terça-feira, 30 de dezembro de 2008

De quem é a Palestina?

O fim da II Guerra Mundial levou ao desaparecimento das influências coloniais francesa e britânica no mundo árabe, enquanto o rápido declínio destes antigos impérios transformava a política do Oriente Médio. Os territórios que lhes haviam sido concedidos pela Liga das Nações após a I Guerra Mundial tornaram-se independentes. Entre eles a Síria, a Jordânia, o Líbano e o Egito. O mandato inglês sobre a Palestina terminou e um território judeu foi criado. O Estado de Israel surgia em 1948.
Em 1947, ao fim do mandato britânico, já era evidente a violência entre árabes e judeus. Para conciliar esta situação, a ONU propôs e foi aceito um Plano de Partilha da Palestina, para a formação de dois estados: um judeu e outro árabe. Plano este que até hoje não foi cumprido.
Entretanto, a criação do Estado de Israel, em paralelo à consolidação de Nasser no comando do Egito, foram fatores marcantes para a modernização da região. Até porque, em seu início os israelenses estavam imbuídos de um ideal igualitário e socializante, o que lhes trouxe a simpatia de parte do mundo dito progressista. A formação de Kibutz (1) em território do novo país, que não aceitava dinheiro circulante dentro de sua área e outras medidas avançadas e inovadoras era um novo dado comportamental para a humanidade.
Mas, o Sionismo, em seu nascedouro era um movimento político que defendia o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado Judaico. Ele se desenvolveu a partir de finais do século XIX, em especial entre judeus de várias regiões da Europa, sobre a pressão de pogroms (2) e de um forte anti-semitismo. Particularmente após o famoso “caso Dreyfus” (3).
“O estado judaico” (1895) de Theodor Herzl, fundador do movimento, pregava que o problema do anti-semitismo só seria resolvido quando os judeus dispersos pelo mundo pudessem se reunir e se estabalecer num estado nacional independente. A dispersão dos judeus pelo mundo (a chamada diáspora), foi o principal argumento para o estabelecimento de uma pátria judaica na Palestina. Surgia o Nacionalismo Judaico.
Embora não se especificasse de início o local exato, a tese do retorno ao lugar de origem ganhou muitos adeptos por ter forte apelo religioso baseado na redenção do povo de Israel na “terra prometida. No entanto, quando o movimento sionista moderno se consolidou, a Palestina já era cultural e etnicamente uma nação árabe, enraizada por uma consistente e longa migração iniciada por volta do ano 350 de nossa era.
Mas, afinal, de quem é a Palestina? Poderia ser de judeus e árabes, se os primeiros não tivessem se apossado de forma brutal e possessiva do território. Desde o início da ocupação sionista, iniciou-se a demonstração de uma dura realidade e conflito. Tanto que, em novembro de 1975, com a violência a estrapolar, a Assembléia Geral da ONU aprovou a resolução de nº 3379 que contém uma clara censura : “O sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial”.

(1) A origem da palavra Kibutz vem de Kvutzá, que, traduzindo do hebraico, significa grupo, comunidade. Sua origem provém de jovens imigrantes judeus da Europa Oriental inspirados pelo socialismo.
(2) Pogrom consiste em um ataque violento a grupos raciais específicos, com a destruição do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos). O termo tem sido usado para denominar atos de violência em massa, contra minorias étnicas.
(3) Famoso caso de erro judicial na história da França, com fortes características de anti-semitismo e fraude jurídica. Envolveu Alfred Dreyfus (1859-1935), capitão do exército francês, numa acusação de espionagem, por terem sido encontrados documentos com a sua caligrafia (falsificada). Foi condenado à prisão perpétua, mas em 1898, encontraram-se evidências de sua inocência e provada a culpa de um major francês. O caso envolveu Emile Zola, que publicou o famoso “Eu acuso” em defesa do oficial e mobilizou toda a opinião pública francesa.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Mil olhos por um...

Quando Ismael, filho da escrava egípcia Agar com Abraão foi expulso do seu convívio (1), ele seguiu o seu caminho e fundou uma nova tribo. Daí originou-se o povo árabe. Mas, proveniente do mesmo sangue, de um mesmo pai (Abraão), que só o baniu porque nascera Isaac, filho de sua mulher, Sara.
Todos eram semitas. A bem da verdade, o antisemitismo como o conhecemos em nossos dias é um tanto quanto distorcido etnologicamente. O judeu “esquenazi” (ou europeu) não tem nada a ver com o judeu primitivo que habitava a região onde hoje se encontra Israel. Não tinha olhos azuis, nem cabelos ruivos e outras características do judeu de nossos tempos. Era moreno, tal e qual os árabes que os cercam.
“Olho por olho, dente por dente”. Essa expressão está registrada num dos 282 artigos do Código de Hamurabi (1792-1750 A.C.). Hamurabi instituiu a vingança como preceito jurídico no Império Babilônico. Também está presente em livros da Bíblia e prescreve ao transgressor a pena igual ao crime que praticou.
Só que atualmente os nazi-sionistas que governam o estado de Israel a transformaram em: “Mil olhos por um olho, mil dentes por um dente”. Ou seja, esta é a proporção que os fascistas de Israel estabeleceram para a sua prática de limpeza étnica, na qual estão a exterminar a “raça impura” dos árabes, tão semitas como os primeiros judeus que habitaram a região.
E o pior de tudo é que estamos a assistir a um verdadeiro holocausto, apoiado pelos Estados Unidos e outros países que compõem o pensamento totalitário em nossos dias. Estupidamente os ianques apelam para que os palestinos interrompam os seus inexpressivos ataques ao território israelense, quando de fato quem tem que interromper alguma coisa é justamente o estado nazi-sionista, que fez mais de 360 vítimas fatais e superou os 1.400 feridos (2) em apenas dois dias de bombardeios aéreos.
Será que pensam que somos cegos? Que não se sabe que a situação pede a interferência da ONU, outros organismos internacionais e governos de países para que ambas as partes cessem fogo? O mundo assiste a um dos mais vergonhosos massacres jamais presenciados. Um verdadeiro e gigantesco extermínio em massa. É preciso que acabe. Antes que milhões de olhos e dentes paguem pela meia dúzia de olhos e dentes que tombaram sob o fogo de algumas geringonças que os palestinos pensam ser mísseis.

(1) Sarai (depois Sara), esposa de Abrão, (que depois chamou-se Abraão) era infértil. Em vista disso, ela própria propôs que ele cruzasse com sua serva, Agar para que tivesse um herdeiro. Anos depois, Sara engravidou e deu à luz um filho legítimo. A solução foi expulsar a escrava e seu filho bastardo.
Importante: o texto se encontra no Gênesis (16 a 21). O resumo é meu.
(2) Os números às 23:34h do dia 29 de dezembro, pois a cada instante aumentam.

Pausa para um poema

Estava a rever aquele programa especial com Tom Jobim (1987) em DVD, no qual ele recita este poema de Drummond. Eterno Carlos Drummond de Andrade. Bom, enquanto sionistas guerreiam (ou melhor holocaustam) vamos curtir um pouco o lado poético da vida...

É preciso casar João,
é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.

Segundo o Michaelis, "volapuque – sm (de volapük, do ingl world+speak) língua universal, inventada em 1879 por João Martinho Schleyer e hoje substituída pelo esperanto."

domingo, 28 de dezembro de 2008

O lixo nosso de cada dia

Afinal, ao navegar na internet a gente vai pescando daqui e dali, “aquilo que o povo gosta”... ou melhor “ que as elites querem que o povo goste” pra não ter que se preocupar com o que interessa de fato. Sim, porque a máquina alienante é de uma monstruosidade!

Por exemplo, o que me interessa saber que Madonna e o ex-marido foram a um centro de Cabala? Ela abrace as crenças que quiser e me deixe em paz!
Que Suzana Vieira sai da reclusão e cai na noite? Que caiu na gandaia e atacou de DJ numa boate. Mas quem mandou casar com qualquer um só por casar? A coroa já tem idade suficiente para pensar antes de consumar o ato. Agora, tá pagando o preço da inconseqüencia.
Ou que Glória Maria (lembra?) não é mais a mesma depois de uma viagem à Índia, onde, a julgar pela foto, abraçou uma religião dessas budomasoquistas? É o tal caso: longe da mídia, o negócio é chamar a atenção com qualquer coisa que ponha o nome nas fofoquinhas de “famosos & celebridades”.
Que Donatela e Dodi vão se encontrar? Coisas de novela. Aliás, se não fosse a web eu nem saberia quem são porque não as assisto. Mas em qualquer portal ou site estão lá as notícias na cara da gente.
Ainda, o quê me interessa saber que Sandy e Fernanda Rodrigues (essa eu nem sei quem é) são tão “amiguinhas” que até dá pra desconfiar. O problema é delas.
E finalmente que Stephany Brito e Pato estão a namorar? E num Shopping. Essa é demais! A primeira, juro também não sei quem é. E o Pato – que não mora em Patópolis –, é um jogador de futebol que se destacou no Mundial Sub-20. Bem, que eles sejam muito felizes!

Tem mais, mas, por hoje chega! Porque enquanto isso notícias como a crise econômica mundial, o novo holocausto no Oriente Médio, a extração de minérios radioativos sem fiscalização no Amapá, e até coisinhas fúteis, porém nem tão inúteis, como a moda para a passagem de ano, ficam relegadas a segundo plano. Isto é o lixo nosso de cada dia.

Natal sangrento II – a carnificina continua

Depois do Papai Noel às avessas em Los Angeles, e, desta feita do outro lado do mundo, a Força Aérea de Israel lançou mais de 100 bombas de aviões contra o território palestino na manhã de ontem, deixando ao menos 220 mortos, além de 700 feridos, 120 em estado muito grave.
Este foi o mais violento bombardeio aéreo israelense contra a Faixa de Gaza em 60 anos de conflito. O ataque ocorreu após ameaças feitas pelo governo israelense em represália a disparos de foguetes contra seu território, que encerrou uma trégua de seis meses com o Hamas.
No dia 26 de dezembro, Israel abriu as passagens na fronteira com Gaza para permitir a entrada de um comboio de 90 caminhões com ajuda humanitária.
A organização islâmica Hamas disparou dezenas de foguetes contra Israel desde a Faixa de Gaza, em resposta aos fortes bombardeios, afirmou a rádio da organização.
O governo brasileiro conclamou “as partes a se absterem de novos atos de violência e estende sua solidariedade aos familiares das vítimas dos bombardeios desta manhã.” No comunicado, o governo brasileiro destaca ainda lamentar que “a violência naquela região afete principalmente a população civil e prejudique esforços por uma solução negociada e pacífica para o conflito israelense-palestino”.
Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, pediu o fim dos confrontos e disse que está “profundamente alarmado com a violência pesada e o banho de sangue em Gaza”.
A Liga Árabe irá realizar uma cúpula extraordinária, na próxima sexta-feira, em Doha, para tratar desses ataques israelenses, anunciaram alguns diplomatas, neste sábado, no Cairo, após uma reunião de embaixadores árabes da referida organização.

Informações compiladas da Folha de S. Paulo, O Dia, Estadão e Jornal do Brasil.

sábado, 27 de dezembro de 2008

O “mau velhinho”

“Um homem vestido de Papai Noel matou cinco pessoas (1) e feriu outras três numa festa em Los Angeles, nos Estados Unidos. O suspeito de cometer os assassinatos e também de atear fogo na casa, Bruce Jeffrey Pardo, de 45 anos, foi encontrado morto depois de cometer suicídio. O corpo foi achado por parentes do atirador, na casa de um irmão dele, a poucos metros do local da tragédia.”
O Dia (online) – 26 de dezembro de 2008

A menina de oito anos abriu a porta e viu Papai Noel. Deve ter ficado feliz, mas a sua alegria durou pouco, porque logo recebeu um tiro na cabeça. Foi a primeira vítima do massacre que nos dá uma idéia dos níveis de violência a que chegou a sociedade estadunidense.
Bruce invadiu a casa dos pais de sua ex-mulher que acabara de conseguir o divórcio no dia 18 último, após ele perder o emprego, em julho. Atirou, matou e incendiou o prédio, antes de acabar com a própria vida. Uma tragédia na noite em que o “bom velhinho” mostrou a sua outra face. Um verdadeiro presente de Papai Noel às avessas.

(1) Quando editava esta matéria, informações elevavam o número de mortos para nove.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ser e não ser... eis a questão

Publicado anteriormente no “Pensatas”. Lá foi a postagem de número 107, aqui ela é a centésima sexta. E é um texto bastante apropriado para a época natalina.

Chegou, enfim, um tempo em que tudo o que os seres humanos haviam considerado inalienável tornou-se objeto de troca, de tráfico e pode alienar-se. É o tempo em que as coisas mesmas, que até então eram comunicadas, mas nunca trocadas; dadas, mas nunca vendidas; conquistadas, mas nunca compradas – virtude, amor, opinião, ciência, consciência etc – em que tudo, enfim, passou para o comércio. É o tempo da corrupção geral, da venalidade universal ou, para falar em termos de economia política, o tempo em que qualquer coisa, moral ou física, tendo-se tornado valor venal, é levada ao mercado para ser apreciada por seu valor adequado

Quando Marx escreveu o texto acima sobre o Fetiche da Mercadoria no livro “Miséria da Filosofia”, ainda não existia uma sociedade de consumo. Os valores eram outros. Mas, nunca como hoje o termo se justifica e pontua tanto a realidade social por que passamos. A frieza do “ser” e do “não ser” em nossa sociedade passa a ser mais sério quando o indivíduo é considerado pelo que “possui”, e não pelo que “é” na realidade. Pouco importa o seu saber, as suas idéias, a sua riqueza interior. Importa, sim a posse de mercadorias que o fazem “importante”. O neo-liberalismo só veio agravar e acentuar esta realidade. Segundo o pensador Anselm Jappe (1): “Na sociedade fetichista não pode existir verdadeiramente um sujeito, porque o sujeito, na sociedade da mercadoria, é a própria mercadoria.”
Fetiche tem a mesma raiz de feitiço. Neste quadro, a mercadoria surge valendo por si mesma, mais grave ainda, como um fator determinante na vida da sociedade. Chega-se aqui a uma grande inversão: o homem, que devia ser o dono do seu produto, passa a ser comandado e dirigido por aquilo que consome. Desta forma, se por um lado a mercadoria se “coisifica”, o homem se “decoisifica”.
É comum em nossos dias, o comportamento de pessoas que, diante de carências afetivas, tristezas ou frustrações profissionais, saem às compras. A aquisição de mercadorias não leva a uma superação desses problemas, mas é apenas uma fuga. Esse ato de refrear um desequilíbrio a partir do consumo é um exemplo da relação que há entre modos comportamentais e a estrutura sócio-econômica.
O feitiço da mercadoria, é a “desumanização” dos indivíduos no processo de revalorização da mercadoria que submete todos a uma lógica da revalorização do próprio valor. O ser humano passa a “não ser” no sentido mais amplo do termo. A mídia moderna, principalmente via televisão, também agrava este processo, ao transformar o espectador em consumidor passivo não somente de mercadorias quanto de notícias e informações morais e ideológicas à qual, em grande parte das vezes não lhe é dado o direito de análise e/ou recusa, alienando-o. O que Herbert Marcuse classificou brilhantemente de “homem unidimensional”. Ou seja, aquele que pensa de maneira uniforme, pasteurizada, comum a todos. Em outras palavras: o “pensamento único” que está aí exposto, tornando-se um dogma dos tempos modernos.

(1) Anselm Jappe (1962) é um filósofo e ensaísta nascido na Alemanha, que vive atualmente na França. Além de inúmeros artigos em revistas alemãs, recentemente publicou o livro “As Aventuras da Mercadoria” (Editora Antígona – Lisboa).

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O blogue que virou livro

Stela Borges de Almeida, cujo blogue “Cultura, Política e Cinema” (1) – que conheci por intermédio de comentários na publicação similar do Professor Setaro (link ao lado) – e tenho a grata satisfação de acompanhar desde 2007, lançou um livro com as suas postagens.
Sempre muito bem fundamentada, a pesquisadora (2) aprofunda temas de cinema e literatura. Alguns raros e pouco difundidos entre nós, como o cinema latino-americano e filmes africanos; outros mais conhecidos, a exemplo de Almodóvar ou da Nouvelle Vague, mas mesmo assim engrandecidos por suas reflexões, sempre pertinentes.
Para além disso, Stela amplia suas pesquisas em temas como Münsterberg, o cinema mudo dinamarquês e Andréas Dresen. No mais, conseguiu publicar seu blogue. De uma forma inteligente, transformou o virtual em leitura palpável. Um velho sonho meu, o qual, aliás, vou tentar seguir assim que tenha tempo para tal.
Parabéns Stela. Sua idéia foi brilhante... e o resultado também.

(1) O blogue da Stela está nos links ao lado, mas segue aqui o seu endereço:
http://www.stelalmeida.blogspot.com/ Vale a pena conferir.
(2) Stela Borges de Almeida é baiana, doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (2000). Foi Professora Adjunta no Departamento de Educação da Universidade Federal da Bahia (1997/2000). Organizou o livro Chaves para ler Anísio Teixeira (UFBA/EGBa/OEA), escreveu Negativos em vidro (Coleção de Imagens do Colégio Antônio Vieira, 1920-1930 (Edufba, 2002), além de diversos artigos em revistas sobre o estudo dos intelectuais, das instituições educacionais e da memória da educação brasileira.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Piadinha politicamente incorreta

Como tenho profunda repulsa por tudo que seja “politicamente correto” (1), segue esta piadinha, talvez antiga mas que eu acho muito boa:

Dois viadinhos viviam num castelo. Naturalmente deviam ser viados ingleses para viverem num castelo, mas isto não vem ao caso.
Um belo dia, as bichinhas estavam brigadas e uma delas passa com um cálice d’água na mão. Pouco tempo depois, passa de novo. De novo... e novamente!
Lá pras tantas uma delas dá um chilique – coisa aliás muito comum à espécie – joga o jornal para o alto e com as mãos à cintura e ar desafiador, grita para a outra:
- Não agüento mais essa sua atitude! O quê que você tanto faz pra lá e pra cá com esse cálice na mão, Dinorá? O quê? Sua... vagabunda!!!
A outra vira-se, empina o queixinho e responde:
- Sai pra lá, “pessoa”! Pausa, olha com um olhar que fuzila a outra e acrescenta: O castelo está pegando fogo e eu estou tentando apaga-lo!
Pano rápido.

(1) Na minha opinião o politicamente correto é o falseamento da realidade, é um embuste criado pela sociedade cristã-ocidental para encobrir a sua hipocrisia.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Papo de cachimbeiro IV

Postado em março de 2007 no “Pensatas”.

Fico pensando como o cachimbo foi desaparecendo da mídia! Até porque o anti-tabagismo tornou-se uma verdadeira obsessão.
Antigamente, era comum assistir um filme e encontrar um Gary Cooper, ou um Cary Grant com um belo e charmoso cachimbo pendurado na boca. Naquela época era charme. Hoje em dia... só em filmes de Sherlock Holmes. Ou do Inspetor Maigret. Mas até estes heróis estão fora de moda.
Estava a assistir um documentário no History Channel sobre Grand Prix dos tempos de Fangio, quer dizer décadas de 1950 ou 1960. E lá estavam eles. Técnicos, donos de escuderias, até mecânicos, às dezenas fumando uma “pipa”. Era rara a cena em que não aparecesse um cachimbeiro. Nem que fosse ao fundo.
Tinha anúncio de cachimbos Dr. Plumb em revistas estadunidenses. E, aqui no Brasil vi muitos anúncios da Souza Cruz anunciando os seus fumos “Royal Club”, “Timoneiro”, “Tilbury” e Buldog”. O Jacinto de Thormes, que era o colunista social mais “chic” da época, aparecia em propagandas de cachimbos.
O negócio é que, de repente começou a ficar meio fora de moda mesmo.
E isso se reflete em várias vertentes. A começar pelas tabacarias. Houve um tempo em que cada esquina do centro do Rio tinha uma biboca expondo cachimbos e cheias de tabacos importados. Pode parecer exagero, mas era isso mesmo. Eram dezenas de pequenas lojas espalhadas da Cinelândia à Praça Mauá.
Sobraram algumas. Mas somente as grandes, como a Tabacaria Africana na Praça XV, aberta ao público desde os tempos do império. E algumas outras tradicionais, como a Griphus, na Buenos Aires com o Mercado das Flores, uma outra na Senhor dos Passos, claro que de “turcos”, ou aquela da galeria na rua 13 de Maio. E finalmente a do subsolo do Edifício Avenida Central.
Resquícios.
Daí, concluo que sou um animal em vias de extinção. Pelo cachimbo, e, claro, também pelos meus 34 anos (1) de casado com a mesma mulher. Coisa mais demodée!!!

Adendo em dezembro de 2008

Bem a propósito, ontem fui a Copacabana e encontrei uma excelente Tabacaria na altura do Lido, mais precisamente na Avenida Prado Júnior, no quarteirão da praia. Trata-se da Mr. Smoker. Taí, gostei da variedade de tabacos e charutos da casa.

(1) Hoje, 36 anos.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Sapatadas, cagadas, votadas e risadas de domingo

Para um milionário saudita, os sapatos famosos que serviram de “armas” estão valendo 10 milhões de dólares. A proposta pelo sapato do jornalista iraquiano foi feita pelo milionário Hasan Muhammad Makhafa. Antes dele, o técnico de um time de futebol do Iraque já havia oferecido 100 mil dólares pelo par. O técnico afirmou que “a atitude de Al Zaidi, expressou o sentimento de todos os iraquianos”.
Outro que está a faturar com o episódio é o fabricante do sapato do jornalista. Ramazan Baydan, que produz o modelo atirado em Bush, que garante que desde domingo já recebeu 300 mil novos pedidos pelo produto.
Em Bagdá, o juiz Dhia Al Kinani declarou que o jornalista teria hematomas nos olhos e em outras partes do rosto. Al Kinani afirmou ainda que funcionários da corte “assistirão à gravação do incidente para identificar aqueles que bateram nele”. Milhares de iraquianos realizaram manifestações pela libertação de Al Zaidi. Em outro países árabes também houve protestos.

O fim de namoro perfeito

Cheguei em casa e fui dar aquela cagadinha. Na verdade, estava apertadíssimo, e ainda passamos pela Lagoa para ver o eclipse da Lua, o que atrasou um pouco mais a chegada ao aconchego do lar. E, no caso, de uma privada.
Parece um papo escatológico. E é. Mas, pelo menos é curtinho... e grosso. Mas me fez lembrar de um amigo que tinha no ginásio, e que dizia que toda vez que acabava um namoro, tinha uma forma muito boa de levar a “ex” para o seu lugar definitivo: o esquecimento.
Era bem simples. Imaginava ela dando aquela cagada, com prisão de ventre, em que a coitada toda torcidinha, mordia os lábios, com os olhos a ponto de saltarem para fora do rosto. No dia seguinte, estava enojado. Nem queria pensar na pobre criatura!
Também...
Esta foi publicada no Pensatas de 3 de março de 2007

Por que votei nele?

Anulei meu voto para prefeito do Rio este ano. Mas votei para vereador em Stepan Nercessian. Por uma razão muito simples: Stepan, além de estar alinhado com a esquerda numa época em que as “ideologias morreram” (1), ajuda a realizar uma obra de grande extensão humana que é o Retiro dos Artistas.
Mas entre outras coisas, Stepan lutou pela implantação do “Rio Transparente”, aprovado no dia 17 de agosto pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro e encaminhado para o Poder Executivo. A lei estabelece que a Prefeitura do Rio disponibilize em sua página na Internet informações sobre os investimentos e gastos públicos, possibilitando que o cidadão possa acompanhar a execução orçamentária do município.
(1) Morreram segundo a ideologia vigente nos dias atuais...

E, quanto mais tempo melhor

Para finalizar esta minha Pensata dominical, falando de alguma coisa mais edificadora, nada melhor do que comentar sobre “Quanto mais quente melhor” (Some like it hot) de Billy Wilder, (1959) com um desempenho fora de série de Jack Lemmon, convincente de Tony Curtis e charmoso de Marilyn Monroe, um pouquinho acima do peso ideal, mas gostosa do mesmo jeito. Um filme que, ao contrário de envelhecer, pode-se assistir como se tivesse sido produzido agora. Um bom vinho de uma excelente safra, e de uma época em que o cinema brilhava...
Eu o revi anteontem, após cerca de seis anos que o assistí pela última vez, ainda em VHS. Agora em DVD, da coleção da Veja, que de quando em vez ainda acerta e publica alguma coisa que preste.
Aliás, é uma coleção que traz obras inesquecíveis do cinema, e, embora confesse, que não vá adquirir todos, mas boa parte deles vale a pena, sem dúvida nenhuma.

Um bom domingo para todos!

sábado, 20 de dezembro de 2008

O som dos milhões

O Corpo de Bombeiros não autorizou a inauguração da Cidade da Música – na Barra da Tijuca – que estava agendada para esta quinta-feira à noite com a apresentação da Orquestra Sinfônica Brasileira.
Depois de uma vistoria os bombeiros informaram que o local está com o sistema de incêndio inadequado. “A fiação está exposta, as saídas de emergências estão obstruídas e as caixas de incêndio ainda não foram instaladas”, declarou o coronel do Corpo de Bombeiros, Roni de Azevedo Lima, responsável pela inspeção.
O projeto teve um orçamento inicial de 80 milhões de reais. Ao fim ao cabo, na faraônica obra foram gastos R$ 518 milhões dos cofres públicos. É o som dos milhões, num total, na opinião de muitos, superfaturado.
Segundo cálculos levantados, estima-se que o seu déficit anual para a prefeitura venha ser de mais de 10 milhões de reais.
A construção ocupa uma área de 95 mil metros quadrados e em suas dependências estão incluídas três salas de cinema, um café, um restaurante, um foyer musical, seis salas de ensaio com tratamento acústico específico e 10 salas de aula para a OSB usar no seu programa de formação de músicos.
Além disso possui dois grandes teatros para concertos. A sala de Música de Câmara com 800 lugares e a Sala da Filarmônica, cuja capacidade é de 1.800 lugares.
A Cidade da Música constituiu-se na obra mais polêmica do também polêmico alcaide/debilóide/factóide (1), que graças aos deuses vai finalmente entregar o cargo no dia 1º de janeiro de 2009.

(1) Expressão utilizada por Hélio Fernandes quando se refere a César Mala.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Blackwater go home

As empresas privadas de segurança proporcionaram cobertura política à administração Bush, permitindo ao governo deslocar forças privadas para uma zona de guerra fora de alcance do julgamento público, com as mortes, os feridos e os crimes das suas forças, envolvidas no mais absoluto segredo. A administração dos EUA protegeu as empresas privadas de segurança de ter de prestar contas, de serem supervisionadas e de qualquer outro impedimento legal. Hoje, somam mais de 100 mil contratados privados no Iraque. “Temos cerca de 200 mil tropas no Iraque mas metade delas não são contabilizadas, e o perigo disto está em que se exige zero de responsabilidade”, comenta o democrata Dennis Kucinich, um dos principais críticos no Congresso à guerra privada.
O Departamento de Estado aconselhou o governo dos Estados Unidos a não renovar o contrato com a Blackwater, responsável pela segurança do corpo diplomático estadunidense no Iraque, cujo contrato acaba em 2009. A Blackwater é a maior empresa de segurança privada em atuação no Iraque, onde mantém 125 mil homens, quase o equivalente aos cerca de 140 mil soldados ianques naquele país.
Recentemente cinco funcionários da companhia de segurança privada Blackwater Worldwide foram indiciados nos Estados Unidos devido a um tiroteio ocorrido em 2007 em Bagdá que resultou na morte de 17 civis iraquianos. O ataque inflamou o debate sobre o papel das empresas de segurança privadas nas guerras ianques, que atingiu seu ápice após a invasão do Iraque.
Os cinco acusados foram Donald Ball, um antigo fuzileiro naval de Valley City, Dustin Heard, Evan Liberty, também ex-marines, Nick Slatten, que foi sargento do Exército e Paul Slough, um veterano das forças armadas. Um sexto oficial envolvido no ataque conseguiu um acordo com a Promotoria, após admitir a morte de pelo menos um iraquiano no episódio e depor contra seus colegas. Os advogados de defesa acusaram o Departamento da Justiça dos EUA de se curvar à pressão iraquiana. “Foi um processo com motivações políticas para apaziguar o governo iraquiano”, declarou Steven McCool, advogado de Donald Ball.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O escritor e o capitalista

Conheci Antônio Torres na Salles em 1981, quando ele foi trabalhar naquela agência fazendo uma parceria com o inesquecível diretor de arte Joaquim Pêcego. Bem humorado, logo me apelidou de “capitalista” ao saber que, baiano como ele – que é de Junco (1) – eu era nascido na capital, Salvador. Isso virou uma marca registrada, pois toda vez que lhe telefono vou logo dizendo: “aqui é o seu capitalista”, palavras que me identificam de imediato.
Outra coisa que me surpreendeu foi um de seus primeiros comentários, em que afirmava que a melhor coisa que lhe aconteceu havia sido deixar de ser diretor de criação na Denison para ser redator naquela agência. Afinal, um redator é responsável pelos seus textos e pronto! Ademais, já escritor à época, precisava ter mais tempo para escrever seus livros, nem que na calada da noite.
Nosso convívio na Salles foi excelente. Mas, nossa grande aproximação deu-se anos depois, após a minha volta de Portugal. Torres trabalhava na Publinews, que ficava na rua Dona Mariana, e eu na VS, a poucos passos, na Guilhermina Guinle. Ambos fazendo regime, todas as semanas almoçávamos no restaurante Natural da 19 de Fevereiro. Foi um período agradável, repleto de papos longos e riquíssimos. Entre outras coisas, Antônio Torres também havia trabalhado em terras lusas, e, mais coincidentemente, na cidade do Porto.
Naquela ocasião, também acompanhei todo o desenvolvimento de “O cachorro e o lobo” (2), o livro que ele escrevia no momento. Era emocionante ir almoçar com o escritor e amigo e ouvir dele o passo-a-passo e as peripécias na feitura de um livro. Algo que me deixava fascinado, principalmente porque a simplicidade é uma de suas marcas registradas. Torres sempre contava tudo com muita naturalidade e entusiasmo, emoção e propriedade. Antes mesmo de conhece-lo, já havia lido “Carta ao Bispo”, “Adeus, velho” e “Um táxi para Viena d’Áustria”. Mas depois li mais alguns de seus livros, como “Um cão uivando para a lua”, “Essa terra” e “Balada da infância perdida”.
Durante muitos anos Torres escreveu uma coluna no caderno de livros e cultura do Jornal do Brasil, da qual, aliás, eu era seu leitor assíduo. Deixou a propaganda alguns anos depois para se dedicar apenas à literatura e palestras que realiza em todos os cantos sobre o ofício de escrever. Foi agraciado como “Chevalier des Arts et des Lettres”, pelo governo francês. E também fez parte de vários grupos de escritores e intelectuais em acontecimentos literários no exterior. Recentemente, foi indicado e concorreu a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
Após sua saída da publicidade continuamos a nos encontrar quase que todas as semanas, para caminhar no calçadão de Copacabana. O habitual era andarmos até Ipanema e tomarmos um café no bar da livraria Letras & Expressões daquele bairro. Aliás, o seu nome batiza o bar da mesma livraria no Leblon. Ele merece...

(1) Junco, atualmente Sátiro Dias, é uma cidade de 20.000 habitantes próxima a Alagoinhas.
(2) Os outros livros de Antônio Torres são: Um cão uivando para a lua – 1972, Os homens dos pés redondos – 1973, Essa terra – 1976, Carta ao bispo – 1979, Adeus, velho – 1981, Balada da infância perdida – 1986, Um táxi para Viena d’Áustria – 1991, O centro das nossas desatenções – 1996, O cachorro e o lobo – 1997, O circo no Brasil – 1998, Meninos, eu conto – 1999, Meu querido canibal – 2000, O Nobre Sequestrador - 2003, Pelo Fundo da Agulha – 2006, Menu, o gato azul - 2007 (história para crianças), Sobre pessoas - 2007 (crônicas, perfis e memórias). Tem suas obras publicados na Argentina, em Cuba, e mais França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Estados Unidos, Israel, Holanda, Espanha e Portugal.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

História do sapato. De Cinderela aos nossos dias

Essa historinha de sapatos começou com o Gato de Botas. E depois continuou com Cinderela e seu sapatinho de cristal, perdido numa festa promovida por um Príncipe Encantado.
Mas, a primeira vez que me lembro de sapatos e sapatadas na vida real e na história recente da humanidade, sem dúvida foi quando Nikita Sergueievich Kruschev tirou os seus e começou a batê-los na mesa em plena Assembléia do ONU. Foi uma cena marcante. Eu era garoto, mas aquela imagem ficou na minha cabeça até hoje.
Nada, porém, se iguala à sapatada que quase acertou o presidente dos Estados Unidos, anteontem em Bagdá, que se desviou precisamente na hora errada. E digo errada porque aquele arremesso deveria ter acertado em cheio o inimigo público número um de todos os povos. Teria sido a melhor videocassetada que jamais teríamos assistido.
O jornalista Muntazer Al Zaidi, que também chamou Bush de “cachorro”, durante uma entrevista coletiva no domingo, se tornou uma celebridade instantânea no mundo árabe, onde atirar os sapatos contra alguém é um grave insulto.
Um voto de louvor para Al Zaidi, que mesmo não tendo acertado em cheio, realizou a sua intenção de vingar, não somente o povo iraquiano, mas nós, cidadãos do mundo.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Minhas pinturas

Nos links aí ao lado tem mais um: “Pinturas/desenhos/Jonga”.
Se você quiser conhecer um pouco dos meus trabalhos neste segmento, entre no blogue.
Caso prefira, é só clicar em http://pinturas-jonga.blogspot.com/

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Para não esquecer

Recebi um texto pela web que julguei valer a pena transcrevê-lo para que sempre nos lembremos de quem disse tais palavras.

Quem foi que falou estas sandices?
- A globalização é o novo Renascimento da humanidade.
- Quem acabou com a inflação vai acabar com o desemprego.
- Esqueçam o que eu escrevi.
- Vou virar a página do getulismo.
Durante o último comício de Alckmin, no segundo turno:
- Lula, você acabou, você morreu.
- O Estado brasileiro gasta muito e gasta mal.
(Ele entregou o Estado com dívida pública 11 vezes maior).
- Eu tenho um pé na cozinha. (Terminado o mandato, cinicamente acrescentou):
- Na cozinha francesa...
Algumas questões que não devem ser esquecidas:
Quem quebrou a economia brasileira três vezes e na última, em 1999, subiu a taxa de juros para 49%?
Quem reprimiu e tentou criminalizar os movimentos sociais?
Quem fez a Petrobras mudar de nome para Petrobrax, para tentar privatizá-la. Quem vendeu 1/3 das ações da Petrobras nas bolsas de valores de Nova York e de São Paulo? Quem quebrou o monopólio estatal do petróleo no Brasil?
Quem comprou votos de parlamentares para mudar a Constituição e conseguir um segundo mandato?
Quem aumentou como nunca o trabalho precário no Brasil?
Quem entregou o patrimônio público a preço de banana aos grandes capitais privados nacionais e internacionais, após sanear empresas públicas com dinheiro do BNDES e financiar essa transferência com juros subsidiados, no maior caso de corrupção da história brasileira?
Quem disse que os trabalhadores brasileiros são preguiçosos?
Quem disse que o Brasil tem vários milhões de pessoas "inimpregáveis"?
Quem sumiu o Brasil na longa recessão a partir de 1999, que só foi superada no governo Lula?
Quem quase liquidou o Mercosul com suas idéias de livre comércio e de prioridade de comércio com os países do Norte?
Quem promoveu a mais ampla privatização da educação no Brasil?
Quem fracassou e teve seu governo largamente rejeitado quando seu candidato, Alckmin, foi derrotado em 2002?
Quem não conseguiu que o candidato do seu partido defendesse o seu governo nas eleições de 2006?
Quem é o político atualmente mais rejeitado pelo povo brasileiro, tido como o presidente dos ricos?
Quem tinha o apoio de 18% dos brasileiros nesta altura do mandato, enquanto Lula tem 70% de apoio contra 8% de rejeição?

Quem disse e fez tudo isso, foi o FHC. Ele deve calar a boca para sempre. O povo o rejeitou, o Brasil o rejeitou, democraticamente.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Vale a pena rir um pouco

“Pânico na TV” ainda é das poucas coisas assistíveis na televisão aberta. Pelo menos um final de domingo com inteligência, ironia e irreverência. Sério, é pra rir!
E é o que estou fazendo neste exato momento...

Pensamento do dia

“Mais valem dois marimbondos voando
do que um na mão.”
Barão de Itararé*

O semanário “A Manha”, (um achincalhe ao jornal “A Manhã”) era uma publicação do Barão de Itararé (nascido: Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly). Foi uma das publicações mais divertidas que já aconteceram neste país ao sul do Equador. Isso nas décadas de 20 e 30. Eu ainda nem existia, mas sou fanzoca de auditório do grande humorista.
Gaúcho (dizem que nascido numa diligência) também trabalhou nos jornais “A Manhã”, além de “O Globo”, “Diário de Notícias” no Rio de Janeiro, e na “Última Hora” de São Paulo.
Publicou também os ilariantes e conhecidos “Almanaques”, entre 1949 a 1955.
“A Manha” foi fechado durante o Estado Novo, mas ressurgiu no período 1946/48, tendo como colaboradores, nada mais, nada menos que: José Lins do Rego, Rubem Braga, Raimundo Magalhães Jr. e Álvaro Lins. Fechado por “problemas financeiros”, ainda voltaria a circular no início da década seguinte.
Preso várias vezes durante a ditadura de Vargas, esteve numa dessas ocasiões, prisioneiro ao lado de Graciliano Ramos.

Entre outra coisas, em 1955, o Barão recebeu uma homenagem do grande poeta chileno Pablo Neruda:
Al Barón de Itararé
un grande entre los grandes,
con respeto le saluda
de pie
poeta de los Andes:
Neruda.

Vale a pena citar algumas outras frases memoráveis do sr. Brinkerhoff Torelly:
“Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.”
“Quem empresta, adeus...”
“De onde menos se espera, daí é que não sai nada.”
“Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.”
“Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.”

(*) Publicado no “Pensatas” em fevereiro de 2007. Passados tantos dias e noites, a frase dos marimbondos e as outras ainda continuam pensamentos atuais neste domingo.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Estado e religião na América Ibérica

Já há algum tempo venho pesquisando para postar uma matéria sobre religiões na América Ibérica, tendo em vista o inegável avanço das doutrinas protestantes (hoje evangélicas) frente à famigerada “Santa Madre Igreja”. Publico hoje uma primeira conclusão e/ou introdução ao tema.

A nossa América, aquela ao sul do Rio Bravo “nasceu” católica. Isto porque os primeiros exploradores espanhóis e portugueses aqui chegaram com o intuito não somente de conquistar economicamente terras e riquezas naturais, mas, também, de ver concretizado o sonho “salvacionista cristão” de encontrar o paraíso terrestre (Jardim do Éden). A expansão ibérica significou também a expansão do “cristianismo católico”, com a conseqüente ausência ou limitação da liberdade religiosa na região. Ao longo do tempo, porém, a situação foi mudando e hoje nota-se uma heterogeneidade de posicionamentos, principalmente no tocante às relações oficiais entre a Igreja e o Estado.
A Venezuela, é proporcionalmente o país mais católico da América (1), com 96% dos seus habitantes fiéis a essa religião. Em seguida, aparecem Bolívia e República Dominicana, com 95% de católicos, Equador, com 94%, Argentina, com 92% e Paraguai com 90% de identificações católicas cada um. Entre 80% e 90% figuram Chile com 89%, Peru e México, com 88%, Panamá, com 85%, El Salvador, com 83%, Colômbia, com 81,7% e Haiti, com 80%.
Reitero que a análise se circunscreve ao âmbito legal, mediante os dispositivos constitucionais vigentes nos países da América Latina acerca das relações entre Estado e religião. Nesse sentido, a análise da Carta Magna de 20 países mostra uma diversidade de situações, configurada em três distintos posicionamentos: aqueles que adotam o regime de Igreja de Estado, os que adotam o regime de separação Igreja e Estado, com dispositivos particulares em relação à Igreja católica, e enfim, aqueles que mantêm um regime de separação Estado-Igreja com a conseqüente igualdade de cultos. Vejamos, agora, mais detalhadamente cada um desses modelos de organização das relações Igreja-Estado na América Latina.
Três são os países em que o regime de Igrejas de Estado vigoram: Argentina, Bolívia e Costa Rica.
A título comparativo com a Europa, vale assinalar que naquele continente há quatro países que mantêm o regime de Igrejas de Estado. É o caso da Inglaterra, onde desde o século XVI o anglicanismo é considerada a Igreja do Estado; a Grécia, em cujo preâmbulo da constituição consta que a Igreja ortodoxa, que reúne mais de 90% da população, é tida como a religião de Estado; a Finlândia, que reconhece oficialmente duas Igrejas de Estado (a Igreja ortodoxa e o protestantismo luterano) e a Dinamarca, que também atribui, em sua Constituição, à Igreja protestante luterana o status de Igreja de Estado.
No século XIX o protestantismo despertou de sua inatividade e deu início a uma intensa obra missionária na América (Latina), com a implantação de muitas denominações nessa época. A entrada do protestantes neste pedaço da América dependeu de pressões econômicas aplicadas externamente pela Inglaterra e Estados Unidos, e também de pressões ideológicas liberais e anti-clericais internas. O protestantismo teve um início audacioso com a chegada do educador James (Diego) Thompson em 1819 na Argentina e com a concessão da liberdade de culto aos estrangeiros no Brasil em 1823. O crescimento foi demorado e a resistência Católica foi grande durante todo o século XIX. Somente no século XX, a partir da 2ª Guerra Mundial o protestantismo veio a ter influência e começou a ccolher o que foi semeado no século anterior.
A penetração do protestantismo na América Latina no século XIX faz parte do que Latourette chamou de “O Grande Século do Avanço Missionário”, e ao qual ele dedicou três dos sete volumes de sua obra. A Expansion of history of the Christianity (Uma História da Expansão do Cristianismo).
O protestantismo implantado dava mais ênfase a doutrina e ao compromisso pessoal do indivíduo. Embora todo tipo de protestantismo tenha buscado estabelecer seu espaço. Os que colocaram maior ênfase na evangelização, juntamente com o compromisso pessoal de mudança do comportamento, cresceram mais rapidamente.
As denominações que começaram seu trabalho na América Latina foram os Anglicanos, Luteranos, Irmãos (Plymouth), Congregacionais, Presbiterianos, Metodistas, Batistas, Menonitas e Adventistas (Sétimo Dia). As missões anglicana e luterana trabalharam quase exclusivamente com os emigrantes que determinaram tanto a forma cultural quanto a extensão do alcance dessas denominações. As demais trabalharam com os nativos em sua própria linguagem e cultura, embora quase sempre houvesse uma imposição inconsciente do lastro cultural e expectativas do missionário.
O Catolicismo Romano não foi muito simpático com o avanço protestante. Com exceção da primeira metade do século XIX, quando houve relativa aceitação dos missionários principalmente no Brasil, no mais havia muita intolerância e perseguição. Os protestantes encontraram aliados e até protetores entre alguns setores políticos, o que provocou reação ainda mais forte entre o clero católico. Principalmente no Brasil, onde a hierarquia do clero temia pela protestanização do país através e principalmente pela imigração. Como resultado desses conflitos, o protestantismo da América Ibérica assumiu um perfil anti-católico.
Outro fato significativo na história dos primórdios do protestantismo ibero-americano, foi que a evangelização teve início associada à venda de Bíblias e a alfabetização de novos convertidos. As pessoas se convertiam, compravam Bíblias e como não sabiam ler ou escrever, se dedicaram a alfabetização para se dedicarem à leitura das Escrituras. Estas características no seio do protestantismo era tão forte que os crentes passaram a ser chamados de os “Bíblias”. A venda de Bíblias pelos que anunciam a Palavra ainda é comum em nossos dias, porque as Bíblias continuam sendo vendidas em todo o território nacional, principalmente pelos evangelistas que as comercializam para a sua sobrevivência e a de seus familiares, bem como para financiar as viagens e outras despesas, sendo uma forma de manter a evangelização viva e atuante.

(1) Dados extraídos de L. Gonzalez, Justo, “Uma História Ilustrada do Cristianismo, Sociedade Religiosa” Edições Vida Nova, São Paulo – SP, 1991. E. Cairrns, Earle, “O Cristianismo Através dos Séculos, Sociedade Religiosa” Edições Vida Nova, São Paulo – SP, 1992. Walker, Williston, “História da Igreja Cristã”, Juerpe/Aste, 3ª Edição, 1981.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O PT e a defesa do capitalismo

As recentes medidas econômicas levadas adiante pelo governo do sr. da Silva, demonstram o quanto o Partido dos Trabalhadores está definitivamente engajado no sistema capitalista e em sua defesa inconteste.
Pressupunha-se que este seria um bom momento para novas saídas. Mas não! O governo adotou medidas “reformistas”, não em prol das massas, mas, se beneficiando-as, tendo como principal alvo as classes dominantes e a manutenção do sistema. Como a nova tabela do Imposto de Renda, a redução do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para o consumo e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para as montadoras. Também serão disponibilizados recursos das reservas internacionais para emprestar à empresas com dívidas de curto e médio prazos no exterior.
Outra medida anunciada pelo governo prevê o empréstimo de dinheiro das reservas internacionais para empresas públicas e privadas com dívidas vencendo entre setembro de 2008 e dezembro de 2009. As empresas poderão pegar empréstimo para pagar dívidas e mais 25% para investimento.
O Partido dos Trabalhadores, a exemplo da Social Democracia européia adota a sua linha definitiva em prol do sistema, de sua sobrevivência e alinhamento com o grande capital internacional (leia-se imperialismo). Quanto ao povo: “Bolsa Família” neles. A perdurar também a velha fórmula paternalista dos governos – desde Vargas – também a continuar em vigor.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

As duas faces de um canalha

Rumsfeld tem uma dupla carreira: o político e o homem de negócios. Um exame à declaração de patrimônio entregue pelo Secretário da Defesa quando da sua posse, no ano 2000, permite comprovar que este multimilionário é pura e simplesmente o chefe de uma rede que navega entre os conselhos de administração das grandes empresas e os gabinetes governamentais. Arquivos da Bolsa de Nova Iorque e documentos do governo mostram que Rumsfeld é perito no manejo das portas que permitem efetuar lucrativas idas e vindas entre os poderes privado e o público.
Em 1981 foi autorizada a entrada no mercado do Aspartame, passando por cima da comissão científica que considerava que o produto não deveria ser comercializado, dados os casos de tumor cerebral em ratos, no decurso dos testes. No entanto, em julho de 1983, ampliaram a autorização às bebidas e refrigerantes.
Em Janeiro de 1997, Rumsfeld torna-se o administrador geral da Gilead, uma sociedade criada dez anos antes na perspectiva de produzir medicamentos contra doenças infecciosas. Desde julho de 1988, ele estava instalado no Conselho de Administração, onde figuram vários dos seus habituais associados (George Shultz entrou em 1996). Nesta época, a Gilead procura saída para o Cidofovir, uma molécula antiviral cujos primeiros testes não foram propriamente encorajadores: câncer e graves lesões renais apareceram em cobaias animais após a ingestão de algumas doses.
Contudo, um membro da equipe Bush, Donald Henderson, antigo diretor da Organização Mundial da Saúde (responsável, nos anos 70, pelo programa de vacinação contra a varíola), tinha levantado em março de 2002, na revista científica Nature, uma questão interessante: porquê este interesse em desenvolver o Cidofovir, quando é visivelmente tóxico e dispunha-se de um método comprovado, que era a vacinação? O doutor Henderson deixou bruscamente as suas funções, dois meses após a publicação dessas suas indagações. Donald Rumsfeld era, então, o todo-poderoso Secretário da Defesa. No seu gabinete do Pentágono, preparavam-se os argumentos sobre as pretensas armas de destruição em massa em posse de Sadam Hussein, que desembocaria na invasão e guerra do Iraque.
Assim Donald Rumsfeld tem construído toda a sua vida mediante a elaboração de uma teia de interesses e “trocas de favores”. Lembremos o papel que desempenhou (graças à sua rede de conhecimentos e influências na administração estadunidense) mais tarde num negócio envolvendo a definição do padrão futuro das emissões de TV, graças ao qual os patrões da empresa que dirigia quintuplicaram o seu investimento com a posterior venda, negócio no qual se estima que Rumsfeld tenha embolsado uns módicos 7 milhões de dólares.
Além de todos estes fatos, são ainda apontadas ligações altamente lucrativas entre Donald Rumsfeld e outros produtos da indústria farmacêutica: este antiviral (Cidofovir) que a FDA (Food and Drugs Administration, organismo oficial pela aprovação de medicamentos para consumo nos EUA) também autorizou, e o agora tão falado Tamiflu para o tratamento do vírus H5N1 (gripe das aves).
Paralelamente com esta rede muito lucrativa, Rumsfeld, mantém laços estreitos com outras importantes figuras do grupo dos neoconservadores que tem dado suporte à administração de George W Bush, entre os quais se contam Paul Wolfowitz (teórico neoconservador), Dick Cheney (vice-presidente e com ligações à indústria petrolífera, através da Halliburton, e de segurança, através da KBR) e para finalizar Frank Carlucci (com ligações ao Carlisle Group que detém interesses na construção civil e é gestor das carteiras de investimento das famílias Bush e Bin Laden).

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Declaração Universal dos Direitos Humanos

O texto tem mais de 60 anos e não foi cumprido na íntegra até os dias de hoje. Leia e reflita... pense... divulgue!

Artigo I
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo II
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
Artigo III
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo IV
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo V
Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo VI
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.
Artigo VII
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo VIII
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo IX
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo X
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo XI
1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII
Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. Artigo XIV
1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.Artigo XV
1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo XVI
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.
3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.
Artigo XVII
1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo XVIII
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.
Artigo XIX
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo XX
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo XXI
1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.
Artigo XXII
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo XXIII
1.Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.
Artigo XXIV
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Artigo XXV
1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.
Artigo XXVI
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
Artigo XXVII
1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.
2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo XXVIII
Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo XXIX
1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XXX
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos."

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Dr. Strangelove ou Dr. Rumsfeld?

Em 10 de Setembro de 2001, um dia antes da maioria dos estadunidenses (e do mundo) ter ouvido falar da Al Qaeda ou sequer imaginado a possibilidade de uma “guerra contra o terrorismo”, Donald Rumsfeld subiu à tribuna no Pentágono para pronunciar o seu mais importante discurso como secretario da Defesa sob o mandato do presidente George W. Bush. De pé, perante os executivos que ele próprio nomeara para altos cargos de supervisão dos saborosos negócios dos contratos militares, Rumsfeld proclamou uma declaração de guerra.
“A questão que nos ocupa hoje é um adversário que coloca uma ameaça, uma séria ameaça, à segurança dos EUA”, disse. “Esse adversário fragiliza a defesa dos EUA e põe em perigo a vida dos militares, homens e mulheres deste país”. Disse à sua nova equipe, “pensarão certamente que me refiro a um dos últimos decrépitos ditadores mundiais... mas o adversário encontra-se muito mais perto de casa, trata-se da burocracia do Pentágono”. Rumsfeld pediu uma mudança drástica na administração do Pentágono, suplantando a velha burocracia do Departamento de Defesa com um novo modelo baseado no setor privado. Ao anunciar esta reforma, Rumsfeld comentou à sua audiência que “não tinha a intenção de atacar o Pentágono, apenas de o salvar de si mesmo”, segundo suas próprias palavras.
Apesar de Rumsfeld ter sido posteriormente afastado da administração com a intenção de acalmar os críticos da guerra no Iraque, a sua “revolução militar” havia chegado. Na sua despedida em novembro de 2006, Bush reconheceu que ele levou a cabo “a maior transformação da postura global das forças armadas estadunidenses desde o final da Segunda Guerra Mundial (sic)”. De fato, a nova marca da casa de Rumsfeld, originou um dos mais significativos desenvolvimentos da atual forma de fazer a guerra, o uso generalizado de empresas privadas de segurança em qualquer vertente da guerra.
As empresas privadas de segurança proporcionaram cobertura política à administração Bush, permitindo ao governo deslocar um exército privado para uma zona de guerra fora de alcance do julgamento público, com as mortes, os feridos e os crimes das ditas forças, envolvidas no mais absoluto segredo e não contabilizadas. Apesar da presença de mais de 100 mil contratados privados no Iraque, apenas um deles foi acusado de crimes ou violações.
A Blackwater foi fundada em 1996 pelo cristão conservador e multimilionário ex-membro das forças de elite da Marinha dos Estados Unidos, Erik Prince – descendente de uma família rica de Michigan, cujas generosas doações políticas ajudaram ao auge da direita religiosa e à revolução republicana de 1994. No momento de sua fundação, a empresa consistia essencialmente na fortuna privada de Prince e numa vasta propriedade de 2.000 hectares situada na Carolina do Norte. A sua visão foi “satisfazer antecipadamente a procura do governo por subcontratação de armamento e formação militar”. Nos anos seguintes, Prince, a sua família e os seus aliados políticos encheram de dinheiro os cofres das campanhas republicanas, apoiando a tomada de controle do Congresso e a ascensão de George W. Bush à presidência.
Nos anos seguintes a empresa converteu-se num dos grandes beneficiários da “guerra contra o terrorismo”, ganhando quase um bilhão de dólares em contratos com o governo, muitos deles sem concurso público. Em apenas uma década, Prince ampliou as instalações de Moyock para 2.833 hectares, fazendo de suas instalações a maior base militar privada do mundo. A Blackwater tem hoje 2.300 empregados divididos por nove países, e mais 20 mil prontos para entrar em ação. Possui também uma frota de mais de vinte aeronaves, incluindo helicópteros de combate e uma divisão de inteligência própria.
De acordo com os últimos registros governamentais, a Blackwater faturou, desde junho de 2004, 750 milhões de dólares só em contratos com o Departamento de Estado.
“O uso crescente de contratados, forças privadas ou, como alguns diriam, de mercenários, torna as guerras mais fáceis – apenas é necessário dinheiro, e dispensa a cidadania”, disse Michael Ratner, presidente do Centro para os Direitos Constitucionais que processou empresas privadas de segurança por supostos abusos no Iraque. “Quando se pede a um povo que vá para a guerra, surge sempre uma certa resistência, e que é indispensável para impedir guerras de auto-engrandecimento, guerras estúpidas e, no caso dos EUA, guerras pela hegemonia imperialista. As forças privadas são quase uma necessidade para uns EUA desejosos de evitar o declínio do seu império”, concluiu.
E assim, o Dr. Rumsfeld se compara à sinistra figura do Dr. Strangelove* (no Brasil Dr. Fantástico), personagem do filme homônimo dirigido por Stanley Kubricky (1964), e estrelado pelo inesquecível Peter Sellers, que para além de interpretar este personagem faz no total três papéis marcantes na película: o do capitão Mandrake (britânico) e o do presidente dos Estados Unidos.

(*) O Dr. Fantástico não tem o controle de suas mãos e faz a todo tempo, involuntariamente, a saudação nazista para o presidente dos EUA. É interessante também observar as caras e trejeitos que o presidente faz quando é “saudado” e a expressão no rosto do Dr. Strangelove quando seu braço simplesmente se contrai seguido de um estrondoso “Hail!”.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A guerra privada em julgamento

No Iraque, os “guardas de segurança”, já são cerca de 50.000, o que os coloca, em seguida ao exército estadunidense, como a segunda força (1) da ‘coalizão internacional’.
Desde a invasão do país, em março de 2003, os efetivos dessas empresas têm-se envolvido em abusos dos direitos humanos, desde as torturas de Abu Ghraib a um incidente em setembro de 2007, protagonizado pela Blackwater, no qual morreram 17 civis em Bagdá. Para além disso, há provas que demonstram que as britânicas Aegis e ArmorGroup, também lutaram contra insurgentes e dispararam contra a população iraquiana.
Enquanto isso, cinco funcionários da Blackwater foram indiciados nos Estados Unidos devido ao referido incidente. Testemunhas disseram que o tiroteio ocorreu sem que houvesse uma provocação, mas a Blackwater, contratada pelo Departamento de Estado para garantir a segurança de cidadãos ianques, sustentou que seus guardas caíram em uma emboscada feita por insurgentes.
Todos eles são militares da reserva das Forças Armadas dos Estados Unidos. A personalidade dos cinco homens será crucial no andamento do caso. A acusação tenderá a descrevê-los como seguranças que recorrem facilmente ao gatilho e que abriram fogo sem provocação. Algumas crianças foram vítimas desse tiroteio, que arranhou as relações entre os Estados Unidos e o Iraque.
No entanto, uma ação do governo iraquiano concluiu que os funcionários da Blackwater atiraram contra as pessoas sem motivo nem provocação. Um informe militar estadunidense apontou ainda que os agentes de segurança foram “os únicos a disparar” (sic), o que enfraquece bastante a hipótese de reação em defesa própria.

(1) Os dados e informações foram publicados na Folha Online de 06/12/2008.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Pensata de domingo

Curiosos esses tempos em que vivemos. Se por um lado o mundo ficou pequeno, por outro os mundos que separam os seres que os habitam, ficaram mais longínquos e cresceram de tamanho. O tão anunciado fim das ideologias na realidade as turbinou, colocando-as num local, senão definitivo, porque nada é imutável, mas estratificado em suas radicalidades e seus sectarismos.
E em meio a todo este emaranhado de questões sutis ou não, me deparo outro dia com um novo seguidor no meu blogue. Melhor dizendo, uma seguidora; detalhando, mora no Afeganistão. É longe, pensei c’os meus botões... mas logo uma voz na minha cabeça dizia: “que nada, cara... o Afeganistão é logo ali!”
Alessandra, claro que não a conheço, quer dizer, penso que não. Outrossim, creio que é latina. Talvez italiana. Paulista... será? O que está fazendo naquele fim de mundo? Fim de mundo? Segundo uma amiga da minha mulher, há coisa de trinta anos atrás era um dos lugares mais “lindinhos” que ela conheceu! Frescuras de uma pequeno-burguesa alucinada? Talvez. Mas, devia ser mesmo um local meio preservado.
Até que os stalinistas resolveram transformar aquele pedaço do mundo no Vietnam soviético. Foi um auê. E o Afeganistão, que já havia desafiado o grande império Vitoriano bancou mais uma guerra. então contra o império “vermelho” dos burocratas desbotados. À frente os Talebans e um tal de Osama Bin Laden, financiados pelo outro império, o ianque... confusões a parte, deu no que deu. Caiu um muro, rompeu-se uma cerca, derrubaram torres e construíram uma nova muralha.
Pois neste domingo, eu penso o quanto é excitante para mim ter um seguidor deste blogue no distante Afeganistão. E me pergunto: o que o levou tão longe? Todavia, aproveito este instante para desejar-lhe felicidades. E que continue a acompanhar o “Nova Pensatas”.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Dicas de linguagem

Escrevi essas dicas para um casal amigo que ia alugar um carro e rodar Portugal de cabo a rabo, e tinham que saber pelo menos pedir informações aos gajos, ó pá.

Algumas dicas de linguagem são boas para se estar em terras lusitanas. Eu sei que já saíram até livros sobre isso, como “Se faz favoire” entre outros, mas é sempre interessante estar a par do que vai se falar... ou se ouvir. Afinal, é preciso se entender ou se fazer entender minimamente (eles usam muito esta palavra) com quem se fala.
Pra começar, e já que se falou na expressão “Se faz favoire” que também é conhecida como SFF. Há lugares onde se vai encontrar esta sigla em placas. Como elevadores e outros locais que tenham filas, notoriamente conhecidas como “bichas”.

Bicha mesmo é “paneleiro”.

Bom, bonde é “elétrico”, mas a pronúncia certa é “ilétrico”, com “i” mesmo!

Já ônibus é “autocarro”.

Metrô é “metro”. Trem é “comboio” e vagão é “carruagem”.

Se alguém falar com um de vocês: “Pode desencostar o cu daí...”, não se ofendam. A expressão é chula aqui mas não é lá. Significa apenas traseiro, ou bunda mesmo.

“Berma” é acostamento.

Em estradas tem também a famosa placa com várias cidades, distâncias e em baixo: “outras direções” (???). Bem, nunca segui essas estranhas e incógnitas direções. Sei lá aonde levam.

Ainda em estradas é muito comum se encontrar outro tipo de placas com os seguintes dizeres: “Troço em obras”. Não se assustem, troço (pronuncia-se trôço) significa apenas trecho em obras.

Pedágio é “portagem”.

Quando se atende o telefone diz-se: “Tó, tó...istó!” Algo que significa mesmo Tô, tô, estou! Aliás todo acento circunflexo nosso lá é agudo. Tipo António, sinónimo, antónimo ou mesmo anónimo.

Celular é “telemóvel”. Pronuncia-se telmóvel, como também telvisão (televisão).

“Registo” é registro. “Equipa”, equipe. Uma empresa, “Lda.” no lugar de Ltda. Parece que faltou alguma coisa, não é mesmo?

A “Baixa” é o Centro da cidade, o Comércio.

Como na Bahia, “de hoje a oito” é daqui a uma semana. “Nove e um quarto” é nove e quinze. “Vai sempre lá?”, significa perguntar se você vai mesmo a um lugar antes anunciado. Mesmo que seja só uma vez.

As mulheres podem pedir “Bacalhau com grelos” sem susto. É tão somente um vegetal que acompanha brilhantemente o nobre peixe.

Falar em peixe (eu tinha que chegar na tal da “cultura gastronômica”, né?), nunca peçam o Menu nem o Cardápio. O correcto é a “Ementa”.

Garçom é “Senhor”. Simplesmente. Também não chamem ninguém de moço. É ofensivo.

Se forem pedir um bolo inglês, peçam um “quéque”. Vem exatamente do inglês cake.

Chopp no Porto é “Fino”, em Lisboa é “Imperial”.

Sanduíche é “sandes”. Além de ser no feminino. Exemplo: “Senhor, quero uma sandes de fiambre”. “Fiambre” é o nosso presunto. Presunto para eles é semelhante ao Jámon espanhol ou ao Parma italiano.

Pimentão é “pimento”. E pimenta que é “píri píri”?

Café da manhã é “pequeno almoço”. Aliás, a expressão é muito melhor que a nossa. Nem sempre se toma café pela manhã.

Bolinho de bacalhau é mais conhecido como “pastel” de bacalhau.

Local é “sítio”. Influência castelhana.

Falar em castelhano, no Porto é muito comum os finais em “ão” serem pronunciados em “óm”. “Ocasióm, patróm, cartóm”, e por aí afora. Mas não são todos, Somente no Porto existem mais de seis sotaques diferentes. Que eu conheça...

Se alguém disser: “... olha, aquilo lá não é famoso...”, não significa que aquilo lá não tem fama no sentido que utilizamos. É somente a forma de dizer que aquilo lá não é bom. Quando “é famoso”, é o vice-versa, uma coisa boa. Ou bem feita.

Por acaso alguém chega perto de você e diz que sua roupa é “engraçada”, não se ofenda. Eles não estão pensando que você é um palhaço, mas apenas que aquela roupa tem graça, charme, etc.

Da mesma forma a expressão “sabe mais a isso ou aquilo”. A tradução é que tem mais sabor daquilo a que querem se referir. Exemplo: quando morei lá tinha um comercial na TV que dizia que um certo produto “sabe mais a chocolate”. Era um achocolatado; que lá, aliás, é chamado de “chocolatado”.

Se for chamado de “sutor” (“sutora” para as mulheres), lembre-se que está sendo respeitado e colocado sob o título de doutor. Ou melhor, senhor doutor (su = senhor, tor = doutor).

Pelo menos no Porto, café expresso é “simbalino”, por causa da marca de uma máquina italiana. Café com leite é “bica”.

Biscoito é sempre “bolacha”. A gente até usa, mas pouco. Bolacha para nós é mais um tapa.

E por falar em tapa. Em algumas regiões tira-gosto é “tapa”, tal e qual na Espanha.

Isopor é “esferovite”. Faca olfa é “xisato”. Da mesma forma que a nossa, também vem de uma marca japonesa (X-Ato).

Xerox é “fotocópia”. Xerox lá é a Rank Xerox. Que também faz fotocópias, claro.

Nunca peçam durex. É camisinha! Originalmente uma marca inglesa. Uma vez, logo que cheguei fui pedir um e todo mundo (lá falam toda a gente) ficou rindo. Aliás a rir, porque ninguém usa o gerúndio por aquelas bandas. A propósito, durex é “fita-cola”.

Apartamento de quatro quartos é “T4”, de três quartos é “T3”, de dois é “T2”.

Pedreiro é “trolha”.

Meninos são “miúdos” ou “putos”. As meninas também. Já as putas são putas mesmo. Passou um filme lá cujo título era: “Querida, ampliei o miúdo”. Teria sido mais engraçado se tivesse sido: “Querida, ampliei o puto”. Já o coletivo de putos (ou miúdos) é “canalhada”. Coitadinhos!

Apesar do natal estar longe, vale a pena lembrar que Papai Noel é “Pai Natal”. Tradução ao pé da letra de Father Christmas, como é conhecido o bom velhinho na Inglaterra.

“Tu”, só para os íntimos. “Contigo” ou “para ti” também. Geralmente as pessoas vão se dirigir a vocês usando “consigo” ou “para si”, por ser mais cerimonioso.

É bom prestar atenção às palavras que começam com “a”, pois quase sempre têm um “i” acrescentado na linguagem falada, não na escrita. E aquelas com “sc”, cuja pronúncia é “x”. Exemplos: “iágua” é água. Piscina é “pixina”, adolescente é “iadolxente”.

Também elevador é “ascensor”. Melhor dizendo “iaxinsoire”. “RC” é “rés-do-chão”. No Brasil mais conhecido como térreo.

“Malta” é turma, cambada.

Ao assistir um noticiário na TV, a legenda “em directo” corresponde à nossa “ao vivo”.

“Facto” é fato. “Fato” é terno. Mas também qualquer roupa. Como “fato de banho” (short), “fato de treino” (treanning) ou “fato macaco” (macacão).

E por falar em roupa, camiseta é “camisola”.

Pior ainda, calcinha é “cueca”. E cueca é “sleep”. Podem procurar numa loja. Ou mesmo numa “montra” (vitrine).

Uma coisa bacana, é “fixe” ou “gira”.

Marrom não existe. É sempre “castanho”. Nós só usamos para a cor dos olhos. Já eles só usam marrom para, marrom glacê.

Xícara é “chávena”.

Via de regra o “a” tem som de “e” e vice-versa.

Na mesma linha, e claro que mais uma vez não na linguagem escrita, costumam de vez em quando trocar o “b” pelo “v”. Como “bice-bersa” por exemplo.
Para finalizar, e por falar em linguagem escrita ou falada, às vezes elas podem se confundir, obviamente dependendo do nível cultural de quem escreve. Uma vez, assistia a um “teljornal” (tele jornal) e numa reportagem sobre uma explosão numa fábrica de fogos de artifício em Braga, apareceu o vigia – um gajo típicamente pouco instruido – sendo entrevistado por um repórter bem na frente de uma tosca placa feita à mão, que certamente foi escrita por ele e que dizia: “Prigo – Explosivos”. A prova de que eles não só falam esquisito como também ouvem errado. Ora, pois!
Bom, não sei se lembro mais. De qualquer maneira espero que estes exemplos ajudem a entender um pouco mais o que se vai ouvir além maire.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A bossa é velha, mas... e daí?

Estava no YouTube a rever alguns momentos inesquecíveis da deusa Leny Andrade – links abaixo –, quando caiu a ficha do quanto a Bossa Nova está a ficar velha. Todavia, pensei, o quê foi feito de lá pra cá. O quê se somou para além dela? Sério, isso é mesmo uma coisa muito séria!
Contemplo o panorama da música (1) nos dias de hoje e me entristece o que vejo ao redor. Aí vão dizer que sou velho, saudosista e os cambáu. Posso até ser, mas tenho lá minhas razões para isso. Gente, eu vi, ao vivo e a cores surgirem talentos no Brasil e no mundo. Juro que vi! Acredite se quiser, sou da época que você ligava o rádio ou assistia algum programa na TV e presenciava alguém novo, como um Milton Nascimento, um Tom Jobim, ou um Chico Buarque. E que tal uns Beatles ou uns Rolling Stones? E via também, até, despencarem os Elvis Presleys da vida.
Mas, de Leny a gente fica com a bossa à flor da pele. Algo que transcende a simples sonoridade, algo que respira ritmo, que exala ritmo. Nos mínimos detalhes, nos mínimos gestos Leny Andrade é a mais pura bossa. Assim como Tom o foi, ou Vinícius... ela é a sobrevivente de uma geração maravilhosa que abraçou a música com carinho e paixão. Uma intensa paixão. A última vez que a assisti foi há mais de trinta anos em “Gemini V”, um show imperdível, eu diria mais, insubstituível. Porque têm coisas e pessoas no mundo que são insubstituíveis. E uma delas é Leny, musa de todas as bossas.
Agora, tá bem, se a Bossa Nova está velha, se eu estou idem, aqui entre nós, o bando de imbecis que anda por aí, a achar que compõe, que interpreta, que se cale para sempre... ou faça alguma coisa melhor! Se puder...

Este primeiro é de Leny com o maravilhoso The Stephanie Ozer Quintet:
http://br.youtube.com/watch?v=SVlPoSgcw88&feature=related
O segundo é dela com o também imbatível Pery Ribeiro:
http://br.youtube.com/watch?v=FfDQfPHoYSw

(1) Da música, do cinema, do teatro... em que lugar foi parar a cultura?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Saigon

Um pedaço do cáos... um batom se perdendo na luz neon da noite... Um sorriso maroto*... Costumo pensar que esta música só pode ter sido composta depois de se assistir Apocalypse Now. Mas juro que é só uma viagem.

Tantas palavras, meias palavras,
nosso apartamento, um pedaço de Saigon
Me disse adeus em um espelho com batom
Vai minha estrela, iluminando,
Toda esta cidade, como um céu de luz neon
Seu brilho silencia todo som
Às vezes você anda por aí, brinca de se entregar,
sonha pra não dormir
e quase sempre eu penso em te deixar e
é só você chegar, pra eu me esquecer de mim.
Anoiteceu, olho pro céu e vejo como é bom
ver as estrelas na escuridão.
Espero você voltar pra Saigon.
Anoiteceu, olho pro céu e vejo como é bom

(*) Saigon é música do repertório do grupo de pagode Sorriso Maroto.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Papo de cachimbeiro III

Postado no “Pensatas” em março de 2007...

Fumar cachimbo é um vício – ou, até como defendem muitos, um hábito – muito diferente de fumar cigarro. Requer uma certa dedicação, atenção e um criterioso revesamento de peças.
O cigarro, praticamente você nem se lembra quando ou porque o acendeu. É uma coisa meio mecânica, impulsiva. Para fumar um cachimbo, a pessoa tem que pensar em acende-lo, qual deles vai usar e até o tabaco que será apreciado, pois, quase sempre um cachimbeiro tem duas ou três marcas diferentes de fumo.
Outra coisa é a vontade que você tem de comprar um modelo novo. Quando voltei a fumar cachimbo, tinha dois. Depois de um ano, minha coleção já passava dos trinta. Dois anos depois, quase havia dobrado, pois possuia entre cinqüenta e sessenta.
Iniciar um cachimbo “virgem”, é tão excitante quanto possuir uma donzela em sua primeira noite (na Sicília, claro). O preparo para um cachimbo novo é um ritual, e requer uma técnica e paciência muito grandes. Nas primeiras fumadas deve-se ir enchendo o forno gradativamente até que se forme uma crosta inicial, que, na verdade ajuda a proteger a madeira da violência do fogo e da brasa que esta terá que se submeter o resto de sua existência.
E os modelos? Tem cachimbo curvo, meio-curvo, reto, longo, curto, com forno grande, com forno pequeno. São dezenas de modelos como buldog, apple, pocket, canadian, billiard, churchwarden, pot, bent... Fica difícil falar de todos eles. São ingleses, italianos, holandeses, franceses, gregos, dinamarqueses e até brasileiros. As marcas mais conhecidas são Dunhill, Butz Choquin, Dr. Plumb, BBB, Savinelli. Os nacionais, JCI, Bertoldi...
Os bons cachimbos são fabricados com briar, que vem a ser uma raiz de roseira selvagem que existe originalmente na região mediterrânea. Por isso, os cachimbos europeus são os melhores. A raiz é especial para a confecção das peças pela sua resistência ao calor. Mas existem também cachimbos de louça ou outros tipos de materias, como os de espuma do mar. Estes últimos, verdadeiras obras de arte esculpidas.
Quanto a tabacos, a variedade também é muito grande. Dunhill, Balkan Sobranie, Half & Half, Davidoff, Prince Albert (o primeiro importado que fumei), Captain Black, Mac Baren, Amphora, Borkum Riff. Geralmente são ingleses, holandeses, suecos. Têm também os brasileiros. São centenas de qualidades, cada uma com suas características bem marcantes. Sempre tive por hábito ter umas três marcas. Vario não apenas os cachimbos, como também os tabacos. Tenho sempre que posso um fumo nacional como Irlandês, Giovanella ou Dutch Fisherman e dois estrangeiros sendo os mais preferidos o Half & Half, Dunhill ou Amphora.
Os blends são muitos também. Chocolate, menta, whisky, maçã, rum, e outras misturas de fumos como o Burley, o Virginia, além das essências que lhes dão os sabores exclusivos.
E a questão é que a gente se apega mais a uns do que a outros. Têm cachimbos que você fuma poucas vezes e depois encosta. Outros, você não agüenta ficar muito tempo sem fumar. Se um daqueles quebra, você fica dias a lamentar o ocorrido. Não o joga fora de imediato, quase que esperando que a fada azul, como que por milagre o reconstrua, que você acorde e o veja inteirinho à sua espera.
Com o passar do tempo, fica-se mais relaxado quanto à limpeza e conservação dos mesmos. Mas, de quando em vez tem que limpá-los. E aí são dezenas de acessórios à disposição. Raspadores e calcadores de todo tipo. Tenho um raspador inglês, que, sai da frente! Limpa até a alma. Parece um trator, um tanque de guerra, um navio quebra-gelo. Não tem forno que resista, sujeira que fique por onde ele passa.
Hoje, fumo meu cachimbinho apenas em casa. Ou, quando viajo levo uns dois. Por outro lado, o anti-tabagismo já não permite que se fume em qualquer lugar. O fumante de cigarro, por incrível que pareça, ainda passa mais desapercebido. Aquilo faz parte da paisagem. Já o cachimbo, chama mais atenção.
Em suma, fumar cachimbo é uma curtição. Há mais de vinte anos tenho o hábito de fazê-lo. Mas, um dia desses eu falo mais sobre isso.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Tempo, espaço, tempo

O texto a seguir era um prefácio desta publicação (março/2008):
“Quando postei “Movimento” em 7 de janeiro deste ano, tentava reconstruir por lembranças um capítulo de ‘Tempo, espaço, tempo’, romance que comecei a escrever em 1967 e nunca terminei. Agora, remexendo em meus alfarrábios, encontrei os manuscritos originais. Segue abaixo um trecho de algumas das 151 páginas que cheguei a completar.”


“E naquele emaranhado de pessoas com os rostos enfaixados, eu continuava a correr sem saber para onde. Uma profunda angústia era tudo o que sentia. Não podia me comunicar com ninguém. Eram inatingíveis, indecifráveis. Eu podia cogitar que fosse alguém, mas nunca afirmar com quem iria falar. E em meio a pensamentos confusos eu tentava encontrar alguém que ainda pudesse ter um rosto, alguém que pudesse distinguir. Um ser humano, como eu!”

Para Antônio, Cléia não era somente a prostituta que satisfazia na cópula necessária à fúria de sua virilidade juvenil. Cléia, era sim, a mulher e o amor. A madrugada e a alcova. A carícia e o beijo apaixonado.
“Não consigo admitir esta idéia. Cléia foi para mim o despertar de um novo dia. Foi o amor total e completo, sem preconceitos, sem meios termos. Eu amei Cléia porque ela era uma flor no deserto da minha vida”.
– Será que um dia vamos viver juntos... e seremos felizes?
Cléia esboçou um sorriso. Seus belos olhos negros e brilhantes irradiavam alegria e esperança, mas também desconfiança e tristeza.
– Eu te quero, querido, eu... te quero... quero muito! Sussurou, com os lábios colados ao seu ouvido.
Ela deixava-se enlevar em seus braços, entregando-se por completo. Cléia era meiga. Seu corpo moreno e jovem... lindo, sua voz, suave. Seus longos cabelos desciam docemente, brilhando por ombros delicados, enlouquecendo Antônio, que a queria. Cabisbaixo, pensativo, Antônio não respondeu, ficando a fita-la, pensativo. Pensava o quanto a amava. Mas o quanto desejava que ela mudasse de vida.
Cléia, compreendendo o seu silêncio, deixou as lágrimas escorrerem de seus olhos. E chorou por um longo tempo nos braços de seu amado. Naquela noite não houve sexo. Apenas o tocar delicado em carícias, o respirar, o sentir um ao outro. O deitar a cabeça nos ombros... o consolar.

A verdade é que depois daquela noite, Antônio nunca mais viu Cléia. Por força das circunstâncias teve que sair às pressas. Mais uma vez. Para ele, fugir era uma rotina, um pesadelo sem fim, desde que tudo começara.

-----------------------------------------------------

“As ondas eram enormes. E eu no topo delas, podia ver o mundo abaixo de mim, os prédios, as pessoas pequenininhas, perdidas na imensidão, a meus pés, esperando o espatifar de todo aquele colossal acúmulo dágua.”

No canto da pequena sala, uma mesa tosca e uma vela, personalidades no ambiente do “aparelho”. Não eram apenas objetos, mas personagens que quase falavam e participavam.
Sentado na cadeira, estava Simão, o livro embaixo do braço e batendo ininterruptamente sobre a madeira da mesa. De vez em quando dava uma olhadela no relógio, franzia a testa e suspirava, demonstrando impaciência.
A luz da vela iluminava o ambiente de forma curiosa. Sua própria chama projetava sombras em movimento, mudando de intensidade de acordo com o vento que soprava da janela entreaberta. E nela, Josias olhava a sua própria, com os olhos meio cerrados. Ação essa que de tempos em tempos também era interrompida por uma consulta ao relógio.
– Eles não vêm mais! Exclamou levantando os braços e em seguida baixando-os para bater nas coxas enquanto levantava.
– É melhor que fique quieto... Interceptou Antônio em tom grave. – ...afinal, isso tudo pode ser uma cilada!
– Ele é um contato de confiança! Respondeu Josias indignado.
– Ninguém é de confiança... pôrra! – Simão estava sério e olhava em torno. – Ele tem razão. Disse apontado para Antônio. – Temos que prever tudo, companheiros. Não podemos estar sendo levados por fatores emocionais em momentos com este. Temos que manter a cabeça fria.
O silêncio pairou sobre a pequena sala por algum tempo, até que Antônio o interrompeu.
– Eles marcaram às oito, não foi?
Josias balançou a cabeça afirmativamente, voltando a vista para Antônio que estava sentado no chão fumando um cigarro.
– Já passam quinze minutos! Exclamou Simão levantando-se impaciente. – Não podemos tolerar um atraso desses! E as normas de segurança?
– Pode ter sido um acidente.
Josias estava nervoso. Sua expressão era de insegurança começando a beirar o medo.
– É... se fosse uma cilada... eles já teriam chegado e...
– E nós... Interrompeu Simão fazendo um gesto com o dedo na garganta, como que sendo cortada.
Fez-se um instante de silêncio profundo.
– Como foi a venda do jornal? Perguntou Josias tentando quebrar o gelo.
– Farei o relatório na reunião de amanhã, companheiro. Respondeu Antônio secamente.
Mais um momento de silêncio.
– Vamos esperar até as oito e trinta. Asseverou Simão.
Antônio bateu os punhos na mesa e respondeu:
– Decidido!
A sala testemunhava novamente. Por mais cinco minutos de espera. A eterna espera dos que não vêm, às vezes nunca se sabe por quê. As quedas, os companheiros que partem e não se sabe se voltam. Mas sempre com um sorriso nos lábios, uma missão a cumprir, um objetivo a seguir. As malas, os pacotes, os ônibus, as estradas sem fim.

“No fundo acaba sendo uma rotina. A gente vai... da primeira vez é difícil, da segunda, um pouco mais fácil. Daí em diante. Bom, daí em diante mais fácil ainda. Temos que estar convencidos da importância de cada viagem dessas. Um profissional se entrega a essa vida. Pela vida e pela morte. Não podemos estar deformados pelos vícios e pieguices da pequeno-burguesia, recalcada e sem perspectiva histórica.” Antônio recordava do ônibus rodando na estrada, na noite silenciosa. Pela fresta da janela via os faróis dos carros e caminhões que passavam em sentido contrário.

– Os cinco minutos já se passaram. Falou bruscamente Simão, interrompendo os seus pensamentos e apontando para o relógio.
– Vamos embora... – respondeu Antônio decidido ­– Amanhã nos encontramos no outro aparelho... quem sai primeiro?

A rua, grande e espaçosa. O burburinho de pessoas passando pra lá e pra cá. E no meio delas, Antônio, de mãos no bolso, cigarro na boca, também andando pra lá e pra cá.

Nota: Os manuscritos encontrados eram rascunhos do livro. Eu havia batido à máquina uma boa parte dele, mas, infelizmente não sei onde foi parar. O texto acima foi revisado, tendo sido alteradas algumas expressões e palavras.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Socialismo ou barbárie?

Em janeiro de 1919, a polonesa Rosa Luxemburgo foi assassinada por um grupo de militares durante a repressão ao levante da “Liga Espartaquista”, o setor à esquerda da social-democracia alemã, e então embrião da III Internacional naquele país.
Foi ela quem expressou da forma mais clara o dilema a ser enfrentado: “socialismo ou barbárie”. Marx já havia formulado uma primeira versão da idéia de que num momento, ainda não determinado, a sociedade seria forçada a fazer escolhas com relação à ordem social a ser adotada, de forma a determinar o próprio futuro da humanidade.
Quando Rosa Luxemburgo alinhavou e concluiu este raciocínio, o imperialismo estava em seu ápice. Refletindo sobre o alcance filosófico e político de “socialismo ou barbárie”, a história é percebida como um processo aberto com uma série de caminhos onde a consciência, organização e iniciativa dos oprimidos torna-se decisiva. Ou a saída rumo ao socialismo ou a outra face, a da barbárie.
Através desta expressão, Rosa Luxemburgo indicava tratar-se de uma barbárie moderna, que a então recente Grande Guerra na Europa oferecera um exemplo tão mais devastador, na sua desumanidade assassina. Pois nunca antes, tecnologias modernas haviam sido empregadas a serviço de uma política de massacre e de agressão tão cruel.
Para além disso, hoje apresenta-se uma nova ameaça, o risco de uma catástrofe ecológica resultante da expansão capitalista mundial, a destruir incessantemente o meio-ambiente em busca do lucro desenfreado. Uma nova face da barbárie, que, caso não seja interrompida será uma corrida acelerada rumo ao abismo.

domingo, 30 de novembro de 2008

Países imaginários

Aproveito o domingo para republicar mais uma pensata, esta originalmente postada há pouco mais de um ano, em outubro de 2007.

Ao final da Primeira Guerra Mundial, desfeito o Império Turco-Otomano, as potências européias apossaram-se de regiões até então quase que desconhecidas para elas. Nesta ocasião foi necessário criar fronteiras para determinar as “colônias” nas áreas recém conquistadas.
Por extrema ignorância histórica, preconceito e prepotência raciais, tais fronteiras foram estabelecidas sem o menor conhecimento de quem as habitavam, seus costumes, etnias e religiões. Anteriormente, os mesmos colonizadores já haviam feito na África subsaariana divisões do gênero, sem o menor estudo de suas tradições, e até suas diversidades culturais e antagonismos. Ao final, juntavam-se povos que anteriormente eram inimigos entre si dentro de uma fronteira criada ao sabor de interesses dos conquistadores. Guerras civis prolongadas e sangrentas, foram a conseqüência mais notada após a independência destes territórios, principalmente a partir da segunda metade do século XX. Angola é um dos exemplos mais evidentes disso.
Conta a lenda que o mapa do Iraque foi traçado em um gabinete na cinzenta, sisuda e distante Londres, usando-se réguas e lápis coloridos, sem a menor compreensão de quem ou porque estava dentro daquelas linhas. E neste caso, três etnias e religiões foram ali colocadas sem a menor possibilidade de permanecerem juntas. Se formos fazer uma análise não tão profunda, o Iraque deveria ser constituido de pelo menos três países. Um xiita, um sunita e um terceiro curdo.
Para nós brasileiros, habituados a uma visão multiracial e multireligiosa, este tipo de pensamento pode parecer absurdo. O problema, no entanto é mais complexo em locais onde as diferenças são milenares e muito mais complexas. Agravando-se o fato de que tenham sido impostas de fora para dentro, ou seja pelos poderes colonialistas.
Por isso, estamos assistindo à invasão pelos turcos (1) do território iraquiano. No caso aos curdos do Iraque, que fazem parte de um grupo étnico que se considera como sendo nativo de uma região referida como Curdistão, e que inclui partes do Irã, Iraque, Síria e Turquia. Além disso, comunidades curdas também podem ser encontradas no Líbano, Armênia e Azerbaijão. Como os Bascos (da Espanha), eles desejam formar o seu país em definitivo. Com fronteiras demarcadas, hino e bandeira. A Turquia, sentindo-se pressionada, chegou ao ponto desta intervenção armada.
Tudo herança direta da imaginação de ingleses, franceses, espanhóis, portugueses e outros povos europeus que acharam que brincar de fazer mapinhas com “inocentes” réguas de madeira não teriam efeitos no futuro.

(1) Esta postagem foi escrita durante uma invasão da Turquia à região curda no Iraque.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Prato feito

A grande imprensa, mormente a televisiva, tem chamado a atenção pelo sensacionalismo. Primeiro foi o “caso Isabela”. Recentemente o seqüestro no ABC paulista. E agora caíram de sola nas inundações em Santa Catarina.
Aí há de se dizer que a função da imprensa é informar. Mas não se trata disso, e sim do teor que dá a essa informação. Vira um assunto quase que único nos telejornais... uma obsessão. Um verdadeiro prato feito para o lado marrom da notícia.
Sente-se no ar um quê de sadismo, de busca do “furo” a qualquer custo, no melhor estilo dos tablóides ingleses. Acho que a imprensa deve ser livre, tem que ser livre. O problema é que ela não nos proporciona liberdade no jogo sujo do sensacionalismo barato.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mais uma do Groucho

Continuando a falar de Marx, o Groucho, republico este artigo que foi anteriormente postado em 3 de agosto de 2007 no antigo “Pensatas”.

Lembrei-me de um livro chamado “Memórias de um pinga-amor”. Um título bem lusitano para um livro também muito engraçado, com ótimas ilustrações a traço em p&b do conceituado cartunista Leo Hershfield. Trata-se de uma publicação da Assírio e Alvim. O original é “Memoirs of a mangy lover”, que em português brasileiro seria algo no gênero de “Memórias de um galinha”.
São cerca de trinta casos curtos, e tem uma nota de introdução bem no espírito sarcástico de Groucho: “Este livro foi escrito durante as horas em que esperei que a minha mulher se vestisse para sairmos. E se ela nunca se tivesse vestido, este livro não teria sido escrito”.Groucho era um individualista ferrenho. Fruto da cultura estadunidense e capitalista, o “bem sucedido” noveau riche, desenvolveu uma filosofia de vida típica de seu tempo. É perdoável, porque a sua contribuição ao lado galhofeiro da vida suplanta tudo isso. O referido livro é composto de cinco partes, mais o prefácio e o epílogo. Os capítulos são: “L’amour, esse folião”, “A história não natural do amor”, “Notas sociais de um pária social”, “Aconteceu a outros oito rapazes” e “A filosofia marxista, segundo Groucho”. É difícil saber qual a melhor.
Eu particularmente gosto demais da terceira em que tece comentários sobre “visitas” e suas conseqüências. Dentro deste capítulo há um que fez-me rir às pamparras. Trata-se do “de como as visitas se despedem”. Groucho, e seu sarcasmo intrínseco tece uma boa dose de tipos que se despedem em festas que é digno de nota. Por exemplo: “a bruxa de meia-idade”, “os visitantes de fim de semana”, “o convidado solitário” ou “o chato que sempre chega muito antes da hora marcada”.
Mas, o melhor de todos é mesmo o tal casal que chegando lá pelas tantas, o marido olha o relógio, dá um salto da poltrona, vira-se para mulher e exclama: “Meia noite! Vamos mulher, tenho uma entrevista logo de manhã cedo...” Naturalmente os anfitriões vão até à porta levá-los para se despedir. Mas aí é que começa o papo. A mulher do sujeito começa a falar sobre um novo método de fazer permanente no cabelo. O visitante começa a contar sobre um plano em que vão construir um lago em sua propriedade para poder pescar à vontade. Resumo da ópera. Na porta de saída a conversa se estende por infindáveis trinta minutos, o vento frio batendo, enquanto lá dentro os demais convidados ficam sem a presença deles. E isso tudo, sem um bom charuto, uma dose de uísque nova, e por aí afora.
Vale a pena procurar por este livro sui generis. Eu o comprei há muitos anos atrás na Livraria Camões, no Edifício Avenida Central. A edição era de 1980. Não sei se houve outras de lá para cá. Mas, num bom sebo deve se encontrar. Vale o sacrifício. Pelas risadas. E pela análise hilariante de uma sociedade do ponto de vista de um Marx. Mesmo que seja o “menos marxista deles” (sic).