segunda-feira, 29 de junho de 2009

Oficinas literárias de Antônio Torres

Reproduzo o texto que me foi encaminhado com o programa das oficinas literárias ministradas por Antônio Torres (1) na Casa do Saber do Rio de Janeiro (2), que vão acontecer nas terças-feiras às 19 horas durante o mês de julho. Caso tenha interesse, corra para se inscrever pois as vagas já são poucas. O endereço e os telefones estão no final desta postagem:

“Desde Dom Quixote, cuja primeira parte data de 1605, o romance tornou-se um espaço entre a ficção e a biografia, e um território entre o real e a imaginação, sendo tudo isso ao mesmo tempo e nada disso, levando o leitor ao terreno da dúvida. O gênero cresceu na Inglaterra com a revolução industrial, no século 18, e chegou ao apogeu no século 19, pelo conjunto da obra de um elenco de gigantes (Tolstoi, Dostoievski, Dickens, Flaubert, Balzac, Sthendal, Eça de Queirós, Machado de Assis...) No século 20 teve sua estrutura virada pelo avesso, a partir das inovações formais e estilísticas introduzidas por James Joyce. Depois de todas as experimentações que sofreu daí em diante, e já com sua morte tantas vezes anunciada, afinal, qual o romance que se quer ler (ou escrever) hoje? Apenas uma velha e boa história bem contada? E mais: alguns segredos da criação de um romance, do título ao ponto final.

4 aulas

7 JUL – Breve introdução ao gênero, sua história, desenvolvimento e impasses na contemporaneidade. Títulos, inícios e finais de romances memoráveis. A criação de personagens, dos diálogos, e a relação tempo cronológico-tempo psicológico. O narrador. Leitura em voz alta pelos participantes de um capítulo exemplar de romance. Impressões sobre o texto lido. O romance que cada um gostaria de ter escrito. E o que tem na cabeça – ou na gaveta – e nunca teve coragem de contar.

14 JUL – A estratégia narrativa e a originalidade de Memórias póstumas de Brás Cubas, o romance dentro do romance, exemplo de obra literária do século 19 cujas inovações continuarão causando impacto pelos séculos afora. Leitura de alguns de seus capítulos. Exibição de trechos da adaptação do livro para o cinema, por André Klotzel. Confabulações em torno da construção e do texto machadiano, do Rio e da sociedade brasileira na visão ao mesmo tempo irônica e melancólica do autor.

21 JUL – Outro caso exemplar de estratégia narrativa. Este, do século 20: O Grande Gatsby, no qual Scott Fitzgerald atingiu a quintessência do seu sonho de arte e beleza. Está tudo lá: ritmo, cadência, e a comprovação de uma crença do autor de que “ação é personagem”. E, em vez da ironia machadiana, a prosa melódica da era do jazz; em vez do toque de melancolia por trás do riso de Brás Cubas, que se narra, o olhar de desencanto do narrador diante da misteriosa opulência de Gatsby, e, por extensão, das extravagâncias da sociedade norte-americana do primeiro pós-guerra, como se antevisse o desfecho trágico que deu no crack de 1929 e na depressão dos anos de 1930, de que hoje tanto se fala. Leitura em voz alta de trechos do pequeno grande romance de Scott Fitzgerald. Comentários.

28 JUL – Século 21: a desconstrução das formas canônicas, quando o romance prima pela incorporação de outros gêneros à sua estrutura, como o ensaio, a reportagem, a biografia etc., o que já vinha acontecendo no século anterior, mas agora parece dominar o cenário literário, sobretudo o brasileiro. Caso a ser analisado: O filho eterno, que ganhou praticamente todos os prêmios nacionais, levando o autor, Cristóvão Tezza, a ser distinguido com o Faz a diferença do jornal O Globo, este ano. Em foco: quando o real leva à invenção a atingir o status romanesco. Podem as vivências particulares resultar em histórias de interesse geral? O que faz a diferença entre a realidade e a ficção, ou mesmo entre um romance e outro? - considerando-se este outro o que desperta o interesse da crítica e do público. Comentários finais, envolvendo os participantes do curso.”

(1) Antônio Torres (que tenho o prazer de conhecer pessoalmente), para além de ter exercido funções de Diretor de Criação e Redator em agências de publicidade no Rio e São Paulo, por exemplo: Salles, Denison, Lintas, é autor de livros como Um cão uivando para a lua, Os homens dos pés redondos, Essa terra, Carta ao bispo, Adeus, velho, Balada da infância perdida, Um táxi para Viena d’Áustria, O centro das nossas desatenções, O cachorro e o lobo, O circo no Brasil, Meninos, eu conto, Meu querido canibal, O Nobre Sequestrador, Pelo Fundo da Agulha, Sobre pessoas, entre outros. Tem suas obras publicados na Argentina, além de França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Estados Unidos, Israel, Holanda, Espanha e Portugal.
Foi agraciado como “Chevalier des Arts et des Lettres” pelo governo francês.

(2) A Casa do Saber fica na Avenida Epitácio Pessoa, 1.164 – Lagoa - Tel. (21) 2227-2237

domingo, 28 de junho de 2009

Pensatas de domingo

Coincidência. A bela e a fera morreram no mesmo dia

Morreu a bela Farrah Fawcett, ex-Majors (1), 62 anos e que ficou famosa pelo seriado “As Panteras” (Charlie’s Angels – 1976/81 [2]) – e um penteado que virou moda nos anos 1970. Morreu também a fera Michael Jackson (3), às vésperas de completar 51 anos. Ambos no último dia 25.
No meu entender a mídia passou um pouco dos limites na cobertura ao acontecimento, da morte de Jackson, naturalmente aproveitando para nos esquecermos os escândalos do Senado e otras cositas más. Houve um dia em que desliguei o noticiário porque eu já não aguentava mais aquela overdose. Parece até que queriam nos matar do mesmo mal que acabou com ele.
A coitadinha da pantera – atriz que atuou muito mais na TV do que no cinema – acabou tendo a sua morte revelada em breves noticias (em média de 15 segundos) nos telejornais. E até o belíssimo gol de Daniel Alves na semifinal da Copa das Confederações acabou sendo uma notinha qualquer.

Que susto!

Estava a andar pela avenida Copacabana, quando ao dobrar a esquina da Constante Ramos fui atacado por uma mulher feia, mas feia, muito feia. Um coque, uma roupa comprida, uma gola estranha. Enfim, um tipo que parecia “Mama Chucrutz” das historinhas em quadrinhos dos “Sobrinhos do Capitão” que lia nos gibis da vida quando garoto.
Desagradável encarar um tipo daquele. O diabo da criatura subitamente estendeu a mão em direção ao meu rosto com um papel que, juro, nem cheguei a ver direito o que tinha escrito e lascou em alto e bom som ferindo os meus tímpanos: “Jesus te ama!” Ao que eu, de pronto, encarando a grotesca criatura repliquei: “Pois eu não amo Jesus!”. Poucas vezes sai tão feliz de um incidente deste tipo na rua.

Não confundir elogio com paquera

Um caso oposto. Semana passada no metrô entrou no vagão em que eu estava uma das mais belas mulheres que já vi na vida. Juro que não sou um “galinha”. Bem casado há 36 anos e meio, amo sinceramente minha mulher. Mas... Bom, fiquei imediatamente apaixonado pelo charme e o perfume que contaminavam aqueles que ali estavam.
Ao levantar para sair, não resisti. Olhei para ela que estava num banco daqueles laterais bem à minha frente e disse: “Por favor... isto não é uma cantada... é um elogio sincero! Você é um charme”. Ela sorriu timidamente e agradeceu. Além de charmosa era uma mulher educada.

O imperador do Maranhão

José Sarney (4) deveria ser processado (e preso) por tudo de mal que fez e ainda faz a este país (ao longo de mais de quatro décadas). E dizer que exerceu o cargo máximo da República!!! Bom, isto também não é grande novidade. A classe política brasileira é pura corrupção. Consegue ser mais do que a dos Estados Unidos, país que sempre teve uma classe política muito corrompida que criou e instituiu o lobby. A origem disso é que lá eles teem que fazer suas falcatruas na surdina, porque senão são punidos. E aqui? Aqui a impunidade é uma instituição não somente para os políticos como as elites como um todo.

(1) Majors porque foi casada com Lee Majors, conhecido ator nas décadas de 1960/70 por interpretar o homem biônico no seriado que no Brasil foi exibido como “O Homem de Seis Milhões de Dólares”.
(2) Não confundir com o remake atualmente em exibição.
(3) Fera no sentido figurativo porque sua obra inegavelmente foi marcante. Fera de verdade porque seu desejo de tornar-se um “white man” o deformou de tal forma chegando ao ponto de torna-lo um verdadeiro monstro. Lindinho em criança, depois de adulto, demonstrou seu lado tarado e pedófilo.
(4) A última de Sarney, é ter sido descoberto que emprega na sua assessoria uma funcionária fantasma: Vânia Lins Uchôa Lopes protegida do senador Renan Calheiros. Casada com um suposto “laranja” deste (Tito Uchoa), foi contratada como assessora técnica da presidência do Senado em abril de 2005, quando Renan ocupava o cargo. Ela recebe seu salário sem comparecer ao Senado.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Origem da ditadura no ocidente

Originalmente postado no “Pensatas” em 30/12/2007 com o título de “Desgraças a deus”, republiquei neste blogue em 10 de janeiro deste ano. Estou a reedita-lo (1) mais uma vez porque este texto esclarece muito do que escrevi no recente artigo “Complexo de Javé”.

Sempre tive em mente o quanto as religiões monoteístas são – ou propiciam – o totalitarismo. Não foi por acaso que a democracia surgiu na Grécia, cuja crença religiosa era politeísta. A existência de um poder tão grande concentrado numa só “divindade” é uma base sólida para a visão da ditadura e do próprio culto à personalidade como uma consequência natural e compreensível, por estar enraizada no raciocínio vulgar.
Curiosamente no Olimpo, as coisas às vezes se complicavam, e o próprio Zeus, em toda sua magnitude, se via às voltas com divergências e revoltas. Sua palavra tinha que ser respeitada a partir de um posicionamento de seus pensamentos, tendo que convencer seus adversários com argumentos e lógica, não apenas pelo seu poder intrínseco. Quando a democracia de Aristóteles desenvolveu-se por terras helênicas em tempos distantes, este raciocínio era tão claro quanto dois e dois são quatro.
O mundo ocidental contemporâneo, infelizmente está focado em uma nada santa trindade: as religiões que se formaram a partir de Javé, ou Jeová, ou ainda “daquele que não se pronuncia o nome”, segundo a própria Bíblia. Podemos situá-las a partir do judaísmo, estendendo-se pelo cristianismo e culminando com o islamismo, religiões sempre em guerra entre si, apesar de suas origens comuns. Mais uma prova de que a “verdade” tem que também ser única e exclusiva, partindo de sua própria determinação. Mais uma evidência do quanto são fundamentalistas e radicais, sanguinárias e retaliatórias em seus sentidos totalitários.
“Satanizada” nos tempos atuais, a “guerra santa” dos mulçumanos, pouca diferença faz das cruzadas cristãs que buscavam conquistar terras que não lhes pertenciam. Ademais, a inquisição da santa madre igreja romana perseguiu os judeus em nome de Cristo, como eles, um hebreu. E o sionismo fanático estabeleceu a volta do “povo eleito” a terras que ocuparam em tempos que a memória pouco se lembra, a não ser pelos escritos em seus “livros sagrados”, fazendo-os marginalizar e exterminar os habitantes locais, como se estrangeiros fossem, quando na realidade são irmãos, tão semitas em sua formação étnica quanto eles em suas origens. Uma reprodução atualizada do episódio de Caim e Abel.
Em resumo, a história dessas três religiões, tem sido uma sequência de discriminações e atrocidades, perseguições e genocídios. A tentativa de impor uma crença sobre as outras, originou um comportamento sectário e consolidou a tendência ao pensamento único, origem de distorções a exemplo do nazismo, do stalinismo ou da imposição da ficcional “democracia” a partir do modelo ianque. Como se democracia pudesse surgir e se consolidar pela força das armas. Invasões, extermínios e barbaridades cometidos pelos seus defensores foram e são acobertadas como consequência “natural” e cultural da aceitação à idéia de um deus único, poderoso e vingativo, cuja “verdade” absoluta tem que prevalecer a qualquer custo.
Por isso, toda vez que ouço a frase “graças a deus”, eu me lembro que, vivendo em um mundo tão cruel, como este que infelizmente ajudamos a criar, o que deveria se dizer é “desgraças a deus”, pois, em seu nome e através de suas palavras todos os infortúnios têm acontecido.

Adendos em janeiro de 2009

Achei importante ressaltar que as religiões de origem africana, tão comuns em nosso país também são muito democráticas, até por serem também politeístas. Nelas, inclusive, o maniqueísmo está distante, pois seus deuses são bons e maus, dependendo de circunstâncias e momentos. Isto é muito civilizado. O que vem a provar que os povos que habitavam o chamado “continente negro” eram muito evoluídos em relação a nós ocidentais. Outro detalhe: quando falo de Javé, ou Jeová, ou ainda “daquele que não se pronuncia o nome”, estou a falar daquele que no Tanach (o antigo testamento dos hebraicos) é Yahveh, que significa “ser” ou “existir”, ou ainda “a origem de todas as coisas”. O que apenas vem a reforçar a minha tese de totalitarismo a partir do raciocínio religioso, possibilitando a plena aceitação por parte dos crentes de um líder, um dirigente máximo, um presidente que seja, mas um ditador, mandante supremo, ou seja lá o diabo do nome que tenha.

Adendos em junho de 2009

O “complexo de Javé” é uma designação recente, pois quando escrevia o artigo cujo título era o mesmo deste, pensei nele e gostei tanto que resolvi tranforma-lo em título.
No entanto é importante é importante lembrar que isto não pode ser generalizado. Por exemplo, os romanos (pré-cristãos) tiveram ditadores e eram politeístas. O que defendo é a tese de que o monoteísmo facilita a aceitação de um ditador, porque culturalmente o seu deus já é absoluto, “cria(dita)dor do céu e da terra”...

(1) Com uma revisão, principalmente originada pelas mudanças adotadas pela nova ortografia.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Historinha “politicamente correta”

Tínhamos um interfone branco que quebrou. Resolvemos trocá-lo e compramos um outro. Todavia, o encaixe dos fios era completamente diferente, o que nos fez devolve-lo na loja, trocando por outros produtos, pelo fato de não existir nenhum similar que se adequasse ao nosso caso e por não devolverem o dinheiro, nem com a nota fiscal.
Procurei em outras lojas, mas os que encontrei (cujo encaixe dos fios coincidiam com o anterior) eram bem mais caros. E enormes rm tamano. Descobri que no prédio em que moramos, o interfone é na realidade um telefone comum, pois liga não somente para a portaria – o que é o normal na maioria deles que se comunica apenas com a portaria, – como diretamente para qualquer apartamento.
Lembrei de um telefone que tínhamos, devida e cuidadosamente guardado. Experimentei e deu tudo certo. Só que, coisa de mulher, a minha cismou pelo fato dele ficar pendurado – pois não era um modelo apropriado para fixar na parede – e porque a cor a destoar completamente do azulejo branco na cozinha, pois tratava-se de um telefone “afro-descendente”...
Pouco tempo depois, ela conseguiu também uma solução criativa, ao ter a ideia de colocar o aparelho numa “caixinha” rústica de madeira, que fixamos na parede e funcionou como um porta-telefone. Em cima desta entrou um “delicado patinho” de louça olhando para baixo e um “raminho” de folhas artificiais. Com este toque final de decoradora, a coisa ficou uma “gracinha”! Uso estas expressões sem nenhuma conotação que me alinhe em algum tipo de “diversidade sexual”. E sim porque a caixa é pequena e ficou linda mesmo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Complexo de Javé

Os povos pagãos primitivos viviam sem se preocupar com “salvação” ou “condenação”. Acreditavam que os deuses existiam, governavam o mundo e seus fenômenos (inexplicáveis). Ofereciam adorações e/ou sacrifícios de acordo com a cultura de cada povo. Acrescente-se que no caso desses deuses pagãos pré-históricos não se supunham nem se investigavam as suas origens.
Mesmo na Antiguidade o politeísmo dominava. Tanto na Grécia quanto no Egito ou até entre os persas. No caso destes, o zoroastrismo pregava duas divindades: Aúra Masda (o criador) e Arimane (o destruidor). Algo, guardada as devidas proporções, como as imagens de deus e do diabo (1).
Pelo que consta, os hebreus formaram a primeira civilização monoteísta na história da humanidade. A idéia de um único deus era estranha à mente humana. A nova religião monoteísta destacava-se porque pregava este um só deus, e, apesar de manter os sacrifícios e outros rituais comuns à época aboliram a adoração a imagens e ídolos.
O certo é que as demais religiões monoteístas ocidentais se originam deste tronco.
Mas aí reside o problema mais grave. E certamente o principal. Mais de uma vez já toquei neste assunto e insisto em sustentar que o conceito de ditaduras – como as conhecemos – está justamente no exemplo deste deus onipresente, onipotente, punitivo. Um tirano cruel e sanguinário dotado do poder de criar ou destruir qualquer coisa que seja.
Se pararmos para pensar, conseguiremos associar, sem grandes esforços, um Hitler, um Stalin, um Idi Amin (2), um Vargas, como qualquer outro “grande” ou “pequeno” ditador, como criados e inspirados no “complexo de Javé” (3), pelo fato de serem aceitos e venerados pelos seus fiéis “cordeirinhos”, pois culturalmente já estão habituados a aceitar este tipo de domínio sobre suas pobres “almas” (4).
Imagine-se mais de quatro mil anos em que essa mentalidade foi crescendo mundo afora, ampliando-se com o cristianismo e o islamismo chegando ao ponto de hoje, os que se dizem “democratas” elegerem o seu “deus” governante. Seja um presidente ou o nome que tenha.
Ou aqueles que seguem as ordens do “representante” deste deus e líder máximo na Terra, o imperador (também chamado de papa), mas na verdade o grande ditador da Igreja Universal (5) Apostólica Romana.
E como a origem do deus é a mesma, garanto que há poucas diferenças entre o pensamento e a ação de Barack Osama e Obama Bin Laden. Isso mesmo, são tão semelhantes entre si quanto se confundem os seus nomes, farinha do mesmo saco.

(1) A diferença é que no caso persa eram duas divindades surgidas em simultâneo. Ao passo que segundo crenças e dogmas monoteístas, deus veio primeiro (ou melhor, nunca veio porque sempre esteve), e, num ato de revolta, Lúcifer foi banido de seu reino. Afinal, ditadores não aceitam oposições.
(2) São conhecidas as atrocidades de Hitler e Stalin pela importância histórica de ambos no contexto geral do século passado. Mas é importante lembrar que Idi Amin, como Javé mandava os pobres mortais para o inferno. Ente as tantas conhecidas tem aquela em que o “deusinho" alimentava, engordava e jogava os seus “pecadores” num poço repleto de crocodilos. Estes famintos, claro!
(3) Javé (ou Jeová) é uma corruptela de Yaveh... que quer dizer “aquele que é, foi e será”. Como os hebreus não podiam pronunciar o nome de seu deus, passaram a chama-lo por esta frase.
(4) As tão comuns expressões “graças a deus”, “se deus quiser”, “foi a vontade de deus” e tantas similares refletem esta impotência do ser humano frente à ditadura imposta pelo “complexo de Javé”. É como se ninguém tivesse forças para obter suas vitórias ou ser perdoados pelas suas derrotas. Nessas horas penso o quanto ainda somos atrasados, primitivos mesmo.
(5) Católica vem do grego "katholikos", que quer dizer, “para todos” ou simplesmente “universal”. Como aquela do bispo Macedo: a Igreja Católica do Reino de Deus.

domingo, 21 de junho de 2009

Pensatas pra rir e chorar

Hoje vou falar de um Huck (1) que não fica verde, mas de vez em quando “pau da vida”, quando contrariado... E também de um Sarney (2). Nunca duvidei de certas artimanhas da “figura”. Todavia, será que alguém ainda acredita no “coroné” fora dos limites de seu feudo no atrasado Maranhão?

O incrível Huck
Uma das mais ridículas emissoras de TV colocou no ar reprise da “Escolinha do Barulho” em que Luciano Huck era o professor. O também ridículo apresentador televisivo reclamou alegando que a emissora levou ao ar um programa de mais de 10 anos atrás, na realidade um plágio fajuto da “Escolinha do Professor Raimundo” com Chico Anysio. Coisa que acontece até hoje...
No protesto disse que poderiam ter tido a elegância de pedir a sua autorização. E continuou: “Pensem muito antes de trabalhar com gente que pode se aproveitar de você no futuro. Achei um desrespeito”. A emissora respondeu que foi uma “homenagem” a Luciano Huck e que a Câmera 5, produtora do programa, tem os direitos de exibição de imagem.
Esta é para rir. Melhor dizendo: pra chorar de rir. Como se o incrivelmente medíocre programa que este tal de Huck tem hoje na TV, não fosse a cópia de programetes similares – tão ruins ou piores – que existem por aí nas emissoras abertas, e que surgiram neste país desde que a televisão foi implantada comercialmente em 1950. Palhaçadas destinadas a emburrecer, em processo das elites para alienar a população.

Os escândalos secretos do Senado
O “filhote da ditadura” José Sarney, subiu à tribuna do Congresso para falar dos escândalos que atingem a instituição desde que ele assumiu o cargo de Presidente do Senado. Cobrado, Sarney disse que a crise não era dele e sim da Casa.
Este último escândalo envolve mais de 500 atos secretos (3) publicados ao longo de 14 anos no Senado, e que foram usados para nomear, exonerar e aumentar salários de pessoas ligadas à direção da Casa. De cara, ele afastou dos quadros do Senado sua sobrinha Vera Portela Macieira Borges, lotada no gabinete do senador Delcídio Amaral.
Sarney também teve um neto nomeado no gabinete do senador Epitácio Cafeteira por ato secreto. E uma sobrinha, Maria do Carmo de Castro Macieira, nomeada pelo mesmo tipo de ato, esta para o gabinete de sua filha Roseana Sarney, então no Congresso.
Em seu discurso alegou que não sabia (4) que Cafeteira tinha empregado seu neto, alegando que pediu ao senador Delcídio que uma sobrinha da sua mulher, fosse designada para o gabinete dele. “Eu não pedi e não sabia”, alegou (5). O fato é que quinta-feira surgiu mais um nome – na lista de parentes do “clã Sarney” – empregados no Senado, subindo para um total de oito. Até ontem.
Além disso, saiu ontem no blogue do Josias (Folha de São Paulo) a notícia de que o contracheque do mordomo da casa que Roseana Sarney mantém em Brasília é pago pelo Senado. O empregado cuja sugestiva alcunha é “Secreta”, percebe um singelo salário mensal de R$ 12.000,00 (doze mil reais).
Pressionado por políticos da situação, da oposição, pela imprensa e a opinião pública após mais este gigantesco escândalo, “Sir Ney” (6) não teve outra saída senão instalar uma comissão de sindicância para apurar as denúncias de que esses atos eram publicados por ordem de diretores e/ou ex-diretores. A secretaria de Imprensa do Senado divulgou que irá apurar estas denúncias num prazo de sete dias.
E para fechar com chave de ouro, segue um texto publicado no blogue da Tribuna da Imprensa, (leia-se Hélio Fernandes): “... Sarney assume a presidência do Senado pela terceira vez, está lá desde 1970, sabe de tudo, (da ‘casa’ e dos senadores) vai para a tribuna, engana a todos, faz uma porção de frases de efeito, sai como o herói sem nenhum caráter. 4 frases. 1- ‘A crise não é minha, é do Senado’. 2- ‘Não é só do Brasil, é da democracia e do mundo’. 3- ‘Querem destruir o Legislativo, qual a razão?’ 4- ‘Ninguém no Brasil pode JULGAR UM HOMEM COMO EU’.”(sic). Ao que acrescento: Só rindo pra não chorar!

(1) Não confundir com o Incrível Hulk, um personagem das HQ que virou seriado de TV e alguns filmecos computadorizados por aí.
(2) O dia em que Sarney entrou para a Academia Brasileira de Letras e vestiu o “fardão” eu passei a descreditar completamente (repito, completamente) daquela entidade.
(3) A terminologia já é escandalosa por si só.
(4) Republiqueta curiosa a nossa. Afinal, ninguém nunca sabe de nada...
(5) Idem, ibidem.
(6) Relembrando os tempos em que Millôr criou este apelido para definir o caráter elitista do último presidente do Brasil, (embora “civil”) herdeiro da era militar.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Vigo ao vivo e a cores

Falei tanto em Vigo que me deu vontade de publicar algumas fotos desta muy linda ciudad de España.
Na primeira delas, encontrei um grupo de danças galegas e sugeri fazer uma fotos com eles, mas apenas uma ficou. Podem notar os demais atrás.

Na segunda, Virgínia no Parque Os Castros, tão bela quanto o belo visual que fica bem no centro da cidade, próximo à Gran Via. Porque toda cidade espanhola que se preze tem que ter uma avenida com este nome.
E abaixo, uma foto captada na internet com uma vista da baía de Vigo, e parte da cidade, incluindo o porto.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Caliente Galícia

Conheci bem a Galícia (que os lusos chamam de Galiza). Sua proximidade com a cidade do Porto nos empurrava atrás de um modo de vida más caliente bem pertinho de nós. Gostava muito de Portugal, mas, sem dúvida nenhuma, para nós brasileiros, a Espanha tem um “agito” com o qual nos identificamos; que nos agrada e encanta.
De todas as cidades galegas, a que mais vezes fomos foi Vigo. Primeiro porque sua beleza natural é inconfundível. E em seguida porque íamos ao Consulado português onde corriam os nossos processos de legalização da permanência em terras de Portugal. Ficávamos sempre no Hotel Compostela – bem próximo ao centro da cidade –, ao lado do ancoradouro de barcos e iates. Algumas vezes ficamos em um quarto no último andar (uma água furtada), e, pela manhã, as gaivotas nos acordavam com sua agitação matinal. Lindo... de ver e ouvir!
Mas, Vigo tem também uma baía muy hermosa. Quando se atravessa a exuberante ponte pênsil na autorota, o visual é de um azul profundo, e o mar repleto de barcaças, também repletas de frutos do mar. Vigo é um dos maiores centros produtores dos crustáceos e moluscos de toda a Espanha. Surpreendentemente a melhor paella à valenciana que eu comi foi lá, e não em Valencia.
No entanto, não é somente a baía de Vigo que é tão bela assim. Todo o litoral galego é esplendoroso. Sua costa é um privilégio dos que a habitam e dos que a conhecem. E o interior? O verde, tão raro em outras regiões de uma Espanha semi-árida, compensa-se por inteiro na Galicia. Aliás, uma característica de todo o norte daquele país, o que inclui tambem a região basca e o Principado de Astúrias.
Santiago de Compostela e La Coruña também são cidades imperdíveis. Apesar do “fanatismo” e do “esoterismo” (1) religiosos, Santiago, como contraponto é um importante centro universitário e suas ruelas antigas respiram cultura e saber. O mais impressionante é que você pisa em um solo onde tantas gerações pisaram, estudaram, aprenderam, ensinaram. Amadureceram conhecimento humano e lógico, filosófico e matemático... A outra, em galego “A Coruña”, é também uma cidade abençoada pelos deuses. Somente a Torre de Hércules, monumento romano do século I, inteirinha até hoje, prova sua importância histórica.
A música é outra característica marcante da Galicia. Seu ritmo lembra a melodia irlandesa, característica, sem dúvida, da presença céltica em ambos os países. A gaita de fole, muito semelhante à usada pelos escoceses tem um som que nos envolve por completo. E, finalizando, a Fala (2), o que mais nos aproxima do galego. A Fala é muito mais próxima do português que do castelhano. Mujer é mulher. E, curiosamente trocam o “J” pelo “X” . Como Ximenes, ao invés de Jimenes. Ou Xunta de Galicia, ao invés de Junta de Galicia.
Assim é a Galícia. Um pedaço da Espanha que nós tivemos a oportunidade de conhecer muito bem. E deixou saudades; numa verdadeira paixão pelo calor do seu povo amável, que nos marcou o coração, ou pelas paisagens que ficaram gravadas em nossas retinas. Para sempre.

(1) É bom lembrar que Paulo Coelho (o picareta que deu certo) escreveu sobre o conhecido caminho de Santiago e começou a sua grande decolagem como “fenômeno literário” a partir daí.
(2) O galego é uma forma evoluída do galego-português (cujas origens remontam ao século IX). Com algumas influências do castelhano e umas poucas formas e traços próprios não existentes em português, alguns da língua original que desapareceram do português contemporâneo, outros fruto da evolução do próprio galego. Existem todos os anos encontros e comemorações da “Fala”, em que se apresentam intelectuais, poetas, cantores e compositores brasileiros, portugueses e de outros povos que teem o português como língua oficial.

sábado, 13 de junho de 2009

Pensatas de todos os dias

Um dos melhores anúncios que conheci, foi, sem dúvida nenhuma “Abaixo o Dia das Mães”, criação de Neil Ferreira, Carlos Wagner de Moraes e Jarbas José de Souza (1) publicado em 1969, que foi muito comentado à época. A referida – e brilhante – peça partia do princípio elementar de que mãe não tem dia, porque todo dia é o dia das mães, tese defendida em seu texto.
Sempre achei que as grandes idéias são simples. Simples no seu conceito, simples porque estão ali, nos olhos da gente, bem no nariz da gente. O anúncio foi assunto não somente no meio publicitário, como pela população em geral. Por quê? Bom, imaginem só um dia de “babação de ovo” com anúncios – na maioria piegas – tecendo elogios à “mamãe lindinha” ou “mãe querida”, etc, etc, dar de cara com um título em letras garrafais e um excelente leiaute com um tema tão polêmico? Chocante!
E me refiro a este título magistral, justamente porque nos tempos pelos quais passamos, os “Dia Disso”, “Dia Daquilo” se transformaram pura e simplesmente no “Dia do Cifrão”. Os capitalistas, os Ebenezer Scrooge (2) da vida criaram uma parafernália circense de dias comemorativos em que reinam apenas os fantasmas do lucro ganancioso; a quase obrigação de alguém consumir qualquer coisa para presentear outro alguém, numa orgia surubática de consumo desenfreado.
Lembremo-nos que um beijo sincero e afetuoso ou um singelo cartão amoroso, o despendio de algum tempo criando alguma forma de homenagear alguém são muito mais valiosos do que o simples fato de entrar numa loja e adquirir seja lá o que for, pela simples razão de exibir o quanto se gastou em um presente qualquer. Como diz uma campanha publicitária que circula por aí: “... existem coisas que não teem preço”.
Abaixo o Dia do Cifrão!

(1) Publicitários que revolucionaram a comunicação no país a partir de seu trabalho na Norton, abrindo novos caminhos e campanhas memoráveis como a do “Conhaque do Papa” e outras inesquecíveis...
(2) O rico e avarento personagem da conhecida obra de Charles Dickens: “Um conto de natal” (A Christmas Carol).

Nota ao pé da página: não me considero um moralista. Esta crítica é tão somente um posicionamento quanto ao sistema em sua sede ambiciosa por lucros, que transformam o indivíduo em um ser irracional que comete seus atos consumistas sem pensar, sem refletir, movido apenas pela lavagem cerebral e a força massificante da mídia na vulgarização dos costumes.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Outras de São Paulo

Uma pizza no Paulino tinha o seu lugar. A massa era finíssima, e também deliciosa. Essa pizzaria eu sei que não existe mais, pois em seu lugar, na avenida Rebouças, foi construída uma conhecida churrascaria chamada Vento Aragano. Mas que era gostoso comer uma pizza na varanda do Paulino, e apreciar o pôr-do-sol numa tarde bucólica de domingo, lá isso era.

Mais uma pizza. Na Freguesia do Ó. Sim, aquela mesma da música do “punk da periferia”. Estive lá com um tio que morava em São Paulo. E me levou porque havia gostado da pizzaria que ficava bem no largo de Nossa Senhora do Ó, onde existe uma igreja do mesmo nome. O ponto alto mesmo era a vista. Fomos à noite e víamos boa parte da cidade aos nossos pés. Era uma boa pizza, embora tenham melhores em Sampa. Mas com aquele visual era indiscutivelmente uma especiaria. E olha que na época nem existia a tal música...

O Mingau era uma lanchonete na rua Augusta, que com certeza não está lá hoje (1). Frequentava muito quando ali morei entre 1969 e 70. Tinha um Beirute que parecia mesmo um jantar. E uma infinidade de outros sanduíches nas categorias filezinho ou hambúrguer, que sai da frente. E um detalhe, o preço era mais apetitoso ainda. Sempre acompanhava com uma cervejinha, porque não servia chope. Na época era a Ouro Branco, uma lourinha mineira que deixou de ser fabricada, mas então era moda...

L'Osteria Del Generale, na rua Pamplona, para além da excelente cozinha italiana, é decorada com camisas de times de futebol penduradas no teto. Só conheci este restaurante em 2000 quando fui atender um cliente (da agência em que trabalhava) cuja sede era São Paulo. À noite, por ser próxima do hotel, acabei indo jantar lá. Não lembro exatamente la pasta que comi, mas era excelente. Juro!

(1) Passei lá em 2004 e havia outra lanchonete no mesmo local: rua Augusta esquina de Antônio Carlos, esta última, a rua em que eu morei.

domingo, 7 de junho de 2009

Pensatas de domingo

Lembrei-me de um filme que assisti há tempos, e, na época achei surrealista Nunca pensei que fosse se tornar tão real. Trata-se de Pequenos Assassinatos (Little Murders), de 1971, dirigido por Alan Arkin, e estrelando Elliot Gold, além do próprio diretor. Esta Pensata foi originalmente publicada em fevereiro de 2007.

O filme retrata o terror que se instala em uma cidade dos Estados Unidos a partir do momento em que as pessoas, na santa paz de seus lares, começam a receber tiros, sabe-se lá de onde ou por que. Vivemos, hoje, uma situação, se não exata, pelo menos muito semelhante. Outro dia, assistindo a um telejornal, o locutor afirmava que, saímos de casa, mas não sabemos se vamos voltar.
Incrível, mas o mundo, e o Brasil muito em particular, transformou-se num campo de batalha. A “barbárie” em que vivemos, nos levou, por vezes, a ter medo de sair. À noite, nem se fala.
Estava recentemente a trocar e-mails com um primo de Salvador, e nos recordávamos do tempo em que vagávamos pelas tortuosas ruas daquela cidade, ao voltar do cinema ou de encontros com amigos. A pé, e à noite. Não havia o menor receio de coisa alguma. Na verdade, nem olhávamos se tinha alguém parado na próxima esquina. E se tivesse, nem era conosco.
Aliás, na mesma época, aqui no Rio de Janeiro, cansei de voltar de Copacabana, também a pé, atravessando o Túnel Velho, bem embaixo da favela da Ladeira dos Tabajaras (1), após tomar mais chopes do que meu bolso permitia, naqueles tempos em que era estudante e vivia de mesada.
Vai fazer uma coisa dessas hoje em dia! Aliás, as pessoas nem pensam na hipótese. Quem está de carro, fica fechado, mal parando nos sinais de trânsito. Às vezes, não saem de carro à noite, preferindo um táxi. Ali, ficam mais seguras e incógnitas. Seu padrão de vida não fica tão evidente. Afinal de contas, não é preciso ser rico para se pegar um táxi.
O pior é que se fala muito em repressão, em reforço policial, nisso e naquilo. Mas, e as origens do problema? E os quinhentos anos de colonização, de pobreza x ostentação? Obviamente é mais fácil matar, é mais seguro eliminar o sujeito, não a causa. Concordo até que, de imediato fica difícil. Sarar uma ferida tão antiga, não é coisa que se cure da noite para o dia.
Os governantes sempre usam uma retórica demagógica, em que até parece que se preocupam com o fato. Mesmo o governo Lula, promete uma redistribuição de renda, mas faz uma política apenas paternalista, como a de Getúlio Vargas, o “Pai dos Pobres”. Bolsa-família e outras ações, não passam de paliativos. Enquanto isso, beneficiam o grande capital financeiro dando continuidade à estratégia criminosa do famigerado governo antecessor.
Até admito que a eleição do “operário” Lula, foi um fato inédito na história brasileira. Mas, concretamente, ele não rompeu o estigma que nos assola desde o início. O Brasil não tem, ao longo de seus cinco séculos de existência, movimentos de massas relevantes. Os que teve, e que sempre foram escondidos ao máximo do domínio público, estão entre as toneladas de arquivos queimados na velha república, por ninguém menos que o “ilustre” senhor doutor Ruy Barbosa (2).
Elite e conta-elite são a dicotomia ao longo de nossa história. Isto quer dizer que a elite se degladia entre os que estão e aqueles que querem chegar ao poder. O “fenômeno” Lula não fugiu a essa realidade. Trocando em miúdos, o fato de ter sido operário não quer dizer que continue como tal, nem lute por sua classe. Hoje, faz parte da elite. Com ela, e por intermédio dela, chegou ao poder.
Além do mais, o seu próprio partido, o PT, foi fundado com o total apoio do governo estadunidense e da CIA, para combater aquele que eles viam como o “perigo real e imediato”: Leonel Brizola. E a prova maior disso é que quem destruiu (ou desconstruiu) a imagem dele – Brizola – foi, nada mais, nada menos que a Rede Globo, um dos maiores braços – e que braço! – do império no Brasil. Alguém, não me lembro quem, definiu este poderoso veículo da mídia como “o produto mais bem acabado da ditadura”.
Nesse ínterim, vamos vivendo a novela do dia-a-dia, o clima surrealista de Pequenos Assassinatos, um filme profético... uma antevisão de nossos tempos, realizada trinta e seis anos atrás.

(1) Naquela época, conhecia pessoas no Dona Marta, até porque meus pais moram na Humaitá desde 1958. Cresci naquelas cercanias, fiz amizades e subi várias vezes aquele morro, nunca tendo sofrido o menor sinal de violência.
(2) Ruy Barbosa foi incumbido de queimar todos os documentos arquivados sobre os movimentos sangrentos, principalmente quilombos e revoltas de escravos, tendo como finalidade reforçar a ideologia de que o povo brasileiro tem uma “índole pacífica”.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Paixão avassaladora

Já falei mais de uma vez neste blogue – e também no antigo Pensatas – sobre Barcelona. Aquela cidade, para mim, foi uma surpresa mais do que agradável. Sabia que iria encontrar um centro cultural importante e as obras de Miró, pintor pelo qual sempre tive uma profunda admiração, e algumas de suas belas atrações como o Montjuic. O que não podia imaginar é que ia ser acometido de uma paixão tão avassaladora.
Além do charme e do encanto das Ramblas, do Bairro Gótico, daquele Arco do Triunfo em estilo Mourisco e de tantos outras maravilhas, inclusive a alegria de seu povo, o que mais me impressionou foi, sem dúvida, a obra de Gaudí (1852/1926). Creio que poucas coisas marcam tanto Barcelona quanto o seu trabalho e a sua genialidade.
E não por desconhecimento. Em 1988 (ou 89) houve uma exposição de seus trabalhos em um museu aqui do Rio. Lembro de um colega espanhol, o Manolo, ministrando verdadeiras palestras sobre suas obras. Manolo, natural de Valencia era uma pessoa muito falante. E nos falava de Gaudí com entusiasmo e sentimento ímpares. Conhecia a obra do arquiteto, sabia de sua importância. Mas, juro, quando vi ao vivo e a cores, transcendeu.
Recordo de quando cheguei em frente à catedral da Sagrada Família, sua obra máxima. Aquilo assusta. Principalmente quando, chegando ao museu, no subsolo e examinando as maquetes, verificamos que aquelas duas torres gigantescas, eram apenas as laterais do templo, num total de 18. Uma construção, que apesar de ainda inacabada, é inimaginável em toda a sua grandiosidade.
Para além desta, conhecer o Parque Güel, o Palacete do mesmo nome, a casa Calvet e tantas outras que surgem a nossas vistas em esquinas ao longo da cidade mostram a criatividade daquele que foi um dos mais inovadores arquitetos no mundo. Quem for a Barcelona e conhecer a obra de Gaudi, vai dar razão aos catalães e compreender que eles teem do que se orgulhar.