domingo, 29 de setembro de 2013

Pensatas de domingo. Será que o Brasil cai nessa Rede?




Começou a desmoronarar o disfarse esquerdista de Marina Silva. Ela prefere, tradicionalmente falar sobre questões ambientais, apresentando-se como defensora da natureza e de um “desenvolvimento sustentável”, mostrando-se simpática às demandas da pequena burguesia urbana e completamente ausente quanto às reivindicações do movimento camponês e, omissa com o MST.
As “revelações” da sua Rede esta semana não se limitaram à vergohosa divulgação de seu programa econômico, na área política. Marina declarou abertamente o desejo de ter o mafioso senador Magno Malta como vice em sua chapa presidencial. Malta que é membro de uma seita evangélica e poderia se transferir ao PEN (Partido Ecológico Nacional) para concorrer em 2014 ao lado de Marina. Pior ainda, o candidato a vice “dos sonhos” da Rede é o presidente do STF, Joaquim Barbosa, criatura reacionária escalada para combater a esquerda. Acontece que o “herói” da mídia “murdochiana” vacila diante do convite feito por Marina. Enquanto aguardam a decisão final do Barbosão a Rede já tratou de costurar outra aliança “messiânica”. agora com o Magno Malta, notório delinquente acusado de fazer parte de “esquadrões da morte”.
A Rede, paralelamente montou sua “equipe econômica” com canalhas do governo FHC, como Pérsio Árida, por exemplo. Marina até então mantinha certas reservas de comentar na mídia assuntos da área econômica, na tentativa de ocultar do grande público seu vínculo com o setor financeiro neoliberal, e mais especificamente com os mantenedores de sua campanha presidencial: a família Setúbal.
Em entrevista concedida a uma emissora de televisão, Marina abriu o jogo e revelou que o programa econômico da Rede é o mesmo defendido pelos especuladores do mercado financeiro: “Por exemplo, no aspecto do controle da inflação: temos o risco de retorno da inflação. Temos um problema que sinaliza uma série de dificuldades que comprometem alguns dos instrumentos mais importantes para o equilíbrio, que são o tripé meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário”. O chamado “tripé” do “equilíbrio” não é nada mais nada menos que o “banquete estatal” oferecido aos banqueiros: Recessão, dólar nas alturas e elevadíssimas taxa de juros! A marionete do banco ITAÚ quer demonstrar aos especuladores internacionais do capital imperialista que poderá ser ainda mais eficiente ao mercado especulativo do que a gerência neoliberal do PT, ou seja em 2014 estaremos diante de uma disputa ao botim do Planalto entre os monetaristas da “esquerda” e os ultraneoliberais da sua Rede.
Marina ainda não conseguiu o registro definitivo da Rede junto ao TSE, há um certa barganha da burguesia nacional em torno da legalização de um partido umbilicalmente veinculado ao imperialismo ianque, mas nada tão grave que possa obstruir sua candidatura ao Planalto em 2014. No naufrágio da oposição Demo-Tucana, que não conseguiu decolar após as “Jornadas de Junho”, Marina já tem a certeza política que caberá a ela a tarefa de galvanizar o mais amplo arco social reacionário do pais contra o PT. Recursos financeiros não faltarão à Rede/Itaú para sua escalada ao “poder”, mas são quase inexistentes as possibilidades de estabelecer uma nutrida coligação partidária que lhe garanta tempo gratuito de propaganda na TV. Resta somente à Rede a possibilidade de compor uma aliança com a chamada “Frente de Esquerda”, composta pelo PSOL, PSTU e PCB. Esta conformação de quatro partidos (poderiam se somar outras legendas de aluguel como o PEN), que asseguraria ao REDE um tempo mínimo de exposição na TV, além do que introduziria uma imagem de “falsa esquerda” à candidata preferencial do capital financeiro.
Os revisionistas do PSOL e PSTU até o momento “optaram” oportunisticamente pelo silêncio diante da postulação de Marina. A Frente de Esquerda repete o mesmo “teatro préeleitoral” afirmando que lançará candidatura própria, ou cada organização a sua independente, ao mesmo tempo em que se exime totalmente da denúncia política da Rede, calibra cada vez mais a pontaria (pela direita) contra o governo Dilma. O movimento operário não encontra nenhuma alternativa de classe no atual cenário eleitoral, todas as “cartas” lançadas à mesa do joguinho hipócrita da “democracia eleitoreira” dos ricos tem a marca dos interesses econômicos capitalistas e do imperialismo. É necessário que a vanguarda classista e os novos combatentes da juventude iniciem o debate acerca da construção programática, da necessidade do lançamento de uma anticandidatura à presidência da república, como forma de publicitar uma plataforma socialista e revolucionária como o embrião do novo poder proletário!
Equanto isso, nos perguntamos: Será que o Brasil cai nessa Rede? Não percam os próximos capítulos!


sábado, 28 de setembro de 2013

Sábado bonito!

Sábado é um bom dia para ver (e sentir)  beleza.
Melhor do que Gisele Bündshen?
Acho meio impossível... Falando sério!


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O outro lado da moeda

Dilma e empresários
Ontem, no auge da “admiração nacional” pelas palavras de dona Dilma na ONU, a Liga Bolchevique Internacionalista  - Quarta Internacional (LBI-QI), postou em seu blogue esta matéria que mostra claramente as posições dúbias do PT em relação à burguesia, tanto no plano doméstico quanto no internacional. Leia abaixo a íntegra do artigo:


Dilma na ONU: enquanto critica espionagem ianque, negocia entrega do país aos trustes econômicos norte-americanos!


Jogo de Cena. Assim pode ser analisado o discurso da presidente Dilma Rousseff na Assembleia Geral da ONU que ocorreu nesta terça-feira, 24 de setembro. Sua fala dedicou-se à denúncia da espionagem promovida pela Casa Branca via suas agências de inteligência CIA/NSA. No máximo, propôs que a ONU fiscalizasse o monitoramento de informações pelos EUA, ou seja, nada de concreto. Abordou a espionagem que atingiu a comunicação oficial da presidente e também a Petrobras, entretanto não propôs romper relações comerciais ou mesmo suspender leilões petrolíferos de áreas espionadas, como o do Campo de Libra marcado para 21 de outubro. Tão logo saiu da sede da ONU Dilma e seu staff foram encontrar-se com representantes do governo Obama e empresários ianques para “fechar negócios”... ou melhor, negociatas. Nesta quarta-feira Dilma dedicará sua agenda para “assegurar a investidores norte-americanos que o comércio bilateral não será afetado pelo mal-estar entre os dois países”. A gerentona petista discursará em um seminário sobre oportunidades de investimentos no Brasil, promovido pelo banco norte-americano Goldman Sachs (que representa os especuladores piratas ianques que saqueiam a economia nacional) e falará sobre oportunidades de negócios na área de infraestrutura às vésperas da Copa do Mundo e das Olimpíadas... ou seja, a semicolônia continua de braços abertos para a rapina do “Tio Sam”. Ao mesmo tempo em que joga para a mídia (de olho nas eleições de 2014), criticando o “ataque a soberania brasileira”, Dilma deixou claro que a relação amistosa com o imperialismo ianque não deve ser afetada substancialmente, mesmo sabendo que é Marina Silva a mais nova aposta da Casa Branca para o Brasil, patrocinada pelos “verdes” dólares da oligarquia financeira.

O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira, afirmaram que o governo do PT quer preservar os “interesses comuns” entre Brasil e EUA: “A situação comercial não muda. São questões paralelas [as desavenças políticas e a relação econômica]”, disse Marco Aurélio Garcia. “Temos muitos interesses em comum e isso permanece. Não será afetado”, enfatizou o embaixador do Brasil em Washington. Além de Dilma, a equipe econômica do governo e presidentes de bancos públicos brasileiros estarão no evento desta quarta com investidores estrangeiros, inclusive o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. O seminário desta quarta será aberto com um discurso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que apresentará dados sobre a expectativa econômica do Brasil e as oportunidades de investimentos em obras de rodovias, aeroportos e ferrovias. O ministro já se encontrou, enquanto Dilma discursava, com presidentes de grandes fundos de investimentos para apresentar as perspectivas de aplicação de recursos no país. “Estamos convidando investidores a participar de investimentos em infraestrutura. A infraestrutura vai puxar a economia brasileira”, disse Mantega após a reunião. Antes, Dilma já havia se reunido com o presidente da Telefônica, Carlos Izuel. Entre quinta (25) e sexta (27), o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, irá se reunir com o Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, para tratar das ações de espionagem dos EUA, como mais um capítulo do teatro montado para enganar tolos, tanto que na sua fala na ONU Dilma anunciou “propostas para o estabelecimento de um marco civil multilateral para a governança e uso da internet” em nível mundial visando a “uma efetiva proteção dos dados”.

Como se vê, não há resultados práticos no adiamento da viagem que Dilma iria fazer em outubro para os EUA como chefe de Estado. Cancelar viagens, jantares e rapapés não soluciona a situação obviamente. Dilma deveria romper o acordo militar com os EUA e suspender imediatamente o leilão do Campo de Libra que, se já era vergonhoso, agora é mais ainda, com a descoberta da espionagem à Petrobras. Na ONU, a presidente Dilma fingiu-se de indignada e cobrou mais uma vez explicações do governo ianque, mas sua reação não teve qualquer desdobramento concreto, porque esta relação de servilismo é própria do papel semicolonial que o Brasil assume na divisão internacional do trabalho e do comércio mundial. Obama, que discursou logo depois da presidente Dilma, sequer tocou no assunto da espionagem e dedicou integralmente em sua fala a atacar a Síria e o Irã, alvos da ofensiva bélica ianque no próximo período. O que o governo Dilma deveria fazer diante do escândalo da espionagem ianque que teve como alvo a própria presidente era suspender as relações comerciais e diplomáticas com os EUA e romper imediatamente todos os acordos firmados de cooperação policial e de “inteligência” com os EUA, sob pena da completa desmoralização nacional. Entretanto, como vimos na sua apresentação na assembleia na ONU e negócios (entrega) que estão sendo fechados em Nova York, a frente popular seguirá fingindo indignação com a espionagem da CIA, enquanto cretinamente mantém os tratados de cooperação militar e comercial com os EUA, que por sua vez seguirão jurando “inocência” no caso das bases de monitoramento em Brasília.

Dilma se finge de indignada na mídia burguesa, mas o que a imprensa capitalista não comenta é que de fato os acordos com a NSA/CIA estarão valendo em plena etapa dos supostos riscos de “terrorismo” nos “grandes eventos” (Copa do Mundo e Olimpíadas) que o Brasil sediará entre 2014 e 2016 em pleno mandato da gerentona, que deve ser reeleita. Na verdade, ela engavetou um projeto de Política Nacional de Inteligência, que cria diretrizes se prevenir contra ações de espionagem internacional. PT e PCdoB cinicamente aplaudiram o “discurso duro” de Dilma apresentando-o como uma expressão de nossa soberania. Nada mais falso! Longe de alimentar esta farsa, cabe aos genuínos combatentes anti-imperialistas levantar a bandeira da expulsão dos agentes (civis e militares) ianques em toda América Latina, assim como a dos grandes trustes econômicos norte-americanos que trazem exploração e miséria ao nosso povo, aproveitando os escândalos de espionagem para denunciar que esta rede de monitoramento também está a serviço da agressão imperialista a Síria!


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Dilma... The revenge



A presidente Dilma Rousseff usou a tribuna da 68ª Assembleia-geral da ONU para protestar abertamente contra a política de espionagem americana contra países amigos, como foi o caso do Brasil. Para ela, a denúncia de que o alto escalão do governo brasileiro era monitorado pela Agência de Segurança Nacional estadunidense (CIA) é “inadmissível” e reflete “um caso grave de violação de direitos humanos e das liberdades civis”.
 
A presidente foi a primeira chefe de Estado a tomar a palavra no púlpito da ONU, em Nova Iorque, na abertura da Assembléia Geral da organização. Após pouco mais de um minuto de introdução, Dilma iniciou uma dura condenação às denúncias de espionagem realizada pelo governo dos EUA. “O argumento segundo o qual as escutas ilegais visam a proteger os países do terrorismo não se sustenta”, declarou. "Imiscuir-se dessa forma na vida de outros países fere o direito internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre elas, sobretudo entre nações amigas".
Dilma destacou que o monitoramento das conversas do governo e das empresas brasileiras é um “desrespeito à soberania nacional”, e observou que o Brasil “sabe de proteger”. "Jamais pode uma soberania firmar-se em detrimento de outra. Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos fundamentais dos cidadãos de outro país", afirmou, sempre em tom sério, sobre o tema que ocupou quase a metade dos seus 22 minutos de discurso. “O Brasil, senhor presidente (da Assembléia Geral), sabe se proteger. Repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas", destacou.
 
A presidente lembrou que pediu explicações e desculpas das autoridades estadunidenses sobre o caso. O presidente Barack Obama, que sucedeu Dilma no púlpito, não estava presente no momento do discurso da brasileira. Em sua fala, durante cerca de 40 minutos, Obama comentou todos os grandes conflitos mundiais, porém não mencionou diretamente o assunto da espionagem. Ele apenas reafirmou que, devido às medidas de segurança adotadas pelos Estados Unidos, “o mundo está mais estável atualmente do que cinco anos atrás”.
Em consequência às denúncias, o governo brasileiro anulou, na semana passada, a visita de Estado que Dilma faria a Washington em outubro, ao não receber satisfações consideradas suficientes sobre o tema. Em Nova York, a presidente ainda declarou que o Brasil vai intensificar os mecanismos e a legislação de proteção contra a espionagem e propor à ONU um “marco civil multilateral para a governança na internet”, para evitar que “o espaço cibernético seja instrumento de guerra”.

No restante do seu discurso, a presidente abordou o conflito sírio, defendendo mais uma vez uma solução diplomática, e não militar, ao confronto entre o regime do presidente Bashar al-Assad e a oposição. Ela saudou o acordo obtido entre os Estados Unidos e a Rússia para que o presidente sírio entregue o seu arsenal químico, considerado “decisivo” para o fim do conflito.
Dilma criticou, entretanto, a iniciativa dos Estados Unidos e da França de planejar uma intervenção militar no país, sem o aval do Conselho de Segurança da ONU. "O abandono do multilateralismo é o prenúncio de guerras", afirmou.
A presidente ainda clamou pela criação de um Estado “independente e soberano” para os palestinos, pela reforma do Fundo Monetário Internacional e do Conselho de Segurança da ONU, que segundo ela sofrem de “déficit de representatividade e legitimidade” diante da emergência de novos países na governança global.


domingo, 22 de setembro de 2013

Pensatasminhas dos outros


Neste domingo, transcrevo abaixo a matéria de Ricardo Alvarez sobre a Síria, publicada no Boletim Controvérsia, nº 143 (setembro de 2013), intitulado “A encruzilhada Síria na nova desordem mundial”.
  
EUA ameaçam ataque à Síria, Israel reclama do perigo iminente em suas fronteiras, França e Inglaterra se dizem dispostas a colaborar com EUA, rebeldes oposicionistas alimentados pelas potencias ocidentais e os estados locais aliados levam o caos ao país, enfim, nenhuma novidade no front. Será?
Uma guerra que se estende por mais de dois anos entre as forças do governo Sírio e rebeldes, que se desenrolou a partir do movimento pró-democracia da Primavera árabe e que ganhou contornos internacionais, levou à morte mais de 100 mil pessoas e um número de refugiados que ultrapassa um milhão e meio de pessoas. Este é o quadro desolador numa conjuntura de acirramento das tensões.
Neste contexto os EUA decidem por atacar o país, intenção exposta num discurso de Obama na Casa Branca neste final de agosto, impulsionado pelo uso de armamento químico num ataque covarde na periferia de Damasco e que provocou a morte em massa de crianças e mulheres. Gás Sarin despejado sobre civis foi notícia no mundo todo, fotos chocantes circularam nas redes sociais e deram cores internacionais para um conflito que se apresentava, até então, regional.
Seguiram-se manifestações contra Bashar al-Assad, acusando-o pelo crime. Inevitável a ação liderada pelo ocidente em defesa “dos direitos humanos” e da “democracia” na Síria.
O roteiro é velho conhecido. A grande imprensa ouve John Kerry, da atenção a Obama, repercute Hollande e, vez ou outra mostra até rebeldes sírios em ação. Quem pode concordar com o uso de armas químicas? Tratados internacionais não proíbem este tipo de armamento? Parece que não há outra saída senão a intervenção externa. Mas será mesmo?
A questão central é que um novo quadro político se desenhou desde as ações desastrosas dos EUA no Afeganistão e no Iraque, além das histórias mal contadas que vieram à tona e desnudaram um discurso apoiado em falsas premissas, como a guerra preventiva e o “restabelecimento da ordem”. Vejamos as bases deste novo momento:
- Desde o final da Segunda Guerra Mundial a Inglaterra decidiu por ser aliada incondicional dos EUA em suas intervenções externas, naquilo que Winston Churchill denominou de "relação especial", mas que na verdade mais significa uma submissão vergonhosa. O parlamento inglês, desta vez, não aprovou uma nova autorização de alinhamento na operação militar de ataque à Síria.
- Mentiras anteriores sobre armas químicas no Iraque e a defesa de ataques preventivos não colam mais. O Iraque não possuía tal armamento e nem tampouco se confirmou a intenção de Saddam Hussein em atacar os EUA. Repete-se uma farsa que não convence mais por experiências anteriores.
- Obama se antecipou às investigações dos especialistas em armas químicas da ONU na Síria e anunciou a invasão sem o devido conhecimento do relatório final que pode apontar os responsáveis pelas atrocidades. Qual a pressa?
- Uma nova frente política se estabeleceu, marcada por profundas contradições internas que certamente fragilizarão a ação militar. França e EUA andam lado a lado, coordenando as operações a partir dos territórios dos aliados no confronto, como a Turquia, Arábia Saudita e Jordânia, além das bases militares espalhadas na região. Mas não podemos esquecer a associação Al Qaeda e rebeldes. Sim, EUA e Al Qaeda coabitam os mesmos interesses (derrubar Assad) e as mesmas trincheiras no campo de batalha. A Casa Branca sabe que ao alimentar rebeldes, com armas e munições, pode estar dando de novo, um tiro no pé.
- China e principalmente a Rússia, são países que se opõem à ocupação. Membros efetivos do Conselho de Segurança da ONU com certeza votarão contrariamente aos interesses dos outros três membros (EUA, Inglaterra e França), o que inviabilizaria o aval do órgão à ação, que só se dá quando obtido consenso. Mas o mais importante, neste caso, é observar que o conflito ganhará proporções mais significativas com a intensificação do apoio a Assad, que é o que os EUA não querem. Rapidez e intensidade saíram da boca de Obama ao se referir à invasão.
- A crise econômica mundial joga decisivamente contra os interesses dos EUA na ação. O tempo fica mais escasso, os erros ganharão intensidade e as finanças de guerra mais curtas, enfim, o estoque de paciência será reduzido e os bombardeios nas redes sociais vão contribuir neste sentido. A troca da Inglaterra pela França, por exemplo, contribui para a ocorrência de deslizes e desencontros.
- A intensificação do terrorismo será inevitável e creio ser a França o alvo principal, num primeiro momento. O que muda então? Os atentados terão efeito direto sobre o tempo disponível de ação das tropas ocidentais e dos rebeldes.
- A ação dos EUA deve se limitar, pelo menos no início, em ataques aéreos sobre posições das forças sírias, buscando facilitar a operação em terra dos rebeldes. A que se considerar os efeitos limitados desta ação, primeiro pelo estrago generalizado e pela recrudescimento da violência (quem acredita em guerra cirúrgica?), vitimando civis e alimentando posturas contrárias à invasão. E não existem garantias que esta tática abra caminhos aos rebeldes. O que se pode esperar, com toda certeza, é o caos generalizado, a destruição da infraestrutura, a desorganização da economia em patamares mais elevados e a explosão da crueldade. O nobel da Paz recebido por Obama também pesará neste contexto.
- É cada vez mais evidente e claro que não é o direito à vida do povo sírio que os EUA querem garantir, nem tampouco a defesa dos direitos humanos ou a implantação da democracia. Com grande dose de certeza o gás Sarin foi obra dos rebeldes orientados pelos EUA, pois não interessava ao governo Assad esta ação, uma vez que suas tropas avançavam sobre posições dos rebeldes, em especial nos últimos dois meses. Seria uma grande burrice lançar mão deste recurso neste momento, ainda mais com a presença de inspetores da ONU no país.
- Cabe a pergunta: se o ditador Assad incomoda tanto, por que outros ditadores incomodam menos, como os que governam a Arábia Saudita (que esmagou a primavera árabe), o Catar e o Kwait, por exemplo. Esta questão sem resposta evidencia que os interesses dos EUA não são tão nobres ou universais e será argumento fértil para os que conseguem entender o que se esconde por detrás desta operação.
- Os rebeldes são um verdadeiro saco de gatos. Incentivados e municiados pelos opositores de Assad, são diversos em seus objetivos e vínculos. Observe-se que há dois anos estão em luta e, mesmo assim, conseguiram avanços baseados na lógica do caos geral, promovendo estupros, assassinatos em massa e destruindo casas. Note-se que sua presença no país não tem significativo apoio popular. Assad acaba sendo o mal menor.
- Por fim, destaco que havia em curso na Síria uma verdadeira revolução liderada por jovens sedentos por democracia, participação popular e por reformas de base no curso da Primavera Árabe, ideais que soam como insulto aos ouvidos de Assad e assustam os governos do ocidente. A guerra e agora a invasão, procuram dar um basta nesta iniciativa através da implantação de um governo pró-EUA de um lado, ou pela manutenção de Assad de outro. Há uma legítima e necessária terceira via em construção.
As variáveis são muitas e as incertezas sobre o futuro também. Obama está dando uma cartada de alto risco, impulsionado pelos belicistas, nacionalistas reacionários, republicanos e a grande mídia, além das vantagens econômicas de se fazer uma guerra. Pode ser o enterro definitivo de seu mandato e sua desqualificação política, como já ocorreu com George Bush.
O que se deve repudiar, sem tréguas, é a manutenção de uma política externa sobejamente falida do ocidente para o Oriente Médio, calcada na ingerência política e no militarismo como elementos de expansão das fronteiras do capitalismo, como prática de implantação das leis de mercado e do consumismo, como incorporação desta região aos princípios do individualismo e da competição. No fundo, é disto que se trata, os resultados já são conhecidos e não são nada agradáveis.