quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Pensatas para uma nova década

Fico a imaginar um mundo sem celular... Não dá! E computador? O que seria de um mundo sem computador? O mais curioso é que já vivi uma época sem essas ferramentas, muito embora seja inimaginável avaliar em nossos tempos que um mundo assim possa ter existido. Nem um sem geladeira, nem mesmo sem maquina de calcular. O certo é que à medida que vamos incorporando certos confortos, tornamos distante algum tempo onde eram possíveis máquinas de escrever e outras traquitanas.
Mas a verdade é que era comum adentrar-se a redação de um jornal ou de uma repartição publica e ouvir o ruído de centenas daquelas máquinas num chacoalhar ensurdecedor. Ou as pessoas penduradas em telefones fixos, mas fixos mesmo, pois na época não existiam ainda nem os “sem fio”. E dizer que tudo isto acontecia há pouco mais de vinte anos atrás.
Neste fim de ano estamos tambem mudando de década. Sim, começamos a segunda de um novo século, que já não é mais tão novo assim. Isto me faz lembrar de que, quando criança me referia aos mais idosos como sendo “do século passado”. Agora somos, quase todos... A princípio estranhei muito deixar os mil e novecentos. Afinal, nascí neles, vivi eles, até então somente eles. Hoje os primeiros que nasceram neste já completaram os dez anos. O tempo voa, e muito em breve seremos pejorativamente “do século passado”...
Acabei de rever “La Dolce Vita” de Fellini. Aliás, pela quinta vez desde que recebi de presente no Natal de 2009. Faz um ano. Mas vale a pena manter contato com este saudoso realizador e sua maneira de descrever o mundo, em que cada cena é a estrofe de um grande poema da vida. Não me canso de descobrir algo novo cada vez que revejo qualquer um de seus filmes. Pena que não se fazem mais diretores como antigamente.
Enquanto isto, temos que conviver com a mediocridade da produção cultural que nos cerca. E não só no cinema, mas em todas as áreas. Vejam por exemplo a música. É ridículo o cenário com que nos deparamos, cheio de Ladies Gagas e sertanejos. Ééécaaa! Realmente a sociedade de consumo arrasou o horizonte e as possibilidades culturais, jogando tudo na lama, nivelando tudo por baixo. Resta-nos rever o que foi feito num passado não muito distante, mas que é infinitamente superior a tudo que está a rolar por aí.
Mas é fim de ano, fim de década, e a vida continua. Hoje contada e recontada na internet, nos jornais virtuais, sempre a nos dar a notícia quase que instantaneamente. E fico a pensar se a gente pode imaginar uma vida sem a web!

domingo, 26 de dezembro de 2010

E viva o humor


Publiquei no meu blogue “Casos” da Propaganda (link ao lado) um breve texto sobre a necessidade do humor nos comerciais de TV. Justo numa época do ano em que precisamos pensar com leveza...

Outro dia liguei a TV e assisti um comercial cujo clima remetia a um “quase” James Bond a entrar num hotel ou algo parecido. A música era tensa e ritmada. Parecia mesmo um trailer do próximo filme da famosa série de espionagem.
Mas eis que de repente revela-se o personagem. Quem? Felipe Massa... Mas como? Um “tampinha”... A cara? De mau. O olhar meio de esquiva. Que forçada de barra, não é mesmo? O pior foi quando ele abriu a boca. Olha gente, deveria ter sido dublado para convencer um pouco mais. No final das contas não ficou o recall do produto. Lembro que era um perfume... Mas a marca? Xá pra lá!
Por outro lado estamos vivendo um bom período de criatividade. E com uma certa dose de humor, um humor leve que andava meio ausente nos intervalos de comercias na TV.
Vamos começar pela campanha da Honda... Aquela que tem um sujeito dentro de um avião. De um lado um gorducho a devorar um “xistudo” da vida. E do outro um bebê a chorar sem parar e no final vomita no ombro de nosso herói, que continua feliz da vida a imaginar o preço do seu Honda.
Esta campanha tem outro filme em que o juiz encontra-se no meio de uma briga entre dois times... Daí entram os técnicos a degladiar-se. E ele, nem aí, olhando feliz a faixa à beira do campo com a oferta da Honda.
Mas tem tambem aquele do Itaú. O sujeito conversando sobre futuro e segurança para a família com uma menina linda no interior de um busão. De repente ela pergunta sorrindo: “Quantos filhos você tem?”, e ele com um sorriso responde: “Mas como é que eu vou saber se eu acabei de conhecer a futura mãe deles?”. Olha gente, genial... Temos que tirar o chapéu para uma cantada como esta.
Sempre achei que humor e publicidade devem andar lado a lado. Afinal, o “Garoto Bom Bril” é a prova disso aí, fazem décadas.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pensatas para uma noite de consoada*

Existe coisa mais saborosa do que uma noite de Natal? Uma data quase impossível de não se engordar uns quilinhos. Tornou-se mesmo, em nossos tempos, uma festa pagã sob a benção de Baco. Mas tambem, fiel aos seus princípios, de reunir pessoas queridas, se divertir, amar a vida.
Publico hoje trechos de dois artigos desta semana.

Como a excelente entrevista de Julian Assange, hoje no Estadão.
Ao ser indagado sobre a afirmação do vice-presidente estadunidense, Joe Biden, que o qualificou de terrorista high tech, e de como essa pressão afeta sua vida...
“Talvez o que mais se aproxime desse tipo de comportamento seja o período macarthista. Vemos declarações de que eu sou um terrorista high tech, de que toda nossa organização deve ser perseguida, como Osama bin Laden. Leis propostas no Senado nos qualificam de ameaça transnacional para que ações possam ser tomadas contra nós. Todo esse comportamento contra uma organização que apenas publicou o material a que teve acesso é alarmante. Isso revela algo que não víamos antes e o quanto a retórica dos EUA sobre a liberdade de imprensa na China ou outros países é falsa. Quando começamos a publicar algo sério, que poderia levar a reformas, e de fato eram informações embaraçosas, vimos as leis e os valores dos EUA serem jogados no lixo, de forma preocupante.”

Ou o artigo do sempre genial Veríssimo a divagar sobre o Natal e cujo trecho a seguir mostra sutilezas de seu pensamento sobre a data...
“(...) Minha mãe era religiosa mas o nosso Natal nunca foi religioso. Às vezes há mais amigos judeus do que cristãos no jantar da véspera, em nossa casa. E aqui entra a ilação, já que se está discutindo tanto crença e descrença em Deus. O Natal nos fornece símbolos de muito mais coisas, e coisas mais importantes, do que questões de fé. Estamos juntos, nos gostamos muito, isso é o que celebramos todos os anos. E nada mais distante de especulações teológicas do que a Lucinda rondando a árvore, tentando adivinhar quais dos presentes são seus.”

(*) É a expressão usada pelos portugueses para o que chamamos de véspera de Natal. Como quase tudo que os nossos irmãos de além mar falam, acho muito curiosa e peculiar.

domingo, 19 de dezembro de 2010

O que nos espera em 2011?

Estamos aí, no limite de transição de um ano para outro. Uma mera formalidade? Está bem, nada mais do que isso analisando do ponto de vista de contagem de tempo. Por outro lado, esperanças para o ser humano, cuja dose de sonhos nunca se esvai... Sempre um novo impulso nas ilusões de que a vida vai ou até tem que melhorar!
Uns vestem a cor que acham que vai dar sorte... Ou paz... Ou vitória. Juro que não penso muito nessas crendices, embora até, pelas minhas origens e laços não duvidar que os Orixás vão dar uma olhadinha por mim. Ah, esta baianidade que não me abandona. São coisinhas que veem de dentro, lá do fundo de nós mesmos. Maiores até que nossos ceticismos, Oxalá!
Não importa a crença ou o que movam as pessoas, mas no fim de ano sempre depositam alguma dose de confiança, ou seja lá o que for, no ano seguinte. Às vezes fico pensando porque esperam tanta mudança numa simples troca de dias no calendário. Não! Pelo contrário, ficam esperando todo tipo de novidades. E, claro, sempre para melhor.
Bom, 2011 começa com uma mulher, pela primeira vez a nos presidir. Com um palhaço (assumido) no Parlamento. Com o tráfico pacificado (?) no Alemão. Com o mundo devassado e revelado pelo WikiLeaks. Obama bastante desmoralizado... Aliás a “democracia” ocidental como um todo. A Europa em uma sinuca de bico. E nós, emergentes, a despontar para o mundo. Até quando? Até quando as vagas do Capital soprarem em nossa direção. Quer dizer, enquanto isto lhes for oportuno no jogo de segundas e terceiras intenções.
Enquanto isso, e por força do hábito, um Bom Natal para todos. E um Feliz 2011 tambem, porque, afinal, o Ano Novo está aí, em cima da bucha...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Pensatas

Foi no mínimo estranha a entrevista de Francis Ford Copola (foto acima) a Jô Soares. O entrevistador estava tenso. Tensão esta que aumentava na medida em que o entrevistado não ria de suas “piadinhas”... Copola é reconhecidamente um homem fechado e de pouca conversa. Alem do mais, estar frente a frente com um Monstro Sagrado nada bem humorado não é fácil! Foram momentos de suspense e falta de graça dos maiores a que assisti na TV. Um verdadeiro “Apocalipse”...

Publiquei esta semana uma postagem sobre as fronteiras de Israel. Pesquisando posteriormente, constatei que na verdade quem mais perdeu territórios em 1967 foi o Egito. Nasser, apressadamente e com nenhuma estratégia declarou que iria atacar Israel, o que provocou uma reação imediata dos israelenses. Estes sim, desfecharam um ataque pelo ar, pegando a poderosa força aérea do Egito no chão e destruindo praticamente todo o poderio de fogo de sua esquadrilha. Alem de, claro, o objetivo interno de conquistar Jerusalem por inteiro. Tanto que de imediato transferiram sua capital para aquela cidade.

Seguem aqui os números mais recentes do icasualties publicados ontem sobre a guerra no Afeganistão: os estadunidenses já mandaram para casa este ano os corpos de 479 soldados. Contra 317 no ano passado. A diferença numérica entre os anos de 2009/10 (ainda não terminado) já supera o total de vítimas de 2008 (155). E o pior de tudo é que no final da guerra – que eles não vão ganhar – poderão ainda surgir versões mentirosas e ufanistas como as que existem hoje sobre o Vietnam, e que simplesmente, pasmem, cantam a vitória dos Estados Unidos sobre o pequeno país asiático que no espaço de pouco mais de 25 anos venceu duas potências mundiais, inclusive eles. A outra foi a França.

Ainda do Afeganistão, segundo relatório da ONU, 2.412 civis perderam a vida em 2009 naquele país vitimados pelos conflitos entre forças da OTAN e guerrilheiros.

E o WikiLeaks? Bom, prenderam Julian Assange, alcançando o objetivo inicial de (tentar) calar o incômodo site. Mas o que ficou provado é que o mundo entrou numa era em que os “segredos de estado” estão condenados a não existir mais... Sinal dos tempos! E tratem de medir as suas palavras em suas correspondências top secret, senhores embaixadores...

Imagem incrível a do veículo que transportava o príncipe Charles e Camila Parker Bowles em meio à manifestação de estudantes londrinos a protestar pelo aumento das anuidades universitárias na Inglaterra, que, por acaso deram de cara com a limosine Real, tendo inclusive, quebrado o seu vidro. A expressão do príncipe herdeiro não deu para ver porque estava meio desfocada. Mas a dela era muito nítida; e de um pavor digno dos velhos filmes de horror da Hammer.
Mas como Camila é pavorosa mesmo, não é nada difícil imaginar a cena...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Estranha coincidência





Curiosamente a Rede Globo exibiu na noite de quarta feira passada um filme estrangeiro no seu “Cinema Especial”, programa que substitui o tradicional futebol todas as semanas em que não há jogos.
“Duro de matar 4.0”, da série de produções “B”... Ou quem sabe “C” com o ator Bruce Willis foi a bola da vez.
Coincidentemente no dia 1 de dezembro estavam no auge os escândalos do site WikiLeaks e a senhora Clinton debatia-se com indignações sobre a divulgação de arquivos até então “top secret” da correspondência entre diplomatas estadunidenses que foram divulgados em larga escala para o mundo inteiro por intermédio do referido WikiLeaks do australiano Julian Assange, preso ontem em Londres.
Paremos para pensar. O filmeco gira em torno de um hacker que invade os sistemas de segurança dos EUA, e que baratina toda a comunicação naquele país, começando pelo corte de energia e estendendo-se, no final das contas, ao seu objetivo de roubar todas as reservas e riquezas daquele país na tentativa de um golpe de bilhões de dólares.
Não é muita coincidência associar maldosamente a ação do WikiLeaks à temática do filme? E tambem o fato de que em um programa que habitualmente só passam filmes brasileiros logo neste dia exibir uma produção estrangeira abordando um tema tão pontual?
Tirem as conclusões que queiram, mas partindo da emissora que representa os interesses da Matriz Colonial no Brasil, trata-se de uma forma subliminar de induzir o espectador a uma associação direta com o site do australiano que invadiu e divulgou segredos da nação mais poderosa do mundo...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Fronteiras...

Tropas israelenses em Jerusalem na guerra dos seis dias.

Está aí, em meio a polêmicas, o reconhecimento por países sul americanos –entre eles o Brasil, a Argentina e o Uruguai– ao direito dos palestinos à posse de seus territórios anteriores à “Guerra dos Seis Dias” de 1967, em que Israel incorporou os territórios ocupados às suas fronteiras aumentando o seu território. Acontece que esta atitude foi uma violação da Convenção de Genebra, que proíbe os vencedores de uma guerra de colonizar terras estrangeiras anexadas.
O cumprimento desta divisão é a reafirmação de uma resolução da ONU da época da criação não somente do Estado de Israel (29 de novembro de 1947), como tambem de um outro, palestino, composto da Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalem Oriental. Proposta esta que, de fato nunca foi cumprida pelos hebraicos que ocuparam o que foram as colônias britânicas, desde o termino da Primeira Grande Guerra Mundial, quando o Império Turco Otomano, derrotado, dissolveu-se.
Em 1931 surgia o primeiro grupo terrorista sionista chamado Irgun, cujo objetivo era implantar um estado hebráico por intermédio de ações armadas. Estes grupos foram crescendo em número e importância até o estabelecimento do Estado de Israel em maio de 1948. Um dia depois eclodia uma revolta palestina que culminou no banimento de cerca de 700 mil árabes para o sul do Líbano, famílias fugitivas da guerra, as quais Israel negou-se a reacolhe-los. Na sequência do trabalho efetuado em apoio a estes refugiados, nasceu o “Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados”.
O resto é composto de promessas iniciais não cumpridas a bravatas a que assistimos hoje e que comprovam o comportamento nazifascista dos dirigentes israelenses frente ao não reconhecimento do direito das comunidades palestinas, que habitam um território que tambem é seu, por direito. Uma polêmica de fronteiras mal resolvida que perdura por mais de 60 anos.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Pensata em busca dos fatos sem disfarces

Tenho pensado o quanto a informação midiática, especialmente a da grande imprensa tem-nos privado da “verdade” sobre o que está acontecendo na chamada “guerra ao tráfico”. Trocando em miúdos, aquilo que nos está sendo escondido nesta operação que é tratada pela suspeitíssima Rede Globo como um “momento histórico" para o Rio de Janeiro.
Por outro lado, e até por isto mesmo, venho pesquisando opiniões mais críticas na Tribuna da Imprensa de Helio Fernandes e no Observatório da Imprensa (1), dois respeitados veículos de informação independentes e mais discordantes deste “côro” da mídia “quase” oficial; pois é sabido de todo um envolvimento oportunista da polícia, e do próprio governo estadual com o narcotráfico.
Helio Fernandes levanta a “lebre” de que a intervenção do exército deveu-se tão somente à assinatura do presidente, passando por cima da vontade de “Cabralzinho” que era oponente à ação. Obviamente pelos interesses da máquina montada no Rio de Janeiro e seu comprometimento não somente com a polícia corrupta, como tambem com os traficantes.
Brasil de Fato é tambem uma revista que foge aos parâmetros desta imprensa um tanto quanto comprometida com o poder. Para tornar tudo mais claro e sem máscaras, transcrevo abaixo o esclarecedor texto de Leandro Uchoas para este veículo (2) sobre o controvertido tema:

“Mais de 100 veículos incendiados, granadas e tiros contra delegacias, pelo menos 52 mortos, assaltos em profusão, pequenos arrastões, tiroteios em comunidades pobres. Na penúltima semana de novembro, o Rio de Janeiro esteve entregue à barbárie. Em pânico, parte da população deixou de ir ao trabalho, de frequentar bares, de transitar livremente pelas ruas. E comunidades inteiras, especialmente na Zona Norte, ficaram reféns dos “soldados” do narcotráfico e da insanidade de setores da polícia. Como tem sido comum nesses períodos, a opinião pública assumiu posições conservadoras. Exigia-se punição dura, resultados imediatos. Para os setores sociais de espírito crítico mais desenvolvido, porém, ficou a sensação de que assistia pela TV, ou lia pelos jornais, a uma farsa.
A onda de violência começou no dia 21 de novembro. Carros e ônibus foram queimados pela cidade por jovens ligados ao Comando Vermelho (CV), aliados a setores da Amigo dos Amigos (ADA). Os narcotraficantes teriam se unido contra a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nos territórios anteriormente controlados por eles, segundo o discurso oficial. Estudiosos de Segurança Pública consideram essa uma explicação incompleta – além de oportuna ao governo estadual, por supor que a ação criminosa seria a resistência a um bom trabalho. Verdade é que a outra facção expressiva, o Terceiro Comando Puro (TCP), tem se aliado informalmente às milícias, em regiões da cidade, contra as outras duas. Até o aluguel de duas favelas aos grupos paramilitares teria ocorrido. De fato, TCP e milícias têm sido menos afetadas pelas UPPs. A pergunta não respondida, e sequer midiatizada, permanece: por que o Estado evita instalar UPPs nessas áreas?
Correu boato pela cidade, em fase de investigação, de que as ações seriam decorrentes da insatisfação com o aumento no valor da propina a policiais. Por enquanto, a explicação mais lúcida para a onda de violência é a perda de espaço do CV na geopolítica do crime. As milícias, ameaça maior, avançam território, e o setor nobre da cidade, altamente militarizado, segue protegido pelas UPPs. “Aqui no Rio há uma reconfiguração geopolítica do crime”, interpreta José Cláudio Alves, vice-reitor da UFRJ. Ele explica que existe uma redefinição das relações de hegemonia, envolvendo disputa de território. O mapa de instalação das UPPs, somado à expansão das milícias, estaria levando à periferização do CV. A facção tende a se deslocar para as regiões da Leopoldina, da Central do Brasil e da Baixada Fluminense. “Isso leva, inclusive, à introdução veloz do crack no Rio de Janeiro. Ele é baratíssimo. A reconfiguração do crime também leva à reconfiguração do consumo da droga”, explica. Até 2009, o crack praticamente não entrava na cidade.

Tráfico em decadência
Há ainda a interpretação de que o modelo de negócios que se forjou no Brasil, do narcotráfico, estaria em declínio. A milícia, por modernizar o crime, apropriando-se de serviços públicos e disputando a política institucional, teria tornado a economia da droga obsoleta. O ex-secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, que se negou a atender jornalistas, divulgou artigo defendendo a tese. “O tráfico tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, antieconômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los, mantê-los unidos e disciplinados”, diz.

As ações das facções na cidade, em geral, objetivaram sobretudo gerar pânico. Em meio aos veículos queimados, houve poucos feridos. A reação policial foi de potência inédita. Foram mobilizadas todas as polícias, oficiais de outros estados, todo o efetivo em férias e reforços da Marinha, Exército e Aeronáutica. Os blindados, emprestados pela Marinha, eram de forte poderio bélico. Um deles, o M-113, é usado pelos Estados Unidos no Iraque. Cerca de 60% dos oficiais em operação estiveram com a Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah). O general Fernando Sardenberg declarou ao O Globo que há similaridade nas ações do Rio e do Haiti. Sandra Quintela, da Rede Jubileu Sul, que acompanha a ocupação do Haiti, considerou o dado grave. “Há muito tempo estamos avisando que isso iria acontecer. Eles treinam lá para praticar aqui”, disse.
As autoridades não explicaram por que o TCP e as milícias não perdem território com as UPPs. Desconfia-se que haja pactos tácitos. “Há o controle eleitoral dessas áreas de milícias por grupos políticos. O Estado não vai jamais debelar isso, porque ele já faz parte, e disso depende sua reprodução em termos políticos, eleitorais. Ele está mergulhado até a medula”, diz José Cláudio. As UPPs têm sido instaladas num corredor nobre do Rio de Janeiro – bairros ricos da zona sul, região do entorno do Maracanã e arredores da Barra da Tijuca. Os narcotraficantes já vinham se refugiando, há tempos, na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. “Era um tanto quanto previsível que essa barbárie pudesse acontecer”, acusa o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj.

Combate seletivo
O professor Ignácio Cano, do Laboratório de Análise de Violência da Uerj, também desconfia do privilégio da atuação do Estado contra o CV. “Há um tratamento seletivo da polícia, aparentemente. A milícia tende a não entrar em confronto armado com o Estado, e vice-versa”, diz. Embora veja avanços, o sociólogo se diz preocupado com a ação policial, que pode representar um recuo do Estado a posições mais recuadas do passado. O Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou em entrevista coletiva que a ADA é uma facção mais “pacífica”, mais preocupada com o comércio de drogas. O CV seria mais “ideológico”, estaria mais disposto à guerra.
Para Antônio Pedro Soares, do Projeto Legal, o modelo de Segurança Pública do governo teria ajudado a gerar esse conflito. As áreas “pacificadas” seriam planejadas de acordo com os interesses da especulação imobiliária. “O que está acontecendo tem a ver com a política de Segurança, que precisa ser melhor discutida. Continua a lógica de uma polícia controlando uma população considerada perigosa”, afirma. Em sua maioria, os ativistas de direitos humanos não negam a necessidade de se prender os narcotraficantes. Entretanto, combatem a execução sumária, e acusam o Estado de perseguir apenas os bandidos da base da pirâmide do crime. “É uma guerra em que só morre um lado, uma cor, uma classe social. É simbólico que tenha acontecido na Semana da Consciência Negra, e dos 100 anos da Revolta da Chibata”, afirma Marcelo Edmundo, da Central de Movimentos Populares (CMP). Desconfia-se que o número de mortos seja muito maior do que o divulgado.”

(1) www.tribunadaimprensa.com.br/ www.observatoriodaimprensa.com.br/
(2) http://www.brasildefato.com.br/

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Um novo tempo

Esta semana o mundo... Ou melhor dizendo, setores antes indevassáveis do mundo vieram à tona e os governos de muitos países, principalmente as grandes potências viram-se repentinamente em uma saia justa.
A verdade é que desde a consolidação da internet como o meio de divulgação de notícias mais eficiente e atualizado não havia acontecido ainda uma situação como a criada pelo site WikiLeaks. O resumo da ópera é que, de repente, começamos a ler a correspondência entre os detentores do poder com uma intimidade que jamais iríamos imaginar alguns anos atrás.
Aí surgiram as mais --para nós-- surpreendentes linhas de raciocínio destes poderosos entre si. E de repente sabíamos (ao vivo e a cores) o que o Departamento de Estado dos EUA pensa de Sarkozy, de Putin e tantos outros.
De uma hora para outra Julian Assange, o fundador da polêmica --agora famosa-- página da web encontra-se no meio de prós e contras, discussões e até ameaças de prisão a esconder-se em lugares os mais variados, tão virtuais quanto o seu próprio negócio...
O importante de tudo isto é que os tempos evidentemente mudaram... E muito. A cada dia que se passa mais e mais noticias chegam ao conhecimento do cidadão comum, que ao abrir um endereço de notícias fica sabendo da última “fofoca”; do próximo passo das forças dos Estados Unidos no Afeganistão a um comentário jocoso de Hillary Clinton sobre um governante qualquer.
Hoje, os gabinetes do poder teem que se esconder, ou procurar formas de se camuflar frente aos ataques de um esperto hacker da vida.