segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A questão egípcia

Gamal Abdel Nasser (foto acima) nasceu em 1918 e foi a contraditória figura que governou o Egito de 1954 até a sua morte em 1970 notabilizando-se por sua política “bonapartista” (1), pela deposição do Rei Faruk I e pela “modernização” não somente daquele país, ao inseri-lo enfim no século XX, como também por marcar o declínio dos impérios coloniais britânico e francês pós II Guerra Mundial. Isto porque ao nacionalizar o Canal de Suez em 1956 provocou a reação daqueles dois países europeus que tentaram intervir militarmente (Guerra de Suez), mas, ao serem desprezados pelas duas novas potências (EUA e URSS) retiraram suas tropas possibilitando a intervenção de uma Força de Paz da ONU.
O papel de Nasser e do Egito na formatação política da região foi fundamental. Sua política facilitou a implantação do Estado de Israel a quem o deposto Rei Faruk se opusera de forma frontal. Porém a sua grande derrota deu-se na famosa Guerra dos Seis Dias em 1967.
Empenhado em colocar o Egito em rota de desenvolvimento econômico, associou-se aos soviéticos para a construção da Represa de Assuã, importante hidroelétrica, na época a maior do mundo.
Após a morte de Nasser em 1970, sucedeu-o Anwar Al Sadat, que governou o país de 1970 a 1981, quando foi assassinado por um soldado fundamentalista islâmico. Sadat expulsou os conselheiros soviéticos em 1972 aproximando a política do Egito dos Estados Unidos. Promoveu uma reforma económica chamada “Infitá” e suprimiu de maneira violenta tanto a oposição política quanto a religiosa, consolidando o “bonapartismo egípcio”.
Em 1973, aliado à Síria, o Egito invadiu Israel e aconteceu a Guerra do Yom Kipur. Embora não tenha resultado num sucesso militar, o conflito representou uma vitória política que lhe permitiu posteriormente recuperar a Península de Sinai e as Colinas de Golan em troca da paz com Israel. Porém o Egito seria expulso da Liga Árabe após a visita de Sadat a Israel, quando negociou a reocupação daqueles territórios.
Hosni Mubarak sucedeu Sadat (era o seu vice) em 1981, está no poder até hoje --passados 30 anos--, e enfrenta no momento uma política de oposição de amplos setores da sociedade egípcia por mudanças políticas e sociais em direção a uma maior democratização. Seu histórico traz uma promoção a marechal por sua atuação na Guerra do Yom Kipur, e posteriormente a comandante chefe da força aérea e, como seu antecessor, é aliado dos estadunidenses, tendo se oposto abertamente a Sadam Hussein quando da invasão do Kuwait.
Mas o que se pode depreender da questão egípcia ao longo deste meio século que nos separam das principais mudanças no seio de sua sociedade?
Se formos estudar as modificações ocorridas na África e a Ásia neste período, vamos verificar que o Egito acompanhou o fluxo da história, seguindo uma modernização após sua descolonização. O surgimento de um estado laico e a consolidação como país independente, não alinhado, que formou com a India de Nehru um movimento pró países do terceiro mundo --ao qual o Brasil aderiu durante o governo João Goulart (1961/1964)--, deu-lhe uma feição particular naqueles anos de guerra fria, à procura de uma terceira alternativa, não alinhada nem com os Estados Unidos nem com a União Soviética.
E a “revolução” por que passa no momento é consequência direta dos acontecimentos na Tunísia e a deposição de Abdine Ben Ali, com reflexos também na Mauritânia, Iêmen e Argélia, que refletem o fim da “chantagem fundamentalista” em que as classes dirigentes estabelecidas nestes países (inclusive o Egito) alegam se perpetuar no poder para evitar que facções radicais do Islamismo assumam a direção.
Estará o Egito iniciando um movimento que pode trazê-lo ao novo século?

(1) O conceito de “bonapartismo” nasceu em 1853, quando foi publicado o livro “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, de Karl Marx, escrito em 1852, durante os conturbados acontecimentos que se iniciaram na Revolução de 1848 e tiveram como consequência a farsa representada por Luís Bonaparte ao usurpar o governo francês.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Pensatas de domingo

Outro dia fiquei sabendo que Macaé vai inaugurar o seu metrô. É verdade, o metrô daquela cidade fluminense terá uma extensão de 26 quilômetros e 10 estações. Em seu traçado serão aproveitados trechos desativados de uma via férrea, e pelo cronograma, será inaugurado ainda em 2011. Na foto acima o protótipo, quando apresentado ao público no ano passado.

O Estado de São Paulo completa hoje 548 dias sob censura!

O salário do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como dirigente do PT poderá chegar a R$ 21 mil, caso o partido conceda aos seus executivos o mesmo aumento de 61,83% aprovado pelo Congresso para deputados e senadores. Há forte pressão na seara petista por um reajuste na remuneração dos integrantes da Executiva Nacional, mas o valor ainda não foi definido.
Isto somente como presidente de honra do PT...

O Banco Panamericano do senhor Abravanel (leia-se Silvio Santos) deu um outro susto à Caixa Econômica com um acréscimo de 1,5 bilhões de reais aos já existentes 2,5 bilhões. Agora a dívida soma quatro bi.
Aliás, é uma pouca vergonha a situação do banco de Silvio Santos. E não se divulgam notícias sobre o que está ocorrendo, mas sim, eventualmente alguma do tipo: “o grupo tal vai comprar...” E fica por isso mesmo. Falar nisso, a bola da vez é o Grupo BTG Pactual.

Gosto muito das frases do Millôr. Como aquela do Lutero, que “completamente careca foi o fundador do Calvinismo”, ou “Noé foi o único que nunca se ofendeu de ser chamado de antidiluviano”, “Tão medíocre que nem no dia do próprio enterro conseguiu ser o centro das atrações” ou ainda “os últimos serão os primeiros... Geralmente no elevador”.

O governo “bonapartista” de Hosni Mubarak provocou uma situação que resultou em ao menos 92 mortos e mais de mil feridos somente nos últimos dois dias, os mais violentos de protestos da população que começaram na terça feira. Na sexta, o presidente egípcio anunciou pela TV que não deixará o cargo, embora vá mudar todo o seu gabinete de ministros e tocar reformas. "A comunicação irá melhorar. Novos passos serão tomados por mais democracia, liberdade, empregos, desenvolvimento da economia e combate à pobreza. É isso que garantirá nosso futuro, e não poderemos fazer isso sem esperança e trabalho duro", acrescentou.
O primeiro ministro Ahmed Nazif renunciou e a população subiu nos tanques para discursar exigindo também a renúncia do presidente --mesmo durante o “toque de recolher” imposto pelo governo--, que há cinco dias atrás também cortou os celulares e bloqueou a internet; sem dúvida nenhuma os grandes inimigos dos governos totalitários neste início do século 21. Mubarak que está no poder desde 1981, pela primeira vez nomeou um vice-presidente.

Traficantes do México foram surpreendidos usando uma catapulta para arremessar drogas sobre o muro que divide aquele país dos Estados Unidos.
O dispositivo, que tinha cerca de três metros, foi encontrado perto da cerca que separa o México do Arizona. Um oficial do exército mexicano disse que eles apreenderam cerca de 16 quilos de maconha com a catapulta. Os traficantes escaparam.

Enquanto isto em Riverside na Califórnia, um gigantesco lagarto foi encontrado vagando pelas ruas. Quando foi à instituição buscar o animal --chamado Elmer--, o dono contou que o animal fugiu de casa no momento em que ele limpava sua gaiola. E disse ainda que o lagarto logo reconheceu sua voz, já que só ele e seu irmão mais novo cuidam dele na casa.

A disputa por cargos do segundo escalão continua feia porque o PT e o PMDB não se entendem. Disputam os espaços cargo a cargo. São diretorias de estatais, secretarias de ministérios e presidências de bancos públicos. Dilma Rousseff disse a ministros que quer técnicos nos cargos e evitar indicações políticas, mas ninguém quer ficar de fora.
Esta semana foi em Furnas. Uma briga tão baixa que até o vice Michel Temer a classificou de “ácida”...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O sotaque das mineiras

Alguem me encaminhou este texto pela internet. Eu o guardei porque sabia que algum dia seria útil. Como agora, claro!

“Felipe Peixoto Braga Netto (1973), afirma que não é jornalista, não é publicitário, nunca publicou crônicas ou contos, não é, enfim, literariamente falando, muita coisa, segundo suas próprias palavras.
Alagoano, mora em Belo Horizonte e ama Minas Gerais.
Ele diz que nunca publicou nada, mas a crônica abaixo foi extraída do livro dele, “As coisas simpáticas da vida”, publicada pela Landy Editora, São Paulo (SP) - 2005, pág. 82.

O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar...
Afinal, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo das moças de Minas ficou de fora?
Porque, Deus, que sotaque!
Mineira devia nascer com tarja preta avisando: 'ouvi-la faz mal a saúde'.
Se uma mineira, falando mansinho,me pedir para assinar um contrato, doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: 'só isso?'.
Assino, achando que ela me faz um favor...

Eu sou suspeitíssimo.
Confesso: esse sotaque me desarma.
Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.
Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho.
Não dizem: pode parar, dizem: 'pó parar'
Não dizem: onde eu estou?, dizem: 'onde queu tô.'
Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - linguisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs.

Digo-lhes que não.
Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade.
Fala que ele é bom de serviço.
Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô.
Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço.
Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem.
Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: 'cê tá boa?'.
Para mim, isso é pleonasmo.
Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário...

Há outras.
Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: - Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).
O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados.
Quer dizer, por exemplo, trabalhar.
Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido.
Só querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir.
Aqui ninguém consegue nada.
Você não dá conta.
Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz: '- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.'

Esse 'aqui' é outra delícia que só tem aqui.
É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase.
É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer 'olá, me escutem, por favor'.
É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem 'apaixonado por'.
Dizem, sabe-se lá por que, 'apaixonado com'.
Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.
Ouve-se a toda hora: 'Ah, eu apaixonei com ele...'
Ou: 'sou doida com ele' (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro).

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira.
Nada pessoal
Aqui certas regras não entram.
São barradas pelas montanhas.

Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: - 'Eu preciso de ir..'
Onde os mineiros arrumaram esse 'de', aí no meio, é uma boa pergunta...
Só não me perguntem!
Mas que ele existe, existe.
Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório.

No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um tanto de coisa...
O supermercado não estará lotado, ele terá um tanto de gente.
Se a fila do caixa não anda, é porque está agarrando lá na frente.
Entendeu? Agarrar é agarrar, ora!

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará: '- Ai, gente, que dó.'

É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras...
Não vem caçar confusão pro meu lado!
Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'.
Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele 'vive caçando confusão'.

Ah, e tem o 'Capaz...'
Se você propõe algo a uma mineira, ela diz: 'capaz' !!!
Vocês já ouviram esse 'capaz'?
É lindo. Quer dizer o quê?
Sei lá, quer dizer 'ce acha que eu faço isso'!? - com algumas toneladas de ironia...

Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: 'ô dó dôcê'.
Entendeu? Não? Deixa para lá.

É parecido com o 'nem...' . Já ouviu o 'nem...'?
Completo ele fica: '- Ah, nem...'
O que significa?
Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum.
Mas de jeito nenhum mesmo.
Você diz: 'Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?'.
Resposta: 'nem...'
Ainda não entendeu? Uai, nem é nem.
Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?

Preciso confessar algo: minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.
Aliás, deslizes nada.
Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.

Se você, em conversa, falar: 'Ah, fui lá comprar umas coisas...'..
- Que's coisa? - ela retrucará.
O plural dá um pulo.
Sai das coisas e vai para o 'que'!

Ouvi de uma menina culta um 'pelas metade', no lugar de 'pela metade'.
E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará:
- Ele pôs a culpa 'ni mim'.

A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas...
Ontem, uma senhora docemente me consolou: 'preocupa não, bobo!'.
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras nem se espantam.
Talvez se espantassem se ouvissem um: 'não se preocupe', ou algo assim.
Fórmula mineira é sintética e diz tudo.

Até o tchau, em Minas, é personalizado.
Ninguém diz tchau, pura e simplesmente.
Aqui se diz: 'tchau pro cê', 'tchau pro cês'.
É útil deixar claro o destinatário do tchau...”

domingo, 23 de janeiro de 2011

Deuses, mortais e outras pensatas

Estava ao lado de meu pai, no hospital em que se encontra internado, a pensar na velha questão do quanto os seres humanos sempre desejaram a imortalidade. Por isso mesmo, criaram seus deuses à própria imagem e a alma como espírito que se desloca para algum lugar, ou em outras hipóteses para outros corpos após sua morte.
Bem, na minha humilde opinião, a única forma de se perpetuar é transformando-se em adubo para a terra. Mas qual seria a forma de se fazer isto? Justamente ao contrário do que rezam nossas tradições e costumes. Corpos enterrados em caixões ou cremados não levam a nada.
Para tal, teríamos que ser sepultados em campo aberto, de preferência desnudos em meio à terra que seria fertilizada pelo nosso corpo em decomposição.
Mas não é aí que está a questão desta pensata. O ponto central dela está nesses deuses criados por nós, humanos, na tentativa de nos sentirmos superiores aos outros animais. Pois ao declarar a nossa imortalidade, tambem nos declaramos deuses e com isto negamos a nossa mortalidade. Negamos a nossa passagem –apenas passageira mesmo—pelas nossas vidas.
Que prepotência!


Transcrevo abaixo a notícia de Carlos Newton publicada na Tribuna da Imprensa de ontem (22/01):
“Como se sabe, o Jornal do Brasil saiu das bancas, passou a circular apenas na internet. Mas deixou para a eternidade um presente inesquecível a todos os seus leitores, ao disponibilizar na web, gratuitamente, todos os exemplares do JB no século XX.
Não apenas a primeira página, mas o jornal inteiro, página por página. E o melhor é que o programa utilizado permite que você possa aumentar a página, folhear o jornal e até imprimir.
Assim, o Jornal do Brasil se tornou o primeiro jornal brasileiro a ser totalmente disponibilizado na internet. É um site incrível, fundamental para registrar o Brasil do século passado.
Se quiser acessar, nem que seja apenas para ver o jornal do dia em que você nasceu, basta digitar o seguinte endereço: http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19920614&b_mode=2"
Vale a pena conferir, porque é simplesmente fantástico.

Aliás, ainda na mesma edição da Tribuna, Helio Fernandes garante que crescem no Senado as possibilidades de consolidar o voto distrital em substituição ao proporcional. O que, sem dúvida, seria um avanço...

O número de mortos pelas enchentes e deslizamentos de terra na região serrana do Rio de Janeiro chegou a 790, segundo boletim divulgado pela Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Estado. Domingo passado, publiquei neste blogue um total de 600 vítimas computadas até então. E dizem as autoridades que ainda se estima em 400 o número de desaparecidos.

Hollywood prepara um filme sobre a vida do fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, um projeto cujos produtores consideram um thriller dramático e de suspense, informou nesta quinta-feira, 20, o site da revista especializada Variety.

A deputada estadunidense Gabrielle Giffords deixou na sexta-feira o hospital do Arizona onde estava internada desde que foi baleada na cabeça, em 8 de janeiro, e foi transferida para uma clínica do Texas.
O atirador, Jared Lee Loughner, de 22 anos, foi indiciado por vários crimes, e ainda pode responder por outros delitos nas esferas federal e estadual. As autoridades dizem que o seu alvo principal era a deputada.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Papo de cachimbeiro

Outro dia, passando pela Tabacaria Gryphus na Rua Buenos Aires, tive uma notícia que me deixou um tanto quanto chateado, embora ainda não tenha checado em outras casas do ramo. Ao procurar por um tabaco chamado Dutch Fisherman (1) da Wilder Finamore, o balconista me informou que aquela empresa estará muito em breve deixando de fornecer fumos para o Rio de Janeiro.
Olha, foi um petardo que me atingiu em cheio. Por alguns instantes emudeci.
Como que percebendo a minha reação, o distinto indivíduo que me atendia continuou, apontando para a coleção de 20 sabores da marca Tobbac Gold e dizendo que isto não seria problema pois estarão recebendo aqueles tabacos fabricados pelo Grupo Conesul de Santa Catarina.
Tudo bem, até gosto de variar e já havia experimentado esta marca assim que a vi nas prateleiras há cerca de quatro anos atrás, nas versões Whiskey e Classic. Mas acho que os blends são um tanto quanto perfumados demais e a combustão é muito rápida. Já o bom e velho Irlandês tem uma consistência mais apurada e madura. Caso a notícia proceda, vou sentir falta deste tabaco que, para mim se tornou o principal. E voltar a fumar o Half & Half, que é um pouco mais caro, mas é bom e ainda se encontra com facilidade no mercado.
O fato é que até agora não entendi porque a Wilder Finamore, que fica em Juiz de Fora, logo ali, deixe de fornecer seus produtos para o Rio de Janeiro para ser substituída por outra que fica lá pelas bandas do sul... longe pra dedéu!

(1) Dutch Fisherman é um dos poucos tabacos fabricados no Brasil que utiliza o “navy cut” (corte naval); um tipo de corte que deixa o fumo comprido e fino e que se originou justamente de seu uso por tripulantes de embarcações, devido aos fortes ventos. Para além disso, o Dutch Fisherman é um fumo de aroma e sabor neutros.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Com a palavra o WikiLeaks

Julian Assange publicou a matéria abaixo em 8 de dezembro de 2010 no jornal The Australian, que a Tribuna da Imprensa postou em 16 de janeiro último. E eu aqui, porque acho que devemos focar no WikiLeaks, hoje uma fronteira da liberdade!

“Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor do jornal The News, de Adelaide, escreveu: “Na corrida entre o segredo e a verdade, parece inevitável que a venda sempre vença”.
A sua observação talvez reflita o desmascaramento feito pelo seu pai, Keith Murdoch, de que tropas australianas eram sacrificadas inutilmente nas praias de Galipoli por comandantes britânicos incompetentes. Os britânicos tentaram calá-lo, mas Keith Murdoch não foi silenciado e os seus esforços levaram ao término da desastrosa campanha de Galipoli.
Aproximadamente um século depois, WikiLeaks está também publicando destemidamente fatos que precisam ser tornados públicos.
Criei-me numa cidade rural em Queensland onde as pessoas falavam dos seus pensamentos diretamente. Elas desconfiavam do governo como de algo que podia ser corrompido, se não fosse vigiado cuidadosamente. Os dias negros de corrupção no governo de Queensland antes do inquérito Fitzgerald testemunham o que acontece quando políticos amordaçam a mídia que informa a verdade.
Estas coisas ficaram em mim. WikiLeaks foi criado em torno destes valores centrais. A ideia, concebida na Austrália, era utilizar tecnologias da Internet de novas maneiras, a fim de relatar a verdade.
WikiLeaks cunhou um novo tipo de jornalismo científico. Trabalhamos com outras mídias para levar notícias às pessoas, assim como para provar que são verdadeiras. Este jornalismo científico permite-lhe ler um artigo e então clicar online para ver o documento original em que se baseia. É o modo de julgar por si mesmo se o artigo se baseia na verdade e se o jornalista informou com rigor.
Sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e WikiLeaks faz parte dessa mídia que ajuda a manter honesto o governo. WikiLeaks revelou algumas verdades duras acerca das guerras do Iraque e Afeganistão, e desvendou notícias acerca da corrupção corporativa.
Há quem diga que sou antiguerra: para que conste, não sou. Por vezes os países precisam ir à guerra e há guerras justas. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir ao seu povo acerca da guerra, pedindo aos cidadãos para colocarem suas vidas e seus impostos ao serviço de mentiras. Se uma guerra é justa, então digam a verdade e o povo decidirá se a apoia.
Se já leu algum dos registros da guerra do Afeganistão ou do Iraque, algum dos telegramas da embaixada dos EUA ou algumas das histórias acerca das coisas que WikiLeaks informou, considere quão importante é para todas as mídias ter capacidade para relatar estas coisas livremente.
WikiLeaks não é o único divulgador dos telegramas de embaixadas dos EUA. Outras mídias, incluindo The Guardian britânico, The New York Times, El Pais na Espanha e Der Spiegel na Alemanha publicaram os mesmos telegramas.
Mas é o WikiLeaks, como coordenador destes outros grupos, que tem enfrentado os ataques e acusações mais brutais do governo dos EUA e de seus acólitos. Fui acusado de traição, embora eu seja australiano e não cidadão dos EUA. Houve dúzias de apelos graves nos EUA para eu ser “removido” pelas forças especiais norte-americanas.
Sarah Palin diz que eu deveria ser “perseguido e capturado como Osama Bin Laden”, um projeto republicano no Senado dos EUA procura declarar-me uma “ameaça transnacional” e desfazer-se de mim em conformidade. Um conselheiro do gabinete do primeiro-ministro do Canadá defendeu na TV o meu assassinato. Um blogueiro americano propôs que meu filho de 20 anos, aqui na Austrália, fosse sequestrado e espancado por nenhuma outra razão senão a de me atingir.
E os australianos deveriam observar sem orgulho o deplorável estímulo a esses sentimentos por parte de Julia Gillard e seu governo. Os poderes do governo australiano parecem estar à plena disposição dos EUA quer para cancelar meu passaporte australiano ou espionar ou perseguir apoiadores do WikiLeaks. O procurador-geral australiano faz tudo o que pode para ajudar uma investigação norte-americana destinada claramente a enquadrar cidadãos australianos e despachá-los para os EUA.
O primeiro-ministro Gillard e a secretária de Estado Hillary Clinton não tiveram uma palavra de crítica para com as outras organizações de mídia. Isto acontece porque The Guardian, The New York Times e Der Spiegel são antigos e grandes, ao passo que WikiLeaks ainda é jovem e pequeno.
Nós somos os perdedores. O governo Gillard está tentando matar o mensageiro porque não quer que a verdade seja revelada, incluindo informação acerca do seu próprio comportamento diplomático e político.
Terá havido alguma resposta do governo australiano às numerosas ameaças públicas de violência contra mim e outros colaboradores do WîkiLeaks? Alguém poderia pensar que um primeiro-ministro australiano defendesse os seus cidadãos contra tais coisas, mas houve apenas afirmações de ilegalidade completamente não fundamentadas. O primeiro-ministro e especialmente o procurador-geral pretendem cumprir seus deveres com dignidade e acima da perturbação. Fique tranquilo, aqueles dois pretendem salvar as suas próprias peles. Eles não conseguirão.
Todas as vezes que WikiLeaks publica a verdade acerca de abusos cometidos por agências dos EUA, políticos australianos cantam um coro comprovadamente falso com o Departamento de Estado: “Você arriscará vidas! Segurança nacional! Você põe tropas em perigo!” Mas a seguir dizem que não há nada de importante no que WikiLeaks publica. Não pode ser ambas as coisas, uma ou outra. Qual é?
Nenhuma delas. WikiLeaks tem um histórico de publicação há quatro anos. Durante esse tempo mudamos governos, mas nem uma única pessoa, que se saiba, foi prejudicada. Mas os EUA, com a conivência do governo australiano, mataram milhares de pessoas só nestes últimos meses.
O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, admitiu numa carta ao congresso que nenhuma fonte de inteligência ou métodos sigilosos haviam sido comprometidos pela revelação dos registros de guerra afegãos. O Pentágono declarou que não havia evidência de que as informações do WikiLeaks tivessem levado qualquer pessoa a ser prejudicada no Afeganistão. A OTAN em Cabul disse à CNN que não podia encontrar uma única pessoa que precisasse proteger. O Departamento da Defesa australiano disse o mesmo. Nenhuma tropa ou fonte australiana foi prejudicada por qualquer coisa que tivéssemos publicado.
Mas nossas publicações estavam longe de serem desimportantes. Os telegramas diplomáticos dos EUA revelam alguns fatos estarrecedores:
- Os EUA pediram aos seus diplomatas para roubar material humano pessoal e informação de responsáveis da ONU e de grupos de direitos humanos, incluindo DNA, impressões digitais, escanerização de íris, números de cartão de crédito, passwords de Internet e fotos de identificação, violando tratados internacionais. Presumivelmente, diplomatas australianos na ONU também podem ser atacados.
- O rei Abdulah, da Arábia Saudita, pediu que os EUA atacassem o Irã.
- Autoridades da Jordânia e do Bahrain querem que o programa nuclear do Irã seja travado por quaisquer meios disponíveis.
- O inquérito do Iraque na Grã-Bretanha foi viciado para proteger interesses dos EUA.
- A Suécia é um membro encoberto da OTAN e a parceria com a inteligência dos EUA é resguardada do parlamento.
- Os EUA estão agindo de forma agressiva para conseguir que outros países recebam presos libertados da Baía de Guantánamo. Barack Obama só concordou em encontrar-se com o presidente esloveno se a Eslovénia recebesse um prisioneiro. Ao nosso vizinho do Pacífico, Kiribati, foram oferecidos milhões de dólares para aceitar detidos.
Na sua memorável decisão no caso dos Pentagon Papers, o Supremo Tribunal dos EUA declarou: “Só uma imprensa livre e sem restrições pode efetivamente revelar fraude no governo”. Hoje, a tempestade vertiginosa em torno do WikiLeaks reforça a necessidade de defender o direito de todos as midias revelarem a verdade.”

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Temer o Temer

Eu sempre achei que ele tinha alguma característica transilvaniana... Em outras palavras, olhava para ele e me lembrava do Conde Drácula. Mas olha, isso bem antes mesmo dele ser candidato a vice presidente.
Está ai, o quadro comparativo de Temer x Lee, talvez o mais conhecido dos Dráculas da história do cinema. Na minha opinião, o vice é muito mais convincente do que o famoso ator... Só resta alertar, afinal ele está no PMDB, um partido que tem em seus quadros, entre outros sanguesugas, o Sarney. Aliás um partido em que eu dou crédito apenas ao histórico Pedro Simon. Ou será que tem mais alguem?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Pensatas de domingo

Por que votei nulo? Pelo menos assim o fiz para governador, senador e deputados estadual e federal. E não me arrependo! Acabei votando em Dilma na primeira volta porque Marina ameaçou e concretizou um segundo turno com Serra. Marina sabia que não iria para o segundo, mas entrou pra melar. Na segunda volta votei em Dilma porque penso que a presidente eleita está à esquerda do Sr. da Silva. Certamente ela não vai romper com o establishment , mas é claro que estará à frente de Lula em muitas questões. Só nos resta aguardar...
Agora, Cabral & Cia... Estes são uma cambada que não merecem o meu voto nem que seja útil. E estão aí, no dia a dia comprovando meu “não voto”! E, por não ter votado neles, poder dormir tranquilo.

Até para justificar o voto que depositei em Dilma Rousseff, a presidente disse na tarde de quinta-feira (13/04) em visita à região serrana que “a construção de moradias em áreas de risco é a regra, não a exceção no Brasil.”
Questionada sobre a diferença nos investimentos feitos pelo governo federal em 2010 na prevenção e na recuperação dos desastres, a presidente afirmou que é necessário articular políticas. "Geralmente, olham pra questão da Defesa Civil e acham que são problemas pontuais. Mas a prevenção não é uma questão de Defesa Civil apenas, ela é uma questão de saneamento, drenagem e política habitacional.”
E sei que ela pensa assim. Até porque, pelas suas origens, a presidente tem uma visão dialética da história ancorada no materialismo histórico. E isto faz uma senhora diferença na hora de julgar um simples acontecimento.

São Paulo está nas mãos do PSDB, desde que Mario Covas o enterrou. É tempo demais. Aliás, paulistas, não nos esqueçamos, foram os culpados por Ademar de Barros e Janio Quadros em nossa história, noutros tempos. E depois, obviamente FHC, o energúmeno. E Tiririca, Clodovil, Maluf? O fato é que sempre votaram mal, muito mal!

Ontem li uma matéria no jornal Público (na minha opinião o melhor de Portugal), cujo título é: “Maior catástrofe das últimas décadas expõe atraso do Brasil” que mostra a nossa fragilidade frente a questões da natureza, mas provocada pelo nosso subdesenvolvimento social e cultural. A reportagem diz mais à frente: “Não se trata de falta de dinheiro, porque os dados que agora estão a emergir mostram como o Brasil tem gasto muito mais a remediar do que a prevenir: segundo a Organização não Governamental Contas Abertas, o país gastou 167,5 milhões de reais a prevenir e 2,3 mil milhões (1) a remediar.”
E por falar nisso, o saldo das enchentes na região serrana do Rio de Janeiro totaliza 600 mortes e cerca de 14.000 desabrigados (até o momento). Espero que o Sr. Cabral pense um pouco na sua dose de responsabilidade nesta gravíssima questão...

Documentos confidenciais divulgados pelo WikiLeaks na quinta feira passada revelam que o governo dos Estados Unidos procurou o serviço diplomático brasileiro para pedir formalmente que o país contribuísse na guerra do Afeganistão e o Brasil se negou a participar.
De acordo com uma comunicação diplomática do final de 2008, ainda sob governo de George W. Bush, o então embaixador estadunidense Clifford Sobel relata que a solicitação teria sido encaminhada a funcionários brasileiros em setembro, destacando que o Brasil “tem procurado por projetos relacionados a desenvolvimento, em detrimento a apoio para o setor militar”.

E a frase da semana fica por conta de Hebe Camargo ao dizer “... Hoje não sou mais uma mulher de segunda, mas de terça”, referindo-se ao fato de seu novo programa na RedeTV será às terças feiras e não mais às segundas como no SBT.


(1) 2,3 bilhões

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Urbanização e caos no Brasil

As fotos acima mostram o ocorrido em Teresópolis (2011) e Ilha Grande (2010)

Ou poderíamos dizer simplesmente: “a zorra da urbanização no Brasil”. O certo é que tudo o que tem acontecido em nossos verões não tem nada a ver com a poesia jobiniana das “águas de março”.
Primeiro em São Paulo a maior cidade do país, e a grande vítima do crescimento urbano do país. Uma cidade média do terceiro mundo que despertou para a industrialização acelerada e o crescimento desordenado nos últimos 50 anos, tanto de sua população quanto da frota de veículos, uma ignorância do capitalismo pós fordiano (1).
Mas é importante tambem se notar que essa catástrofe de verão se verifica tambem em muitas cidades do interior do próprio Estado de São Paulo, do litoral (2) e da serra fluminenses, onde, todos os anos acontecem uma sequência de desastres naturais provocados pelas chuvas. Culpa de um crescimento desordenado das cidades. E, tambem da falta total de qualquer tipo de planejamento... Um planejamento mínimo de onde se pode ou não construir.
Onde estão os governadores, os prefeitos e os urbanistas deste país? Teem que ser feitas mudanças urgentes na regulamentação de normas para que se construa onde possa ser construido. Não devemos deixar que o caos atual permaneça. E pior: se agrave.
Aí, há de se pensar que afinal de contas a favelização cresceu. Mas cresceu por que? Antes de mais nada pelo total descaso das autoridades quanto à questão. Paralelo a isto, o sistema capitalista provocou uma migração em massa da população do campo para os grandes centros, numa tentativa de criar um mercado consumidor, mas, claro não se preocupou em oferecer o mínimo de condições para que esta explosão pudesse realizar-se de forma minimamente humana.
Estamos assistindo uma grande quantidade de notícias sobre as centenas de mortes nesses verdadeiros “dilúvios”, e não vemos solução imediata para a questão. É a falta de uma estrutura mínima para o problema. Culpa dos medíocres dirigentes políticos que temos. Li ainda ontem uma notícia em que Sergio Cabral o (des)governador do Rio, afirma que a “ocupação irregular” e as chuvas são os culpados dos acontecimentos... E ele? É inocente nessa história? O quê que ele fez para prevenir acontecimentos como estes nos seus quatro anos de governo? E garanto que nada fará nos próximos quatro.
Mas é hora de se investir em saneamento e planejamento urbano. E quem não estiver nesta linha, vai perder o trem da história.

(1) Refiro-me aqui à “revolução” de Henry Ford, que provocou produção desenfreada de veículos em série.

(2) No ano passado as catástrofes mais graves no Estado do Rio de Janeiro, foram no litoral, na região de Angra dos Reis.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Killing. Ou a matança continua em mais uma versão

A história dos Estados Unidos está repleta de extermínios coletivos e atentados individuais a autoridades . Principalmente se essas (as autoridades) teem alguma coisa de progressistas.
Vamos falar um pouco da última em Tucson, Arizona, apenas relembrando alguns fatos.

Agora foi a vez de Jared Loughner, um jovem de 22 anos que no sábado passado disparou sobre a congressista democrata Gabrielle Giffords e dezenas de outras pessoas num parque de estacionamento de um supermercado, mantendo uma série que, nos últimos tempos tem tido uma média de três por ano. O saldo? Seis pessoas morreram e o total de feridos foi 14, inclusive o seu alvo, Gabrielle.
A polícia encontrou envelopes com mensagens assinadas por Loughner que se referiam ao “plano” de assassínio da deputada. Igualmente recuperada foi uma carta no gabinete da congressista, agradecendo a Loughner a sua participação, em 2007, num evento “Congresso na sua esquina”, semelhante àquele que decorria no dia do ataque.
A arma do crime, utilizada por Loughner (uma pistola semi-automática de 9 milímetros), foi comprada em Novembro na Sportsman’s Warehouse, uma loja de artigos esportivos de Tucson. O estado do Arizona tem uma das regras mais “permissivas” para a venda de armas.
Gabrielle Giffords, que acabara de tomar posse para o seu terceiro mandato no Congresso, permanece na UTI do Centro Médico Universitário de Tucson, onde foi operada.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A farsa "democrática" vista de dentro dos EUA




O Professor Jorge Moreira, baiano de nascimento, mas vivendo nos Estados Unidos (1) há algumas décadas, escreveu o artigo abaixo (2) da cátedra da universidade em que leciona. Chamou-me a atenção a precisão de seu raciocínio e conclusões.

"Não sei se vocês já estão a par da última decisão da administração de mister Barak Obama: o sistema de (in)justiça dos EUA demanda judicialmente que Face book, Google e Twitter forneçam as informações confidenciais (e supostamente secretas) sobre Julian Assange e outras pessoas ligadas a WikiLeaks ou que têm colaborado com WikiLeaks.
O erro fundamental de Julian Assange e dos membros de WikiLeaks (assim como da grande maioria das pessoas desinformadas) é terem acreditado que existe “liberdade de expressão” na denominada “democracia representativa” do sistema capitalista.
Vocês não tenham dúvidas que as multinacionais Facebook, Twitter e Google (violando a lei e a ética da privacidade individual) vão colaborar com o sistema atuando da mesma maneira que fizeram Paypal, Visa e Mastercard: vão entregar Julian e seus companheiros.
Em poucas palavras, em vez da Secretaria de (in)Justiça dos EUA, aproveitar a informação revelada por Wikileaks para julgar e penalizar aos responsáveis pelos crimes cometidos contra os povos do Afeganistão, do Iraque e do Pasquistão (em nome e com o dinheiro dos cidadãos estadunidenses), a Justiça estadunidense, atuando do lado contrário, trata de julgar e punir aos cidadãos Julian Assange e aos membros de WikiLeaks por fazerem um trabalho excepcional para desmascarar a verdadeira e monstruosa face oculta do império dos Estados Unidos.
A trágica ingenuidade dos cidadãos estadunidenses (e não estadunidenses) é acreditar que pode haver justiça para todos numa sociedade dominada pelo Capital. Na minha opinião, a “justiça” desta sociedade é outro dos mecanismos ideológicos que estão a serviço da hegemonia e do poder da classe dominante.
Creio que hoje (mais do que nunca), se faz necessário denunciar as palavras “democracia representativa” e “liberdade de expressão” como termos (keywords) profundamente ideológicos e perigosos que são imprescindíveis ao discurso (retórica) hegemônico e cuja função essencial é legitimar a dominação da classe burguesa, ao tempo em que procura desarmar a luta da classe explorada e oprimida (os subalternos) contra o sistema."
............
(1) Jorge Vital de Brito Moreira é baiano e estudou Ciências Sociais na UFBa. Fez estudos de pós-graduação em Sociologia (México) e Literatura (EUA) onde recebeu o titulo de doutor (Ph.d) com uma tese sobre o escritor Antonio Callado.
Nos EUA, tem ensinado na University of California San Diego (La Joya), University of Minnesota, Washinton University, Lawrence University e University of Wisconsin.
Tem publicado ensaios (sobre diferentes escritores brasileiros e latinoamericanos) e é autor-colaborador do livro Notable Twenty Century Latin America Women (2001).
Em 2007, publicou na Bahia o livro Memorial da Ilha e Outras Ficcões romance e contos).
Atualmente escreve artigos e ensaios para o destacado diário www.rebelion.org de grande circulação em Espanha e América Latina.

(2) André Setaro me enviou este artigo por e-mail.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Domingueiras

Postei esta semana uma matéria sobre o pensamento golpista da direita brasileira. Falei da UDN e de Carlos Lacerda, o político que provocou a crise que levou Vargas ao suicídio, e que foi um dos mentores do golpe de 1º de abril de 1964.
Na verdade a famigerada UDN, ancorada na pequena burguesia daquele período –tambem chamada de classe média tradicional--, altamente reacionária e parte integrante da divisão de classes na oligarquia brasileira foi a base de apoio para o golpe militar.
Lembro, ainda adolescente, das famosas “Marchas da Família com Deus pela Liberdade” ou de ações como “Doe Ouro para o Bem do Brasil”, inspiradas em movimentos criados por Mussolini na Itália fascista.
Golpe de 64. Uma acontecimento obscuro de nossa história...

Curiosamente, no caso de Carlos Lacerda (cujo apelido era o Corvo), o golpe saiu pela culatra. Os militares o perseguiram, isolando-o completamente. O canalha associou-se a inimigos antigos como Juscelino e o próprio Goulart, a quem depôs e formou um movimento intitulado Frente Ampla, cujo objetivo era a “redemocratização” do país restabelecendo um governo civil. Os “milicos” haviam prometido isto, mas a estratégia estadunidense à época previa governos militares fortes para combater as esquerdas em toda a América. Lacerda veio a falecer em 1977 sem alcançar seu objetivo.
Carlos Lacerda. Uma figura obscura de nossa história...

E já que o assunto é direita, somente para fins de registro, morreu esta semana Lily Monique de Carvalho Marinho (1921-2011), viúva de Roberto Marinho (que o diabo o tenha). Alemã nascida em Colônia, filha de pai inglês e mãe francesa, figurinha do soçaite, foi tambem casada com Horácio Gomes de Carvalho Filho, do Grupo Monteiro Aranha, que trouxe para o Brasil a fábrica da Volkswagen nos anos 1950.
Roberto Marinho, dono do império Globo foi uma das personalidades que mais prejudicou este país, monopolizando nos 21 anos da ditadura militar a comunicação no Brasil.
Roberto Marinho. Outra figura obscura de nossa história...

Mas por que não falar de coisas e pessoas que fizeram algo por este país? Afinal elas existem. Juscelino Kubtschek de Oliveira foi certamente uma delas. Considero-o um “visionário” que deu certo.
Brasília foi o seu sonho. Conseguir construí-la durante os cinco anos de seu governo. Execrado pelos setores mais conservadores, JK foi vítima de duas graves tentativas de deposição por intermédio de revoltas militares, naturalmente incentivadas pela UDN.
Tendo governado em período que nos trás muita saudade, ficou conhecido como “presidente Bossa nova”, até porque o movimento musical surgiu durante o seu governo.
Juscelino foi assassinado pelos militares em episódio até hoje nebuloso, no dia 22 de agosto de 1976 numa emboscada na Via Dutra, estrada que liga o Rio a São Paulo.
Juscelino Kubtschek. Uma figura notável de nossa história.

sábado, 8 de janeiro de 2011

São Paulo, o pinico do Brasil

Sem palavras. E precisa dizer mais alguma coisa? A imagem já diz tudo!

The fall of the uesseen empire

A guerra do Afeganistão tem traduzido em números assustadores a derrota que se avizinha dos EUA e seus demais asseclas: Grã Bretanha, Alemanha, França. Canadá, Itália, Polônia, Austrália, Espanha e Portugal.
Basta observar na tabela acima quanto cresceram as baixas estadunidenses e dos países da chamada “Coalizão” nesta aventura. Os EUA, por exemplo, pularam de 317 em 2009 para 499 em 2010. A Grã Bretanha foi o único dos países que teve um número menor em 2010 (103) contra os 108 de 2009, até porque se retiraram de uma zona de grande conflito no sul do país, em meados de 2010. Já os demais países, alcançaram os 109 contra os 96 do ano anterior.
O total geral foi de 521 em 2009 para 711 em 2010. Vamos ver onde isso vai parar neste ano de 2011...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A falência das elites e a tradição golpista da direita


Costumo me referir ao sr. Lula da Silva como o maior fenômeno da política brasileira em todos os tempos. Antes de mais nada porque ele conseguiu romper o domínio das elites tradicionalmente no poder desde a Colônia, e, sem excessão o domínio dos políticos tradicionais.
Nunca havia governado este país alguem tão identificado com as massas, alguem que falasse com elas de igual para igual. Mesmo Getúlio ou Juscelino mantinham o ranço típico das classes dominantes, nas atitudes e no discurso. Pois Lula não. Ele é povo, e o povo se identifica com ele.
Lembro-me de quando eleito em 2002 eu disse algo como: “Quem vai lucrar são os que estão na base da pirâmide, os descamisados”. E até usei o termo peronista para definir o seu público alvo. Por seu lado a classe média tradicional, constituída de pequeno burgueses típicos da formação do capitalismo, mas ancoradas no sistema oligárquico em todo o século XX, foi a mais prejudicada.
O Brasil encontrava enfim um novo rumo para a consolidação de um sistema essencialmente dominado pelo capital. E, por incrível que pareça, conduzido por um operário, migrante, em suas origens, tipicamene um membro da agonizante hierarquia da oligarquia brasileira, mormente a nordestina, onde até os nossos dias ainda domina em muitos bolsões.
Naturalmente é muito cedo para uma análise correta do seu governo. A história terá que baixar as poeiras no tempo para que se possam tirar conclusões mais amplas e definitivas. Mas a impressão que fica, numa análise inicial é de que Lula da Silva foi um governante “populista”, e que apesar de aparentemente ser de esquerda (1), fez inúmeras concessões à direita; como na sua política econômica, por exemplo.
Mas representou, e muito, o início da falência das elites neste país. Algo bastante significativo e marcante em nossa história.
Muito cedo tambem para a direita brasileira afastar-se de sua tradicional política de golpismo, cuja mais marcante ocasião foi notada na República do pós guerra, que culminou com o golpe de 1964. Inspirada e conduzida pela UDN (União Democrática Brasileira), um partido que reuniu a "fina flor" da oligarquia reacionária e a defesa dos interesses do imperialismo, comandadas por Carlos Lacerda (foto acima), talvez a figura política mais execrável que existiu neste país. Mais até do que FHC.
Durante as eleições, o golpismo esteve muito presente em toda a campanha, tendo à frente o PSDB e seu candidato Serra, a procurar escândalos continuados, numa evidente ação subterrânea e desonesta.
Pois bem, estamos assistindo, no início do governo Dilma, uma armação das tendências golpistas bastante preocupantes. Como alias, durante todo o governo de Lula ela estava no ar, tendo à frente a corrupta classe política deste país. Lula foi hábil o suficiente para contorná-las e isolá-las. E Dilma... Tambem será? Até porque o seu vice... Este deve-se temer!
Somente a história vai dizer. E a história é uma devoradora de homens e caracteres.
................
(1) Devemos nos lembrar que o PT (Partido dos Trabalhadores) tem suas origens ligadas à CIA, na tentativa de afastar Leonel Brizola, considerado então o perigo maior.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Pérolas que passam para a história

Quem é o sr. da Silva? Sem dúvida o maior fenômeno político popular deste país. Maior até do que Getulio Vargas. Um presidente que sai do governo com 87% de aprovação das massas e deixou uma marca muito forte na redistribuição de renda, um cancro que se arrasta desde a Colônia entre os nossos principais problemas.
Mas ao ler uma relação de citações de nosso ex-presidente, não posso deixar de publicar algumas delas, verdadeiras pérolas do seu discurso.

PONTO G
Inauguração da Barragem João Leite (março/2010)
“Eu não quero enganar ninguém, mas não quero ser enganado. É essa relação que o Brasil estabeleceu com o mundo. E é por isso que o Brasil é respeitado. É por isso que o Brasil é importante no G20, é importante no G8, é importante no G13, é importante no G4, é importante no G3. Cria um G que o Brasil está lá dentro. Por isso, não tem país mais preparado para encontrar o ponto G do que o Brasil.”'

PALAVRÃO
Em cerimônia no Maranhão (dezembro/2009)
“Eu não quero saber se João Castelo, é do PSDB, eu não quero saber se o outro é do PFL, não quero saber se é do PT, eu quero saber se o povo está na merda e quero tirar o povo da merda que ele ficou. Esse é o dado concreto. Lógico que falei um palavrão aqui e amanhã os comentaristas dos grandes jornais vão dizer que o Lula falou um palavrão. Mas eu tenho consciência de que eles falam mais palavrão que eu todo dia. E eu tenho consciência de como vive o povo pobre desse país. E, por isso, queremos mudar a história desse país.”'

MULHERES
Discurso em Porto Alegre (julho/2010)
“Eu já sou defensor das mulheres ocuparem espaço na política há muito tempo. Acabou o tempo em que a mulher era tratada como objeto de cama e mesa; acabou o tempo em que a mulher, no mercado de trabalho, era tratada como uma força secundária; acabou o tempo em que a mulher era força auxiliar. A mulher não quer mais viver com um homem por causa de um prato de comida, a mulher quer viver com um homem se ela quiser.”

ÁFRICA
Durante visita à Namibia (novembro/2003)
“Aqui é tudo tão limpinho que nem parece a África.”