sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Bush e Obama. Uma comparação

A política do governo Bush era explícita e belicista. Ficamos acostumados nos seus oito anos de guerras declaradas ou não, intervenções abusivas e todo tipo de opinião, por mais estapafúrdia que fosse, nos deixando acompanhar de queixo caído à prepotência de um “imperador” desvairado.
O ainda incompleto primeiro ano de Obama tem-se caracterizado pela sutileza e a hipocrisia de um governo que se quer dizer “progressista”, mas não é tanto quanto tenta aparentar. Na verdade, Obama tem até assumido algumas medidas mais à “esquerda” no plano doméstico, mas sua política internacional em pouco difere da do seu antecessor.
No entanto, diversos presidentes democratas passaram para a história assim. Kennedy foi um. Enquanto apoiava internamente os direitos civis e outros aspectos sociais da época, invadia Cuba pela Baía dos Porcos e aumentava a presença de tropas estadunidenses no Vietnam... Que deu no que deu.
A situação em Honduras, o golpe em que os Estados Unidos estiveram por trás, mas se negam a assumir – muito embora pelas suas posições, isto fique cada dia mais claro – deixa bem evidente a posição do governo Obama no cenário mundial. O fato é que, ao apoiar as eleições do próximo dia 29, os EUA marcham para uma posição de isolamento em relação às demais nações do continente, bem como da própria Europa e entidades como a OEA e a ONU.
Posições dúbias também no Afeganistão. Esta semana, Obama fez declarações deixando no ar uma nova política que os estadunidenses tomarão daqui para frente, quando é mais do que sabido que mais e mais tropas seguirão para aquele país. Aliás, desde sua campanha eleitoral ele afirma que diminuirá o número de soldados no Iraque (a grande trapalhada de Bush), mas que aumentará no Afeganistão. Até porque ali a situação é quase que irreversível.
O mais grave de tudo, no entanto, está na crise econômica e na impossibilidade de combatê-la de forma rápida e eficaz. Daí a necessidade de tomar algumas providências internas mais populares e tentar desta forma angariar a simpatia do povo, pois ela (a crise) não terminará tão cedo. E este é o “xis” da questão.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Números velados

Curiosas as cifras referentes ao total de soldados ianques que tombaram no Afeganistão. E digo isto porque andei a procurar tais números e somente aparecem 297, o total deste ano, quando, na realidade os EUA estão lá desde 2001. E os outros, onde foram parar?
Talvez a contagem no Iraque, bem mais aberta tenha influenciado um comportamento cauteloso das autoridades daquele país, mas a verdade é que os números são difíceis de encontrar. O fato é que em determinada matéria encontrei um total de 5.000, mas refere-se de forma não determinada às frentes no Iraque e no Afeganistão.
Outrossim, em outubro deste ano morreram 24 soldados dos EUA em apenas 48 horas. Alguns setores da imprensa referem-se ao mês como “outubro negro”, pois certamente que o restante das horas daquele mês supera este número. O recorde anterior, de 51 soldados, era em agosto passado.
Enquanto isso, Obama está a tentar cumprir a sua promessa em campanha eleitoral de reforçar o número de soldados no Afeganistão, que hoje está em torno de 68 mil. Sabe-se que o general Stanley McChrystal, chefe das forças estadunidenses naquele país solicita cerca de 40 mil, o que levaria à assustadora presença de mais de 100 mil...
E Alexandre (o Grande), com quantos mil guerreiros invadiu o Afeganistão? Ou a Rainha Vitória? Ou ainda mais recentemente a União Soviética? Os Estados Unidos já deram um verdadeiro vexame no Vietnam. Mas a história é irônica e nem sempre os teimosos aprendem com ela. Por enquanto, números confusos – velados mesmo –, tentam esconder uma realidade, mas o certo é que também está comprovado que o número de suicidas nas tropas ianques é altíssimo.

domingo, 22 de novembro de 2009

Saúde, que saúde?

A taxa de aprovação ao governo do presidente Barack Obama caiu abaixo dos 50 por cento, numa indicação de que sua popularidade está sendo afetada por um interminável debate sobre o sistema de saúde e pelo enfraquecimento da economia a gerar o aumento de desempregados, segundo o Instituto Gallup. E apesar da Câmara dos Estados Unidos ter aprovado na semana passada a decantada reforma da saúde proposta por ele.
O projeto segue para avaliação do Senado. A intenção do presidente é estender a assistência médica para os quase 50 milhões de estadunidenses sem seguro saúde. O projeto prevê a criação de um plano de saúde público, que concorrerá com os privados.
A reforma tambem proíbe as seguradoras privadas de se negarem a estender uma apólice a pessoas que sofrem de uma doença, e de cobrar mais de acordo com o histórico médico das pessoas.
Amplia o programa destinado aos pobres. Calcula-se que 15 milhões de pessoas a mais poderão somar-se a ele, número incluído nos 36 milhões de cidadãos que receberão cobertura do plano. Os EUA, um dos países mais ricos do mundo, possui quase 50 milhões de habitantes carentes de cobertura médica e outros milhões com assistência precária.
Essa história é longa. Em 1993, o ex-presidente democrata Bill Clinton também tentou emplacar uma reforma da política de saúde nos EUA. Em 1994, após meses de ataques, atrasos e táticas obstrucionistas, os republicanos conseguiram derrotar o projeto, apesar de os democratas controlarem as duas casas do Congresso.
Quer dizer: haja saúde para lutar pela garantia a uma saúde mais abrangente ao povo dos Estados Unidos. Não somente às suas elites, pois são estas que usufruem os benefícios do sistema ali implantado.

domingo, 15 de novembro de 2009

Pensatinhas de domingo

A melhor piada que li esta semana foi aquela do apagão em que falaram para o estagiário: “Quando sair desliga tudo.”

Esta semana, no centro da cidade lembrei como tinham mulheres bonitas por aquelas bandas. Gente, para todos os lados que se olhava era um mulherio feio, sem charme nenhum. Onde foram parar?

Falar em centro, creio que o melhor chope ainda está no Bar Luís... Pelo menos eu acho.

Não gostei do twitter. Entrei na coisa e não senti atrativo nenhum. Apesar de que estou fazendo hoje uma pensata nos seus moldes. Com poucas palavras.

O verão chegou mais cedo com a porcaria do horário que criaram para atrapalhar o sono da gente.

Em São Paulo foi apreendida uma grande quantidade de carne de cachorro que era vendida a restaurantes da cidade. Que cachorrada!

E o governador do Rio que anunciou em larga escala almoço com Madona. Brincadeira, sô!

Outro dia Dilma disse que não havia risco de blecaute. Após o apagão ela declarou que poderão acontecer mais (?). Eu hein!

Chávez tem toda razão quando diz que as tropas ianques na Colômbia são uma ameaça para a Venezuela. Mas será que é só para a Venezuela?

Chega-se a uma conclusão meio óbvia que os ateus teem menos medo de morrer do que os religiosos. Porque não acreditam no inferno.

Aliás, crentes, principalmente monoteístas hebraicos e pós hebraicos dizem que o homem foi feito à imagem de seu criador. Com toda certeza, e pelas atitudes, tanto de um quanto do outro, a besta.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Gorbachev e Obama. Uma comparação

Li no UOL uma matéria sobre Emmanuel Todd que previu entre outras coisas a queda do império soviético, e agora prevê a do estadunidense. Vejam abaixo o que ele (Todd) diz sobre o Afeganistão:

"(...) será a guerra que eles irão perder. É uma guerra perdida, uma catástrofe que se desenvolve. A grande questão para os historiadores será entender por que os dois grandes impérios, o império soviético e o império americano (sic), decidiram morrer militarmente no Afeganistão.
Há algo de surpreendente. Não sou crente, mas se tivesse alguma crença, eu veria nas duas guerras do Afeganistão uma espécie de maldição divina. Uma região do mundo totalmente desprovida de interesse: é um problema para os metafísicos, para os moralistas, não para os especialistas em geopolítica."

A seguir a matéria de Haroldo Ceravolo Sereza do UOL Notícias que nos dá uma ideia do pensamento de Todd:

“Em 1976, um demógrafo francês, após analisar dados sobre a população soviética, publicou seus estudos com um título ousado: "A Queda Final - Ensaio sobre a Decomposição da Esfera Soviética" ("La Chute Finale - Essai Sur La Décomposition de la Sphère Soviétique").
Antes que Ronald Reagan chegasse ao governo dos Estados Unidos, antes que a Igreja Católica escolhesse um papa polonês e muito antes que as palavras ‘Glasnost’ e ‘Perestroika’ fossem popularizadas no Ocidente pelo secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev, Emmanuel Todd previu que problemas estruturais estavam minando de forma definitiva o poder do PC.
Um dos dados que mais chamaram a atenção de Todd foi a supressão, nas estatísticas oficiais, de dados relacionados à mortalidade infantil. Isso indicava que elas deviam estar subindo. Essa e outras informações oficiais indicavam que o planejamento econômico centralizado no modelo stalinista estava em crise.
Treze anos depois, as previsões começaram a se confirmar.
‘A Rússia saiu de forma muito elegante do comunismo, sem muito sofrimento, sem grande derramamento de sangue, quase nenhum. A história real é cheia de paradoxos, não é a história dos sistemas ou das ideias puras. A verdade é que quem venceu o nazismo foram os russos. O grande paradoxo da história é que o sistema stalinista contribuiu largamente para salvar a humanidade’, disse Todd, em entrevista ao UOL Notícias.
Na combinação de estatística e geopolítica, Todd foi além. Passou a defender que também o sistema imperial norte-americano vivia uma crise, e o mundo, depois da bipolaridade da Guerra Fria e da tendência unipolar dos anos 1990, conheceria o poder multipolar. É a tese central do seu livro ‘Depois do Império: a Decomposição do Sistema Americano’ (Record, 2003).
Sobre o governo norte-americano de Barack Obama, ele faz uma ligação com a crise do sistema soviético: ‘Será que Obama é o presidente da renovação ou será o Gorbachev americano? Quando vemos a massa de problemas não resolvidos, volta do desemprego, guerra do Afeganistão... Há, no entanto, uma última força para os EUA. É que o mundo tem medo do vazio.’
Para Todd, as estruturas familiares ajudam a explicar porque o sistema soviético ruiu enquanto o Partido Comunista chinês sobreviveu, apesar de até hoje a China manter fortes traços da organização stalinista.
‘Se pensarmos que na China há 1,3 bilhão de pessoas hoje, e que na Rússia há 140 milhões, vamos perceber que, do ponto de vista populacional, a maior parte do comunismo sobreviveu’, diz ele. Na sua opinião, o sistema familiar chinês, mais autoritário que o russo, ajudou o PC chinês a ter condições de comandar uma aproximação controlada com a economia capitalista.”
...
É importante ressaltar que o Afeganistão (invadido sem sucesso desde os tempos de Alexandre) também foi invadido pelos britânicos durante o período Vitoriano, que instalam-se em Cabul em 1839 iniciando uma guerra que se estenderia até 1842, causando severas perdas às tropas da Grã Bretanha que se retiraram da região.

domingo, 8 de novembro de 2009

Pensatas de domingo

Tempo para Drummond
“Difícil compreender como no vasto mundo falta espaço para os pequenos”
Carlos Drummond de Andrade (O Avesso das Coisas)

Frases & efeitos
O sr. da Silva, acusou recentemente o presidente Barack Obama de dar muito pouca importância à América Latina, em entrevista ao Financial Times.
Perguntado se já que Chávez preocupa os estadunidenses, que conselho daria a eles, respondeu: “Não sei se os americanos (sic) deveriam estar preocupados com o Chávez ou o Chávez com os americanos. Um discurso justifica o outro".
Em outra entrevista, o presidente brasileiro também se referiu às bases ianques na Colômbia, ressaltando que elas teem que se limitar ao território daquele país, já que o acordo foi estabelecido entre eles.
Será que o “efeito” eleições 2010 o está forçando a tomar posições mais definidas em relação às ações do império do norte?

Um prato típico
Falar em Obama e bases dos Estados Unidos, o massacre em Fort Hood, o maior quartel daquele país, situado no Texas (tinha que ser naquele famigerado Estado) demonstrou a completa falta de visão psicológica das autoridades do país ao programar enviar um militar de origem palestina e religião islâmica para combater num país onde a maioria dos habitantes professa a mesma fé. Será que não tinham outra atividade para o gajo?
A referida tragédia ocasionou a morte de 13 soldados e deixou mais de 30 feridos.

E Zelaya?
Enquanto isso em Honduras... Bom, já se previa que a coisa ia acabar do jeito que está a acabar mesmo. Os estadunidenses, tendo à frente Mrs. Clinton, estavam por trás do golpe, ficaram caladinhos e a força dos que lideraram o movimento cresceu.
Não estou aqui a questionar se a constituição do país permitia ou não a reeleição. A brasileira também não. A argentina, idem. E a colombiana? Claro que não. Mas Uribe está a partir para lutar pelo terceiro mandato. É como comentei outro dia: são dois pesos e duas medidas. Uma para quem apóia os EUA e outra para quem não está do lado deles.

Coisas de bandidos (1)
E no Maranhão? Bem, o lançamento do livro “Honoráveis Bandidos – Um Retrato do Brasil na era Sarney” de Palmério Dória transformou-se num tumulto de grandes proporções, que, segundo o autor partiu de ordens do Palácio dos Leões, sede do governo, e acusou a governadora Roseana Sarney de estar por trás de toda a articulação que causou verdadeiro pânico no auditório do Sindicato dos Bancários. O lugar foi escolhido após as livrarias da cidade se recusarem a abrigar o evento, com medo da “poderosa” família.
Afinal, são honoráveis, mas antes de tudo são bandidos!

Coisas de bandidos (2)
E hoje se completam 100 dias de censura ao jornal O Estado de São Paulo. Lastimável...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Mocinhos ou bandidos?

Estava a assistir “Os Imperdoáveis” (The Unforgiven), de Clint Eastwood, 1992, um dos melhores westerns de todos os tempos, e a observar Little Bill, o personagem vivido por Gene Hackman e classificá-lo, naquele instante, como o “bandido”. Parei para refletir o quanto, pela “receita típica”, ele poderia vir a ser o “mocinho”. Ora, fica evidente que Little Bill estava a tentar manter a ordem na cidade, combatendo pistoleiros errantes em busca da recompensa oferecida por prostitutas para vingar a agressão a uma delas. E mais, Little Bill, com as próprias mãos, estava a construir uma casa.
Ora, os clichês do faroeste sempre foram no caso do “mocinho”, o good guy que lutava pela “lei e a ordem”, e planejava o seu futuro para ter um lar e uma família a ser formada com amor, fé religiosa e bons costume (1). E neste sentido, do ponto de vista clássico, Little Bill é o “mocinho” da história. Resultado de valores puritanos a tentar – e a conseguir – prevalecer de forma “simplista”, mas imposta na mitologia da construção de um vasto e selvagem território, na realidade formado por uma população brutalizada, e conquistado com os tiros de “bandidos”, e as “prostitutas”, a dançar Can-Can nos Salloons regados a litros de uísque. Estes, símbolos reais do homem e da mulher (padrão) da sociedade estadunidense.
O moralismo puritano criou, e o cinema ajudou a consolidar, os Tom Mixes, Gene Autrys, Roy Rogers e tantos outros esteriótipos do chamado mocinho bonzinho e perfeito... Tão perfeitos que ao se degladiarem com os bandidos “maus”, seus lenços não desamarravam, as fartas franjas de suas roupas não desfiavam ou rasgavam e seus chapéus sequer caiam. Foi a fase ingênua do western, num país também ingênuo, sem muitos questionamentos quanto ao seu modus vivendis. Pelo contrário, no auge de enaltecê-lo, chegaram a batizá-lo de “american way of life” e achar que era um exemplo para o mundo.
Mas é claro que isto passou. A partir da guerra do Vietnam os Estados Unidos descobriram um lado nada “puro” de sua sociedade. Heróis do comix, como o Super-Homem, passaram a ter clones maldosos, e, no próprio faroeste seus mocinhos fantasiados (prontos para entrar num carro alegórico de qualquer Escola de Samba), cederam seu lugar a um personagem ambíguo, sujo e maltratado pela aspereza de um ambiente hostil. Roupas empoeiradas, barba por fazer, guimba de cigarro pendurada no canto da boca, influência direta do western spaghetti e do despertar para uma auto-crítica como nação... Seus erros e fraquezas a transformá-los em homens comuns.
Neste ponto, “Os Imperdoáveis” é uma lição ao questionar estes valores. Os outros personagens, a começar pelo próprio Eastwood no papel de William Munny, um antigo pistoleiro aposentado, que se regenerara a partir de um casamento, tornando-se decadente após a viuvez, responsável por duas crianças órfãs de mãe, a criar porcos nos confins do Kansas. Um ex-assassino profissional, um homem “mau” que se arrependeu do passado cruel, mas que se vê tentado pela recompensa oferecida por prostitutas de uma pequena vila para vingar-se de alguns cowboys, especialmente o que marcou a faca o rosto de uma delas, deformando-a.
Mocinho ou bandido? Pela narrativa e pelo enfoque da história, William Munny é o “bom da fita” (ou mocinho). Mas será? Nos valores do western ingênuo seria o bandido. E aí o valor sociológico deste filme. Eastwood questiona a moral clássica da sociedade estadunidense passo a passo, a cada instante de sua narrativa. Uma obra prima como western. Uma obra prima como análise de um país e sua “moral”. Como diretor, e dada a sua experiência no gênero, Eastwood demonstra um senso de observação em detalhes e uma sutileza, que, quanto mais se assiste, mais se gosta e mais se aprende.
Ao colocar de ponta cabeça mitos do faroeste, aproxima-os muito mais de uma realidade plausível. Li em determinada ocasião um livro sobre aquele período histórico que diz que emboscadas e tiros pelas costas eram muito mais comuns do que os famosos duelos frente a frente, que a literatura novelesca de autores (na sua maioria medíocres), e o próprio cinema glamorizaram. Em “Os Imperdoáveis”, até o mito do direito de estar armado para morrer, tão vangloriado em historinhas do faroeste tomba por terra. Um sujeito é fuzilado na “casinha”, simplesmente fazendo suas “necessidades”, sentado, desarmado, completamente vulnerável e indefeso.
E o mais importante de tudo: a visão maniqueísta do bem e do mal... o bom e o mau, o “mocinho” e o “bandido”, mesclam-se em valores reais, palpáveis que mostram que nem sempre se pode ser apenas um ou outro, mas que todo ser humano por vezes é bom ou mau, dependendo das circunstâncias, momento ou ambiente em que vivem. Hoje, é o mocinho, mas amanhã... Bom, amanhã, se não tomar cuidado pode ser o bandido. E vice-versa.

(1) É importante ressaltar que neste universo também existia o “herói” solitário, que vinha de algum lugar, e, ao final, posta a ordem na cidade seguia o seu caminho errante. Um dos melhores exemplos deste tipo está em Shane (Os Brutos Tambem Amam) de George Stevens, 1953. Mas é fundamental levar em conta que este também é o “bonzinho”, cujo caráter é impecável.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dependendo do lugar, tudo pode

O primeiro turno das eleições afegãs foi vergonhoso e marcado por fraudes em quase dois milhões de votos. Agora com a desistência do candidato oposicionista, uma comissão eleitoral declarou o controverso Hamid Karzai, reeleito sem a necessidade de um segundo turno. E o mais grave, a constituição afegã não indica nenhum comportamento previsível quanto a situações deste tipo.
Ah, se isto fosse no Irã! Ou em qualquer outro país que não seja aliado dos Estados Unidos. Aliás, pelo contrário, o Irã realizou eleições nas quais, apesar de setores da imprensa ocidental acusarem irregularidades, nada ficou provado. Ficou sim, mais uma vez evidente que, para o império estadunidense, seus aliados podem tudo, seus adversários, nada.
Israel tem a “Bomba” e ninguem se opõe ao fato. Agora, o Afeganistão comete graves irregularidades no campo eleitoral e eles não comentam ou criticam absolutamente nada. Curioso (e até grotesco), mas é como se fosse normal roubar na contagem de milhões de votos. Desde que seja a favor da “democracia”, que não tem nada a ver com uma democracia de fato (1).
Não indo longe, as falcatruas de Bush, na recontagem de votos, mostrou que dentro de seu próprio território esta “democracia” é manipulada. Que o sistema eleitoral estadunidense de “colégios eleitorais” é uma imensa farsa repleta de fendas que permitem a corrupção e que adulteram a verdade direta das urnas e a vontade dos “cidadãos”.
Como farsa é tudo que cerca o chamado voto secreto universal e toda a montagem teatral amplamente divulgada pela mídia em torno deste grande engodo da mitologia ocidental contemporânea, a ilusão da “democracia”, que é apenas fruto dos interesses de grandes grupos econômicos e de suas finalidades lucrativas e monopolizadoras. A enganar as massas com a mera retórica de fachada e de mentiras repetidas milhões de vezes a tentarem se tornar verdades.
Está aí o Afeganistão como mais um exemplo de tudo isso.

(1) Tenho insistido nesta tese de que a “democracia” tal e qual a conhecemos hoje, é falsa e instituída a partir de necessidades das classes dominantes e do sistema capitalista visando os seus interesses imediatos de domínio econômico. E que a verdadeira democracia, é, na atual conjuntura inatingível. Leia em “A grande Utopia”, postado anteriormente no Pensatas, republicado neste blogue em 13/02/2009, e tambem em outros ensaios.

domingo, 1 de novembro de 2009

Sonho de domingo

Alice no País das Maravilhas. É muito difícil retratar ou interpretar esta história sem uma compreensão razoável do período histórico (Vitoriano) em que ela está inserida. O cinema, particularmente, destruiu bastante este caminho a partir da versão produzida pela Disney em 1951. Uma interpretação “pueril”, não infantil, mas infantilizada e superficial da obra bem mais profunda de Lewis Carroll. Além do mais, totalmente descaracterizada de um clima de época. Existem filmes, como Desventuras em Série (Lemony Snicket's. A Series of Unfortunate Events), de Brad Silberling (2004) que retratam bem mais a atmosfera típica daqueles anos góticos (1) que perduraram por um século inteiro.
Lewis Carroll era o pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson (1832/1899), matemático com cerca de uma dezena de obras cientificas publicadas entre 1860 e 1886 e alguns romances entre os anos de 1871 e 1888, incluindo os dois mais famosos, ambos tendo como personagem central a pré-adolescente Alice.
E justamente a passagem entre a infância e a adolescência é matéria de análise nesta personagem. Suas variações de tamanho, ao crescer ou diminuir, tentam analisar um lado psicológico típico desta conturbada fase da vida. E o sonho, como fuga numa Inglaterra monótona e sonolenta em busca de uma fantasia mais temperada e emocionante dão o toque final.
Entretanto é importante esta abordagem naquela sociedade excessivamente moralista. Quando, no início do livro, Alice está no campo, quase a adormecer ao lado da irmã, e surge um coelho vestido com trajes humanos a consultar um relógio, aflito, começa uma louca corrida em busca do novo e do sonho e a sua ruptura, ao despencar num mundo fantasioso e crítico em relação aos costumes de então.
Carroll questiona a partir daí a dura e típica educação de uma criança no período abordado. Alice passa a ter um comportamento diverso do que estabeleciam o pensamento e as exigências do rigoroso padrão vigente. Mesmo sendo, na realidade um sonho, ao encontrar um mundo às avessas, em que existiam rainhas loucas (e sem autoridade), chapeleiros (que acham que o tempo parou) e gatos risonhos, Alice desbanca a rígida moral da época, ao colocar em cheque instituições a princípio intocáveis. E descobre um mundo mágico em Alice’s Wonderland.
Mas quando falo tudo isto é porque ontem assisti ao trailer de um filme a ser lançado em março do próximo ano, em nova versão do romance de Carroll. E, pelo visual, creio estar muito mais inserida no contexto e ambientação Vitorianos do que filmes como o de Walt Disney – muito embora, e curiosamente, seja produzido pelos Estúdios Disney, hoje uma indústria mais eclética do que à época da versão “infantilóide” anterior.
Claro que será necessário conferir, assistindo o filme de Tim Burton, mas a primeira impressão que ficou, pelo trailer, foi esta. O que pode nos dar a esperança de que fantasias devem ser fiéis ao seu original... Ou será apenas um sonho de domingo?

(1) Apesar dos romances de Daniel Handler (que originaram o filme) serem ambientados em país ou locais fictícios e atemporais, a densidade opressiva captada em Desventuras em Série é um bom exemplo simbólico da moral dominante na Inglaterra ao tempo da Rainha Vitória.