segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental


Este texto foi originalmente postado por Stela B. de Almeida em seu blogue “Cultura, Política e Cinema” (ver link ao lado).

ATIVIDADE REALIZADA NO FÓRUM SOCIAL TEMÁTICO
Porto Alegre e Região Metropolitana/RS Brasil
24 a 29 de janeiro 2012

Síntese: Atividade necessária e urgente na luta contra os agrotóxicos no mundo. Mostra de filmes apresentados na 38ª Jornada de Cinema da Bahia, em sintonia com o lema do evento: "Por um mundo mais humano". A mídia amordaçada não divulga as pesquisas que cientistas renomados fizeram da ação da Monsanto e similares no envenenando do mundo. O escritor uruguaio Eduardo Galeano, revela ser o Brasil o campeão do agrotóxico no mundo, onde cada brasileiro consome mais de 5 quilos de veneno por ano. Os filmes de Marie-Monique Robin, Silvio Tendler e Noilton Nunes levam a conclusões políticas mais aprofundadas onde somos convidados a mudar o modelo de produção antes da extinção da espécie humana. A necessidade de denunciar esse crime fez-nos decidir participar do FSTemático, movidos pela necessidade de tomar uma atitude e sinalizar para outras forças.
Cinema e Agrotóxico (1) As mudanças climáticas e a destruição da biodiversidade vêm sendo considerados hoje como os principais perigos que ameaçam a humanidade. Modificar urgentemente o modelo de produção dominante, determinado pelo atual modelo de globalização econômica, apresenta-se como uma exigência decisiva para não chegarmos ao limite do não retorno da vida humana no planeta. O cinema como instrumento de resistência e conscientização pode contribuir para a divulgação e reflexão de idéias contraponto da destruição do planeta e alerta das possíveis conseqüências para a humanidade.
As projeções nas últimas edições da Jornada de Cinema da Bahia vêm, sistematicamente, mostrando e denunciando estes perigos e divulgando os efeitos perversos do modelo de destruição do planeta TERRA. As principais denúncias e alertas trazidas pelos realizadores destes filmes, a nosso ver, merecem ampla divulgação e debate. Tomemos, dentre outros filmes produzidos recentemente, a síntese das principais denúncias que se encontram em: O Mundo segundo a Monsanto de Marie-Monique Robin.
O filme O Mundo segundo a Monsanto, precedido pelo lançamento do livro publicado pela Editora Radical Livros, São Paulo, foi lançado no Brasil mostrando o resultado de três anos de pesquisa e visita a vários países, entre eles, Grã Bretanha, Estados Unidos, Índia, México, Brasil, Vietnã, Noruega. O livro traduzido em 20 países, conta com mais de cem mil exemplares vendidos na França. O mundo segundo a Monsanto (Le Monde selon Monsanto) documentário apresentado para o canal franco-alemão Arte, foi exibido e debatido na Jornada Internacional de Cinema da Bahia, em setembro de 2011.
As principais conclusões apresentadas em livro e filme pela jornalista evidenciam que: Está provado que os transgênicos fazem mal a saúde. Várias pesquisas comprovam as conseqüências de populações que foram afetadas pela ação dos transgênicos.
As pesquisas sobre os transgênicos não chegam ao conhecimento da população. Há um boicote aos pesquisadores/cientistas que realizam as denúncias e mostram o efeito nocivo dos transgênicos.
Há vários casos de cientistas e suas equipes que perderam seus postos de trabalho e tiveram suspensos os financiamentos de suas pesquisas ou foram difamados em público quando denunciam os efeitos nocivos dos transgênicos. A Monsanto impede que os resultados das pesquisas sejam publicados em revistas científicas e pagam a outros cientistas para publicar artigos desmoralizando os resultados que mostram os efeitos nocivos no organismo humano. Os argumentos são de que nada prova que os transgênicos provoquem problemas e que não vale à pena pesquisar sobre eles. Para defender seus interesses comerciais a Monsanto vem bloqueando a pesquisa científica, investindo na destruição do trabalho e da reputação de cientistas que chegam a conclusões que prejudicam seus interesses de lucro.
Apesar de negar-se a divulgar resultado que contrariem seus interesses comerciais, a Monsanto afirma haver constatado diferenças no fígado, nos testículos e nos rins dos ratos, mas não atribui tais diferenças à manipulação genética. Porque tudo isso? O objetivo da Monsanto é o lucro, diz ela, conseguir que os agricultores sejam obrigados a usar suas sementes e seus herbicidas, mesmo que apresente conseqüências graves para a agricultura e para a humanidade, e mais grave, nas terras onde se planta uma vez transgênico, não se consegue plantar sementes orgânicas.

Alguns avanços tem-se conseguido: no Canadá consegui-se impedir a introdução do trigo transgênico; a existência de Campanhas de várias organizações de camponeses e do Greenpeace tem conseguido que as sementes transgênicas tivessem sua entrada barrada em alguns países da Europa; a pressão aos governos e órgãos públicos responsáveis pela fiscalização dos alimentos torne-se uma constante. Para finalizar, recomenda-se a checagem de dados em: www.combat-monsanto.org onde se encontra parte do que é denunciado no filme. O filme vai além, divulgando inúmeras entrevistas e visitas a vários países, convidando o leitor ao diálogo e denúncia da destruição da biodiversidade e do modelo de produção que coloca em perigo a humanidade (2).

1. O debate sobre os agrotóxicos precisa ser ampliado. Há uma produção considerável de trabalhos, estudos e pesquisas já divulgados e de conhecimento da população. Também, os Fóruns Sociais Mundiais tem- se pronunciado ao longo da sua história sobre o tema, mostrando a importância da questão no mundo moderno. Reavivá-lo tem o sentido de fortalecer tomada de posição e questionamento do modelo de exploração predatório da terra e das práticas de destruição do planeta.

2. O filme O veneno está na mesa de Sílvio Tendler e A terra sem veneno de Noilton Nunes, exibidos no FST2012 foram distribuídos na Atividade Autogestionária em cópia restrita, autorizada por seus realizadores.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Pensatas de domingo, ou o que há de comum entre Obama e Hitler?


A postagem abaixo, de uma notícia –por razões óbvias– pouquíssimo divulgada no Brasil pela grande mídia burguesa, foi baseada em informações publicadas no jornal A Hora do Povo (São Paulo) e comentadas num artigo do professor Jorge Moreira, publicada neste blogue em 21 de janeiro...
    
O Senado dos EUA aprovou uma lei denominada National Defense Authorization Act (Lei de Autorização de Defesa Nacional), que permite ao presidente do país, recorrendo às Forças Armadas, prender, sem julgamento, sem acusação formal e por tempo indeterminado qualquer cidadão norteamericano em solo dos Estados Unidos ou em qualquer lugar do mundo.
A lei foi oportuna –e oportunísticamente– anunciada por Obama na noite de Ano Novo...
Antes dessa lei, no governo Bush, já fora autorizada a “derrogação” de leis de defesa dos cidadãos norteamericanos contra arbitrariedades. Uma delas passou a permitir à espionagem do governo, violar correspondência ou inquirir em bibliotecas públicas sobre livros lidos por cidadãos do país) denominada de Ato Patriótico; a outra é a Autorização para Uso de Força Militar. Elas foram usadas para prender pessoas das mais diversas nacionalidades, sem julgamento, na Base de Guantánamo, além de prisões secretas em outros países.
A verdade pura e simples é que a tirania toma seu lugar. Como resultado dessa nova lei, ninguém que questione o poder central está seguro.
A diretora da União pelas Liberdades Civis – ACLU (1) em Washington, Laura Murphy, destacou que uma lei como essa só foi aprovada pelo Congresso durante a “caça às bruxas” no período de perseguições  Macartista. No entanto a lei era de tal forma “draconiana” que foi vetada por Truman, então presidente dos EUA.
Segundo informação de “A Hora do Povo”, a ACLU alerta que a lei não estabelece limites nem de geografia, duração da prisão ou cidadania do detido.
A lei rasga a Constituição dos Estados Unidos que, uma vez em vigor, anula a denominada 5ª Emenda que determina que “ninguém deve ser preso para responder por crime a menos que condenado por um júri”. E tambem que “ninguém pode ser privado da vida, liberdade, propriedade, sem o devido processo legal”.
Como disse o Professor Jorge Moreira em seu artigo: “(...) Não é difícil perceber que cada dia que passa o governo, sempre sob o pretexto da luta anti terrorista, toma abertamente, medidas questionáveis contra os direitos democráticos dos estadunidenses, aproximando a sua forma de governo da forma fascista de governar...”
Em resumo, é o fascismo, na sua forma mais clara, implantado em definitivo em território estadunidense.

1. Por mais de 80 anos a “União Estadunidense pelas Liberdades Civis” (American Civil Liberties Union, ou ACLU na sigla em inglês) tem trabalhado para defender direitos fundamentais como a liberdade de expressão, a liberdade religiosa e o direito à privacidade. Os esforços dos advogados da ACLU também influenciaram interpretações da lei constitucional dos EUA.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Avaaz divulga um importante ALERTA


Avaaz.org, divulgou o seguinte e importante comunicado:
 
“Caros amigos,

Um novo tratado global pode permitir que corporações policiem tudo que fazemos na Internet. Na semana passada, três milhões de pessoas ajudaram a adiar projetos de lei de censura nos EUA -- se agirmos agora, poderemos fazer com que o Parlamento Europeu enterre esse novo tratado para todos nós:

Assine a petição
Na semana passada, 3 milhões de nós contraatacaram a investida dos Estados Unidos sobre nossa Internet! -- mas há uma ameaça ainda maior e nosso movimento global pela liberdade online está completamente decidido a acabar com essa ameaça de uma vez por todas.

ACTA - um acordo global - pode permitir que as corporações censurem a Internet. Negociado secretamente por um pequeno número de países ricos e por poderes corporativos, esse acordo configuraria um novo órgão sombrio para a regulamentação comercial internacional que daria poder para interesses privados policiarem tudo que fazemos online e iria impor enormes penalidades -- inclusive sentença à prisão -- a pessoas que eles julgarem estar afetando seus negócios.

Nesse exato momento, a Europa está decidindo se ratificará ou não o ACTA -- e sem ela, o ataque global à liberdade na Internet vai desmoronar. Nós sabemos que a Europa se opôs ao ACTA anteriormente, mas alguns membros do Parlamento Europeu estão hesitando -- vamos dar o empurrão que eles precisam para rejeitar o tratado. Assine a petição -- faremos uma entrega espetacular em Bruxelas quando alcançarmos 500.000 assinaturas:

http://www.avaaz.org/po/eu_save_the_internet/?vl

É revoltante -- os governos de quatro quintos da população mundial foram excluídos das negociações do Acordo Comercial Antipirataria (ACTA) e burocratas não eleitos têm trabalhado de perto com lobistas corporativos para criar novas regras e um regime de aplicação dessas regras altamente perigoso. O ACTA cobriria inicialmente os EUA, Europa e 9 outros países, e então se expandiria para o mundo. Mas se conseguirmos que a União Europeia diga não agora, o tratado perderá sua força e poderá ser paralisado para sempre.

As regras bastante rigorosas significam que pessoas em qualquer lugar do mundo são punidas por atos simples como compartilhar um artigo de jornal ou enviar um vídeo de uma festa que possua uma música sob direitos autorais. Vendido como sendo um acordo comercial para proteger os direitos autorais, o ACTA pode também banir medicamentos genéricos que salvam vidas e ameaçar o acesso de fazendeiros locais a sementes que eles precisam. E, espantosamente, o comitê do ACTA vai ter carta-branca para mudar suas próprias regras e sanções sem controle democrático.

O interesse das grandes corporações está pressionando muito pela aprovação do ACTA, mas o Parlamento Europeu está no meio do caminho. Vamos enviar um apelo enorme aos parlamentares para ignorarem o lobby e se posicionarem a favor da liberdade da Internet. Assine agora e envie para todos que você conhece.

http://www.avaaz.org/po/eu_save_the_internet/?vl

Na semana passada, vimos a dimensão do poder da coletividade quando milhões de nós juntaram forças para impedir que os EUA aprovassem leis de censura da Internet que atingiriam a rede em cheio. Nós também mostramos ao mundo o quão poderosas nossas vozes podem ser. Vamos levantar nossas vozes mais uma vez para combater essa nova ameaça.

Com esperança e determinação,

Dalia, Alice, Pascal, Emma, Ricken, Maria Paz e o restante da equipe da Avaaz

Mais informações:

ACTA: poloneses vão às ruas protestar contra acordo antipirataria (Terra Brasil)
http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI5575829-EI12884,00-ACTA+poloneses+vao+as+ruas+protesta+contra+acordo+antipirataria.html

Se você achava que SOPA era ruim, espere até conhecer o ACTA (em inglês) (Forbes)
http://www.forbes.com/sites/erikkain/2012/01/23/if-you-thought-sopa-was-bad-just-wait-until-you-meet-acta/

ACTA vs. SOPA: Cinco razões pelas quais o ACTA é a ameaça mais assustadora para a liberdade na Internet (em inglês) (IB Times)
http://www.ibtimes.com/articles/286925/20120124/acta-sopa-reasons-scarier-threat-internet-freedom.htm?cid=2

O tratado secreto: ACTA e seu impacto no acesso a medicamentos (em inglês)
http://www.msfaccess.org/content/secret-treaty-anti-counterfeiting-trade-agreement-acta-and-its-impact-access-medicines 
  
Leia e DIVULGUE este importante documento da AVAAZ... Sua PARTICIPAÇÃO pode ser fundamental PARA VOCÊ MESMO!

O marines estão chegando ...


Transcrito de artigo publicado ontem na “Tribuna na Internet” (1)
 
Os Estados Unidos enviaram 12 mil soldados para a Líbia na primeira fase de mobilizações para ocupação da nação norte africana. De acordo com o diário árabe Asharq Alawsat, as tropas chegarão a Brega, sob a suposta premissa de gerar “estabilidade” e “segurança”.
Sem embargo, se espera que as tropas tomem o controle dos principais poços de petróleo e demais portos estratégicos, como resenhou a agência PressTV.
Brega, cidade portuária, está localizada no oriente da Líbia, e conta com um dos cinco terminais de petróleo da região, além de ser uma importante refinaria.
A chegada da marinha estadunidense coincide com a explosão de uma bomba de “fabricação caseira” na sede do autoproclamado Conselho Nacional de Transição (CNT), localizado na cidade de Benghazi, ao noroeste, depois que pelo menos 200 pessoas protestaram diante de seus escritórios denunciando a falta de transparência.
Responsáveis do CNT asseguraram que “reforçaram as medidas de segurança” e que investigam quem foram os responsáveis pelo ataque.
Recapitulando: no dia 20 de outubro, o então presidente líbio Muammar Gaddafi foi capturado pelas forças da Organização do Atlântico Norte (OTAN) e entregue a mercenários rebeldes que o executaram. Dois dias antes, a Secretária de Estado dos EUA havia feito uma visita a Trípoli para reunir-se com o CNT.
A OTAN vinha realizando um forte bombardeio ao país norteafricano, logo após a aprovação da Resolução 1973 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas que só se referiam a criar uma zona de segurança aérea, o que ocasionou uma forte crítica ao redor do mundo, incluídas as potências Rússia e China, porque os mísseis ocasionaram a morte de mais de 50 mil pessoas, na maior parte deles, civis.
Além disso, organizações de direitos humanos denunciaram os crimes de guerra e violações contra civis líbios por parte das tropas da OTAN e seus mercenários.
Dez dias depois da morte de Gaddafi, o CNT designou Abdel-Rahim al-Kib como primeiro-ministro líbio. Al-Kib lecionou em universidades estadunidenses e dirigiu o Instituto do Petróleo dos Emirados Árabes Unidos antes de unir-se ao CNT, em meados de 2011. Algumas de suas pesquisas em engenharia elétrica foram financiadas pelo Departamento de Energia dos EUA.
Agora, começa a esperada ocupação pelo marines.

1. http://www.tribunadaimprensa.com.br/


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Todo dia é tempo de luta!

Para ampliar, clique na imagem
Apesar da mobilização ter sido ontem, todo dia pode ser um dia para nos mobilizarmos contra a insistente tentativa de monopólio da comunicação  pela Rede Globo neste país.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Em que Papai Noel você acredita?


Tenho imensa satisfação em recomendar a vocês, um ensaio dos professores Jorge Moreira e Catherine Bryan em que expõem e analisam o que há por trás da história de Santa Claus (San Nicolas, Father Christmas, Pai Natal, Papai Noel, etc) e da sua função ideológica em prol do capital imperialista.

Os autores revelam que a “marca” (1) tem suas origens na Idade Média, e está baseada na vida e no nome do bispo Nicolás de Beri, mas que foi transformada na legenda de San Nicolás. Eles nos relatam como, a partir do século XIX, o original foi transfigurado em uma nova figura chamada Santa Claus, cujo vestuário, historia e ambientação  foram produzidas por artistas e corporações estadunidenses, sobretudo pela Coca-Cola (já no século XX) com o objetivo de acelerar as vendas de mercadorias capitalistas.
O texto ainda mostra e analisa como a narrativa de Santa Claus funciona como um ato simbólico cujo inconsciente político se encontra na historia reprimida da luta de classes desde suas origens. Por fim explica como a “marca” Santa Claus realiza hoje predominantemente funções de, por um lado, acelerar a velocidade do capital comercial para produzir lucros e do outro, funcionar como instrumento ideológico para submeter os povos de diferentes culturas à dominação e à exploração imperialista.
Para lê-lo (em castelhano) clique no link do excelente Rebelión:
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=142557 (2)

1. Marca é a representação simbólica de uma entidade, qualquer que ela seja, algo que permite identificá-la de um modo imediato como, por exemplo, um sinal de presença, uma simples pegada. Em comunicação pode ser um signo, um símbolo ou um ícone. Mas uma simples palavra pode representar uma marca.
   
2. Problemas técnicos estão a dificultar o acesso ao link, e, infelizmente nos obrigando a copiar e colar o direcionamento para completar esta operação...
 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Corrientes, 348...


Publicado em abril de 2008 no Pensatas e neste blogue em fevereiro de 2009.
  
Estivemos em Buenos Aires no ano de 1985. Até então, eu nunca saíra do Brasil (1). E o contato com uma cidade “quase” européia foi simplesmente deslumbrante, apesar de termos chegado durante a implantação do “Plano Austral”, coisa que bagunçou todo o câmbio e deixava a gente “mais perdido do que cego em tiroteio”.
Buenos Aires é uma cidade fantástica. Andar pela Calle Florida, descobrir as Confiterias e suas delícias na hora do chá. Percorrer os bares da Ricoleta, devorar um bife de chorizo numa casa de Parrillas, passear pela maravilhosa “Feira de Santelmo”, ou pegar a “Linha 1” do metrô com seus “bondes” velhos mas poéticos (2), são programas que não se podem deixar de fazer. Isto sem contar a “visita obrigatória” à casa de tango.
Como em Madri ou Barcelona, é comum ver-se casais adentrar a madrugada, com seus bebês dormindo a tiracolo, catando lugares em algum barzinho da vida para saborear um bom vinho. Aliás, também como na maioria das cidades espanholas, Buenos Aires parece que morre entre as seis e nove da noite. Aí então começa o burburinho, a grande invasão dos amantes da noite. Acho isso fora de série. Costumo dizer que se não fosse a violência, o Rio de janeiro seria sempre assim. E até, em certo sentido, já é. Está aí a Lapa que não me deixa mentir.
Cinco anos depois eu estava morando na Europa. E me lembrava que Buenos Aires fora uma espécie de estágio para aqueles momentos. A emoção que tive quando percorri os Champs Elisées com o “Arco do Triunfo” ao fundo não foi muito diferente daquela na noite em que cheguei na Corrientes (3), cheia de gente alegre, e lembrei daquele número 348, que a imortalizou.

(1) Minha mulher já havia saído do Brasil, pois, trabalhara em turismo. Em 1972 a PanAm, ofereceu uma verdadeira volta ao mundo para ela e outros agentes de viagem. No início daquele ano, ela simplesmente conheceu Caracas, Nova Iorque, Tóquio, Hong Kong, Honolulu e Los Angeles, numa viagem de quase um mês de duração.
   
(2) O metrô de Buenos Aires, conhecido como “el subte” foi um dos primeiros do mundo. Inaugurada em 1913, a “Linha 1”, até hoje conserva seus carros originais. Por acaso, a estação dela ficava ao lado do nosso hotel, na esquina de Florida com 9 de Julho, quase em frente ao Teatro Colón.

(3) Este endereço da Avenida Corrientes foi imortalizado pelo tango “A media luz”, cuja letra narra os encontros amorosos entre jovens de classe alta e as mulheres da noite, “La Cumparsita” e outros.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Pensatas de domingo e as recordações de um mito


Herminio Sacchetta em foto antiga
Corria o ano de 1966. Eu e o saudoso camarada Ruy Raposo militávamos no POR-T (Partido Operário Revolucionário - Trotskista), Seção Brasileira da IV Internacional. Acontece que, desde que entráramos para aquela organização tínhamos profundas divergências quanto a alguns de seus posicionamentos políticos. Já até falei neste blogue o quanto a “Quarta” era dividida. Havia mais de uma corrente no continente. Nós, no Brasil, ficaramos quase que isolados de todas as outras tendências, em contato forçado com os “Posadistas”, que tinham este nome em função de seu dirigente, J. Posadas, pseudônimo de Homero Cristali, um militante argentino que assumira grande parte da Internacional na América. Tentamos, nós dois, estabelecer contatos com os trotskistas europeus, dirigidos por Michel Pablo, mas as tentativas foram em vão.
O fato é que Posadas e os “Posadistas” assumiam posições cada vez mais alucinadas em relação à “chantagem” atômica, aos caminhos da Revolução Cubana e até a teses estapafúrdias sobre a existência de discos voadores. O que nos deixava em situação de divergência cada vez mais acentuada com o núcleo dirigente.
Sabiamos que pouco mais de três anos antes (1963), houve uma tentativa de unificação em torno do Secretariado Unificado, que não conseguiu reunir todos os trotskistas. Justamente os “Posadistas” e algumas correntes européias, então lideradas por Pierre Lambert, ficaram de fora, frustrando os esforços desta unificação.
Naquela ocasião (1966), o Ruy tomou conhecimento da existência do MCI (Movimento Comunista Internacionalista), algo que nos agradou bastante, por ser também uma organização de orientação trotskista. Teríamos que ir a São Paulo para estabelecer contato com eles. E foi o que fizemos.
Nosso primeiro encontro foi com um militante de quem não me lembro o nome. Fomos à sua casa, nos reunimos  e tivemos uma excelente impressão. Ele então anunciou que iríamos encontrar o “velho”. Já sabíamos quem era, e, apesar de o conhecer de nome, nunca estivéramos com ele. E assim fomos encontrar Hermíno Sacchetta (1). Antigo militante revolucionário, Sacchetta era uma figura vivida, que atravessara os anos de repressão da ditadura Vargas e agora enfrentava os do regime militar.
Sacchetta em foto da época em que o conhecemos
Após um deslocamento cheio de despistes e vais e vens, típicos daqueles anos de ditadura, fizemos uma excelente reunião em um “aparelho” ao qual nem sei como chegamos e trocamos muitas idéias. Foi um final de tarde muito agradável. E considero Sacchetta, ao lado de Edmundo Moniz, uma das figuras mitológicas que conheci entre os trotskistas históricos. Todavia nossos entendimentos não seguiram adiante, porque pouco tempo depois o Partido "caiu" no Rio devido a uma infiltração... E todos nós, ou fomos presos ou tivemos que fugir. Este foi o meu caso. Fiquei quase dois anos escondido em fazendas e sítios pelo Brasil afora.
   

(1) Hermínio Sacchetta (1909-1982), consta no MIA (Marxists Internet Archive) como “brasileiro, nascido em São Paulo, iniciou sua carreira na imprensa, como revisor, no Correio Paulistano. Engajou-se na luta revolucionária através do Partido Comunista Brasileiro, em 1932, onde atuou no setor de agitação e propaganda chegando a secretário do Comitê Regional de São Paulo; foi ainda um dos principais editores do jornal “A Classe Operária” (órgão central do PCB) até 1937, quando foi expulso da organização sob alegação de dissidência trotskista. Preso político durante o Estado Novo, após sua libertação, em novembro de 1939, participou da fundação do Partido Socialista Revolucionário, Seção Brasileira da IV Internacional nos anos 40 e 50 impulsionando o jornal Orientação Socialista. Perde o contato com os agrupamentos internacionais que reivindicavam o trotskismo com a crise em 52/53 e o fim do centralismo democrático na IV Internacional. Posteriormente atuou na Liga Socialista Independente, de tendência luxemburguista e, nos anos 60, no Movimento Comunista Internacionalista. Mestre do jornalismo colaborou na formação de inúmeros profissionais e contribuiu com a imprensa diária e a de divulgação política.”

sábado, 21 de janeiro de 2012

O totalitarismo de Obama, o impeachment em Wisconsin e a Luta de Classes nos EUA

Protestos em Madison, capital do Wisconsin
Depois de várias semanas sem poder (por falta de tempo) enviar noticias frescas dos EUA aos leitores de Novas Pensatas, gostaria de começar o ano de 2012, chamando a atenção para a relevância de dois dos mais importantes acontecimentos da política interna dos EUA sob a administração do presidente Barack Obama e do governador Scott Walker, do estado de Wisconsin.

Jorge Vital de Brito Moreira (*)

1) Enquanto a maioria da população dos EUA (e de outros países ocidentais) se divertia comemorando o Natal e as festas do fim do ano, o presidente Obama assinou em 31 de dezembro de 2011, o projeto de lei que permite a detenção de cidadãos estadunidenses indefinidamente sem nenhum julgamento (**).
Como costuma suceder ritualmente com a tomada de decisões políticas autoritárias e anti democráticas nos EUA, o presidente se aproveitou do fato de que os estadunidenses se alegravam (procurando, entre outras coisas, escapar do terrível pesadelo de um futuro sacrificado por uma dívida pública de 15 trilhões de dólares), para assinar a Lei de Autorização da Defesa Nacional (National Defense Authorization Act, NDAA) que, por uma parte, autoriza os gastos militares pelo valor astronômico de  662.000.000.000 bilhões de dólares e, por outra, autoriza o governo a deter indefinidamente sem julgamento aos cidadãos dos EUA.
Também foi divulgado que mesmo com a oposição ao projeto por figuras públicas que são membros-chave da administração do presidente (o secretário da Defesa, Leon Panetta, o diretor do FBI, Robert Mueller e o diretor da agencia de Inteligência Nacional, James Clapper) Barack Obama colocou sua assinatura  no aterrorizador projeto de lei.
Depois disso, muitos estadunidenses ridicularizaram o comunicado (que acompanhou o projeto de lei) de Obama onde ele informava que assinou a lei, apesar de ter "sérias reservas" com as partes relativas ao interrogatório, detenção e julgamento dos suspeitos de terrorismo.
Acredito que o leitor de qualquer parte do planeta tem o direito de permanecer cético e duvidar da honestidade das palavras “sérias reservas” do presidente, pois seu discurso de cunho populista e cínico, parece não passar de uma desculpa desajeitada para conseguir votos para sua reeleição como presidente desta república.
Também já era prevista, a reação antiautóritaria dos grupos de defesa dos direitos humanos que não se fez esperar: ela atacou o presidente Obama pelo retrocesso na sua ameaça inicial de vetar o projeto de lei.
Kenneth Roth da Human Rights Watch, por exemplo, disse: "O presidente Obama vai ficar na história como aquele que consagrou a lei de detenção indefinida sem julgamento nos EUA.”
Por seu lado, Chris Anders, da União das Liberdades Civis dos EUA, também expressou a sua crítica da lei quando afirmou que a partir de agora “qualquer presidente poderia usar esses poderes para fazer que os militares detenham indefinidamente as pessoas sem acusação e sem julgamento, por anos ou por toda a vida.”
A crítica da esquerda política tão pouco se fez esperar. Ainda em estado de choque devido a mais um ato anticonstitucional do presidente, jornalistas, advogados, escritores, intelectuais, professores e lideres de organizações em prol dos direitos humanos, também mostraram fortes reações verbais contra a assinatura de Obama a uma lei com características totalitárias como esta.
Ontem foi um dia especial na luta contra esta ignominiosa lei, pois o jornalista Chris Hedges, ganhador do prêmio Pulitzer, saiu da etapa do protesto discursivo para entrar, pela primeira vez, com uma ação legal contra o presidente Barack Obama e o secretário de Defesa, Leon Panetta. O objetivo da ação legal é contestar e impugnar a legalidade da Lei de Autorização de Defesa Nacional, incluindo as disposições que permitem que o exército possa aprisionar qualquer pessoa suspeita de terrorismo em qualquer lugar do mundo sem acusação e sem processo.
Não é difícil perceber que cada dia que passa o governo, sempre sob o pretexto da luta anti terrorista, toma abertamente, medidas questionáveis contra os direitos democráticos dos estadunidenses, aproximando a sua forma de governo da forma fascista de governar (adiante ainda mencionarei algo mais sobre o fascismo neste texto).

2) Num texto intitulado “Plutocracia, autoritarismo e luta de classes: a batalha contra o governo anti democrático do estado de Wisconsin, EUA “publicado por rebelion.org (e traduzido ao português para Nova Pensatas, de 3 de março de 2011), escrevi comentários sobre a retomada do processo da luta de classes entre o governo republicano de Scott Walker e os trabalhadores do estado de Wisconsin. No texto, tratava de informar que os trabalhadores deste estado, decidiram começar um processo de obtenção de firmas necessárias para a destituição do governador.
Depois de alguns meses desde a publicação do meu texto, tenho a alegria de anunciar que os trabalhadores do estado de Wisconsin, opositores do governo republicano de Scott Walker, coletaram mais de um milhão de assinaturas com o objetivo de conseguir a demissão do famigerado governador, assim como a de Rebecca Kleefisch, a vice governadora do governo do estado
A cifra de mais de um milhão de assinaturas coletadas é um poderoso sinal de uma grande vitoria, pois representa quase o dobro do montante exigido (540.000 assinaturas) para iniciar o processo e está sendo destacado como o maior número de pessoas apresentadas para um processo de impedimento (recall) na história dos EUA.
Como havia informado antes, a oposição ao governador Walker vinha crescendo depois que ele, para enfrentar a crise econômica do país (e do estado de Wisconsin em particular), assinou uma lei extremamente autoritária que põe fim ao direito de negociação coletiva da maioria dos funcionários públicos.
Os trabalhadores também coletaram assinaturas para conseguir a remoção do líder da maioria do Senado de Wisconsin e outros três senadores republicanos pois eles também apoiaram a lei que foi aprovada no ano passado; que terminou com os direitos de negociação coletiva da maioria dos funcionários públicos.
Assim a notável oposição entre as duas noticias anteriores (assinaturas a favor e assinaturas contra o capitalismo) expressam claramente as contradições sociais e a intensificação da luta de classes dentro do pais, invalidando dialeticamente todo o discurso mistificador das autoridades e da mídia corporativa de que vivemos em uma sociedade democrática, onde não existe conflito entre as classes sociais estadunidenses.
E preciso tomar consciência de que nos períodos de crises  do sistema, de intensificação da luta de classes, de aumento do poder político da classe oprimida, o Estado burguês capitalista sempre tomará partido a favor da  classe dominante mesmo que ele tenha de apelar para as formas ditatoriais e repressivas do Estado fascista, seja no estilo de Mussollini, de Hitler, de Franco, de Pinochet ou de qualquer dos generais que usurparam o poder democratico do povo brasileiro por mais de 20 anos de ditadura militar no Brasil.
Mas também é necessário tomar consciência de que as classes oprimidas sempre oferecerão diferentes níveis de resistência à exploração e à dominação capitalista e que as assinaturas de mais de um milhão de pessoas para a destituição do governador Scott Walker é uma prova cabal dessa poderosa resistência popular.
Assim, a denominada “luta anti terrorista” não passa de mais um álibi do governo Obama para legitimar e legalizar as medidas repressivas contra o movimento de resistência à dominação capitalista pois as medidas tem como objetivo essencial paralisar e destruir todos os movimentos de resistência em prol da emancipação dos trabalhadores.
Desta forma, repito, o poder dominante apela à forma fascista de governar para impedir que os movimentos e as organizações de resistência ao capitalismo (Ocupar Wall Street, Wikileaks, Julian Assange, o soldado Bradley Manning e outros ) se radicalizem e possam  no futuro acabar com o poder atual da classe dominante deste sistema.
Sem dúvida, devemos reconhecer imediatamente que o total das assinaturas para a destituição de Scott Walker representa uma vitória importante na segunda etapa do processo de luta de classes em Wisconsin. Mas também temos que admitir que a vitória definitiva dos trabalhadores do estado somente virá no final da terceira etapa: depois da realização das votações reais num futuro próximo e que, por enquanto, muitas coisas decisivas, a favor ou contra os trabalhadores, ainda possam acontecer neste país.

(*) Jorge Vital de Brito Moreira é baiano e estudou Ciências Sociais na UFBa. Fez estudos de pós graduação em Sociologia (México) e Literatura (EUA) onde recebeu o titulo de doutor (Ph.d) com uma tese sobre o escritor Antonio Callado.
Nos EUA, tem ensinado na University of California San Diego (La Joya), University of Minnesota, Washinton University, Lawrence University e University of Wisconsin.
Publicou ensaios (sobre diferentes escritores brasileiros e latinoamericanos) e é autor colaborador do livro “Notable Twenty Century Latin America Women” (2001).
Em 2007, publicou na Bahia  o livro  “Memorial da Ilha e Outras Ficcõe” (romance e contos).
Atualmente escreve artigos e ensaios para o destacado diário rebelion.org de grande circulação na Espanha e na América Latina.
    
(**) O grifo é meu!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Princesa do Agreste


Publicado no “Pensatas” em janeiro de 2007 e posteriormente aqui em “Novas Pensatas” em novembro do ano seguinte, esta é a primeira de uma série de narrativas que escrevi há alguns anos atrás, que revive uma fase que marcou a minha vida, e, porque não dizer, de toda uma geração de brasileiros perseguidos pela ditadura.

Chapadão típico do Norte de Minas
Amanhecia em Brasília. José não poderia jamais esquecer aquelas nuvens bonitas, aquela gama de cores maravilhosas.
Estava um tanto quanto frio. Batia aquele vento gelado na face. Por outro lado José, arrastava com sacrifício uma mala pesada, atravessando aquela enorme distância gramada rumo ao ponto de ônibus mais próximo. Se é que poderia haver alguma coisa próxima naquela imensidão.
Apesar de toda dificuldade chegou finalmente ao que seria a primeira etapa de sua empreitada. Já não consegue se lembrar quanto tempo esperou pelo maldito veiculo. O fato é que ele chegou, e sua próxima parada seria logo alcançada.
Lá estava ele, na rodoviária de Brasília, a postos para o embarque de sua viagem rumo à Bahia. E lá estava também, a sua espera o veículo que o levaria àquele destino. "Viação Princesa do Agreste". O nome da empresa era bem sugestivo. Na verdade o ônibus ia para Recife. Mas na passagem José desembarcaria em Feira de Santana, onde seu tio e padrinho estaria à espera. Tinha sido tudo previamente combinado pelo seu pai. Afinal de contas, um foragido político naqueles idos de 1966 era um problema muito sério. Entre familiares seu codinome era "Maria de Lourdes", para evitar qualquer vazamento ou grampo no telefone, qualquer censura nas cartas. Era tudo na base de "Maria de Lourdes" vai bem... "Maria de Lourdes" já está indo... "Maria de Lourdes" embarcou ontem... e por aí afora.
Bom. "Maria de Lourdes" estava ali, pronto para viajar. Começou a olhar em redor e foi descobrindo os detalhes. Primeiro, o ônibus não era dos mais novos. Também não estava caindo aos pedaços, vai. Mas a verdade é que não era lá muito novinho. Depois tinha uma particularidade muito estranha para uma viagem de mais de mil quilômetros. A poltrona não reclinava. Mas, tudo bem, era acolchoada, pelo menos. A única vantagem mesmo é que estava muito vazio. Quase metade dele estava desocupado quando finalmente zarpou da rodoviária de Brasília.
Mas é aí que começou o drama. Ele parou em várias cidades-satélites. E a cada parada dessas, entrava mais gente. A impressão que dava era que ia subir a população do planalto inteira naquela joça. O negócio começou a ficar apertado, muito apertado mesmo. Tinha trouxa de roupa colocada não se sabe como nos bagageiros, tinha bebê, velhinha. Só não tinha mesmo galinha, papagaio e jacaré. Aliás só faltava mesmo isso pra completar a fauna. Lá pelas tantas, uma mulher grávida que havia entrado logo numa das primeiras paradas começou a se queixar do lugar em que estava. Ela se instalara bem na frente do ônibus, em um banco individual que fica ao lado do motorista, e ainda por cima tinha o capô interno do motor no meio. José, que estava na segunda fila atrás do motorista, se propôs a trocar com ela.
A primeira fase da viagem correu bem. Estrada asfaltada, o ônibus seguiu até Três Marias em direção a Belo Horizonte. O incomodava bastante a idéia de como ia dormir naquele desconforto, no banco que não reclinava, naquele aperto todo. Quando chegaram em Três Marias veio a resposta para a sua aflição. O motorista anunciou que ali iriam fazer uma parada não somente para jantar, como também para pernoitar. Desceram do ônibus. Era um ladeirão danado, alto, uma verdadeira pirambeira. Ali jantaram uma comidinha mineira gostosa que só ela. Coisa de pensão do interior.
Dia seguinte, nem o sol tinha aparecido ainda e aquele reboliço na pensão. Era desse tipo de construção que quando se peida num quarto, nos outros se escuta tudo. E aí, fila pra escovar os dentes, café da manhã, pagar o pernoite, o que deixou José preocupado de novo, porque não tinha muito dinheiro e não contava com uma viagem assim. Estava acostumado com outro tipo de viagem em que os ônibus não paravam para pernoite. Mas, apesar dos seus medos, da situação política do país, de tudo, José sempre achava que no fim as coisas dariam certo. Detalhe é que nessa confusão toda teve que comprar escova de dentes, creme dental, etc, porque as suas coisas estavam todas na mala. A roupa. Bem, a roupa era a roupa do corpo mesmo. Dormiu do jeito que estava e assim acordou, meio amassado, mas pronto para a próxima.
Foi um dos primeiros a entrar no ônibus. Tudo ainda no lusco-fusco. Todo mundo com cara de sono. Aos poucos foram chegando mais pessoas. Só o motorista não chegava. Foi então que de repente o ônibus começou a andar. Um ligeiro deslocamento, bem lento. Um primeiro gritinho de mulher lá atrás. Um princípio de pânico? Talvez. A ladeira abaixo, ladeirão mesmo. José ficou atônito, estatelado. Estava ainda meio dormindo, parecia mais um sonho, melhor dizendo, um pesadelo. Não tinha a menor idéia do que fazer. Não sabia dirigir. Olhou para o banco do motorista. Vazio. Olhou para a frente. A pirambeira. Será que dá tempo de sair do carro, de evitar o pior? Pensou. Subitamente surge um garoto, meio magro, uns quatorze anos mais ou menos. Ele dá um pulo, coisa meio de super-herói, coisa meio de cinema, se joga ágilmente no banco do motorista e freia. O veículo pára. Foi ovacionado. Olha, isso tudo aconteceu em uma fração de segundos. Na verdade foi muito rápido. O pânico nem chegou a se generalizar. Salvos por causa daquele menino, que José nunca soube quem era. Um herói anônimo na sua vida e na vida de todas aquelas pessoas que ali estavam.
Após a chegada do motorista, tudo finalmente volta ao normal. Refeito o susto, pé na estrada.
Em papo com os companheiros de viagem, José já sabia que o roteiro ia por Corinto, Curvelo, Montes Claros, e aí, sertão adentro iríam alcançar a Rio-Bahia num local chamado Divisa, isso depois de cortar o norte de Minas inteiro. Ficou entusiasmado com a viagem. Fascinado com a possibilidade de conhecer todos aqueles lugares.
Poucos quilômetros depois que deixaram Três Marias, fim do asfalto. Era uma estrada larga, uma rodovia federal, mas de cascalho, a trepidação era também um pouco maior. Mais poeira. Mas José até já gostava de estar naquele lugar ali, ao lado do motor. Pelo menos podia ver a estrada, o visual todo sem torcer o pescoço para o lado. O ônibus, todo fechado para evitar a entrada do pó ficava um pouco abafado, o motor ao lado esquentava, principalmente os pés. Tudo bem. Ele tinha nascido de novo depois daquele episódio da ladeira, e estava feliz da vida.
Algumas horas depois passa um carro ao lado - um Aero Willys, ainda se lembra -, e levanta uma pedra de cascalho em direção ao pára-brisas dianteiro do lado do motorista. Cataplan! Aquele esporro e mais um susto. O segundo do dia. Todos descem. Com um pedaço de pau são removidos os estilhaços do vidro. O motorista explica que teria que chegar a Montes Claros daquele jeito, e, lá procurar o pára-brisas para ser substituído. Todo mundo apeia. E seguem em frente.
Sorte é que não saiu ninguém ferido. Crianças de colo, senhoras mais velhas, enfim, todos sãos e salvos. Apesar de não ser asfaltada, a estrada era boa, principalmente em tempo seco. Daí, a velocidade também era razoável. Dava pra passar um carro de cada lado. Isso quer dizer que os carros que vinham em sentido contrário levantavam aquela nuvem de poeira. E aí alguém gritava: "Lá vem pó!". E era um tal de se abaixar, tossir. Isso durante mais de duas horas. Um verdadeiro deus-nos-acuda.
Finalmente chegaram a Montes Claros. Era a primeira vez que ele estava por aquelas bandas. Cidade progressista, sô! Prédios modernos, um centro da cidade movimentado, estação rodoviária. Só vendo. Enquanto toda a trupe parou para almoçar num bar próximo à rodoviária o motorista saiu pra conseguir o tal pára-brisas novo. Ficaram ali por um longo tempo, até que ele voltou. Uma cara meio triste, um ar desolado. Não havia conseguido encontrar a peça. “É, modelo mais antigo, sabe né, essas coisas...”, justificava-se. Mas ele tinha ouvido falar que uma oficina que tem nos arredores tinha a tal peça. lá foram eles. Todo mundo de novo no ônibus e o Severino (José já não se lembra, mas acha que este era o seu nome, ou, pelo menos tinha cara de) se dirigiu para a tal oficina. Depois de muita volta, muita parada pra perguntar para que lado ir, chegaram lá. Nada! Daí, o motorista resolveu meter pé na estrada assim mesmo.
Nessa altura, a tarde já ia avançando. Naquela de procurar pela peça ficaram mais de três horas em Montes Claros. Tinham que correr um pouco pra chegar a tempo na próxima parada. Daí em diante a estrada começava a mudar. O que antes era uma estrada larga, foi virando um caminho mais estreito. O cascalho deu lugar ao chão batido. Aos poucos começava a se notar um trilho de mato no meio e o sulco de terra marcando a posição das rodas. Aquela velha picada mesmo, com pontes de madeira e os cambau.
Esta foto foi o que achei mais próxima à realidade
Começou a cair a noite. Bom. Aí mesmo é que o Severino virou uma peça. Como começou a esfriar, o motorista enrolou a cabeça num suéter azul marinho, colocou meias já que não tinha luvas, e, como já estava de óculos escuros continuou com o mesmo, apesar da escuridão. José não sabia se ria ou se chorava quando olhava pra ele e via aqueles óculos escuros e o farol aceso na frente iluminando a trilha estreita. "De repente surge uma vaca...", pensava ele. O fato é que chegaram lá. Sem mais acidentes de percalço. Era uma casinha de beira de estrada, simples. Quando desceu do ônibus, José batia na roupa e levantava poeira. A primeira coisa que fêz foi tomar um banho. Claro que depois de enfrentar uma longa fila. Jantou um delicioso frango à caipira. Coisa da roça. Aí bateu na cama. Estava exausto.
No dia seguinte, novamente acordaram com as galinhas.
Começaram a atravessar uma das regiões mais bonitas que José já havia visto em toda a sua vida. Chapadões enormes. Ele se lembrava do que havia lido de Guimarães Rosa, de Mário Palmério. O ônibus serpenteava por encostas perigosíssimas. Às vezes até se viam cruzes fincadas nos solos das ribanceiras à margem da estrada, provavelmente conseqüência de acidentes ali registrados. Depois chegava no alto e retas enormes em planaltos a se perder de vista. Uma paisagem inesquecível, pois dali mesmo, do alto daquelas estepes podiam-se ver vez por outra as encostas das outras, abruptas em direção ao solo. Isso tudo envolto em exuberante verde tropical.
Finalmente chegaram a Divisa, na Bahia. Pegavam enfim novamente o asfalto, a “civilização”.
Dai em diante, foram muitas as paradas. A viagem atrasou demais, porque cada vez que encontrava a polícia rodoviária, o motorista era obrigado a estacionar no acostamento e conversar com os tiras. Iam para um canto. José achava que ele “molhava” a mão deles. Ele só sabe que um tempinho depois, estavam de novo na estrada.
Chegaram finalmente a Feira de Santana com um atraso de mais de seis horas em relação ao que havia sido marcado. Claro que seu tio não estava mais lá. Era também a primeira vez que José chegava nesta cidade, apesar de ser baiano da capital. Na época, Feira ainda não tinha uma estação rodoviária. Tinha, sim uma rua que funcionava com esse propósito. Alí ficavam todas as companhias e seus guichês de venda. Procurou uma companhia que fizesse a ligação com Salvador. Não foi difícil. Estava preocupado com o pouco dinheiro que tinha, mas deu para comprar a passagem e ainda sobrou algum. Viajou quase que em seguida, mas se lembra que ainda deu pra dar uma rodada pelo centro, nas imediações daquele local, antes do embarque.
Quando chegou em Salvador não tinha muita esperança de ter alguém lhe esperando. E não tinha mesmo. Àquela altura, seu padrinho e todos os parentes mais ligados estavam em polvorosa procurando por "Maria de Lourdes" em outros cantos. Ele não sabia, mas enquanto se deslocava pelo sertão, o governo fizera nas proximidades de Belo Horizonte uma verdadeira devassa em todos os ônibus que daquela cidade se aproximavam devido à realização de um Congresso da UNE. Eles, como José não sabiam do verdadeiro itinerário do seu ônibus, e isso os deixou em polvorosa pois achavam que ele poderia ter passado por lá. Na fantasia deles, José já estava preso, talvez até “desaparecido”. Pelo simples fato de o ônibus não ter chegado no horário em Feira de Santana. Seu padrinho, acompanhado de um primo ficara esperando o seu ônibus aproximar-se na estrada, e isto não havia resultado em nada. Não tinham a menor idéia do seu paradeiro.
Pegou um táxi e se dirigiu à casa de um outro tio, por sinal um tio-avô. Sabia que o combinado era ficar casa dele. Todos achavam que a do seu padrinho poderia ser muito visada. José tinha o endereço e foi para lá. Curiosamente, o táxi cobrou exatamente os últimos mil cruzeiros que ele ainda tinha no bolso. Pagou, e não restou um puto.
José, finalmente, sentia de novo, depois de um longo e tenebroso inverno o aconchego de um lar.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Fábula

De vez em quando gosto de me aventurar no campo ficcional. Este conto foi escrito em 1996, publicado anteriormente no Pensatas (1) em fevereiro de 2007 e neste Novas Pensatas em outubro de 2008.
   
   
Um dia... um sapo

- Mas, sem dúvida você é um sapo.
- Eu estou sapo... apenas isto.
- ...Sei...
Olhou para o companheiro ao lado e falou entre os dentes:
- É mesmo um caso sério.
Voltou-se para o sapo.
- Conta um pouco do que você está sentindo. Fala.
O sapo coçou o queixo, olhou em torno, balbuciou uma palavra meio ininteligível.
- Está bem. Vou pensar. Quer dizer. Vou contar.
Parou por alguns instantes encarando os dois e continuou.
- Mas... vocês juram que não vão rir de mim?
- Claro.
Falou um deles.
Houve alguns instantes de silêncio. E o sapo sussurou novamente aquela palavra.
- O que você disse?
Perguntou o outro.
- O nome dela.
Respondeu o sapo.
- Ah... sei...
Completou o outro como se não entendesse nada. E continuou.
- Por que você diz que está sapo? Por que você não se diz um sapo?
O sapo riu.
- Ih. Mas isso é uma longa história.
- Tá bem. Começa a falar. A gente quer saber. Quem é ela? Como surgiu tudo isso? Conta pra gente, vai.
- Eu era um príncipe.
Disse o sapo ríspidamente.
Os dois se entreolharam desconfiados.
- Não me diga que é aquela historia da Carochinha. É você, afinal?
- Sim! Sim, sou eu.
O sapo tinha um olhar triste, distante, longínquo.
- Você está quase chorando.
- Penso na minha amada. Penso no meu encanto. Penso o quanto sou infeliz.
- Ah! Cara, também não é assim.
- Pimenta no dos outros...
- É, você é um sapo diferente mesmo. Nunca vi um sapo sofrer tanto. Como é que começou tudo isso?
- Ah! Não me diga que você nunca leu a historinha?
- Claro. Quem não conhece?!
- Então você sabe de tudo, né?
Os dois confabularam alguma coisa. Olharam o sapo atentamente.
- Mas como é que aconteceu? Porque você continua sapo?
O sapo parou por alguns instantes. Soluçou. Encarou os dois.
- É. Vou contar pra vocês... um dia, um dia desses, um dia como outro qualquer, eu estava no brejo e fui andando, andando e cheguei a um belo jardim. Eu juro... a condição de sapo já era pra mim uma coisa tão normal. Ih, já havia se passado tanto tempo... bom eu sei que isso já nem me importava tanto, mas...
- Mas?...
- Mas é que eu ouvi uma voz. Ela soava como mel para mim. Era doce, feminina. Indescritível. Tem vozes e tem vozes, certo?
Os dois balançaram a cabeça uníssono.
O sapo continuou:
- Ai eu virei na sua direção e eu vi.
Pausa.
- Viu o que?
- Vi a donzela mais charmosa, mais encantadora da minha vida. Seus cabelos longos deslizavam suavemente sobre aqueles ombros sensuais num contorno harmonioso. Seu olhar era terno, seu corpo esguio, elegante. Seu sorriso, inebriante. A sua face. Ah, a sua face! Jamais havia visto uma beleza tão esplendorosa. E o seu andar!? Tocava o chão com a delicadeza de uma onça no cio. Fui acometido de uma súbita paixão. Meu coração disparou... foi amor à primeira vista.
Outra pausa. O sapo olhava fixo em frente, perdido em seus pensamentos.
- E ai... e ai?! Perguntou o outro ancioso.
- Hem! Hã... sei... onde é que eu estava mesmo?
- Você tinha visto uma mulher que balançou o seu coreto.
- Sim. Sabe a flor mais delicada de um jardim? Sabe a música mais suave aos seus ouvidos? Sabe o nascer do sol, o canto dos pássaros em revoada. Humm... nada disso era um centésimo da sua poesia. Eu, o sapo encantado estava finalmente, completamente encantaaaaado.
- Bom, mas na história tem o negócio do beijo... O que você fez?
- Olha, cara, eu passei algumas noites sem dormir direito. Balbuciava o seu nome, o seu doce nome. E pensava, pensava, pensava. Afinal, como é que um sapo pode conseguir o beijo de tão encantadora criatura?
- É mesmo uma situação braba!
- Eu tinha que chegar perto dela e dizer de alguma forma. E foi o que eu acabei fazendo. Mas, eu não sei se não esperei o momento certo, sabe como? Talvez eu tenha sido muito impetuoso, precipitado, voraz. Mas eu não podia mais. Estava possuido, completamente envolvido.
- E...?
- E... aconteceu o pior. Ela jamais iria amar um sapo feio como eu. Dar-me um beijo então, nem se fala. Daí... estou eu aqui... sapo, um simples sapo. Por quantas centenas de anos mais eu não sei, pois talvez nunca volte a amar nenhuma outra mulher. Triste, triste amar sem ser amado!
- Triste amar sem ser amado. Disse um.
- Triste.
Completou o outro.
O sapo olhou os dois. Virou-se, e, cabisbaixo retirou-se, balbuciando o nome de sua amada, o olhar perdido no infinito...


1. Pensatas era um blogue que eu comecei em finais de 2006 e desapareceu no espaço cibernético em meados de 2008...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A imprensa perdeu


Sebastião Nery*
Publicado na “Tribuna na Internet” em 15 de janeiro de 2012
   
”Janeiro de 1947. João Goulart e Leonel Brizola acabavam de eleger-se deputados estaduais à Constituinte do Rio Grande do Sul. Jango, 30 anos, advogado, fazendeiro de São Borja. Brizola, 25 anos, líder universitário na Escola de Engenharia. Nunca se haviam visto.
Na Argentina, Peron tinha sido eleito presidente da República em fevereiro de 46. Um dia, tocou o telefone da Assembléia, chamando Brizola. Era Rubem Berta, presidente da Varig, então uma pequena empresa aérea, criada pelo alemão Meyer, que praticamente vivia de vôos para Montevidéu, em uns pequenos Electras, e queria fazer Buenos Aires, mas não tinha linha.
A pedido de Berta, Jango e Brizola foram a São Borja conversar com Getulio, senador, que passava a maior parte do tempo em Itu, e mandou um bilhete para Peron. Em Buenos Aires, os dois telefonaram para Peron, que logo os atendeu e convidou para o café da manhã do dia seguinte.
***
JANGO E BRIZOLA
Falaram muito de política. A conversa sobre a Varig foi rápida:
- Deputados, esse senhor Berta é de confiança?
- De toda a confiança, presidente. É um homem capaz, sério, que está construindo uma empresa aérea lá no Rio Grande.
- Então não há problema. Amanhã podem mandar buscar a autorização da linha da Varig para Buenos Aires.
Os dois voltaram para Porto Alegre com a linha na mão. A Varig nascia de fato ali. Veio a campanha presidencial de 50, Berta pôs um avião à disposição de Getulio e outro do brigadeiro Eduardo Gomes. Eleito Vargas, a Varig disputou a com a Aerovias Brasil a linha para Nova York e ganhou.
***
ARGENTINA
Entre Brasil e Argentina, tudo nos une. Só a imprensa nos separa. A imprensa brasileira tem uma velha mania de disputar eleições na terra dos outros. Entra nas campanhas apaixonadamente, faz comícios em vez de fazer jornalismo e quase sempre perde. Perdeu já várias vezes na Venezuela com Chávez, perdeu na Bolivia com Evo Morales, perdeu no Equador com Rafael Correa. Em 2008, ia perdendo com Cristina Kirchner. Recuou na última hora.
***
O GLOBO

É só dar uma olhada nas revistas e jornalões daquela época. Era um bombardeio sistemático em cima do presidente Kirchner e sua ainda não confirmada candidata, tudo por conta da coragem dele de enfrentar os banqueiros e o FMI, bilhões de uma “dívida” que de fato não representava mais de 30% e foi isso, só isso, que ele pagou. Os banqueiros estrebucharamn mas aceitaram.
Os jornalões do mundo inteiro queriam comer Kirchner parrilhado. Até o “Clarin” argentino se surpreendia com a fúria de O Globo: “No Brasil, o jornal O Globo criticou com dureza a primeira-dama. Perguntou se ela está mais próxima a Evita Peron ou a Jennifer Lopez“.
E o sereno e operístico Luiz Paulo Horta, no Globo, perdia o tom: “O gigantesco calote (sic) aplicado nos credores externos liberou recursos antes inexistentes. Pobreza quase não se vê. Hoje o PIB cresce 8%, com investimentos ao redor de 22% do PIB“.
***
FOLHA
Na Folha, o Fernando Canzian repetia o ditado norte-americano: “O presidente Nestor Kirchner tem grandes chances de eleger sua mulher, tudo a baixo custo, financiado com a imposição de um calote branco (sic) aos detentores de papéis da dívida pública, cuja quase metade foi corrigida de janeiro a setembro em 5,8%. A diferença foi tungada (sic) dos credores. Os maiores perdedores são os argentinos mais ricos e estrangeiros, detentores de papéas corrigidos em 5,8%, corroídos por uma inflação acima de 15%”.
Mas confessava: “Alguns dos resultados econômicos do governo Kirchner são incontestavelmente bons. Os índices de desemprego e pobreza caíram e os salários melhoraram (18% ao ano)”.
***
VEJA
Até a Veja era obrigada a reconhecer (Duda Teixeira):
“A Argentina está se recuperando de uma maneira surpreendente. Desde a crise provocada pela paridade forçada entre o dólar e o peso (por Menem), a economia cresce a taxas de 9% ao ano. O desemprego baixou de 22,5% para 7,7% no mês passado. Hoje, 27% dos argentinos vivem em situação de pobreza. É uma boa notícia. Há cinco anos mais da metade da população estava nessa condição”.
***
CRISTINA

Diante disso era inevitável o que aconteceu. A Cristina fez sozinha 45% e não houve segundo turno. No Senado, sua bancada foi de 66% (45 em 72 senadores). Na Câmara, de 62% (140 deputados entre os 257). Ganhou em 21 das 24 províncias. Elegeu (apoiou e ajudou a eleger) todos os governadores das 8 províncias em que houve eleição para governador.
Em outubro de 2010, a imprensa brasileira repetiu a dose. Mas a presidente Cristina Kirchner conquistou mais de 53% dos votos, no melhor desempenho de um candidato desde a redemocratização argentina e a votação mais expressiva no país desde que o general  Perón foi eleito pela terceira vez, com 62% dos votos, em 1973. A imprensa perdeu novamente.”

(*) O jornalista Sebastião Nery tem mostrado que existem duas histórias políticas do cotidiano - uma é a oficial, pomposa, solene, que toma conta do noticiário dos jornais e das revistas, com declarações calculadas por parte dos políticos, denúncias, articulações, tramas e notas nem sempre verídicas - tudo coberto por um manto de grave seriedade; a outra é risonha, marota, contada em segredo nos gabinetes fechados, na sala do cafezinho do Senado e da Câmara, os grotões mais distantes e até nas alcovas.
Entre suas obras desde “Sepulcro caiado: o verdadeiro Juraci” (1962), diversas versões de “Folclore político” (de1973 a 2002) ao seu último livro “A Nuvem, 50 anos de Historia do Brasil” (2009), publicou mais de 10 livros, sempre voltados para a intrincada política nacional, suas peculiaridades e sutilezas...

domingo, 15 de janeiro de 2012

Pensatas de domingo e as barbaridades da ignorância



O mundo presenciou ao vivo e a cores o comportamento repulsivo dos “civilizados” Marines dos Estados Unidos, urinando, rindo e fazendo pouco caso de corpos de Talebans (bárbaros), vítimas de batalhas no Afeganistão.
Sempre comentei em círculos de amigos e companheiros que comparo o comportamento da sociedade estadunidense com o de uma criança que cresceu demais, mas não amadureceu o suficiente para o tamanho que alcançou. Mais ou menos como o personagem “Miudinho” (1) das historietas em quadrinhos...
Miudinho
Um fenômeno compreensível e fácil de se entender ao conversar com qualquer ianque de cultura mais ou menos padrão para os parâmetros deles. A primeira coisa que se nota de forma muito clara é o desconhecimento do mundo, para além de suas fronteiras.
Ora, os Estados Unidos foram formados bastante voltados para o seu próprio umbigo. No século XIX, quando de sua grande expansão, concentraram as forças em apoderar-se das melhores terras dos vizinhos mexicanos (2). Tomaram o Texas, e grande parte do sudoeste, incluindo a rica Califórnia. A “corrida do ouro” foi uma grande jogada de marketing que despejou milhares de aventureiros em busca do “dinheiro fácil”...
Fora da sofisticada Nova Inglaterra (3), a cultura universal é inexistente. O povo ianque é formado por “tabaréus”, “capiaus”, “jécas”... Ou seja lá a designação que se dê à ignorância generalizada reinante naquele pais; o que faz com que a grande maioria mal conheça alguma coisa fora de sua cidade, ou, em alguns casos excepcionais do seu estado de origem.
Até a Grande Guerra (1914/1917), os EUA pouco se meteram além de suas fronteiras, incluindo nestas o seu “quintal” –ao sul do Rio Bravo–, que sempre consideraram sua área de influência “mais ou menos natural”, o que causou alguns conflitos com a Espanha, como no caso de Cuba, por exemplo.  Mas a própria entrada dos Estados Unidos na guerra européia suscitou enormes polêmicas em solo interno.
Por outro lado, da Coréia para cá, ao assumirem o papel de superpotência, suas guerras sempre foram contra países menores e/ou menos desenvolvidos, como o Vietnam, o Iraque, ou agora o Afeganistão. Mas não peça a algum estadunidense médio para apontar onde ficam esses países porque ele simplesmente não vai saber.
Não é difícil, portanto, se imaginar a prepotência dos “fundamentalistas” que chegam a terras das quais não sabem qualquer dado sobre sua história, sua cultura ou seus costumes e agirem de forma infantil como a demonstrada no vídeo em questão.
Simplesmente porque eles são os bárbaros na questão!

1. O gigante “Miudinho”, inspirado em Gulliver e na cidade de Liliput, é um personagem às vezes até bem intencionado, que causa inadvertidamente problemas ao pessoal pequenino com o qual convive.

2. Há uma frase popular que diz: “Pobre México... Tão longe de deus, mas tão perto dos Estados Unidos”.

3. Os estados do nordeste dos EUA, como Massachusetts, Maine, Nova Iorque, Connecticut, Rodhe Island, New Hampshire, Maine, Vermont e outros, que formaram as 13 Colônias à época da guerra da independência contra a Inglaterra.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Um sábado, uma música, um clima



Uma das melhores músicas da nossa velha Bossa Nova, Tereza da praia, de Billy Blanco, uma gostosa e descontraída interpretação de Caetano e, pasmem, Roberto Carlos. Um espetáculo para ouvir e curtir!
Um ótimo sábado pra todos vocês!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Uma campanha a emplacar...

O kit completo da campanha já foi enviado para mais de 15 destinatários
A campanha anti/anti/tabagismo está a entrar em nova fase, agora que tem seguidores nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e iniciando contatos em São Paulo e Rio Grande do Norte.
O sucesso alcançado entre vítimas da discriminação têm sido bastante evidentes. As pessoas me param na rua para expressar o apoio e aprovação à ideia por ela plantada de que cada cidadão tem o direito de fazer o que quiser. Até porque, como divulgamos nas peças, os veículos movidos por motor a explosão poluem muito mais do que o tabaco.
Por outro lado tenho observado alguns ares de desaprovação, geralmente dirigidos por senhoras visívelmente mal comidas. Compreende-se!
Companheiros de luta pelos direitos de livre arbítrio, vamos nos juntar em coro e gritar: “Fumantes de todo o mundo, uni-vos”...

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Conflito na Síria, Estados Unidos, Israel e a omissão da ONU...


Recebi da Avaaz (1) o documento abaixo. Esta carta mostra o quanto Estados Unidos e Israel estão “agando e candando” para o povo sírio, desde que o governo não se oponha aos seus “mandos e desmandos” na região. Volto a insistir, Kadafi foi deposto porque desafiou abertamente os EUA ao tentar desvincular o dólar das negociações de petróleo da Líbia, como bem o provou nosso caro Professor Jorge Moreira em postagem publicada neste blogue. E, claro, não se alinhar aos “Nazi Sionistas” racistas e assassinos de povos que apenas desejam defender o seu solo invadido...

“Caros amigos,

É difícil relatar isso, mas até mesmo membros da Avaaz estão sendo torturados pelo regime monstruoso da Síria. Manhal* nos contou que foi detido em uma prisão secreta, onde removeram suas unhas dos pés e das mãos e eletrocutaram partes de seu corpo. "Eu vi a morte e fui torturado até quase morrer," ele nos contou. Mas se agirmos agora, podemos fazer do sacrifício de Manhal a última gota para o mundo se virar contra o regime de Assad.

Os observadores da Liga Árabe falharam em impedir a repressão brutal, mas a pressão sobre Assad está aumentando. A Avaaz recentemente publicou um relatório terrível revelando a escala das unidades de detenção da Síria, incluindo o que fizeram com Manhal. Se criarmos uma pressão global massiva agora, podemos forçar governos-chave a confrontarem os horrores citados nesse relatório e acelerarem o fim de Assad.

Assine a petição agora e quando chegarmos a 500.000 assinaturas, entregaremos-na junto com o relatório da Avaaz para a Liga Árabe e para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, exigindo que eles levem Assad até à Corte Penal Internacional para ser julgado por crimes contra a humanidade:

http://www.avaaz.org/po/arrest_syrias_torturers/?vl

A ONU já afirmou que houve crimes contra a humanidade na Síria. Agora o regime está lidando com mais uma onda crítica -- um pungente relatório compilado por corajosos ativistas sírios da Avaaz que delimita a relação final sobre esses crimes contra a humanidade terem sido cometidos por altos membros do regime de Assad. Nenhum outro relatório tem informações de alto nível que relaciona a tortura do regime nessa medida -- essa pode ser nossa melhor chance de fazer o mundo agir.
Todos nós tínhamos esperança de que a missão de monitoramento da Liga Árabe fosse impedir a violência, mas a missão foi comprometida e desacreditada. Apesar de testemunharem por conta própria os atiradores de Assad, os monitores apenas estenderam seu período de observação sem um pedido de ação urgente. Isso permite que países como Rússia, China e Índia impeçam as Nações Unidas de se mobilizarem. Enquanto isso, a defesa patética usada pelo regime para seus atos desprezíveis tem sido a de que o regime tem lutado contra uma insurgência terrorista, não um movimento pacífico por democracia. Mas relatórios como o da Avaaz expõem a mentira desse regime corrupto e cruel. Agora precisamos que o mundo seja testemunha dos horrores do regime.

O tempo pode se esgotar para Assad se criarmos uma onda ensurdecedora de pressão pública para promover a mudança. Vamos unir o mundo para exigir que o Conselho de Segurança da ONU leve o regime brutal sírio à Corte Penal Internacional e julguem-no por crimes contra humanidade. Assine agora e divulgue para todos:

http://www.avaaz.org/po/arrest_syrias_torturers/?vl

Por todo o mundo árabe, o poder popular tem derrubado ditadores e nossa incrível comunidade da Avaaz esteve no coração dessas batalhas pela democracia, furando o bloqueio da mídia imposto pelos líderes corruptos, empoderando jornalistas cidadãos, provendo ajuda emergencial vital para comunidades sob cerco, e ajudando a proteger centenas de ativistas e suas famílias dos bandidos do regime. Não vamos permitir que o sofrimento pela liberdade do Manhal seja em vão. Vamos exigir que a ONU se mobilize imediatamente.

Com esperança e determinação,

Luis, Ian, Maria Paz, Ricken, Emma, Wissam, Heather e toda a equipe da Avaaz

* - “Manhal” é um pseudônimo para proteger a identidade do ativista.”

Mobilizem-se, façam alguma coisa, os tempos de hoje nos mostram a cada dia que passa que as mudanças “globais” dependem de nós mesmos. Parodiando uma frase de J. F. Kennedy: “Não perguntem o que o mundo pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo mundo”.

1. Avaaz, que significa "voz" em várias línguas européias, do oriente médio e asiáticas, foi lançada em 2007 com uma simples missão democrática: mobilizar pessoas de todos os países para construir uma ponte entre o mundo em que vivemos e o mundo que a maioria das pessoas querem.
A Avaaz mobiliza milhões de pessoas de todo tipo para agirem em causas internacionais urgentes, desde pobreza global até os conflitos no Oriente Médio e mudanças climáticas. O nosso modelo de mobilização online permite que milhares de ações individuais, apesar de pequenas, possam ser combinadas em uma poderosa força coletiva.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"Occupy Wall Street" , ou a revolução do ponto de vista do 'design'





Por Alice Rawsthorn (1)
Tradução de Erika Brandão, para “Antena UOL”

“Se te contassem sobre uma organização que começou do zero há pouco mais de quatro meses e que já se expandiu para mais de 1.500 cidades mundo afora, você não ficaria impressionado? Foi o que imaginei.
Uma entidade tem realizado este feito desde 13 de julho de 2011, quando os ativistas canadenses do grupo Adbusters se proclamaram os “redentores, rebeldes e radicais” que iriam "armar barracas, cozinhas e barricadas pacíficas" e ocupar Wall Street durante alguns meses. No dia 17 de setembro, duas ocupações semelhantes se iniciaram em São Francisco e centenas de outros grupos e outros lugares, rapidamente, seguiram o mesmo caminho.
Apesar das severas retaliações contra o movimento "Occupy" em algumas cidades, incluindo o esfacelamento do acampamento de Wall Street, o movimento agora é um fenômeno global. Outros grupos ativistas, como os que lutam pelos direitos dos gays, dos negros, das mulheres, pela paz ou pelo meio ambiente, tradicionalmente vêm usando elementos do design para provocar o reconhecimento do público, sejam nomes, slogans ou  símbolos. O movimento "Occupy" também os usa, mas eles surgiram de outra maneira.
Como um movimento sem líder e que é celular ao invés de hierárquico em sua estrutura, o "Occupy" depende da internet e de sites de mídias sociais, como Twitter e Facebook, para abastecer seu crescimento. Os diferentes elementos de sua identidade em relação ao design foram definidos pela criatividade com a qual seus apoiadores utilizaram estas tecnologias.
Identidade universal
Comecemos pelo nome. Ao batizar o primeiro assentamento de “#Occupy Wall Street”, os Adbusters estabeleceram um precedente com o qual outros grupos poderiam instantaneamente inventar suas próprias versões de “Occupy” em diferentes lugares: "Occupy Paris", "Occupy Poughkeepsie" e assim por diante.
Adotar um nome customizável é um modo eficiente de identificar tão diversa coleção de pessoas e causas. Cada novo grupo pode chamar atenção para o movimento global com a primeira parte do seu nome, enquanto defende sua própria identidade com a segunda parte. A recorrência da palavra “occupy” é ideal para maximizar o impacto nas redes sociais, assim como o acréscimo do “#“, o símbolo da hashtag (2) que permite que usuários do Twitter procurem tweets com um tema comum.
Com ou sem a hashtag, a palavra “Occupy” é uma boa escolha para um movimento global. Ela é traduzida facilmente do inglês para várias línguas, entre elas “occuper” em francês, “occupare” em italiano e “ocupar” em português. E a palavra está firmemente enraizada na história dos movimentos de protesto, das ocupações de fábricas por grevistas nos Estados Unidos nos anos 1930 aos protestos passivos dos estudantes no final dos anos 1960 em todo o mundo.
Em resumo, “occupy” é um exemplo estelar do que é conhecido como uma marca “guarda chuva” no marketing e é o que os anticorporativistas do movimento poderiam descrever como “vencê-los em seus próprios jogos”.
Igualmente versáteis são os slogans adotados pelos defensores do "Occupy". “Somos os 99%” era originariamente uma referência à concentração de riquezas pessoais nos Estados Unidos entre o 1% mais rico da população, mas o bordão é aplicável em outros países também.
A frase explica um complexo conceito econômico de maneira clara e persuasiva, mas é conciso o bastante para estar nos tweets sem exceder o limite dos 140 caracteres. Outro slogan popular é o esperto e diplomático: “Desculpem os transtornos. Estamos tentando mudar o mundo”. As palavras variam de grupo para grupo, mas o significado e o humor são os mesmos.
Simbolismos
É quando falamos de simbolismos visuais que a abordagem do "Occupy" difere dos outros movimentos ativistas, a maioria dos quais associados a temas específicos.
O triângulo cor de rosa, que uma vez identificou prisioneiros homossexuais em campos de concentração nazistas, tornou-se o símbolo global dos direitos dos gays. O punho cerrado e levantado do movimento black power vem da antiga Assíria, onde tal gesto significava unidade ou oposição e, também, foi usado como o emblema da revolução russa e dos direitos da classe trabalhadora.
Já o símbolo circular da paz foi criado em 1958 por um ativista anti nuclear britânico, Gerald Holtorn. As linhas internas são baseadas nos sinais visuais da linguagem semafórica para as letras “n”, de nuclear, e “d”, de desarmamento. Ambientalistas adotaram o verde como cor de assinatura, assim como o arco íris que aparecia na bandeira dos barcos de protesto do Greenpeace também simbolizam os direitos gays.
O movimento “Take the Square” (tome a praça), que surgiu na Espanha em meados de maio de 2011, quando grupos de ativistas ocuparam praças de diferentes cidades do país, estava de acordo com as convenções ao adotar um símbolo de flechas rosa e roxa apontando para um quadrado. Mas os vários grupos do "Occupy" adotaram uma vasta gama de temas com sucesso.
Entre os mais populares estão a hashtag e o punho erguido utilizados pelo “#OccupyWallStreet”. Novamente uma escolha esperta. O punho em riste evoca movimentos históricos de protesto, enquanto a hashtag traz um toque contemporâneo. Assim como o símbolo “@“ - um arcano de contabilidade, reinventado como estrela da era digital quando adicionado aos endereços de email -, o “#” foi ressuscitado pela tecnologia digital. Primeiro, sendo adicionado aos teclados de celular como botão de controle.
A presença da hashtag ali e nos teclados de computador (com exceção dos da Apple, o qual é obtido através do Alt e do 3) convenceram o Twitter que ele era ubíquo o bastante para se tornar uma marca de identificação.
Alguns grupos do "Occupy" adotaram o punho ou o hashtag como símbolos. Alguns outros usam ambos, inclusive "#OccupySeattle". Outros grupos inventaram seus próprios temas. Simpatizantes do "OcupyNoLa", em Nova Orleans, soletram seu nome nos banners com pontos pretos sólidos no lugar das letras “o”. Os acampamentos de Frankfurt e Chicago postaram imagens de suas cidades em seus sites. Ativistas do "Occupy" na irascível cidade escocesa de Glasgow adotaram, entusiasticamente, uma série surpreendente de símbolos sentimentais para o site, incluindo flores, um coração, um arco íris e o slogan “Occupy Glasgow Nicely”.
À medida que o movimento evolui é possível que mais grupos de "Occupy" adotem os mesmos símbolos. Ou eles podem chegar à conclusão que o protocolo do design dos protestos mudou e que, na era de redes sociais, eles podem dizer mais sobre as causas em que acreditam através do uso repetitivo de algumas palavras cuidadosamente escolhidas do que com imagens.”

1. Em sua coluna semanal, no “International Herald Tribune” Alice Rawsthorn explora novas direções em cada área de design e seu impacto sobre vidas humanas. Sua coluna tambem é distribuída para outros jornais e revistas em todo o mundo.
Nascida em Manchester, Alice  formo-se em Arte e História da Arquitetura na Universidade de Cambridge. Posteriormente foi correspondente estrangeira em Paris, e de 2001 a 2006, foi diretora do Museu do Design, em Londres.


2. Hashtag = #

domingo, 8 de janeiro de 2012

Pensatas de domingo. Criatividade com simplicidade. Capítulo/Paulinho Costa



Publiquei esta postagem no meu blogue “Casos” da Propaganda em 02/12/2011. No entanto, sinto necessidade de republicá-lo aqui em defesa de seu autor, meu grande amigo --infelizmente falecido-- Paulinho Costa, pois circula por aí que oportunistas reivindicam exclusivamente para si a autoria; excluindo e/ou omitindo o nome de Paulinho das fichas técnicas. Conversando outro dia com sua viúva, ela confirmou esses rumores.

O jingle reproduzido acima foi criado para o (hoje extinto) Banco Nacional. E foi um grande sucesso. Durante muitos anos marcou a presença daquela instituição nas casas dos telespectadores durante as festas natalinas. E existe um grande recall dele até hoje.
Aliás, o criativo que o bolou, foi um dos melhores e mais competentes do Brasil em todos os tempos. No entanto conheci poucas pessoas tão discretas quanto Paulo Cezar Costa, o Paulinho Costa, ou simplesmente Paulinho para os mais chegados.
A começar pela razão (muito rara) de ter tido apenas três empregos em cerca de 40 anos de sua trajetória na publicidade: a JMM, a McCann-Erickson e a VS. Enquanto a gente pulava de emprego em emprego numa época em que as propostas choviam em “nossa horta”, Paulinho ficava quieto no seu canto... Criando, criando e criando. Sempre criando! Era desses de madrugar na agência...
Na JMM, para alem de tantas outras peças como esta marcante do Banco Nacional, ainda foi a imagem do “Retrato do dono” (1) inserido no cartão do banco. Dali foi para a McCann, onde, como Diretor de Criação foi o autor da frase “Coca Cola é isso aí”, que simplesmente rodou o mundo todo, traduzido para dezenas de línguas. E esta frase foi uma das que mais marcaram ao longo da comunicação daquele produto.
Foi um dos primeiros a chegar na VS, lá pelos idos de 1982... E um dos últimos a sair quando a casa fechou as portas em 2006. Mas ali deixou o slogan da Veja: “Indispensável”, um dos melhores e mais simples conceitos criativos que jamais conheci. Fiz parceria com Paulinho durante mais de cinco anos e sei do seu valor. Quando o Caio Domingues faleceu ele, sacou um título memorável (reprodução ao lado) que eu tive a honra de leiautar. A propósito, Caio era conhecido pelo seu temperamento cordial, finíssima educação e bondade..
É bom que se conheça um pouco da história de um dos maiores criativos (embora completamente low profile) da publicidade deste país.

1. Quando o Banco Nacional lançou o seu cartão, o particularizou como o único com o retrato do correntista que ajudava a identificar seu proprietário e o slogan: “O cartão com retrato do dono”. Pois bem, imagem era do Paulinho.