia das minhas vivências com as atitudes e o comportamento das pessoas (parte significativa dos estadunidenses) formadas ideologicamente pela cultura hegemônica dos EUA.
Como assinalei num texto anterior, publicado em Novas Pensatas (1), uma parte significativa dos estadunidenses acreditam no discurso chauvinista, racista e discriminatório do governo, da mídia corporativa, das autoridades civis e religiosas dos EUA. Assim, as características mencionadas são manipuladas para produzir ódio racial, econômico, social e político, contra os indivíduos e grupos, de culturas e línguas diferentes da cultura branca europeia.
Como brasileiro, que viveu por 28 anos no Brasil, oito anos no México e 20 anos nos EUA (parte do tempo como um cidadão estadunidense), tenho estado chocado e indignado quando estou na presença da ignorância, dos preconceitos e dos estereótipos contra o povo brasileiro, o povo mexicano, e latinoamericanos em geral, todos propagandeados pela narrativa dominante da cultura deste país.
 E, no entanto, de acordo aos dados históricos comparativos, nenhum país, na história moderna, invadiu mais países estrangeiros do que os EUA. Nenhum país tem destruído mais culturas nacionais que os EUA, nenhum país realizou mais guerra contra as nações do terceiro mundo que EUA (2), nenhum país tem produzido mais Transtorno de Estresse Pós-Traumático (PTSD) que os EUA (3). E como era de se esperar, as pessoas daqui não querem saber dos dados sobre uma realidade tão horripilante, desagradável e desumana.
Quando converso sobre o Brasil e constato que meus ouvintes não teem consciência das relações imperialistas entre os EUA-Brasil, começo a compartir  informações históricas documentadas sobre o mal tratamento que os EUA tem dado a cultura e as pessoas da América Latina. Então, meus ouvintes interrompem a conversa (ou se distraem) se despedem e vão embora: não querem tomar consciência da realidade das péssimas relações entre os EUA e os países do terceiro mundo.
Assim, quando os estadunidenses falam da relação entre Brasil-EUA, a partir de suas fantasias (por exemplo, "Os EUA é um país amigo do Brasil por isso ajudamos ao povo brasileiro" ou “no Brasil, país alegre do samba, do carnaval e do futebol, não existe racismo”), ignorando a realidade da relação de exploração e opressão que nós sofremos, imediatamente trato de lhes informar que faz alguns anos (no Brasil, no Chile, na Argentina , no Uruguai), centenas de milhares de  latino americanos foram vítimas (desaparecidos, torturados, assassinados), das ditaduras militares (no Brasil durou 21 anos, 1964-1985), articuladas e apoiadas pelos EUA, para beneficiar os interesses das suas corporações multinacionais. Logo depois, tenho de presenciar duas típicas reações dos meus ouvintes: 1) eles ficam carrancudos, deixam o assunto da conversa, e, depois de um adeus frio, desaparecem; ou 2) eles fingem que não ouviram o que eu disse e mudam o tema da conversa. Resumindo, os estadunidenses tratam de evitar (ou de escapar) tomar consciência da realidade terrível, dolorosa da exploração e opressão que nos toca. Desde sua perspectiva patriótica, superior e cômoda, eles simplesmente não acreditam, pensam que o que digo é mentira, e que o problema está na minha atitude negativa para o país “democrático” e “libertador”.  Assim, para grande parte dos estadunidenses, é mais fácil permanecer na ignorância politica, social, econômica e cultural do que saber as feias verdades da dominação imperial.
Mais isso não acontece apenas com as informações da relação entre EUA- América Latina; acontece também com informações da relação entre os EUA- países da Ásia, da África, do Oriente Médio, e do Extremo Oriente.  Aqui , na nossa vida cotidiana não se faz comentários sobre as guerras, as invasões, as torturas produzidas pelos EUA nessas regiões do mundo. Estes temas são tabus para os estadunidenses. Qualquer assunto (o tempo, a temperatura, o jogo de beisebol, Jennifer Lopes ou Britney Spears) é um bom pretexto para evitar que falemos das bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasaki; dos 20 milhões de vitimas produzidas pela Guerra do Vietnã; das guerras do Iraque e Afeganistão, dos assassinatos através do utilização dos drones, da espionagem massiva da SN e CIA, da tortura ou da deportação de milhões de imigrantes latino americanos.
 Uma vez na Universidade de Wisconsin, uma professora branca de língua alemã falava mal dos imigrantes latino americanos (com ou sem documentos). A professora repetia a ideologia racista de que “os latino americanos chegam aos EUA para consumir os recursos e serviços que são dos estadunidenses; os latinos só servem para isso”.
Minha reação foi argumentar defendendo o direito  dos trabalhadores latino americanos (grandes contribuintes da economia dos EUA) de terem legítimo acesso aos serviços de educação, saúde, assistência social do país, etc. Mas a professora não deu importância ao que eu dizia, e continuou falando racisticamente dos latinos como se  nós fossemos bárbaros.  Aí eu perdi a paciência. Disse-lhe que ela estava enganada; que a história era outra: “não foi a barbárie dos latino americanos que criou os campos de concentração e extermínio na Europa; foi a barbárie dos próprios brancos europeus, principalmente dos alemães”. Como ela tinha descendência alemã, ficou ainda más histérica e abandonando o respeito mútuo, começou a me agredir diretamente, vomitou a ideologia racista, e finalizou com a clássica pergunta racista: “porque você não volta para o seu país?”. Recentemente, uma colega de uma outra universidade dos EUA, apelou para os mesmos ideologemas, e agredindo-me verbalmente com a mesma pergunta: “porque você não volta pro seu país?”
Enquanto o governo racista dos EUA continue invadindo países, produzindo guerras, assassinando indivíduos, destruindo culturas das nações do terceiro mundo;
continue contando com a colaboração e a cumplicidade da mídia coorporativa para justificar e legitimar os crimes de guerra contra esses povos; continue contando com o silêncio e a apatia dos acadêmicos universitários, a luta contra o racismo, o chauvinismo,  a discriminação, a injustiça social não terá o sucesso que necessita e merece.
 Mas, paralelamente, a atual crise socioeconômica e cultural do sistema capitalista  aprofundou  a luta de classes no país e temos observado um aumento da consciência e da resistência coletiva, acompanhada da radical politização de amplos setores oprimidos (o movimento Occupy Wall Street, por exemplo) da nossa sociedade.
Para aqueles que querem participar e lutar politicamente contra o racismo, o sexismo, o classicismo e a injustiça social, é necessário que, entre outras coisas, não nos deixemos enganar pelo discurso hegemônico da classe dominante. É imprescindível que deixemos de apostar na realização da reforma migratória proposta pelos demagógicos partidos democrata e republicano dos EUA; é também imprescindível deixar de acreditar nos discursos liberais-reformistas produzidos pelo multiculturalismo e pela ideologia politicamente correta, como solução viável para  superar as contradições étnico-raciais, sócioeconômica-culturais, e sexuais nos EUA.

1) Vejam o texto de Jorge Moreira  “Quem é o inimigo da paz mundial?”, terça-feira, 2 de abril de 2013, em http://novaspensatas.blogspot.com/2013/04/quem-e-o-inimigo-da-paz-mundial.html

2) Vejam o texto de Jonga Olivieri “Agressões e invasões armadas do imperialismo ianque”, Novas Pensatas, quinta-feira, 12 de setembro de 2013, em http://novaspensatas.blogspot.com/2013/09/agressoes-e-invasoes-armadas-do.html


3) Vejam Satcher, D., Friel, S., & Bell, R. (2007). “Natural and manmade disasters and mental health” JAMA: The Journal of the American Medical Association, 298(21), 2540–2542.