domingo, 29 de maio de 2011

Em homenagem ao nascimento do filosofo e escritor Bertrand Russell.


Mais uma postagem enviada pelo Professor Jorge Moreira (ver dados ao lado) para este domingo:

No dia 18 de maio de 1872, há 139 anos, nascia, no País de Gales, Bertrand Arthur William Russell, um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos do século XX.
Descendente de uma família aristocrática inglesa, politicamente muito influente no auge do poderio econômico do Reino Unido (seu avô paterno John Russell tinha sido primeiro ministro do reino), Bertrand Russell recebeu anos mais tarde, após a morte do irmão Frank Russell, o título de 3º Conde Russell.
Mas a sua descendência aristocrática não impediu que ele trabalhasse toda a sua vida como professor e escritor para ganhar o pão de cada dia e se transformar em uma das personalidades mais anti aristocráticas na sua luta em prol da humanidade: na defesa dos direitos humanos, dos fracos e dos oprimidos, na defesa da emancipação e dos direitos da mulher e dos trabalhadores. Na sua luta intelectual e política ele também se posicionou contra a guerra, contra a carreira armamentista nuclear dos EUA e URSS, e contra a crença na existência de deus como se pode observar no seu inteligente e cético livro Porque não sou cristão.
Russell estudou e se formou na Universidade de Cambridge, Inglaterra, e passou parte da sua vida viajando como professor pelo Reino Unido, Estados Unidos e China. Como autor, Russell escreveu uma extensa e importante obra que abrange a filosofia, a matemática, a filosofia da ciência, a historia da filosofia e a filosofia social.
Sua grande contribuição no campo da matemática foi estabelecida a partir da publicação de sua obra prima Principia Mathematica que contou com a colaboração do matemático, professor e amigo Alfred Whitehead. O livro, em três volumes, aspirava a deduzir a totalidade das matemáticas a partir de certas noções básicas da lógica e da teoria de conjuntos e influenciou os trabalhos dos grandes matemáticos, lógicos e cibernéticos do século XX, como Kurt Godel, Williard Van Orman Quine, David Hilbert, Ludwig Wittgenstein, Norbert Wiener e outros.
Russell também escreveu sobre uma amplo conjunto de temas que abarcava desde os fundamentos da matemática e a teoria da relatividade, do matrimonio à educação de crianças, do pacifismo ao marxismo (1). A obra de Bertrand Russell gozou de amplo reconhecimento intelectual tanto nos círculos dos especialistas como entre o público popular não especializado.
Tendo sido uma pessoa muito brilhante e sociável, tornou-se amigo pessoal de grandes personalidades do século XIX e XX, tais como o teatrólogo Bernard Shaw, o escritor Joseph Conrad, o filosofo e discípulo Ludwig Wittgenstein, e do teórico da relatividade Albert Einstein e muitos outros nomes significativos como se poderá apreciar em seus livros autobiográficos Retratos de Memórias e Outros Ensaios e Autobiografia de Bertrand Russell.
Em 1957, diante da ameaça de uma guerra nuclear, ele organizou com o amigo Albert Einstein um manifesto que deu vida às Conferencias de Pugwash e passou os últimos quinze anos de sua vida fazendo campanha contra a fabricação de armas nucleares.
Durante a revolução russa de 1917, Russell viajou a URSS, para conhecer o processo revolucionário e entrevistar a Lênin e Trotsky (2). Depois, escreveu um famoso livro sobre sua visita intitulado Teoria e pratica do bolchevismo, texto que, depois da queda do muro de Berlim, voltou a ser estudado e consultado pelos estudiosos da historia da revolução russa.
Esteve na prisão por diversas vezes: a primeira conectada com as suas atividades pacifistas durante a I guerra mundial, as outras por participar em manifestações contra a proliferação de armas nucleares e contra a guerra do Vietnã.
Em 1950, Bertrand Russell recebeu o premio Nobel de Literatura “em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos em que defende os ideais humanitários e a liberdade de pensamento”.
Realizou em 1966, junto a Jean Paul Sartre, um dos projetos mais importantes da sua vida no século XX: o Tribunal Russell (Tribunal Internacional sobre Crimes de Guerra) que foi estabelecido para julgar os crimes de guerra dos Estados Unidos da América (EUA) contra o povo do Vietnã do Norte. Neste mesmo ano foi publicado o extraordinário livro de Bertrand Russell Crimes de guerra no Vietnam (3); livro obrigatório para todos aqueles que necessitam saber dos genocídios praticados no passado e no presente pelos governos estadunidenses contra os povos do terceiro mundo.
Durante sua longa vida, Russell contraiu matrimonio quatro vezes e teve três filhos, John, Kate e Conrad. Morreu pacificamente aos 98 anos, em companhia de sua quarto esposa Edith Finch.
O primeiro livro do filosofo inglês que conheci quando era jovem se intitulava A Sociedade Humana na Ética e na Política e foi o primeiro texto de ética e política que li na minha vida. O otimismo, a mordacidade e o estilo -ideais claras, escrita precisa- de Russell me entusiasmaram tanto que li tudo que pude conseguir do filósofo britânico em Salvador, Bahia. Algum tempo depois, escrevi um artigo de uma página inteira, para o diário Tribuna da Bahia com o título A Rebeldia do Jovem Filósofo (4) em que tratava de analisar sua filosofia social. Nesta época, vivíamos em tempos difíceis no Brasil, quando a ditadura militar censurava livros e reprimia a escritores e a leitores de orientação socialista. Assim, fomos proibidos pelos militares de ler os livros de Karl Marx, Lênin, Trostky e outros autores, todos eles imprescindíveis para compreender a natureza e o funcionamento do sistema capitalista e o modo revolucionário de superá-lo.
Atualmente vivemos em tempos ainda mais difíceis e perigosos que os de B. Russell pois a sociedade ocidental vem se transformando em uma ordem social (com sua política ideologica e neo liberal) extremamente antidemocrática, injusta e belicista, sob a ditadura dos bancos, dos militares e das corporações do Imperialismo dos EUA. Nos dias atuais, o referido imperialismo e a sua ditadura está a nos conduzir (hoje mais que nunca) ao neo fascismo e provavelmente a uma III (terceira) e última guerra, a nuclear, onde não haverá nem vencedores nem vencidos para contar nenhuma história.
É dentro deste gravíssimo momento histórico que o exemplo de Bertrand Russell, junto aos de Karl Marx, Lênin, Trotsky (e outros que dedicaram as suas vidas à luta em prol da emancipação humana), se faz imprescindível e devem ser evocados para a continuidade da luta pela vida humana, animal e vegetal neste planeta.
Como uma homenagem especial aos 139 anos de nascimento deste lutador social decidimos dar aos jovens leitores a oportunidade de conhecer um texto autobiográfico do “jovem”, apaixonado e inesquecível Bertrand Russell:
“Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso instável, por sobre profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero.
Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase - um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão - essa solidão terrível através da qual a nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime. Busquei-o, finalmente, porque vi na união do amor, numa miniatura mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os poetas imaginavam. Eis o que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana, foi isso que - afinal - encontrei.
Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber porque cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui.
Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a constituir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por aliviar o mal, mas não posso, e também sofro.
Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me fosse dada tal oportunidade.” (4)

NOTAS

1) No seu ensaio “Russell y el socialismo”, o filosofo da ciência espanhol, Manuel Sacristán Luzón questiona acertadamente a superficialidade da leitura que Bertrand Russell faz de Marx e do marxismo. Diz Sacristán: “Mala comprensión de Marx hay ya incluso en las básicas nociones que creer compartir con aquel. ... A esa incomprensión del concepto mas básico de Marx, el de Basis, se añade la ignorancia de la noción de fuerza de trabajo como mercancía...” pg. 206. O ensaio de Sacristán sobre Russell encontra-se no livro de Manuel Sacristán, Panfletos y materiales, I: Sobre Marx y marxismo. Icaria, Barcelona, 1983.

2) Ainda que Sacristán critique a fragilidade do pensamento social de Russell e seus erros teóricos sobre Marx e o marxismo, ele também reconhece a grande contribuição que faz a honradez do pensamento do filosofo inglês (seu ensino critico e seu ensino programático) para a construção do socialismo desejável. Pgs. 224-228. Ver a nota anterior.

3) Bertrand Russell, Crimes de Guerra no Vietnam: Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1967, tradução do original War Crimes in Vietnam, London: George Allen & Unwin.

4) “A Rebeldia do Jovem Filósofo”. Jorge Vital de Brito Moreira. Tribuna da Bahia. Salvador, Bahia, Brasil, 11/Nov/1972.

5) “Autobiografia de Bertrand Russell”, Ed. Civilização Brasileira,1970 tradução do original The Autobiography of Bertrand Russell, 3 vols., London: George Allen & Unwin. 1967-1969

sexta-feira, 20 de maio de 2011

As mortes e a morte de Osama Bin Laden: matar vários camelos com uma cacetada.


O texto abaixo é de autoria do Professor Jorge Vital de Brito Moreira, baiano que estudou Ciências Sociais na UFBa; fez estudos de pós-graduação em Sociologia (México) e Literatura (EUA) onde recebeu o titulo de doutor (Ph.d) com uma tese sobre o escritor Antonio Callado.
Nos EUA, tem ensinado na University of California San Diego (La Joya), University of Minnesota, Washinton University, Lawrence University e University of Wisconsin.
Tem publicado ensaios (sobre diferentes escritores brasileiros e latinoamericanos) e é autor-colaborador do livro Notable Twenty Century Latin America Women (2001).
Em 2007, publicou na Bahia o livro Memorial da Ilha e Outras Ficcões romance e contos).
Atualmente escreve artigos e ensaios para o destacado diário www.rebelion.org de grande circulação em Espanha e América Latina.

Na madrugada do dia 02 de maio de 2011, Barack Obama, o presidente dos EUA, anunciou o assassinato de Osama Bin Laden por comandos militares estadunidenses.
A notícia da morte do suposto cérebro dos atentados que destruiu as torres gêmeas de Nova York em 11 de setembro de 2001, propagou-se pelos meios de informação massiva dos quatros cantos do mundo.
Apesar da pompa, circunstancia, e suposta veracidade da notícia, as diferentes versões da morte por parte dos funcionários do governo, começaram a produzir suspeitas, dúvidas e questionamentos relacionados com a falta de integridade do governo de EUA para falar a verdade.
Assim, a desconfiança também se propagou pelo mundo em forma de perguntas embaraçadoras: porque o governo do presidente Barack Obama se desfez do "suposto" corpo de Bin Laden tão rapidamente? Porque jogou o corpo no mar (aos tubarões) impedindo, desta forma, uma identificação e confirmação independente da versão oficial dos EUA? Quais são os objetivos ocultos por detrás da notícia e da subsequente manipulação do publico pelo governo?
Mas o questionamento não se refere apenas à mensagem do presidente (verdade ou mentira?) mas aos mensageiros (a mídia em geral) que a divulgaram. Assim, estamos obrigados a responder também a pergunta: porque a grande mídia dos EUA continua propagando os discursos das autoridades governamentais sem ter nenhuma prova real de que elas estão falando a verdade?
Será que a mídia dos EUA (e internacional) nunca aprenderá dos seus abomináveis erros do passado recente? Acaso, esqueceram da sua responsabilidade e cumplicidade (direta e indireta) pela propagação das mentiras do Governo Bush/Cheney; mentiras que conduziram ao assassinato de milhões de seres humanos no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão? A julgar pela rapidez com que a mídia endossou as últimas mentiras dos EUA, da OTAN e da ONU (tocando os tambores de guerra) em prol do bombardeio contra a Líbia e o assassinato dos filhos e netos de Gadaffi, a grande imprensa escrita e falada não aprendeu (ou não quer aprender) absolutamente nada.
As perguntas expressam a permanente indignação daqueles estadunidenses que não perderam o sentido crítico nem a consciência moral diante dos enganos, traições e manipulações criadas pelas mentiras oficiais dos presidentes dos EUA. Desde a questionada legitimidade (1) do primero governo Bush/Cheney, o número de críticos do governo estadunidense vem aumentando significativamente. Atualmente muitos deles se encontram bem vacinados contra o vírus da mentira e da hipocrisia do governo e da sua grande mídia.
O questionamento sempre embaraçará aos responsáveis: quem poderá esquecer o relato produzido pela administração Bush e Cheney sobre as armas de destruição massiva existente no Iraque de Sadam Hussein e a acusação de que Hussein foi um dos responsáveis pela destruição das torres gêmeas de Manhattan, Nova York, no dia 11 de setembro de 2001?
Quem poderá esquecer a farsa do dia 5 de fevereiro de 2003, montada no Conselho de Segurança da ONU pelo Secretário de Estado de EUA, Colin Powell, por George Tenet (diretor da CIA), por John Negroponte (o criador dos esquadrões da morte na América Latina) e pelos neo-cons (do Governo Bush-Cheney), para legitimar a invasão do Iraque e os crimes de guerra contra o povo do Iraque?
Não devemos esquecer que naquele cinco de fevereiro, diante das câmaras de TV, o Secretário de Estado Colin Powell, para justificar a guerra contra o Iraque, fez um discurso que permanece como o maior ataque terrorista já executado contra a verdade histórica, ao afirmar que EUA tinham provas conclusivas de que Saddam Hussein possuía Weapons of Mass Destruction (armas de destruição massiva) e que era necessário invadir o Iraque para desarmá-lo. Para as pessoas que não conhecem a farsa e discurso fraudulento do governo dos EUA, poderão assisti-lo no link: http://www.youtube.com/watch?v=Nt5RZ6ukbNc&NR=1
Mas voltando às inúmeras mortes de Bin Laden ainda pode-se perguntar: quantas vezes escutamos as autoridades (dentro e fora dos EUA) afirmarem que Bin Laden estava morto, não pelas armas dos militares ocidentais, mas sim por uma infecção renal que lhe tomou a vida.
Os orientais que estavam bem informados da vida de Osama Bin Laden, afirmaram no devido momento que ele sofria de graves problemas renais; que para estar vivo, ele tinha sido internado diversas vezes por sérios problemas nos rins; que ele tinha que ser ajudado permanentemente por uma máquina de diálises que transportava para todo lugar por onde viajava. Um exemplo: em 2001 o jornal francês Le Figaro difundiu e reforçou a versão da sua morte por problemas renais.
Esta versão também foi reforçada pelas notícias da própria mídia dos EUA. De acordo com a “CBS News” (o programa de notícias da gigantesca corporação mediática CBS), Bin Laden foi internado nas vésperas de 11 de Setembro por problemas renais.
Outras declarações, como a de um líder talibã, publicadas por Pakistan Observer, nos fins de 2001, confirmam que depois do ataque de EUA contra o Afeganistão em Tora Bora, Osama Bin Laden escapou, mas faleceu em dezembro de 2001, por não poder receber tratamento medico adequado enquanto fugia.
No dia 31 de janeiro de 2010, o jornal espanhol El País também apresentou uma entrevista que reforçava a mesma versão: Sultan Tarar, o “mão direita” do líder talibã Mulá Omar, afirmou que Bin Laden morreu de câncer dos rins entre maio e junho de 2002.
Esta versão já tinha sido anunciada pelo presidente de Paquistão, Pervez Musharraf, que afirmou em janeiro de 2002 ao canal de notícias estadunidense CNN (outra gigantesca corporação midiática dos EUA) quando disse: ''Francamente, acredito que ele está morto porque estava gravemente enfermo dos rins”.
Também existem outras versões da morte de Bin Laden como a de Benazir Butto (2 vezes primeira ministra do Paquistão) que, em novembro de 2007, revelou, na sua entrevista a BBC, que Osama Bin Laden foi assassinado por Ahmed Omar Saeed Sheik. Esta revelação foi omitida da entrevista original pela BBC (1)
O que muitos jornalistas sérios tem divulgado é que depois de 2001, todos os vídeos que mostram Bin Laden vivo, foram considerados falsos pelos especialistas. Quanto às mensagens de áudio, os especialistas duvidam da sua autenticidade pois foram originadas por fontes duvidosas ou suspeitas.
Outras fontes de informação sobre Bin Laden, provém de agentes dos serviços de inteligência dos EUA (Steve R. Pieczenik, Dale Watson, Robert Bear e outros) de Israel, de Arábia Saudita, de Afeganistão, do Paquistão, que em algum momento, no passado, também afirmaram a morte de Bin Laden.
Todo o anterior, nos leva de volta às duvidas, a desconfiança e a suspeitas em relação à capacidade do presidente Barack Obama de estar falando a verdade sobre a morte de Osama Bin Laden: porque o governo do presidente Barack Obama se desfez do “suposto” corpo de Bin Laden tão rapidamente? Porque jogou o corpo no mar (aos tubarões) impedindo, desta forma, uma identificação e confirmação independente da versão oficial dos EUA?
No dia 10 de maio, por exemplo, os noticiários do canal latino Univisión e do canal estadunidense CNN informaram que os filhos legítimos de Bin Laden duvidavam da morte do pai e que solicitaram à ONU uma investigação para determinar a verdade de tal alegação. Representados pelo filho Omar Bin Laden, os familiares também expressaram que se o que Barack Obama afirmou sobre o assassinato do seu pai sucedeu verdadeiramente eles vão demandar o presidente por autorizar um assassinato de um homem desarmado.
Dado que a desconfiança sobre a versão do presidente não para de crescer entre os céticos e críticos do governo, deve-se então perguntar pela utilidade (função ou funções) que esta notícia teria e terá para assegurar um segundo mandato presidencial de Barack Obama.
Para começar devemos informar que o índice de aprovação do governo de Barack Obama estava decrescendo notavelmente, encontrando-se, antes da notícia da morte do líder de Al-Quaeda, no nível mais baixo de sua presidência. Alguns dias depois do anúncio do assassinato de Bin Laden, o índice de aprovação do governo Obama subiu aos 60%, ou seja ao índice mais alto obtido por ele nestes anos da sua presidência.
Assim, pode-se afirmar que o governo Obama necessitava urgentemente de um golpe publicitário para aumentar o índice de aprovação do seu governo no exato momento em que está lançando o seu nome como candidato a presidente com o objetivo de obter um segundo mandato nas próximas eleições estadunidenses.
Em síntese, este gigantesco golpe publicitário procura monumentalizar o governo, afirmando implicitamente que a presidência de Barack Obama está, finalmente, vencendo a guerra contra o terrorismo. Assim, a morte de Bin Laden seria a prova cabal do sucesso da presidência e por essa razão, Barack Obama merece ser eleito para um segundo mandato (2)
Além disso, o golpe publicitário do assassinato de Bin Laden quer alcançar outros objetivos a curto e a medio prazo. Vejamos alguns deles:
1- Produzir a aparência de vitória quando a essência está nos falando do fracasso e da derrota (como no caso da guerra do Vietnã), das guerras de EUA no Iraque, Afeganistão e Paquistão.
2- Diminuir o grau de resistência da maioria dos estadunidenses ao aumento do orçamento militar deste ano para continuar financiando as guerras falidas do complexo industrial militar (e do Pentágono) em detrimento (cortes no orçamento) dos programas sociais.
3- Esconder o peso dos custos das guerras do governo Obama/Bush no aumento da divida externa dos EUA a 15 trilhões de dólares; e os novos gastos da atual guerra dos EUA, da OTAN e da ONU contra a Líbia.
4- Escamotear a ilegalidade do presidente estadunidense para bombardear à Líbia e assassinar os filhos e os netos de Muamar al-Gadaffi sem a aprovação previa e legal do congresso estadunidense.
5- Disfarçar o ataque da administração Obama aos direitos legais e humanos da Wikileaks, de Julian Assange e do soldado Bradley Manning, e assim evitar a discussão sobre a ilegalidade do uso da tortura (3) contra Manning para puni-lo pelo suposto vazamento (leaking) do vídeo que mostra o assassinato da população civil e de jornalistas pelos soldados americanos desde um helicóptero Apache.
A informação do ataque Talibã (que assassinou no dia 13 de maio a pelo menos 80 paquistaneses, a maioria composta de militares), em vingança pelo anuncio do assassinato de Bin Laden, contribuiu para reforçar a hipótese dos que pensam que o golpe publicitário foi tramado para provocar as reações violentas da Al-Qaeda e Talibãs e de esta forma justificar que os EUA nunca saiam do Iraque, do Afeganistão e do Paquistão.
Dado todo anterior, para evitar sermos enganados sistematicamente pelo poder, é imprescindível estar sempre atento para considerar a diferença entre a aparência e a essência dos fatos e fenômenos relatados pelos governos.
Dado o uso dos truques e efeitos cinematográficos que os governos dos EUA aprenderam nos filmes de Hollywood; dado o poder da publicidade e da propaganda a favor dos presidentes e seus discursos; e dada a cumplicidade da mídia com o estado capitalista e a civilização ocidental e cristã, atualmente é muito fácil produzir relatos e discursos em que a aparência está em completa contradição com a essência, como Daniel Elsberg, Julian Assange, Wikileaks e o The National Security Archive estão cansados de mostrar.(4) Em poucas palavras é necessário sempre continuar com as perguntas embaraçosas:
Porque o governo do presidente Barack Obama se desfez do “suposto” corpo de Bin Laden tão rapidamente? Qual são os objetivos ocultos por detrás da notícia e da subseqüente manipulação do publico pelo governo? Porque a grande mídia dos EUA continua propagando os discursos das autoridades governamentais sem ter nenhuma prova real de que elas estão falando a verdade?
Assim, leitores e amigos, se queremos descobrir a verdade por detrás dos relatos dos governos dos EUA, vamos ter que pensar sempre criticamente e atuar coletivamente para poder resistir às escandalosas mentiras do estado capitalista.

NOTAS

(1) E imprescindível não esquecer que Bush e Cheney, depois do escândalo de serem acusados de vencer as eleições presidenciais no estado da Florida (onde o governador era o seu irmão Jeb Bush) através de resultados eleitorais fraudulentos, foi legitimado por um tribunal composto de maioria republicana.

(2) Tão pouco devemos esquecer que Bush/Cheney foram eleitos para um segundo mandato presidencial apelando a uma política terrorista de combate ao terrorismo: quem pode esquecer o sistema de cores que foi inventado pelo procurador-geral dos EUA (US Atorney General), John Ashcroft, para assustar os estadunidenses? Com o pretexto de que Bin Laden e os terroristas preparavam um novo ataque aos EUA Ashcroft constantemente manipulava o sistema cada vez que era necessário mudar de cores para infundir pânico no público e obter um consenso favorável ao governo Bush. Assim, não foi difícil conseguir o segundo mandato; desta vez, sem apelar aos resultados eleitorais fraudulentos. Atualmente, os analistas e críticos políticos afirmam que o presidente Barack Obama aproveita todo o arsenal de mentiras, truques, manipulações e ilegalidades herdado da administração de George W. Bush para continuar no poder político.

(3) Quem poderá esquecer as mentiras do governo Bush quando estourou o escândalo produzido pela exibição das fotos das torturas produzidas pelos EUA contra os prisioneiros em Abu Ghraib e Guantánamo? Faz alguns anos temos sidos informados de que Bush, Cheney, Donald Rumsfeld teem sido acusados por grupos de direitos humanos de crimes de guerra e tortura. Recentemente, de acordo com a imprensa escrita e falada, George W. Bush, cancelou sua visita a Suíça por medo de ser aprisionado devido a ações legais que o acusam de torturas, um crime internacional.

4) Refiro-me aqui ao Nacional Security Archive of the George Washington University quando mostra documentos desclassificados depois de 20 anos (30, 40 anos) dos fenômenos e fatos históricos terem acontecidos. O web site oficial do Nacional Security Archive of the George Washington University é:

domingo, 15 de maio de 2011

A história secreta da Rede Globo (parte 6)



A série “A história secreta da Rede Globo” da BBC termina em determinado ponto... O último publicado.
No entanto como não terminam aí as edições da própria BBC sobre a rede televisiva brasileira, estou mantendo o título anterior, apesar do episódio exibido hoje ser de uma outra sequência intitulada “Muito além do cidadão Kane”. Achei conviniente publicar o nº 2, porque ele, apesar de repetir algumas situações anteriores, avança no tempo em relação ao nosso último capítulo.
O interessante também é que este, um pouco mais longo do que os anteriores, faz uma abordagem das táticas mercadológicas da rede como as novelas e outras ações, aprofundando a sua análise. E também por ser mais longa se estende em alguns outros aspectos já abordados na série anterior e seus cinco capítulos, enriquecendo-os.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um festival de verdade

Para ampliar o cartaz, clique na imagem

Até pela categoria do cartaz nota-se o nível de um festival de cinema bem mais levado a sério do que os Óscares da vida!
Na verdade o cinema europeu e da maioria dos países, segue atropelado pela mega máquina industrial de Hollywood, cada vez mais um trator gerando mediocridade, e arrastando quem se lhe atravesse o caminho.
Por acaso ontem fui assistir “Cinco dias sem Nora”, uma película mexicana, obra bem cuidada, com o dedo nitidamente feminino na direção de Mariana Chenillo. Mas um filme que escapa da idiotice do cinema atual conduzido pela grande indústria de “bostas gigantescas” que anda “pelaí” a nos empurrar “velozes e furiosos, sei lá que número” e ainda bater de cara na internet com declarações de sub atores do referido subproduto a querer nos dizer que é um filme feito para ganhar um Óscar.
Concordo que o Óscar não está à altura de um prêmio em Cannes, mas mesmo assim isto é uma forçada de barra violenta.
Por isto vai aqui esta breve homenagem ao 64º Festival de Cannes. Com ele ninguém brinca.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Teses e provas sobre o pensamento de Trotsky


Os diversos textos abaixo são muito importantes para que se entenda a principal teoria de León Trotsky, a “Revolução Permanente” e como ele estava correto em suas críticas a Stalin. A capa acima foi uma publicação minha quando o “Marxists Internet Archives” (MIA) ainda não havia traduzido o livro para o português, como seguem nos trechos do primeiro capítulo abaixo.
É conveniente lembrar que as situações citadas pelo autor referem-se às condições e conflitos históricos da época, finais dos anos 1920, início dos 30.

(...) A teoria da revolução permanente exige, na atualidade, a maior atenção da parte de todo marxista, uma vez que o desenvolvimento da luta ideológica e a da luta de classe fez o problema sair definitivamente do domínio das recordações de velhas divergências entre os marxistas russos, para apresenta-lo em ligação com o caráter, os laços internos e os métodos da revolução internacional em geral...
...Quaisquer que sejam as primeiras etapas episódicas da revolução nos diferentes países, a aliança revolucionária do proletariado com os camponeses só é concebível sob a direção política da vanguarda proletária organizada como partido comunista (1)...
... A revolução socialista não pode realizar-se nos quadros nacionais. Uma das principais causas da crise da sociedade burguesa reside no fato de as forças produtivas por ela engendradas tenderem a ultrapassar os limites do Estado nacional. Daí as guerras imperialistas, de um lado, e a utopia dos Estados Unidos burgueses da Europa, de outro lado. A revolução socialista começa no terreno nacional, desenvolve-se na arena internacional e termina na arena mundial. Por isso mesmo, a revolução socialista se converte em revolução permanente, no sentido novo e mais amplo do termo: só termina com o triunfo definitivo da nova sociedade em todo o nosso planeta...
... Com a criação do mercado mundial, da divisão mundial do trabalho e das forças produtivas mundiais, o capitalismo preparou o conjunto da economia mundial para a reconstrução socialista (2)...
... A teoria do socialismo num só país, brotada no estrume da reação contra Outubro, é a única que se opõe, de maneira consequente e definitiva, à teoria da revolução permanente.
Ao tentarem os epígonos, compelidos pela crítica, limitar à Rússia a aplicação da teoria do socialismo num só país, por causa de suas peculiaridades (extensão territorial e riquezas naturais), as coisas só fazem piorar, em lugar de melhorar. A renúncia à atitude internacionalista conduz, inevitavelmente, ao messianismo nacional, isto é, ao reconhecimento de vantagens e qualidades peculiares ao país, capazes de lhe conferir um papel que os demais países não poderiam desempenhar.
A divisão mundial do trabalho, a subordinação da indústria soviética à técnica estrangeira, a dependência das forças produtivas dos países avançados em relação às matérias primas asiáticas etc., etc., tornam impossível a Construção de uma sociedade socialista autônoma e isolada em qualquer região do mundo...
... A teoria do nacional-socialismo degrada a Internacional Comunista, que fica reduzida ao papel de arma auxiliar na luta contra a intervenção armada. A política atual da Internacional Comunista, o seu regime e a escolha dos seus dirigentes correspondem perfeitamente à sua decadência e transformação num exército de emergência, que não se destina a resolver, de maneira autônoma, as tarefas que se lhe apresentam...
... O programa da Internacional Comunista, obra de Bukhárin, é eclético do princípio ao fim. É uma tentativa desesperada de ligar a teoria do socialismo num só país ao internacionalismo marxista, que não pode, entretanto, ser separado do caráter permanente da revolução mundial (3). A luta da Oposição de Esquerda por uma política justa e um regime são na Internacional Comunista indissoluvelmente ligadas à luta por um programa marxista. A questão do programa, por sua vez, é inseparável da questão das duas teorias opostas: a teoria da revolução permanente e a teoria do socialismo num só país (4). O problema da revolução permanente já ultrapassou, há muito tempo, o limite das divergências episódicas entre Lênin e Trotsky, inteiramente esgotadas pela história. Trata-se, agora, da luta entre as idéias fundamentais de Marx e de Lênin, de um lado, e o ecletismo centrista, de outro lado.

1. À época ainda era o partido que, na concepção de Trotsky deveria comandar a revolução mundial.

2. O próprio Marx havia dito isto numa etapa anterior do capitalismo. Trotsky a repetiu, mas hoje isso está mais claro ainda.

3. Note-se a visão internacionalista de L. T. quanto à revolução que se oponha ao poder burguês, este sim em contradição com a globalização.

4. A história contou o que aconteceu ao stalinismo e sua política suicida e irresponsável de “construir o socialismo num só país”...

domingo, 8 de maio de 2011

Pensatas de domingo. Lembranças de uma Bahia que não existe mais

Vista da Praça Castro Alves em finais dos anos 1960
Outro dia li que Salvador alcançou o lugar de terceira cidade mais populosa do Brasil, e juro que fiquei preocupado com o fato, pois é muito divulgado que a violência tem crescido assustadoramente na Bahia.
Bahia. Assim, nós baianos sempre nos referimos á capital do estado do mesmo nome. Não sei como a população que migrou de outros locais do Brasil se refere a ela. Mas nós, da terra, creio que continuamos a falar desta forma. É como uma marca registrada, uma prova de identidade de maior valor do que qualquer documento legal. O resto talvez fale Salvador mesmo, atraídos pelo Carnaval “massificado” e descaracterizado de hoje.
Mas a questão é que ao ler a tal notícia, passei a lembrar-me dos bons tempos que passei na “boa terra” nos idos dos 1960, quando ainda estudante, viajei diversas vezes àquela cidade. Isto devido ao fato que minha família tem muitas ramificações por lá. E houve ocasiões em que até me transferia e estudava lá.
Amava andar pelas ruelas tortuosas da velha Bahia, com menos de um milhão de habitantes, pois naquela época a população devia beirar, no máximo os 700 mil habitantes. E as pessoas ainda habitavam a cidade velha, os bairros de Nazaré, Saúde, Piedade, Canela, Graça e tantos outros. O que facilitava a andança, pois se descia de um lado e subia-se do outro cortando caminho pela Avenida J.J Seabra, a famosa Baixa do Sapateiro. Pituba? Era um bairro longínquo e meio desabitado onde se podia contemplar em passeios uma curiosa casa no formato de um navio...
Quantas e quantas vezes, meus primos e eu saíamos do bairro de Nazaré –onde morava praticamente a família toda– e íamos assistir um filme no “Tupi”, no “Excelsior”, no “Tamoio” ou no “Guarani” a pé? Ou mais ousadamente, mas também andando chegávamos ao Corredor da Vitória para, no ICBA (instituto Cultural Brasil Alemanha) rever obras de arte importantes em filmes do expressionismo alemão! Mas muitas das vezes íamos mesmo ao “Nazaré”, cineminha de bairro, com aquele cheiro característico dos cinemas de bairro, que Walter da Silveira transformou em Cinema de Arte.
E perigo? Não havia algum. Trafegávamos as ruas desertas e por vezes estreitas sem a menor preocupação com algum assalto ou qualquer outra forma de violência. Até porque diversas daquelas noites voltávamos bastante tarde para casa; como nas noites em que íamos aos bailes em clubes ou às casas noturnas da cidade, estudantes duros que éramos, apenas por farra, já que não tínhamos nada para gastar.
Hoje, no entanto veem de lá as mais graves informações de violência que a classificam como uma das cidades recordistas na área em nível nacional. Ficam as boas saudades daqueles tempos ingênuos em que nos domingos pela manhã folheávamos os jornais locais em busca de uma “pré estréia” às 10 da matina dos filmes que passariam na semana seguinte. Em seguida íamos comprar o “Correio da Manhã” em frente ao Elevador Lacerda, pois os jornais do Rio e São Paulo só chegavam à Bahia depois do meio dia.
Recordações que nunca morrem...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Pausa para a contemplação


Uma cidade linda, linda, linda mesmo!
Publiquei esta postagem em junho de 2009, e hoje lembrei-me tanto de Vigo na Galícia, uma das baías mais bonitas que jamais conheci, de um azul indescritível... Um lugar que se deve conhecer porque vale a pena!

Conheci bem a Galícia (que os lusos chamam de Galiza). Sua proximidade com a cidade do Porto nos empurrava atrás de um modo de vida más caliente bem pertinho de nós. Gostava muito de Portugal, mas, sem dúvida nenhuma, para nós brasileiros, a Espanha tem um “agito” com o qual nos identificamos; que nos agrada e encanta.
De todas as cidades galegas, a que mais vezes fomos foi Vigo. Primeiro porque sua beleza natural é inconfundível. E em seguida porque íamos ao Consulado português onde corriam os nossos processos de legalização da permanência em terras de Portugal. Ficávamos sempre no Hotel Compostela – bem próximo ao centro da cidade –, ao lado do ancoradouro de barcos e iates. Algumas vezes ficamos em um quarto no último andar (uma água furtada), e, pela manhã, as gaivotas nos acordavam com sua agitação matinal. Lindo... de ver e ouvir!
Mas, Vigo tem também uma baía muy hermosa. Quando se atravessa a exuberante ponte pênsil na autorota, o visual é de um azul profundo, e o mar repleto de barcaças, também repletas de frutos do mar. Vigo é um dos maiores centros produtores dos crustáceos e moluscos de toda a Espanha. Surpreendentemente a melhor paella à valenciana que eu comi foi lá, e não em Valencia.
No entanto, não é somente a baía de Vigo que é tão bela assim. Todo o litoral galego é esplendoroso. Sua costa é um privilégio dos que a habitam e dos que a conhecem. E o interior? O verde, tão raro em outras regiões de uma Espanha semi-árida, compensa-se por inteiro na Galicia. Aliás, uma característica de todo o norte daquele país, o que inclui tambem a região Basca e o Principado de Astúrias.
Santiago de Compostela e La Coruña também são cidades imperdíveis. Apesar do “fanatismo” e do “esoterismo” (1) religiosos, Santiago, como contraponto é um importante centro universitário e suas ruelas antigas respiram cultura e saber. O mais impressionante é que você pisa em um solo onde tantas gerações pisaram, estudaram, aprenderam, ensinaram. Amadureceram conhecimento humano e lógico, filosófico e matemático... A outra, em galego “A Coruña”, é também uma cidade abençoada pelos deuses. Somente a Torre de Hércules, monumento romano do século I, inteirinha até hoje, prova sua importância histórica.
A música é outra característica marcante da Galicia. Seu ritmo lembra a melodia irlandesa, característica, sem dúvida, da presença céltica em ambos os países. A gaita de fole, muito semelhante à usada pelos escoceses tem um som que nos envolve por completo. E, finalizando, a Fala (2), o que mais nos aproxima do galego. A Fala é muito mais próxima do português que do castelhano. Mujer é mulher. E, curiosamente trocam o “J” pelo “X” . Como Ximenes, ao invés de Jimenes. Ou Xunta de Galicia, ao invés de Junta de Galicia.
Assim é a Galícia. Um pedaço da Espanha que nós tivemos a oportunidade de conhecer muito bem. E deixou saudades; numa verdadeira paixão pelo calor do seu povo amável, que nos marcou o coração, ou pelas paisagens que ficaram gravadas em nossas retinas. Para sempre.

(1) É bom lembrar que Paulo Coelho (o picareta que deu certo) escreveu sobre o conhecido caminho de Santiago e começou a sua grande decolagem como “fenômeno literário” a partir daí.

(2) O galego é uma forma evoluída do galego-português (cujas origens remontam ao século IX). Com algumas influências do castelhano e umas poucas formas e traços próprios não existentes em português, alguns da língua original que desapareceram do português contemporâneo, outros fruto da evolução do próprio galego. Existem todos os anos encontros e comemorações da “Fala”, em que se apresentam intelectuais, poetas, cantores e compositores brasileiros, portugueses e de outros povos que teem o português como língua oficial.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quem matou Osama? O fim da farsa...


Segundo matéria publicada na Folha de São Paulo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta 4ª feira ao programa "60 minutes", da rede CBS, que não vai divulgar as fotos do líder da Al-Qaeda morto. "Osama bin Laden não é um troféu. Ele está morto e vamos focar agora em continuar a lutar até que a Al-Qaeda seja eliminada", declarou.
"Os riscos da divulgação superam os benefícios", disse Obama, no programa exibido na noite desta quarta-feira. "Imagine como o povo americano reagiria se a Al Qaeda matasse um de nossos soldados ou líderes militares e colocasse a foto do corpo na internet", continuou em sua mise-en-scene.
Os EUA enfrentam uma grande polêmica sobre a forma com que Bin Laden foi morto. A Casa Branca afirma que não tinha como objetivo primário matar Bin Laden, mas o argumento fica cada vez menos crível. Pressionado por repórteres, o governo afirmou nesta terça-feira que Bin Laden não estava armado --o que deixou espaço para especulações de um assassinato ao estilo execução.
Mas o “xis” da questão e o mais factível é que Osama já estivesse morto, mas eles ainda não tinham provas palpáveis disso. Provavelmente encontraram os restos mortais algures, comprovaram ser o dele e resolveram encenar toda esta “presopopéia” apenas para divulgar que matarem o guerrilheiro. Em outras palavras, Osama não poderia ter tido uma morte por outras causas que não fossem as da “justiça” ianque...
Coisas do “faroeste” ainda reinantes na mitologia (1) daquele país.

1. Mitologia em que os “heróis” foram assassinos profissionais ou exterminadores de índios e búfalos. E as heroínas, prostitutas de “Saloons”.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Quem matou Osama?


O anúncio da morte de Osama Bin Laden deixou no ar muitas suspeitas de uma história mal contada e cheia de “arapucas”. Creio que não somente eu, mas grande parte das pessoas deve ter achado estranho o fato de o corpo do Inimigo nº 1 da burguesia estadunidense (e mundial) ter sido jogado ao mar. Por que? Algum novo ritual no “islamismo”? Duvido porque os ianques não iriam respeitar, já que são “cristãos”! Ou mataram um outro, por engano, e desapareceram com ele para não deixar provas? Pouco provável. Ou ainda: Osama morreu antes, de outras causas, talvez naturais, faz algum tempo e só agora souberam, Como Obama tinha que cumprir o juramento de vingança feito por Bush, aí simularam toda esta farsa e se livraram dos restos para não deixar provas? Acho de todas a mais verossímel.
Mas ainda é um pouco cedo para se provar alguma delas ou outras hipóteses que surjam. O certo é que há algo de estranho no ar. Mas que poderá ser elucidada por uma nova gravação do “finado” ou por alguma coisa que aconteça por aí que deixe a sua marca, nem que morto esteja.
No entanto, lembrou-me uma postagem intitulada “Osama, de herói a bandido”, publicada no antigo “Pensatas” em 2007, e republicada neste “Novas Pensatas” em 12 de novembro de 2008, focada num filme de James Bond (1987), direção de Jonh Glen, com suas ações estratégico-militares no Afeganistão que veem bem a propósito. Reproduzo abaixo apenas a parte que fui direto ao assunto:

(...) Em 007 – Marcado para a Morte (The Living Daylights), o agente britânico, estrelado por Timothy Dalton, encontra um personagem de nome Kamran Shah - interpretado pelo ator Art Malik - que vem a ser uma alusão, a nada mais nada menos do que Osama Bin Laden.
Kamram (leia-se Osama) é apresentado como o “herói” simpático e amigo, com as mesmas artimanhas que hoje são execradas, à época exaltadas ao extremo. Ou seja, aquele que se esconde nas montanhas, combate os “comunas maus” - devoradores insaciáveis de criancinhas - nas estepes e montanhas do Afeganistão. Em outras palavras um autêntico mocinho ou “bom da fita”.
É divertidíssimo ver todas essas contradições, observá-las ao vivo e a cores.
Até porque ela é verdadeira. Bin Laden, como Shah foi criado pelas potências capitalistas. Foi também desenvolvido e estimulado, em sua guerra de guerrilhas, contra o agressor estrangeiro, no caso a União Soviética. Seria um terrorista? Claro que não! Terroristas são somente aqueles que estão do lado de lá da cerca.
Por exemplo: quando os israelenses atacam a população civil palestina, incluindo crianças, não estão cometendo um ato terrorista. Estão sim a se defender dos “terroristas” árabes. Idem quanto às tropas dos Estados Unidos quando perseguem e matam no Iraque civis inocentes. Não, nada disso é terrorismo!
A visão maniqueísta incutida pela grande mídia em todo o mundo “ocidental cristão” é de que as “forças do bem”, façam o que fizerem, farão sempre “boas” ações isentas de qualquer tipo de maldade ou segundas intenções. Nem o lucro desenfreado inerente ao sistema, nem a necessidade de defender os interesse petrolíferos dessas potências. Isso passa batido, ninguém menciona.
Contrariamente, toda e qualquer coisa que atinja os “bons samaritanos” é obra da maldade, da perversidade, do terror. Inclusive as que partem de Osama Bin Laden. Ou melhor dizendo Kamran Shah.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Perigoso marginal armado

Ilustração de Gabriel Ferreira para o livro
Este conto faz parte do livro “Memorial da Ilha e Outras Ficções” de autoria do professor Jorge Moreira editado em 2007.

Num sábado ensolarado, minha mulher, minha filha de 2 anos e eu estávamos em roupa de banho preparados para ir à praia de Pituassu, a 200 metros à frente da nossa casa. Pouco antes de sair, percebemos que já não temos gás para cozinhar no fim de semana. Sabendo que o caminhão da companhia não distribui combustível nos sábados e domingos, decidimos, antes da praia, passar na companhia e comprar um bujão.

Entramos no Volkswagen laranja e ligo o carro. Saio dirigindo e tomo a avenida Antônio Carlos Magalhães. Na banca de revistas, paro e compro o Jornal do Brasil. Enquanto espero troco, abro o diário e passo os olhos nos titulares da página internacional. Concentro-me por segundos no título de uma notícia: “Governo dos Estados Unidos envolvido no golpe militar do Brasil”. Na parte inferior, uma nota chama minha atenção: “USA aumenta ajuda à ditadura brasileira.”
Fecho o jornal e ligo o motor. Coloco a primeira e dirijo o carro para a companhia de gás. Lá chegando, compro o bujão e coloco o pesado volume na mala dianteira do veiculo. Entro, ligo o Volkswagen e recomeço a dirigir. Adiante, para encurtar o caminho de casa, decido cruzar pelo bairro de Brotas. Quando estou atravessando a sinaleira do cruzeiro de Campinas, perto do cemitério, um militar ordena que pare o carro.
Sem entender a razão da ordem, desligo o motor e espero no acostamento. Mal humorado, o militar caminha em nossa direção e diz:

— Desça do carro, pois o senhor está preso!

No princípio, penso que ele está brincando e amavelmente lhe pergunto:

— Posso saber o que está acontecendo?

Ele repete mais alto:

— Já disse e tá falado. O senhor e o carro ficam detidos.

Agora, já perturbado, pergunto:

— Posso saber qual foi a infração que cometi?

Ele responde:

— De agora em diante, está proibido andar de carro nu.

— Nu? — Replico.

— Estou, como todos os baianos, dirigindo de short e sem camisa porque hoje é sábado e estamos, minha mulher, minha filha e eu, indo para a praia tomar banho de mar.

— Não quero saber. Você está preso e o carro também.

Argumento que se existe uma lei da qual não tenho conhecimento, que me informe e eu não vejo problema em acatar as ordens. Enquanto argumento, noto que ele está se zangando. Finalmente, sem mais palavras, tira o revólver e me diz:

— Desça do carro, já!

Trato de explicar-lhe que estou com a mulher, a filha pequena e o bujão de gás; que não posso deixá-las sozinhas, sem transporte e em roupa de banho, no meio da rua. Solicito ao militar que me permita, pelo menos, deixa-las em casa e, logo, eu o acompanharia à delegacia policial. Nesse momento, sem nenhuma explicação, coloca o revolver na minha cabeça, puxa o gatilho do revólver, e diz:

— Seu filho da puta, desça já do carro, senão vou estourar os seus miolos!

Nesse ponto, minha mulher, aterrorizada e com os nervos à flor da pele, grita e minha filha, sem entender nada, chora, assustada pelos gritos da mãe. Atraídos pela situação surrealista, os transeuntes baianos, curiosos, vão se aproximando para saber o que está acontecendo. Temendo a reação da população o policial, de revólver à mão direita apontando para mim, toma o walkie-talkie e pede ao comando um pelotão da polícia militar com 20 soldados para ajudar a prender um “perigoso marginal armado” que está resistindo a ordem de prisão e ameaçando a autoridade policial.
Humilhado e indefeso, sou forçado a subir num caminhão da polícia militar, escoltado pela arrogância e pelos insultos dos soldados armados e do insano policial. Transportam-me para a delegacia da Ladeira do Galés, em Brotas, Salvador, Bahia, Brasil.
Depois de 6 horas incomunicável detrás das grades, posso dar meu depoimento e provar (com a ajuda de um advogado e do meu sogro, que conhecia o delegado), que o “perigoso marginal armado”, acusado de ameaçar a autoridade policial, era em realidade um jovem sociólogo, funcionário da Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador, que transportava um botijão de gás em companhia da mulher e da filha menor de dois anos.
No carro, nada foi encontrado alem do bujão e do jornal com a noticia: “USA aumenta ajuda à ditadura brasileira.”

domingo, 1 de maio de 2011

Pensatas de domingo (uma reportagem)


Os novos sabores da leitura

Esta foi uma reportagem em que houve pauta, fontes e tudo a que tem direito, realizada e publicada em junho de 2002 na Faculdade de Jornalismo Pinheiro Guimarães. E que me valeu uma nota 10...

A moça lê seu livro atentamente naquele bar agradável. Na sua mesa, um prato com convidativo pedaço de bolo e o café pela metade, ainda esfumaçante. Ao seu redor, gente em outras mesas e livros, muitos livros. Afinal, estamos numa livraria no coração de Ipanema. Livrarias como esta vêm-se transformando em verdadeiros points, com a inclusão de cafés, lanchonetes e até restaurantes em seus ambientes.

A primeira livraria do Rio a possuir um bar foi a Bookmakers, na Gávea. Isto, segundo a proprietária da Argumento no Leblon, Laura Gasparian, 46 anos. Ela garante que a sua loja foi a segunda a disponibilizar este tipo de serviço a seus clientes.
"A minha clientela é tradicional, mas o café trouxe, inegavelmente, um certo incremento nas vendas. Pessoas que vêm aqui tomar um expresso ou comer alguma coisa, acabam levando um livro ao circularem pela livraria", garante Laura, que afirma, no entanto, não gostar que os clientes levem livros para o bar, porque muitas vezes eles simplesmente os recolocam em suas prateleiras, completamente sujos ou borrados. "Os educados acabam pagando pelos mal-educados, que não têm certos cuidados", conclui a proprietária.
O Café Severino, que fica dentro da Argumento, já existe há seis anos. Local aprazível, com uma decoração rústica composta de fotos abordando aspectos do Brasil, além de músicos e intelectuais do Rio de Janeiro. Serve, não somente o tradicional café expresso, mas também uma série de pratos como sopas de alho-poró ou cebola, além de saladas diversas como a do chef e até um penne ao molho de presunto cru e tomate seco. Trabalhando ali há cinco anos, Maria dos Anjos, copeira (e faz-tudo, segundo ela), 34 anos, garante que o movimento é bastante intenso e a clientela muito fiel e assídua.
Quando se entra na Letras & Expressões de Ipanema, não fosse pela tabacaria do lado direito, poder-se-ia dizer que se está entrando numa livraria como outra qualquer. Ao subir a escada, vem a surpresa bem à frente: o Café Ubaldo, um bar ocupando toda a metade esquerda do segundo andar. Ali, o movimento é grande, e, em alguns momentos, quase todas as pessoas estão lendo algum livro. Subindo mais um lance da mesma escada, a surpresa é ainda maior. No terceiro andar funciona o Bar do Zira, um ponto de encontro noturno para "ipanemenses" de todos os bairros da cidade. Todo decorado com desenhos do Ziraldo, este bar nos remete aos velhos tempos da Ipanema boêmia, do Zepellin, do Jangadeiros e da "turma do Pasquim". Durante o dia, o Bar do Zira serve eventualmente a exposições.
A professora Ana Maria Vieira, 23 anos, acha que as livrarias hoje em dia têm uma política de relação com os seus clientes muito mais simpática. O próprio fato de poder pegar um livro, sentar no bar, pedir um café, um chá ou um refrigerante, saborear uma torta e poder ler à vontade é uma forma de ter a possibilidade, inclusive, de avaliar se um determinado livro vale a pena ou não. No seu ponto de vista isso evita enganos ou perda de tempo e dinheiro. Ela acha também, que com os bares, as livrarias passam a ser pontos de encontro entre amigos.
Já o advogado Antônio Gonçalves, 28 anos, ressalta no mesmo sentido que livros, são na maioria das vezes dispendiosos e que poder pesquisa-los antes da compra é um grande facilitador."Bem melhor do que no tempo em que até dar uma 'olhadinha' nos livros da prateleira, era motivo para um olhar torto e recriminante por parte dos vendedores", finaliza.
Curiosamente, a sede da Letras & Expressões não é na loja de Ipanema, e sim, na do Leblon. Seu gerente, Raílson Araújo, 33 anos, trabalha ali há nove anos, e a Letras & Expressões foi o seu primeiro emprego em livrarias. Raílson, anteriormente trabalhava com bancas de revista. Ele fala sobre as modificações que estão acontecendo na loja, que tem como diferencial um atendimento 24 horas e a exemplo da outra, uma tabacaria completa logo na sua entrada. "É muito bom termos o nosso bar e computadores como pontos para internautas. Estamos ampliando o nosso espaço, e é bem melhor a loja ter entrada não somente pela Ataulfo de Paiva, mas também pela Dias Ferreira", afirma Raílson com grande entusiasmo.
Do outro lado da cidade, bem no centro, encontra-se a Travessa do Ouvidor, uma ruela estreita que liga a igualmente estreita rua do Ouvidor à Sete de Setembro. Bem no meio dela, tem um interessante monumento a Pixinguinha. E logo adiante a Livraria da Travessa. Uma livraria que tem a luz, a música e o atendimento na medida ideais. Num ambiente que, aliás, transmite peso cultural e credibilidade. Seu layout perfeito é aconchegante e uma proposital "informalidade" complementa o clima intelectualizado e sofisticado que a caracterizam tão fortemente. Ao fundo o café e lanchonete. E, como se não bastasse, virando à direita uma papelaria completíssima, a Papel Kraft, que também tem entrada independente pela Travessa do Ouvidor, em porta contígua à da livraria.
A Travessa, costuma ser freqüentada por diversos artistas, intelectuais e escritores do cenário carioca. Antônio Torres é um deles. Escritor traduzido em várias línguas, este baiano de 61 anos, cujo primeiro livro foi "Um Cão Uivando para a Lua", que está sendo reeditado pela Record, agora que o livro completa 30 anos de sua primeira edição, considera-se um verdadeiro "fuçador de livrarias". Torres, que também carrega em sua bagagem sucessos como "Essa Terra" e "Um Táxi para Viena D'Áustria", considera a Travessa um dos pontos mais requintados da cultura na cidade do Rio de Janeiro. O fato, porém, é que, na realidade, o escritor está sendo mesmo homenageado pela Letras & Expressões ao inaugurar, o seu bar na sede do Leblon, cuja marca, criada pelo cartunista Ziraldo leva o nome de Bar D'Antônio Torres.
A vendedora Roberta Siqueira, 35 anos, diz freqüentar a Travessa casualmente, por estar à procura de um livro para a sobrinha. "Eu não conhecia esta livraria e entrei aqui por acaso... mas fiquei impressionada com o que eles oferecem, e também com o ambiente bastante agradável... a papelaria tem coisas lindas". Roberta não resistiu ao charme do bar.
Mas isso tudo não é uma exclusividade apenas da sede. Numa das lojas de Ipanema, encontramos as mesmas características, embora em um espaço físico bem mais reduzido. O bar, neste caso, fica num mezzanino, de onde se avista boa parte da requintada loja. Isto, sem contar a nova loja no centro (existe há cerca de um ano), que chama a atenção pelo prédio antigo em que está situada em plena avenida Rio Branco, próxima à Teófilo Otoni. A Travessa também inaugurou em maio de 2002 outra loja em Ipanema.
Ao contrário da Travessa, a Saraiva Mega Store assume muito mais a característica de um hipermercado. Sendo extremamente claras, modernas e bem sinalizadas, suas lojas têm semelhanças com lanchonetes de fastfood. A Saraiva, em algumas das suas filiais, também oferece serviços de internet para seus clientes. A loja situada na Rua do Ouvidor é muito grande e completa, ocupando três andares. A sede do grupo é em São Paulo, onde a Saraiva foi fundada em 1914, por Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva, imigrante português de Trás-os-Montes.
A gerente de Comunicação do Grupo Saraiva Vera Esaú, explicou, por telefone, não ser permitido o depoimento de funcionários à imprensa por uma questão de política da empresa. No entanto, liberou à reportagem entrevistar os clientes.
Tomando um café numa mesa, no bar da Saraiva do Rio Sul e folheando um volumoso livro (que ressalta ser de sua propriedade), Mary Moreno, médica, 36 anos, acha que este tipo de livraria, além de muito boa, é realmente uma tendência para o futuro. "Hoje em dia, até compro mais livros do que antigamente", finaliza.
Já o estudante Felipe Souza Ramos, 17 anos, é mais motivado em suas visitas à Saraiva, pela papelaria, pelos cadernos e "canetinhas" que encontra ali. "Sempre que venho ao shopping dou uma passada por aqui, porque tem sempre uma novidade", afirma ele com entusiasmo.
Em Botafogo, encontra-se a Livraria Prefácio, bem no início da rua Voluntários da Pátria. O seu "café" fica logo na entrada. Contudo, várias mesas se espalham por dentro da loja, inclusive num jirau. O acervo da loja é bem completo, e ela ainda possui uma tabacaria. A Prefácio fica muito próxima aos cinemas do Espaço Unibanco, que, aliás, também tem um bar e a pequena, porém decente Livraria do Espaço, esta voltada em grande parte (embora não exclusivamente) para literatura ligada à sétima arte.
Pequena também é Livraria do Museu da República, que, a exemplo da Livraria da Estação Unibanco, não tem um café no seu interior, embora o possua no perímetro do seu espaço cultural. Aliás, bem ao seu lado, e também ao lado do cinema (Estação Museu da República). Ali também se encontra o Museum, restaurante de primeira grandeza que se inclui no complexo do Museu, antigo Palácio do Catete, que, muito embora não tenha sido a única, foi a principal sede do Poder Executivo desde a República Velha até a sua transferência para Brasília no início dos anos 60. Complementam este complexo o teatro, o espaço multimídia e o vasto jardim do palácio, que, constantemente é o cenário de exposições e perfomances de artistas plásticos ou músicos.
Mas até os "sebos" têm seus "cafés". No Paço Imperial - outro importante centro cultural da cidade -, no mesmo local em que existiu a Livraria Dazibao, funciona hoje a Livraria Imperial, especializada em livros usados e que possui um bar bastante movimentado.
É certo que existem outras livrarias pela cidade que não constam nesta matéria. Até porque, estão presentes nesta reportagem apenas algumas das lojas que oferecem serviços complementares de bar ou restaurante aos seus clientes. Provavelmente, a cada dia surgirão mais e mais livrarias que ofereçam este tipo de serviço. É um atrativo, uma tendência e um sintoma de renovação e modernidade no comércio de livros, que, certamente abre uma nova dimensão a esse tipo de negócio. E, sem dúvida alguma, um novo sabor.