terça-feira, 30 de setembro de 2008

Frase do dia

“Nenhum marxista poderia acreditar que, como argumentaram os ideólogos neoliberais em 1989, o capitalismo liberal havia triunfado para sempre, que a história tinha chegado ao fim ou que qualquer sistema de relações humanas possa ser definitivo para todo o sempre.”

Eric Hobsbawm
Em entrevista a Marcello Musto, publicado na revista Sin Permiso.

Uma “mui leal e invicta cidade”

Depois do Papo de cachimbeiro, continuo com a reedição de antigos artigos. Este, postado anteriormente no primeiro Pensatas em fevereiro de 2007, foi também publicado no Caderno de Turismo do Jornal do Brasil de 28 de maio de 1997, na coluna “Eu conheço um lugar”.

A cidade do Porto é conhecida como “a mui leal, heróica e invicta”. Quando se percorre o que resta das muralhas Fernandinas, respira-se o ar desta invencibilidade e lealdade. Compreende-se porque os mouros não conseguiram conquistar aquela cidade heróica. O portuense também é conhecido como “tripeiro” exatamente porque, durante um cerco prolongado, seus habitantes viram surgir a necessidade de consumir tripas, em função da escassez de outros gêneros. Assim foi inventado o famoso prato que leva o nome da cidade: “Tripas à moda do Porto”, que é servido em quase todos os restaurantes. pelo menos uma vez por semana. Mas que também pode ser encontrado diariamente no Tripeiro, que como diz o nome, tem neste quitute a sua especialidade, ou mesmo no Escondidinho, outra tradicional casa da cidade.
Foi o Porto também que viu nascer, nada mais, nada menos que o Infante D. Henrique, e que tem como um dos seus principais encantos a ponte D. Luiz, toda em estrutura de aço e projetada por um discípulo de Eiffel. O próprio mestre, por sinal, é o autor de outra ponte muito semelhante: a D. Maria, que era utilizada exclusivamente por trens. Ou melhor, comboios, tal como eles dizem por lá. Esta foi substituída recentemente por uma mais moderna, e que atende melhor ao tráfego atual.
Mas, se for para falar de maravilhas do Porto, dá para encher um livro. Morei lá por três anos, e realmente posso dizer que conheço a cidade com uma certa intimidade. O Porto é uma cidade-mulher com suas brumas, seus mistérios, seu sorriso. Não é fácil descobri-la, embora seja muito comum apaixonar-se por ela ao primeiro olhar.
É muito bom perder-se pelas ruas tortuosas da “Baixa”, principalmente as próximas à Ribeira e seu antigo cais. Dali, enquanto se verte um delicioso “fino” – que vem a ser chopp – acompanhado de tremoços e azeitonas, você pode apreciar os barcos Rabelos, antigas embarcações a vela que eram usadas como transporte de tonéis para fabricação do famoso vinho local. Hoje os barcos estão desativados e servindo somente como pano de fundo. Em frente, do outro lado do Douro, está Vila Nova de Gaia, que, por incrível que pareça, é onde se fabrica o vinho do Porto. Agora, melhor ainda é estar mesmo lá em Gaia, tendo como paisagem frontal a própria Ribeira e a cidade do Porto, com a torre dos Clérigos, a Igreja da Sé, o magestoso prédio da Bolsa de Valores, a cidade baixa e a cidade alta, num conjunto inesquecível. Contemplando o pôr-do-sol neste lugar, descobre-se o porquê do nome daquele rio. Suas águas douradas refletem a poesia do entardecer entre o bucólico e o romântico, que só a luz da Península proporciona.
Mas a Ribeira é ponto de encontro da cidade para a apreciação da boa comida lusitana, desde um bacalhau ao famoso arroz de mariscos, sem deixar de passar pelos cabritos e, eventualmente, algum tipo de caça. O Chez Lapin é um bom exemplo de um restaurante naquele sítio. Outro é o D. Tonho, que fica bem no Cais da Ribeira mesmo. Tem ainda o Alzira, que serve uma lula recheada difícil de se esquecer, e que fica numa rua muito engraçada que é a Viela do Buraco. Número três, por sinal. As ruazinhas da Ribeira são um charme com aquele amontoado de lençóis e roupas pendurados em suas varandas, no melhor estilo “napolitano”. Alí também existem algumas boas casas noturnas, que os portugueses costumam chamar de pubs, embora sejam completamente diferentes de qualquer pub inglês. Assisti num desses, certa ocasião, um conjunto caboverdiano fantástico, tocando algo muito semelhante ao nosso samba. Também na Ribeira pode-se optar por um belo cruzeiro de barco pelo Douro. Um passeio imperdível.
Saindo da Ribeira e seguindo o Douro em direção ao mar, percorre-se um caminho lindo que desemboca na foz do rio. Ali assisti a uma pororoca, de pequenas proporções, claro, bem embaixo da ponte da Arrábida (em cima corre a A-2, a auto-estrada que liga o Porto a Lisboa), e junto a uma colônia de pescadores, que se mistura com antigos pequenos estaleiros para barcos de pesca.
Mas a Foz é o point. O must. Uma praia que nunca me convidou ao mergulho, tal a brabeza de seu mar, mas que, sem dúvida, é uma das mais urbanizadas que conheci, com decks e barzinhos espalhados à beira-mar. Sem contar a Foz Velha, com sua igrejinha barroca, e as ruelas enladeiradas onde se come uma das melhores pizzas que eu já provei no Al Forno, um restaurante deliciosamente ambientado à luz de velas, e cujo dono, português, tinha morado algum tempo no Brasil.
Seguindo em frente – à beira-mar – pela bela Avenida Brasil, pois esse é o nome da principal via da Foz, depara-se com o castelo do Queijo, que é assim chamado por causa do seu formato. À esquerda o caminho para outros municípios – que lá são chamados de freguesias – tais como Matosinhos e Lessa da Palmeira, que têm praias e locais também muito aprazíveis. Matosinhos é o lugar ideal para se comer a santola ou sapateira, aquele caranguejão de proporções gigantescas que abunda em Portugal e na Irlanda. Ou uma cataplana de frutos do mar (uma caldeirada fantástica) daquelas de se bufar de prazer no final. À direita a Avenida Boavista, uma longa reta de vários quilômetros que desemboca na rotunda do mesmo nome, sem antes deixar de passar pelo Meridien, o Sheraton, o Shopping Dallas e vários outros centros comerciais elegantes da cidade, como o Foco, que é um mini bairro completinho, até porque tem um dos melhores cinemas da cidade (os cinemas do Porto são excelentes), o seu mais famoso restaurante de cozinha gaulesa, e até, porque não, o próprio consulado francês. Além de luxuosas butiques e excelentes prédios residenciais.
Desde a Foz, estamos falando de uma cidade moderna, update com o que há de melhor na Europa e no mundo. Mas é nos arredores da Rotunda da Boavista que nós vamos nos deparar com esse Portugal atual, repleto de construções modernas, como o Boavista Trade Center ou os Edifícios Motta Galiza. E também o velho e bom Shopping Brasília, o primeiro da cidade e que mais parece uma grande e confusa galeria, mas que durante muito tempo foi o único shopping center da cidade. Lá eu ia toda semana comprar o Jornal do Brasil de domingo, e matar, assim, um pouco a saudade da terra.
Não muito longe dali está a Fundação Serralves, o Museu de Arte Moderna da cidade. Fica em terreno amplo, cercado de jardins e aléias que mais lembram o nosso Jardim Botânico. Nele existem, inclusive, espaços como a pérgula com o Café. onde um anfiteatro dá lugar a recitais de música ocasionais. Assisti ali a um festival de jazz incrível. O prédio do museu em si, é uma obra prima em estilo. Suas amplas salas e seus dois andares, antes residência de um milionário portuense, abrigam um acervo riquíssimo em pinturas e esculturas não somente portuguesas, como européias. E, na sua intensa programação, exposições de importantes pintores clássicos ou de vanguarda, como a que ví do catalão Antoni Tapiès.
E não se poderia falar do Porto sem lembrar a tradicional festa de São João. Uma noite inesquecível, leve, divertida, em que a principal diversão é bater nos outros com a flor do alho-poró, e quando as ruas ficam repletas de crianças dos oito aos oitenta, comendo sardinha assada e bebericando uma boa quantidade de cerveja e vinho. Não perdi nenhuma das três que tive a oportunidade de passar lá. Numa dessas festas me recordo que o Mário Soares – então ainda Presidente da República – estava lá, de alho-poró na mão, cercado de sua comitiva e divertindo-se à rasca (para usar uma expressão bem lusitana).
Para finalizar, vamos ao Cunha (uma espécie de Confeitaria Colombo de lá). Quase um quarteirão inteiro onde se podem encontrar os melhores jamóns espanhóis ou os mais variados acepipes portugueses, além de um excelente restaurante (que aos sábados serve uma feijoada muito boa e bem brasileira), além do indiscutível e/ou inigualável queijo da Serra.
Assim é o Porto. Cidade que originou o nome do próprio país, Porto Cale. Cidade moderna e tradicional, mesclada no tempo e no espaço e que possui coisas tão antagônicas quanto a velha ponte dos tempos em que era colônia do vasto império romano, ou as modernas construções e auto-estradas que fazem de Portugal hoje uma das estrelas a brilhar na bandeira da União Européia.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Mercenários e/ou terroristas

Outro dia estava a fazer comentários neste blogue sobre “propaganda” (1) como arma de formação de idéias políticas. O nazismo e o stalinismo a utilizaram em larga escala. Mostraram ao mundo o quanto “propaganda” também é uma forma eficiente de lavagem cerebral.
Digo isto porque fui assistir um filme (2) esta semana, em que está presente de forma evidente como os estadunidenses estão a formar algumas confusões mentais a partir de palavras para construir e consolidar uma ideologia.
Para mim, pouca diferença existe entre um mercenário e um terrorista. Talvez a única seja que, a princípio, o mercenário se vende a qualquer um, enquanto o terrorista comete o mesmo tipo de ações por fundamentos ideológicos ou religiosos. No caso do filme, o “bom da fita” é apresentado como um mercenário, e é uma “excelente” criatura.
Além de ser uma completa inversão de valores, porque antes de mais nada o mercenário não tem princípios, por trás de tudo isto está a necessidade de impor um novo conceito que defenda a intervenção imperial no terceiro mundo por intermédio dos “exércitos particulares” (leia-se Blackwater e outros), quer dizer, mercenários.
Afinal, como diria Goebbels (3): “uma mentira repetida mil vezes, torna-se uma verdade”.

(1) Segundo o Michaelis, propaganda é: 1. o ato ou efeito de propagar. 2. Disseminação de idéias, informação ou rumores com o fim de auxiliar ou prejudicar uma instituição, causa ou pessoa. 3. Doutrinas, idéias, argumentos, fatos ou alegações divulgados por qualquer meio de comunicação a fim de favorecer a causa própria ou prejudicar a causa oposta...
(2) O filme em questão é “Missão Babilônia”, e este artigo não se propõe a ser uma crítica do filme, ao qual fui assistir apenas por ser um aficionado de ficção científica.
(3) Joseph Goebbels, o ministro da propaganda nazista de Adolf Hitler.

domingo, 28 de setembro de 2008

Domingueiras

Pensatas de domingo foram uma constante no antigo Pensatas, muito embora tenha, ao longo do tempo, feito intervalos maiores entre elas. Todavia gosto demasiado de divagações desprovidas de compromissos em um dia idem. Tenho estado muito envolvido com a maior crise do sistema capitalista das últimas décadas, o que talvez tenha tornado este blogue um tanto quanto pesado. De qualquer forma, aproveito o momento para algumas recordações e observações pontuais.

Acidentes de percurso
Quinta feira passada a Ieda Maria, que faz parte da “meia dúzia de leitores” e comentaristas assíduos deste blogue deu-me um susto. Passou um e-mail para mim pedindo para que publicasse o seu comentário, pois não conseguia mandar o texto em função de um aviso que comunicava a publicação estar fora do ar.
O “Pensatas” original desapareceu. Escafedeu-se da noite pro dia, sem aviso prévio ou sequer um simples adeuzinho. Caramba!, pensei c’os meus botões. Está a acontecer novamente? Prontamente e estressado corri para o blogue e verifiquei tratar-se de algo que deva ter acontecido momentaneamente com o acesso dela. Em seguida, ainda sob impacto, copiei e colei o seu – como sempre brilhante – comentário.
O que aconteceu com o blogue anterior eu não sei. E, depois de todas as tentativas infrutíferas eu não quero mais saber... e tenho raiva de quem sabe! Afinal, troquei minha senha de acesso e tentei esclarecimentos sobre o que possa ter havido e não obtive sucesso nesta empreitada.

Mineirices
Dizem que o maior olho do mundo é o do mineiro, porque cabe um trem lá dentro. Trem é tudo. Pode ser um objeto: “comprei aquele trem.”. Ou uma situação ruim: “mas que trem mais chato, sô!”. Ou boa como “trem danado de bom!”.
Uma ocasião, estava eu na casa de uns amigos mineiros, e, no meio do papo, observei que tem uma coisa que muito me incomoda na língua falada por aquelas plagas.
Quando, por exemplo, se acha um chaveiro e têm várias pessoas no local, quem o encontrou pergunta: “Isso aqui é seus?”. Imediatamente o meu amigo, um físico com doutorado na França e os cambal, protestou veementemente alegando que ele não falava daquele jeito.
Alguns instantes depois, aconteceu uma situação semelhante e ele perguntou algo muito parecido. Ato falho, mas imediatamente eu gozei a cara dele. Como também diria o mineiro: “Quis coisas mais engraçadas!”. O “quis”, no caso, refere-se a mais de um fato engraçado. Demais da conta, não é mesmo?

Tinha que ser Sampa
Sempre me lembro de São Paulo nesses meus papos de domingo. Mas é que a terra dos bandeirantes é (ou será que já foi?) realmente um lugar maravilhoso. Morei lá nos fins dos anos 60 e início dos 70. Naquela época tinha uma lanchonete no centro, quase na imortalizada esquina de Ipiranga com São João. Era a “Salada Paulista”. Um balcãozão em U, sem cadeiras ou bancos que servia um chope gelado, para além de sanduíches e acepipes que até hoje me deixam de água na boca só de pensar.
A primeira vez que fui lá, foi com o meu tio Fernando, quando chegamos de viagem, no dia em que estava mudando para a Paulicéia. Comi um croquete, que nem o da Pavelka em Petrópolis consegue chegar aos pés. Coisa séria. Muito séria.
Pena que acabou. Fechou com a onda de fastfoods estandartizados que os gringos espalharam pelo mundo globalizado em que vivemos. Ai que saudade!
Mas o fato é que até hoje ainda se encontra o Bauru autêntico bem pertinho dali, num bar chamado “Ponto Chic”, a casa em que nasceu o famoso sanduíche. E que eu garanto, nunca comi um igual aquele em nenhum bom boteco da vida.

E, por falar em São Paulo...
Morei em dois apartamentos nos quase três anos de minha vida naquela metrópole. O primeiro era na Antônio Carlos, uma simpática rua, bem pertinho da Augusta. Depois foi na Brigadeiro Luis Antônio, quase ao lado do Hotel Danúbio, que na época hospedava a seleção brasileira de futebol. Isso nos tempos em que se praticava o esporte bretão com maestria por esses lados do mundo.
Neste último, quase sempre eu voltava do trabalho (perto do Largo do Arouche) a pé. Era uma caminhada e tanto, que inclusive atravessava o viaduto do Chá. Mas, no auge dos meus vinte e cinco anos era sopa.
Antes de ir para casa, passava no boteco de um grego. Ficava lá a jogar conversa fora com o dono e ouvindo suas histórias helênicas, enquanto degustava tremoços seguidos de uma pizza, regados a cerveja com steinhegger.
Claro que eu saia dali entre tropeços e me jogava na cama para um bom sono. Pelo menos sem sentir o frio danado que faz naquela terra.

O fim de uma era
Paul Newman foi uma lenda. Faleceu neste sábado, deixando uma lacuna no cinema.
Deixei um comentário no excelente blogue do professor André Setaro (Setaro’s blog, nos links ao lado) em que enfatizo que o ator participou na criação de um estilo – juntamente com Marlon Brando e James Dean – que marcou a moderna cinematografia a partir do Actor's Studio.
Pergunto no limiar desta nova era, o que virá por aí? Morreu o “doce pássaro da juventude”, mas, pode crer, ficou o mito... E que ele dê frutos.

sábado, 27 de setembro de 2008

O tamanho do rombo

O FMI elevou quarta-feira (dia 24) para US$ 1,3 trilhão o custo da atual crise financeira, mais de 30% acima do cálculo anterior. Foi revelado que os bancos na Europa e nos EUA perderam entre US$ 640 bilhões e US$ 735 bilhões devido à queda do valor de seus ativos. Ao acrescentar os prejuízos para todo o sistema financeiro, as perdas se elevaram ao patamar de US$ 1,3 trilhão. Um “rombo” de bom tamanho, que será pago pelo cidadão comum.
No mesmo dia, Bush, admitiu que os Estados Unidos estão “imersos em uma grave crise financeira”. Em discurso na televisão, o presidente pediu a aprovação urgente do pacote de US$ 700 bilhões para solucionar a crise financeira no país, acrescentando que foi obrigado a intervir para evitar o pânico financeiro. E evitar que o país mergulhe em “uma longa e dolorosa recessão”, com poupanças perdidas e empresas fechando a causar o desemprego em massa.
A realidade é que com o fechamento do Washington Mutual (WaMu) um dos maiores bancos dos Estados Unidos em movimentação de ativos (que foi muito afetado pela crise do setor imobiliário), eleva-se a mais de 15 o total de bancos grandes e pequenos atingidos pela crise. Outrossim, os analistas definiram o fechamento do Washington Mutual como a maior falência de um banco nos Estados Unidos. Enquanto as bolsas continuavam a despencar em todos os cantos do mundo.
Políticos, até o momento ainda discutem a aprovação do “pacotão” daquele texano desvairado, dublê de presidente, que, em última instância recairá sobre o bolso do eleitor. Melhor dizendo o contribuinte, o trabalhador, o povo. Que pagará pela política do neoliberalismo econômico, nesta bacanal financeira instituída pelo sistema em busca de lucros desenfreados, que culminou na mais grave crise em décadas. Afinal, políticos são eleitos pelo povo, e têm que fazer o seu teatrinho para justificar o fato. Coisas da hipocrisia democrática ocidental.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O capitalismo na berlinda

Enquanto a crise se agrava nas bolsas de valores de todo o mundo, o presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmava na tribuna da ONU que está ocorrendo “uma rebelião de povos contra um modelo econômico, o capitalismo”. Por outro lado, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, declarou na mesma ocasião a um jornal estadunidense que a atual crise financeira se deve em grande parte às guerras travadas pelos Estados Unidos, e que o próximo ocupante da Casa Branca deveria abandonar as políticas belicosas de Bush.
Enquanto isso, o próprio Bush focou o seu discurso na ONU em ataques ao “terrorismo”, tentando esquecer a grande crise do capitalismo. O que provocou reações e protestos, inclusive o do sr. da Silva, que em seu discurso de abertura da Assembléia daquela organização, já não poupara algumas leves críticas ao sistema. Ou pelo menos ao seu modelo atual, quando disse: “os organismos supranacionais carecem de autoridade e instrumentos para coibir a anarquia especulativa”.
O foco da questão está na política neoliberal. A sua periferia, justamente nas atitudes assumidas pelos países periféricos, os chamados “em desenvolvimento”, já que o termo terceiro mundo parece estar meio jogado às traças. Mas o fato é que o capitalismo está na berlinda. As crises energética, alimentar e ambiental recaem, em última instância, sobre ele. E isso está a ficar cada dia mais claro e visível. O fracasso no entendimento entre países pobres e ricos na Rodada de Doha, evidenciou o aspecto desumano do sistema em sua busca desenfreada de lucros.
O problema é a falta de opções momentâneas. O capitalismo está em sua crise mais aguda desde os anos 1950 para cá. Nem mesmo a turbulenta década de 1980 chegou a este limite. A saída neoliberal se esboçou então, para que as nações subdesenvolvidas assumissem os erros cometidos pelas classes dominantes do primeiro mundo. O neoliberalismo começou a implantar-se a partir daí, e países como o Brasil pagaram a conta. Desta feita, o contribuinte estadunidense está sendo escalado para tal finalidade. E o neoliberalismo e sua desastrosa política de livre mercado está chegando ao fim.
O que virá depois, só o futuro dirá... Citando Marx e Engels no Manifesto Comunista, editado em 21 de fevereiro de 1848: “(...) Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta”.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Caminhos do terceiro mandato

O PT está a conseguir as bases necessárias para o tão almejado terceiro mandato do sr. da Silva. Os seus índices de popularidade e a falta de opções no próprio partido (1) indicam que a operação vai acabar dando certo. O governo recebeu avaliação positiva de 68,8% dos entrevistados, contra apenas 6,8% dos que o avaliaram negativamente na última pesquisa CNT/Sensus. Pessoalmente, ele tem 77,7% de aprovação.
Segundo a mesma CNT/Sensus, pesquisa divulgada segunda-feira mostrou que ele venceria as eleições presidenciais de 2010 caso concorresse ao terceiro mandato. O seu nome foi citado por 23,4% dos entrevistados ao serem questionados em quem votariam para presidente nas próximas eleições, sem uma lista pré-estabelecida de candidatos. Em outras palavras, em votos espontâneos.
Em seguida, aparece José Serra com 6,7% dos votos. E em terceiro lugar, Aécio Neves com 3,3% dos voto. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff , surge em quarto lugar com apenas 1,9% das intenções de voto.

(1) Dilma não parece ter uma grande performance no tocante ao carisma, daí a estratégia para o terceiro mandato se constituir numa saída ambicionada pelo PT.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Lobo em pele de cordeiro


ATENÇÃO!

Fernando Gabeira tem subido nas pesquisas. Vamos ter cuidado e prestar atenção à sua campanha e quem a está apoiando. A direita, por intermédio de nomes como José Serra, Armínio Fraga e outros.

Peguei um táxi. E não me lembro porque começou o papo sobre eleições para prefeito no Rio de Janeiro. Sei que lá pras tantas o sujeito me disse que ia votar no Gabeira. Aí, assim como quem não quer nada, eu lhe perguntei a razão. Ele respondeu que votaria nele porque é “progressista” e sempre teve atitudes corajosas.
É importante levar em conta que, desde a sunguinha de crochê até os seus discursos no Parlamento, tudo o que Gabeira fez, foi puro marketing. Consegui convencer o motorista de seu equívoco. Que o político tem um passado como esquerdista, um discurso de esquerda, mas não é de esquerda. É preciso estar alerta para não trocar gato por lebre.

A nova guerra fria

Diversos navios de guerra da Rússia estão prontos para singrar os mares em direção à Venezuela, onde participarão de manobras militares conjuntas com a marinha local, revelou neste domingo um oficial russo.
A guerra fria está de volta? Sem dúvida as relações entre a Rússia e os Estados Unidos não estão nada boas após a invasão da Geórgia pelas tropas daquele país. Os ianques se meteram a dar palpites na “zona de influência” dos russos, enviando inclusive alguns vasos de guerra àquele país. Nada melhor do que uma resposta à altura no próprio quintal estadunidense.
Esta semana, Chávez vai à Rússia visitar o primeiro-ministro, Vladimir Putin. Vão assinar acordos de cooperação energética e militar. A Venezuela quer instalar em seu território um moderno sistema de defesa aérea e se mostrou interessada na compra do novo avião de guerra Su-35.
Desde 2005, os dois países fecharam acordos de defesa orçados em mais de US$ 4 bilhões. A Venezuela comprou, helicópteros e milhares de rifles. A Rússia planeja instalar na Venezuela fábricas de navios, carros, armas e munição.
Ao que parece a guerra fria está mesmo de volta com uma nova cara. Nela não estão envolvidos os caracteres ideológicos que originaram a primeira fase, mas sem dúvida, questões políticas e de mapeamento mundial estão em jogo. E também o petróleo. Tanto na Geórgia quanto na Venezuela.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os novos ricos, ou... os velhos pobres

Existe uma nova classe média em nossa sociedade? Ou será que estão a manipular os dados? O fato é que um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgado hoje indica que 13,8 milhões de brasileiros subiram de faixa social nos últimos seis anos. Os dados foram definidos a partir dos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2007, e divulgados em larga escala pela grande mídia escrita, falada e televisiva.
O mais curioso são os parâmetros monetários da conclusão: nesses 74%, ou 10,2 milhões, saíram da classe de renda baixa (até R$ 545,66 de renda familiar), e 3,6 milhões de pessoas passaram da classe intermediária (de R$ 545,66 a R$ 1.350,82) para a classe de renda mais alta (renda acima de R$ 1.350.82).
Outro dado significativo é que no Nordeste, as pessoas com renda familiar de até R$ 545,66 representam 49,2% da população. A mesma parcela (com renda mais baixa) significava 15% no Sul e 16,9% no Sudeste. Ainda no Sudeste, a população com renda familiar superior a R$ 1.350,82 chega a 45,5%. Já no Nordeste, os que estão enquadrados na classe mais alta representam apenas 16,7% do total.
Mas o problema principal é que projeções do salário mínimo com base em sua data de criação (julho de 1940), devia estar em R$ 2.025,99 (1), segundo estudos do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Em agosto de 2006, este salário deveria ser de R$ 1.442,62. Quer dizer superior ao valor de R$ 1.350,82, considerado o nível que define o que o estudo chama hoje de “renda superior”.
A partir dos cálculos do DIEESE, todos continuam pobres, tendo em vista que o salário mínimo foi criado de acordo com as necessidades (realmente mínimas) de uma família com dois adultos e duas crianças. Estamos a nivelar por baixo, tendo em vista que a classe média “tradicional” vem perdendo poder aquisitivo, enquanto as “classe C e D” conseguem comprar eletrônicos e computadores a perder de vista nas “Liquidações Malucas” da vida, em lojas do varejo popular.
Afinal, quem é pobre e quem é rico? E o que se tem a declarar quanto a isso?

(1) Confira mais dados no site do DIEESE no endereço a seguir: http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminset08.xml

A crise e a Internacional Capitalista

“Burgueses de todo o mundo, uni-vos”. Esta é a palavra de ordem das classes dominantes para tentar deter a crise que avança em direção a um novo crack econômico. O Banco do Japão, o Federal Reserve (Fed, o BC estadunidense), o BCE (Banco Central Europeu), o Banco da Inglaterra, o SNB (Suíça) e o Banco do Canadá anunciaram que vão injetar mais de 200 bilhões para impedir que a crise de crédito se acentue. Medidas como a do Departamento do Tesouro, em conjunto com o Fed e o Congresso estadunidense ao decidirem lançar um “pacotão” de medidas mostram que há uma ação do grande capital para defender seus interesses.
Outro precedente de intervenção do governo dos EUA na economia aconteceu durante a grande depressão, no decorrer da década de 1930, mas não houve uma ação tão coordenada quanto desta vez. Lições da história resultam no aprendizado do sistema em sua própria defesa. O capitalismo, tal como um camaleão, adapta-se às condições do momento por que passa, ajustando suas ações às necessidades que se apresentam. O New Deal, foi motivado não somente pela crise de 1929, como também pela “ameaça comunista” que crescia. No pós-guerra, a social democracia foi a alternativa européia a este mesmo perigo. Períodos em que a participação do Estado tentou dar um ar mais “humano” a um sistema econômico que visa o lucro em primeiro lugar.
A realidade que se apresenta é que o neoliberalismo está a passar por uma grande crise. Segundo o ex-ministro Bresser Pereira (1): “Há boas indicações, entretanto, que a contra-revolução conservadora e neoliberal dos últimos quarenta anos está terminando. O fracasso das reformas neoliberais, o desastre representado pela guerra do Iraque, a crise financeira nos Estados Unidos são sinais de que os anos neoliberais terminaram.” Indo um pouco mais longe, o próprio Bush, declarou na semana passada que o plano de seu governo para pôr fim à crise financeira é “grande porque o problema é grande”. Ele ainda reafirmou a necessidade de um amplo projeto governamental de apoio aos bancos diante dos riscos que corre a economia dos Estados Unidos.
As idéias de Jonh Maynard Keynes (2), ao que parece estão de volta. Se não fosse o movimento coordenando de bancos centrais e de governos nos países desenvolvidos, a crise atual já teria se transformado em um nova depressão de proporções incalculáveis. É a versão burguesa da Internacional, obviamente a serviço do capital.

(1) No artigo “Fé, política e retrocesso conservador” – jornal Estado de São Paulo – 11 de maio de 2008.
(2) Idéias que em sua época se chocaram com as doutrinas mais liberais e conservadoras estimulando a adoção de políticas de intervenção do Estado sobre o funcionamento da economia.

sábado, 20 de setembro de 2008

Discurso x modernidade

Tenho acompanhado o horário político na televisão, e um aspecto tem me chamado bastante atenção. É o do discurso de certos partidos de esquerda. Acontece que desde a queda do império soviético, da derrubada do muro de Berlim, da propaganda mentirosa da direita afirmando que as ideologias acabaram, há uma necessidade premente que se compreendam os novos tempos. Não se pode continuar com um discurso que, no meu entender, ficou velho e soa a jurássico.
Falar do jeito que se vem falando não vai levar a nada! O mundo mudou muito. Qualquer coisa que tenha alguma relação com o linguajar que foi comum na era stalinista fica soando a algo hermético e sectário. Ainda mais vindo de uma organização que se diz trotskista em suas origens. Chega a ser contraditório. Leon Trotsky era um pensador moderno para a sua época. Garanto que se vivo fosse, teria compreendido as modificações por que passamos no curso da história, e jamais faria um discurso como aquele que tenho visto por parte do PSTU.
Aliás, a IV Internacional (1) é um saco de gatos. Existem várias vertentes (2) que se dizem seguidoras dos princípios que orientaram a sua fundação. Na época o discurso era aquele. De forma burocrática os membros dessas correntes insistem em não avançar no tempo. Isto é uma atitude nada dialética. A comunicação é importante. Falar uma língua que todos possam entender e não parecer antiquada faz parte dessa conjuntura.
É necessária uma reciclagem no discurso para que ele fique moderno e eficiente. O PSTU e outras organizações alinhadas à esquerda têm a necessidade de fazer um upgrade em tudo o que falam. Ou correr o risco de ficarem ainda mais “nanicas” e isoladas à medida que o tempo passe.

(1) A IV Internacional foi fundada por Trotsky no ano de 1938, em oposição à III Internacional, também conhecida como Internacional Comunista, que Stalin rebatizou de Comintern.
(2) Quando militei, nos anos 1960, era filiado à Seção Latino-americana da IV Internacional, da qual eu discordava em vários aspectos. Na ocasião não consegui estabelecer contatos com a européia, que tinha posições mais próximas do meu pensamento. Hoje existem no mundo várias correntes que dizem representar a IV Internacional.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O alto preço do capitalismo de Estado

A operação para evitar a falência da seguradora AIG pelo governo estadunidense, somou US$ 85 bilhões a uma conta federal que desde o início da atual crise financeira já chega a US$ 1,5 trilhão (cerca de 10% do valor do PIB dos Estados Unidos). O uso do dinheiro público para salvar instituições privadas, como a AIG e o Bear Stearns, ou a Fannie Mae e a Freddie Mac, surpreende justamente por acontecer no país que é o maior defensor do neoliberalismo econômico. A administração Bush autorizou os gastos via Tesouro e o Fed. E pode chegar a muito mais, dependendo de quantos bancos vão entrar nesta dança.
Até o início desta semana, a política oficial, encabeçada pelo Tesouro, era de que não haveria ajudas e resgates. Segundo a lógica oficial, o caso do banco Bearn Stearns seria uma exceção, assim como o das duas agências imobiliárias. O quadro mudou completamente após o caso da AIG. Por outro lado, em Detroit cresce a pressão de montadoras de veículos (que também estão mal) para um pacote. Essas pedem US$ 25 bilhões em auxílio federal. Segundo a Folha Online, citando o historiador econômico Ron Chernow em depoimento ao New York Times, “esse governo foi longe demais”. E acrescentou que os Estados Unidos “... vivem a ironia de uma administração pró-livre-mercado fazendo coisas que o governo democrata mais progressista não faria em seus maiores momentos de delírios".
Comitês financeiros do Senado e da Câmara, liderados por Democratas, começam a articular medidas contrárias ao que líderes batizaram de “farra com o dinheiro público”. Isto traduz o alto custo do capitalismo de Estado no governo desgovernado pela eminência e o pavor de uma nova crise de grandes proporções, cujo maior parâmetro é a de 1929. A novela continua em capítulos eletrizantes enquanto as contradições do sistema se aguçam neste início de um novo milênio.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Mais um golpe na Bolívia

Lembro que passei boa parte dos anos 80 ouvindo nos noticiários a frase “... mais um golpe na Bolívia”. Era a época das ditaduras militares na América, incentivadas pelo império estadunidense em seu “quintal” para frear a influência cubana, no auge da guerra fria. Foram dezenas deles. Toda vez que aquele país andino elegia um novo presidente, e que este começava a se insurgir contra os “preceitos legais”, vinha lá um general e o derrubava.
Nos dias de hoje, em pleno século 21, esta artimanha não cola mais. Mas existem outras saídas. O que o imperialismo está a elaborar é a “kosovização” (1) dos nossos vizinhos. O próprio Morales, no decorrer da recente reunião do Unasul em Santiago, declarou que os Estados Unidos estão conspirando e tentando dividir a nação boliviana.
Na verdade, apenas ele e Chávez declararam isto abertamente. Os outros ficaram em cima do muro.
Chávez, a pedra da vez no calcanhar dos estadunidenses está incomodando demais o império de Monroe (2). Não creio que os ianques vão resistir muito tempo sem achar um pretexto para intervir na Venezuela. A sorte é que as eleições nos EUA estão a adiar esta ação. Muito embora recentemente o presidente venezuelano tenha denunciado uma nova tentativa de golpe de estado. Mas na Bolívia, mais fraca e fracionada, as coisas estão andando a passos largos. Mais um golpe na Bolívia.

(1) Li recentemente na Tribuna da Imprensa, na coluna do excelente Argemiro Ferreira o termo “balcanização” da Bolívia, que vem a ser um sinônimo desta tese da “kosovização”.
(2) A doutrina de Monroe dizia “a América para os americanos”, que pode ser interpretada em sua forma mais objetiva como “a América para os estadunidenses”.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Neoliberalismo e Estado

Nesta breve nota, só quero dizer que o discurso neoliberal de mercado está cedendo lugar à intervenção do Estado nos momentos de crise. As operações na disponibilização de US$ 300 bi para comprar ações do Fannie Mae e do Freddie Mac e de aquisição do Bear Stearns pelo Morgan Chase, foram sintomas deste tipo de operação que agora se repete com a movimentação do Fed (leia-se banco central estadunidense) para salvar a AIG, uma das maiores seguradoras do mundo. É a “socialização” do rombo provocado pelo mercado, financiado pelo dinheiro dos contribuintes. Apenas contradições da história em seu discurso. E o choque entre a teoria e a prática.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

E a crise se agrava

O centenário banco de investimentos Lehman Brothers (o quarto maior dos Estados Unidos) anunciou a sua concordata, um dia depois de falharem as negociações para sua compra. A instituição informou que apresentará a documentação necessária para se declarar em quebra, situação que ficou evidente após o banco britânico Barclays desistir das negociações ainda anteontem. Anteriormente o Bank of América (que apesar do nome é uma empresa privada) também esteve interessado na compra, porém desistiu ao adquirir outro grande banco em crise, o Merryl Linch. Como consequência imediata, as bolsas de valores despencaram no mundo inteiro. Aqui, o Ibovespa registrou a maior queda desde setembro de 2001, tendo caído 7,59%. Aliás, o mais expressivo tombo entre as bolsas.
O Barclays considerou que seria impossível adquirir o Lehman sem uma ajuda dos poderes públicos, numa situação semelhante à que foi decidida em março para o JP Morgan Chase, na compra do Bear Stearns, outro banco também em dificuldades nos EUA por conta da crise de crédito que atinge a economia daquele país. O Lehman Brothers mantém negócios com os principais bancos do mundo e sua liquidação deverá causar prejuízos a todas essas instituições.
O banco perdeu entre o início de março e o final de agosto deste ano um total de US$ 6,7 bilhões, tendo visto suas ações despencarem a míseros centavos de dólar. O Lehman é o terceiro banco de investimento que quebra ou é comprado nos últimos seis meses nos EUA. E outros quatro grandes estão na fila. Fora os mais de 10 de menor porte, que simplesmente o governo estadunidense deixou que quebrassem por oferecer menos riscos de um agravamento da crise em nível mundial. Além disso a AIG Seguradora, com ramificações em todo o mundo (inclusive o Brasil), está na bancarrota, também a um passo da falência solicitando empréstimos ao governo. É um sintoma da economia de mercado (fruto do neoliberalismo) dando seus sinais de fraqueza, e pedindo arrêgo e ajuda ao Estado.
Quem comentou a crise financeira foi o ex-presidente do Fed, Alan Greenspan. Segundo ele, essa é a pior crise dos últimos 50 anos, e ainda está longe de terminar. Greenspan estimou que o governo federal “não pode estender uma rede de segurança debaixo de todas as instituições financeiras que quebrarem”, destacando que os atuais esforços das autoridades para salvar o Lehman Brothers devem se limitar na busca por uma solução sem recorrer ao Tesouro.
Convém lembrar que a crise no mercado hipotecário dos EUA é uma decorrência da crise imobiliária pela qual passa o país, e deu origem a uma crise mais ampla em todo o mercado de crédito. A quebra do Lehman Brothers também provoca uma nova onda de desemprego, afetando diretamente mais de 25.000 pessoas. Indiretamente, este total deve ser multiplicado em grande escala passando da centena de milhar. É, a crise se agrava. E a bolha está apenas começando a estourar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Papo de cachimbeiro

Este texto foi originalmente publicado em janeiro de 2007 no blogue “Pensatas”. Como até hoje o fabricante continua a insistir na adulteração do referido tabaco, achei por bem republicá-lo.

Hoje estava pensando o quanto estou “pau da vida” com a Wilder Finamore, para quem não sabe, a maior fabricante de fumos para cachimbo no Brasil, sediada em Juiz de Fora.
Primeiro porque, há coisa de um ano atrás, mandei um e-mail para eles fazendo uma queixa sobre um tabaco de nome Bulldog, que fabricam sob licença da Souza Cruz.
Bom, a Souza Cruz era quem distribuia este fumo no mercado. Mas, na verdade, esta é das mais antigas do Brasil. A sua origem era um fabricante de Petrópolis chamada Inducondor, que foi comprada pela British American Tobacco (leia-se Souza Cruz), na década de setenta.
A Souza Cruz manteve o Bulldog com o blend e o sabor original. Pelo menos isso. Já a Finamore adulterou completamente não só o paladar, como também a consistência do produto. Muito embora tenha mantido o texto na própria embalagem. Texto este que fala sobre a origem da referida mistura, e blá, blá, blá...
Mas, continuando a história. Como não me responderam o e-mail, mandei uma carta, com o mesmo texto e meu endereço para referência. Passado quase um ano, também não veio resposta alguma.
O pior é que Bulldog foi o primeiro tabaco que experimentei na vida. Eu tinha uns vinte e dois anos. Depois, parei de fumar cachimbo e voltei uns quinze anos depois, quando abandonei definitivamente o cigarro. Na época, o primeiro fumo que comprei também foi Bulldog. Está certo que na mesma ocasião adquirí um Tilbury (também da Souza Cruz) e um Irlandês, a marca mais tradicional da mesma citada Finamore.
Que fazer? Impossível fumar Bulldog, até porque a nova mistura ficou muito ruim.

domingo, 14 de setembro de 2008

Uma pensata dominical

Não poderia retomar este blogue em sua nova fase sem publicar uma Pensata de Domingo, que tanto caracterizou o primeiro “Pensatas”.

Uma semana agitada por este mundo afora. Bem aqui ao lado, Evo Morales expulsou o embaixador estadunidense. Segundo ele, o “diplomata” estava a incitar grupos separatistas à revolta. Revolta esta que nos últimos dias assumiu grandes proporções, tendo chegado às vias de fato com dezenas de mortos e feridos, declaração de estado de sítio em um departamento e sintomas de guerra civil. É a “kosovização” (1) da Bolívia avançando a passos largos.
Na Suíça, cientistas testam uma engenhoca para reproduzir o Big-bang. Eu hein! Tomara que fique apenas dentro do túnel que eles construiram.
Do outro lado do mundo, as Paraolimpíadas. Aquilo que pode parecer um “circo dos horrores” é na verdade um espetáculo da superação do homem em suas limitações. E, pelo menos na delegação brasileira, com um desempenho muito superior ao dos atletas da “outra” olimpíada.
Aqui em casa, o sr da Silva melhora ainda mais os seus índices de aprovação nas pesquisas, batendo, segundo o Datafolha, um recorde histórico. Desta feita alcança as classes mais favorecidas. É o “povão” virando formador de opinião. E o “fenômeno Lula” emparelhando com o de Gegê.
Também por terras tupiniquins, o show dos “arapongas” e das escutas telefônicas, o disse-me-disse da política nacional. Éééca! A inflação tentando complicar a vida da gente, e também o melhor programa cômico jamais produzido na TV: o horário eleitoral gratuito para vereadores – aqui nesta cidade maravilhosa –, com nomes que fazem a gente rolar de rir. Como Tarzan, Glória Pintinho, Cícero do Jegue ou Jorge Baixa Renda. Um deles é o Sultão Abbas Mussalba (que afirma ser descendente do profeta Maomé). E tem também o Abracadabra. Dá pra se votar num sujeito com um nome desses?
E por falar em eleições, continua o grande espetáculo teatral por terras ianques. Obama x McCain, agora esquentado pelos escãndalos (bem à brasileira) da vice do candidato republicano, que cobrou diárias de viagem inexistentes como governadora do Alasca. Que fria! Alguém vai mudar alguma coisa? Esperem sentados. Também em território estadunidense, o furacão Ike faz estragos... eu não sei se deus é brasileiro, mas certamente não nasceu nos Estados Unidos.
Enquanto isso, aqui na terra, não estão jogando um bom futebol e a torcida pede a cabeça do Dunga. Não o anãozinho, mas o técnico da seleção de futebol, e mais uma semana sem Fausto Wolff. Abro o Caderno B e parece que falta alguma coisa no Jornal do Brasil.

(1) Venho utilizando a expressão “kosovização” para definir uma provável divisão daquele país, tal e qual aconteceu no Kosovo. Aliás em toda a antiga Iugoslávia.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O fato e a versão do fato

Esta semana completaram-se sete anos do atentado às torres gêmeas com dois jatos em Nova Iorque. Um ato de proporções poucas vezes visto. Algo tão espetacular e cinematográfico quanto os melhores filmes-catástrofe produzidos pela indústria hollywoodiana.
Um terceiro avião sequestrado dirigiu-se ao Pentágono completando a sua missão de bombardear o seu alvo. Há, no entanto, um acontecimento neste dia que ficou extremamente mal contado. Havia uma quarta aeronave. O que de fato aconteceu com ela?
Recordo-me perfeitamente, que, no mesmo dia 11 de setembro de 2001, foi noticiado que a Força Aérea estadunidense havia derrubado outro avião, que, segundo se supunha teria como objetivo colidir com, nada mais nada menos do que a Casa Branca.
Surgiu logo em seguida uma versão de que este veículo foi derrubado pelos próprios passageiros, que, num ato patriótico e desprendido (kamikaseano), sacrificaram as próprias vidas, evitando assim que fosse atingido o seu objetivo. Foi até produzido um filme (1) vangloriando a atitude de tais “heróis anônimos”.
Verdade ou mentira? Bom, a realidade é que a primeira notícia desmente a segunda. Naquela, jatos da US Air Force o atingiram, eliminando os terroristas. Mas, vejam bem, matando também seus compatriotas. A versão, que deve ter sido rapidamente elaborada pelos “marqueteiros” da CIA e do governo Bush, foi prontamente divulgada e tornada oficial.
Como noticiar de forma calamitosa que pereceram 2.602 pessoas (2) nas torres, quando a própria defesa ianque liquidou mais de uma centena de patrícios naquele vôo? Esta pergunta, sem dúvida, iria ficar no ar.
Mais uma vez, ficou provado que o que vale não é o fato, mas a versão do fato.

(1) “Vôo 93” é o nome do filme que narra a versão oficial.
(2) Somente no Iraque, uma média de 1.020 civis morrem por mês, em consequência de atos terroristas do governo dos Estados Unidos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Desemprego e recessão nos EUA

Como a matéria anterior (Cartas reveladas), este artigo foi escrito no mês de junho. De qualquer forma, ainda o considero atual para ser veiculado.

Sherry Cooper, economista-chefe da financeira BMO Capital Markets (fundada em 1817 como Banco de Montreal) afirmou recentemente que “o Relatório de Emprego mostrou pegadas de um quadro recessivo por todo o seu conteúdo”. O indicador apontou a quinta perda mensal consecutiva de postos de trabalho nos Estados Unidos, aumentando as expectativas e tensões em torno da economia daquele país.
Os números apresentados, mostram que 49 mil vagas de trabalho foram perdidas em maio, um número considerado alarmante, ainda que abaixo das expectativas de alguns analistas, que giravam em torno de 60 mil. No entanto, o principal destaque negativo se concentra na alta taxa de desemprego (5,5%) no computo geral, o maior já registrado desde fevereiro de 1986.
O indicador influenciou o desempenho dos mercados no mesmo dia, agravando o movimento de queda já apresentado pelas principais bolsas de valores em todo o mundo. “E se depender dos próximos Employment Reports, o clima deverá continuar negativo. O mercado de trabalho deve continuar em declínio por algum tempo”, analisa Sherry Cooper.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Cartas reveladas

Em excelente matéria, o jornal “O Estado de São Paulo”, analisou em seu Caderno 2, o livro de Susan Butler “Prezado Sr. Stalin” que revela cartas trocadas entre Roosevelt e Stalin, no decorrer da II Guerra Mundial. A correspondência permaneceu 60 anos sem divulgação, até ser encontrada, ao acaso, pela jornalista. Em 2001, ela fazia uma pesquisa na biblioteca Franklin Roosevelt, em Nova York, quando se deparou com o material, que logo percebeu que “... traziam dados históricos pouco conhecidos e vitais para se compreender a relação entre a América e a União Soviética durante a guerra” (sic). “Elas permitem descobrir os meandros de um jogo complexo e brilhante entre dois grandes comandantes.”, concluiu Susan. Segundo ela, a primeira foi enviada por Roosevelt em julho de 1941, logo depois do súbito ataque nazista à União Soviética. A última, seguiu em abril de 1945, pouco antes da morte do presidente estadunidense. Foram mais de 300 cartas e mensagens trocadas entre Roosevelt e Stalin, escritas no calor da guerra que revelam as suas personalidades, bem como estratégias políticas. Após catalogar todo este material, Susan lançou o livro, agora traduzido no Brasil pela Jorge Zahar.
Em 1941, aconteceram dois fatos decisivos, a invasão da URSS pelos alemães, quebrando o “pacto de não-agressão” entre Hitler e Stalin, e o ataque a Pearl Harbor, obrigando os EUA a oficialmente declararem guerra ao Japão, e consequentemente aos outros países do “Eixo”, Alemanha e Itália. Roosevelt, Stálin e Churchill formaram então a força aliada que lutou contra Adolf Hitler, já à época com diversos países simpatizantes. Receoso de os soviéticos capitularem diante do gigantesco poder militar alemão, Roosevelt anunciou um auxílio financeiro à União Soviética e iniciou a garantia de que os EUA auxiliariam o país invadido.
Aí começa uma correspondência codificada, muito embora às vezes um dos líderes escolhesse um conselheiro de confiança para entregar em mãos uma determinada mensagem. Nessa correspondência, os dois “comandantes” trocaram idéias sobre remessas de armas, decisões a serem tomadas contra Hitler e seus parceiros, a data da invasão pelo Canal da Mancha (o Dia D), o destino da Polônia e a composição da Assembléia Geral das Nações Unidas.Susan Butler identificou e diferenciou os dois estilos. “Se, por um lado, sabia ser cortês, Stalin não escondia que governava pelo terror. Já Roosevelt era um homem que empregava a persuasão, o charme e uma certa atitude de laissez-faire”, narra a pesquisadora, convencida de que o segundo estava disposto a romper a barreira que o separava do ditador soviético, importante passo para que os Estados Unidos abandonassem sua política autocentrada.
Mesmo assim, houve alguns momentos de grande tensão. Por duas vezes, Stalin interpelou Roosevelt com mensagens ásperas. A primeira, depois que Churchill e o presidente estadunidense se encontraram no Canadá para planejar a rendição da Itália, em outubro de 1943, Stalin protestou que “o governo soviético não foi informado sobre as negociações anglo-americanas com os italianos”. O segundo foi mais grave. Em março de 1945, Stalin contestou a negativa dos ianques em aceitar a presença de um emissário soviético durante o acerto da rendição do exército alemão em território italiano. Em resposta à garantia de Roosevelt de que nenhuma negociação estava em andamento, Stalin foi claro: “Deve-se presumir que o senhor não esteja completamente informado.” Embora irritado com a acusação, Roosevelt contornou a situação, pois, em seu plano de paz pós-guerra contava com o indispensável apoio soviético. Plano que foi por terra com a sua morte e a ascenção de Truman, que gerou a “guerra fria”, na opinião de Susan Butler.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Por quê Novas Pensatas?

Este blogue se propõe a continuar o Pensatas que publiquei durante mais de um ano, e que, por algum motivo que não sei exatamente qual, foi pro espaço.
Por sorte, havia feito backups de todas as matérias publicadas nele. Para tal, além de postar novos comentários, estarei também republicando alguns artigos anteriores, desde que haja alguma razão para tal.