quinta-feira, 31 de março de 2011

Pausa para a saudade!


Meu pai faleceu, faz uma semana hoje.
A tentar explicar em poucas palavras: descobri ontem esta foto clicada em 1967 que prontamente escaneei.
Meu pai, então com 47 e minha mãe na plenitude de seus 45 anos... Ambos na casa de minha querida tia e madrinha, hoje com 102 anos, ainda gozando de boa saúde.
Não é mera "corujice", mas vejo o quanto eles eram belos na juventude que ainda se manifestava em seus semblantes e na paixão que "rolava" nos seus olhares...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Milton Santos, pensador brasileiro de respeito



Milton Santos (1926/2001), um intelectual e professor brasileiro, baiano de Brotas de Macaúbas, negro num país onde o racismo é camuflado, mas forte... Que podem ser melhor compreendidas ao assistir a cenas do filme de Silvio Tendler (clique acima).

Segue uma pequena biografia retirada do site “Nossa São Paulo”:

“Formou-se em Direito no ano de 1948, pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), foi professor em Ilhéus e Salvador, autor de livros, que surpreenderam os geógrafos brasileiros e de todo o mundo, pela originalidade e audácia: "O Povoamento da Bahia" (48), "O Futuro da Geografia" (53), "Zona do Cacau" (55) entre muitos outros. Em 1958, já voltava da Universidade de Estrasburgo, da França, com o doutorado em Geografia, trabalhou no jornal ‘A Tarde’ e na CPE (Comissão de Planejamento Econômico-BA), precursora da Sudene, foi preso em 1964 e exilado.
Passou o período entre 1964 a 1977 ensinando na França, Estados Unidos, Canadá, Peru, Venezuela, Tânzania; escrevendo e lutando por suas idéias. Foi o único brasileiro e receber um "prêmio Nobel", o Vautrin Lud, que é como um Nobel de Geografia.
Outras de suas magistrais obras são: "Por Uma Outra Globalização" e "Território e Sociedade no Século XXI – Editora Record.” (1)

1. Mais informações e entrevista:

domingo, 27 de março de 2011

Pensatas de um domingo triste

Fachada do antigo Vitória. Triste fim?
Livraria e Municipal
Desta vez passei por lá e confirmei ao notar um leve indício de obras no local. O cinema Vitória vai mesmo ser a Livraria Cultura do Rio de Janeiro. O que é bom... Afinal a sala que exibiu filmes marcantes entre os anos 1940/80, hoje completamente abandonado às traças, a camelôs na porta ou ao estacionamento de carros em seu interior poderá ter um fim mais digno de seu passado sediando a melhor livraria de São Paulo em sua filial carioca.
Aliás a Cinelândia inteira está se revigorando. Foi inaugurado um novo hotel (não anotei o nome) onde era o antigo Hotel Serrador, e o “Theatro Municipal” está todo recauchutado de acordo com a sua pintura original.
E por falar nisso, o Theatro exibiu esta semana “Metrópolis” (1927) de Fritz Lang em versão restaurada e estendida – resultado de um dos mais significativos projetos de restauração na história do cinema, conduzida pela “Fundação Murnau” em Wiesbadecom. E com a música original de Gottfried Huppert tocada pela OSB nos dias 21, 22 e 23 passados. Só que quando soube disso não mais encontrei entradas. Nem pela internet, nem lá na bilheteria. Que pena!

Perdas e danos
Elizabeth Taylor nos deixou esta semana. Ela se foi num dia e meu pai no outro. Sério mesmo, eu estava ainda a me recuperar da morte dela quando meu pai veio a falecer.
Aliás, cinéfilo, na juventude ele chegou a assistir mais de 365 filmes em um ano na Bahia... Quer dizer, em pelo menos um dia ele viu mais de um... Mas para além de um pai exemplar e que me acompanhou por quase 66 anos (vou fazê-los agora em abril), era um grande amigo e professor. Sim, ele foi meu professor mesmo durante dois anos no antigo segundo grau.
Sei que não há comparação entre as duas perdas e que a do meu “velho” é mesmo insubstituível. Mas, para além de ao longo do tempo sempre ter convivido muito com ele, nos últimos anos este convívio aumentou muito em função da necessidade de acompanhá-lo a compromissos e, até, a simples passeios, pois ele já não podia mais sair sozinho.
Ainda não sei o que é a vida sem meu pai... Agora tenho que aprender...
  
O caso do docinho
Falar em meu pai, me lembrei de um caso que ele contava, era muito engraçado e aconteceu em Salvador quando um sujeito conhecido dele vinha para o Rio de navio, pois naquela época existia este tipo de transporte regularmente no país ligando as cidades costeiras, tanto do Lloyd Brasileiro quanto da Costeira (os famosos Ita).
Amigos dele incumbiram-no de trazer uma encomenda para parentes e lhe deram uma caixinha quadrada e pequena, quer dizer, nada incômoda. O personagem a colocou numa de suas maletas de viagem e embarcou.
Como a viagem, dependendo do tipo de embarcação durava entre dois e três dias, no final do segundo ele, ao abrir a tal maleta notou que a caixa estava cheia de formigas.
– Caramba – pensou com os seus botões – este pessoal está mandando docinhos para os seus parentes! Sabe de uma coisa eu vou jogar fora esta droga! Dirigiu-se ao tombadilho e atirou a caixa em alto mar.
Chegando ao Rio, a família do amigo de Salvador estava em peso esperando a encomenda... Com os restos mortais do velho patriarca...

sexta-feira, 25 de março de 2011

“La Taylor” uma mulher e seus olhos inesquecíveis


Senti a morte de Liz Taylor (79 anos) como se perdesse uma parte de mim mesmo! Isto porque ela foi uma das grandes paixões de minha adolescência, e também das mais belas atrizes do cinema mundial com seus inconfundíveis olhos violeta.
E foto importante, ela não foi apenas um símbolo sexual do “star system”, mas também uma séria, brilhante e dedicada atriz.
Sua vida privada, caracterizada e repleta de escândalos, despertou sempre atenções, destacando-se seus dois casamentos “boêmios” e tumultuados com Richard Burton com quem contracenou em “Cleópatra” (1963) direção de Joseph L. Mankiewicz e “A Megera Domada” (1967) de Franco Zeffirelli, além de outros. Ou por ter sido o “pivô” da comentada separação de Eddie Fisher e Debbie Reynolds. Aliás, foram oito casamentos ao longo se sua vida se considerarmos os dois com Burton.
Em 1993, foi premiada com um Oscar honorário. Mas já havia recebido a famosa estatueta em 1960 por sua interpretação em “Disque Butterfield 8” sob a batuta de Daniel Mann, e, em 1965, por “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”, baseado no consagrado texto de Edward Albee, numa realização de Mike Nichols.
Elizabeth Rosemond Taylor nasceu no ano de 1932 em Londres, filha de pais estadunidenses naturais do Arkansas, foi viver nos Estados Unidos em 1939 devido a temores por parte dos pais da guerra que se aproximava na Europa.
Por intermédio de uma amiga da família, encantada com a sua beleza, estreou aos nove anos no cinema, pela “Universal Pictures”, em "There's One Born Every Minute" (Harold Young, 1942). Um ano depois trabalhava em "Lassie Come Home", este dirigido por Fred M. Wilcox.
Mas, para além disso participou entre outros de “De repente no último verão”, outro filme de Joseph L. Mankiewicz com roteiro de Gore Vidal, tendo no elenco Montgomery Clift e Katherine Hepburn. Também abordando a problemática homossexual, estrelou com Marlon Brando "O Pecado de Todos Nós" (1967) cuja direção é de nada mais nada menos do que o gigante Jonh Huston.
Ao lado de Paul Newman filmou em 1962 “Gata em teto de zinco quente” baseada em livro de Tenessee Williams dirigida por Richard Brooks.
Em “Os farsantes", (1967) também com Burton, o casal foi amparado por Peter Ustinov e Alec Guiness como atores coadjuvantes, neste filme de Peter Glenville, uma história densa (e sensual) de Graham Greene, ambientada durante a ditadura de Duvalier (Papa Doc) e sua sanguinária polícia secreta
Taylor será sempre lembrada como a primeira atriz a receber o cachê de US$ um milhão para protagonizar um filme. No caso "Cleópatra"...
Após a morte de Rock Hudson, que havia trabalhado com ela em “Assim Caminha a Humanidade” (1955) tendo George Stevens como diretor, Elizabeth abraçou com fervor e devoção a causa da luta contra a Aids.
"La Taylor" deixa saudades dos doces tempos de minha juventude e da paixão que tive por ela... Ou por Sophia Loren, Capucine, Claudia Cardinalle, Ann-Margret... Mas posso jurar que o seu caso foi especial, até por causa do seu charmoso british accent.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Fim de namoro perfeito


Republico esta postagem, cheia de besteiras, besteirol, sei lá (vide texto de introdução)... O fato é que a publiquei em março de 2007 no antigo “Pensatas”, o blogue que um dia o vento levou... O vento?

Cheguei em casa e fui dar aquela cagadinha. Na verdade, estava apertadíssimo, e ainda passamos pela Lagoa para ver o eclipse da Lua, o que atrasou um pouco mais a chegada ao aconchego do lar. E, no caso, de uma privada.
Parece um papo escatológico. E é. Mas, pelo menos é curtinho... E grosso. Mas me fez lembrar de um amigo que tinha no ginásio, e que dizia que toda vez que acabava um namoro, tinha uma forma muito boa de levar a “ex” para o seu lugar definitivo: o esquecimento.
Era bem simples. Imaginava ela dando aquela cagada, com prisão de ventre, em que a coitada toda torcidinha, mordia os lábios, com os olhos a ponto de saltarem para fora do rosto. No dia seguinte, estava enojado. Nem queria pensar na pobre criatura!
Também...

terça-feira, 22 de março de 2011

Números atuais no Afeganistão


Os últimos números de baixas das Tropas Invasoras da "Coalisão" no Afeganistão mostram que os totais são superiores ao total em 2001 e 2002. Mas entre as “ianques” elas também superam os números de 2003 e 2004. E ainda não completamos o primeiro trimestre do ano...

Nota: O destaque no quadro acima é de minha autoria.
Fonte: icasualties.org  

segunda-feira, 21 de março de 2011

domingo, 20 de março de 2011

A história secreta da Rede Globo (parte 3)



Este terceiro episódio mostra as manobras de Roberto Marinho, apoiando e defendendo o regime ditatorial, muito embora em comentário, um jornalista Gabriel Priolli (1) tenha deixado muito claro que a Rede Globo, a princípio, apóia qualquer governo estabelecido através de sua política maleável. Trocando em miúdos: “picareta” mesmo!
Prova disto foi quando Tancredo Neves estava prestes a vencer as eleições (indiretas) e na eminência de se estabelecer o primeiro governo paisano (civil) no Brasil, após 20 anos de presidentes fardados, a Globo jogou-se imediatamente para o seu lado. A propósito, o apoio ao Sr. “Lula” da Silva também evidencia esta tendência.
Por outro lado, expõe-se aqui como a ditadura militar manobrou e vetou o acesso da Editora Abril à concessão para obter uma licença a um canal de televisão. À época – ironias da história –, a revista Veja se opunha e criticava o regime. Na ocasião foram entregues novas autorizações a Silvio Santos com o seu “Baú da Felicidade” e a Adolfo Bloch da Editora Manchete, que não ofereciam perigo à manutenção dos militares no poder.
E finalmente explica a expansão da rede televisiva de Roberto Marinho & Cia., inclusive a sua associação com Antônio Carlos Magalhães, também conhecido como “ACM” ou “Tonico Malvadeza”. O político que dominou o estado da Bahia durante pelo menos três décadas, e que, diga-se de passagem, foi acusado de controlar todas as emissoras em seu estado nas eleições seguintes à sua associação com o “Cidadão Kane” tupiniquim.

1. Priolli é um jornalista com uma vasta carreira, tendo começado em publicidade, e, após passar por diversos jornais e canais de TV comerciais (inclusive a Rede Globo), foi um dos organizadores da TAL (Televisión America Latina) organização social que implantou um canal de televisão cultural de alcance internacional, programado em cooperativa por 20 países ibero americanos. Escreveu “O Campeão de Audiência” uma biografia de Walter Clark.

sábado, 19 de março de 2011

Pensatas de sábado & recomendações de mais blogues


Como amanhã, domingo estarei postando mais um episódio da série “A história secreta da Rede Globo”, desta feita as “Pensatas”, estão sendo no sábado.

1. Estou com um novo blogue marcado na lista ao lado. Trata-se do “Controvérsia (Blog)”. Recomendo por tratar-se de uma página consciente e politizada. Leiam. E depois reflitam... O link é: http://blog.controversia.com.br/  

2. E por falar em blogue, o da Simey Lopes está indo de bom a melhor. Suas reinterpretações de “Contos de Fadas” à luz de uma visão mais realista é sui generis e também vale a pena ser conferida. O link? Bom, além de também estar aí ao lado, e para facilitar: http://simeylopes.blogspot.com/  

3. Pensando bem, tenho refletido muito acerca da importância que a imprensa alternativa na web está assumindo no mundo. As revoluções no Oriente Médio, e agora nos Estados Unidos tiveram um peso real desta nova mídia livre e independente.

4. Continuemos, pois, a curtir e desenvolver os nossos blogues. Eles terão, sem dúvida um papel no futuro do mundo e da humanidade. Temos que ter a consciência de que através deles, não todos, mas um bom número de pessoas podem ler e refletir novas ideias e novos caminhos...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Obama go home!


À presença de Obama, o país deveria, na verdade, ter declarado luto oficial. Afinal, o “farsante” presidente dos EUA não tem feito nada de positivo pela (ou para a) América abaixo do Rio Grande. Nem tampouco pelos pobres --hoje não são poucos-- que habitam o próprio país que ele governa.
Quando da divulgação por Obama do orçamento para 2012, ele declarou que pedira que “congelassem a despesa interna anual nos próximos cinco anos”, e que o congelamento reduziria o déficit em mais de 400 mil milhões de dólares ao longo da próxima década e levará este tipo de despesa – a despesa discricionário interna - ao menor nível da economia dos EUA desde a presidência de Dwight Eisenhower” (1), Amy Goodman (2) comentou: “Prestem atenção à palavra “congelar”. Isso é precisamente o que poderá acontecer com muita gente se este orçamento for aprovado tal qual foi proposto. Enquanto o gasto de defesa aumenta, principalmente após o Pentágono realizar o seu maior pedido de financiamento desde a Segunda Guerra Mundial, o orçamento propõe cortar metade do programa chamado Programa de Assistência Energética a Lares de Baixos Rendimentos...”
E mais adiante continuou: “(...) Estamos a viver um dos invernos mais frios da história. Uma em cada oito pessoas nos Estados Unidos utiliza cupões alimentares (auxílio público para comprar alimentos), o que representa a maior percentagem da história. Muitos outros também carecem de assistência de saúde, apesar dos benefícios iniciais da lei de reforma do sistema de saúde aprovada no ano passado...”
“(...) Os norte-americanos teem frio, fome e estão desempregados. Ao aumentar a despesa militar, que já é superior à soma de todos os orçamentos militares do mundo, simplesmente, estamos a levar esse sofrimento ao exterior. Deveríamos ter claro quais são as nossas prioridades.” Completou Amy (3),
Obama, volta pra casa e vai cuidar dos graves problemas que você com seu “papo furado” está a causar às massas estadunidenses. Comprove um pouco de seu slogan “Yes, we can” (Sim, nós podemos). Ou será que com esta frase você estava se dirigindo apenas à burguesia no poder?

1. Eisenhower foi presidente dos Estados Unidos no período 1953/1961, exercendo dois mandatos seguidos.

2. Amy Goodman é uma jornalista estadunidense, apresentadora principal do “Democracy Now”, um programa de notícias independente transmitido diariamente por rádio, televisão e internet.

3. O texto de Amy Goodman foi parcialmente transcrito do blogue “Controvérsia” e publicado em 06/03/11: http://blog.controversia.com.br/  

quinta-feira, 17 de março de 2011

Discurso no funeral de Marx



Engels à época do discurso
No dia 14 de março de 1883, há 128 anos, o grande pensador do Materialismo Histórico falecia, deixando órfãos os seus seguidores.
De lá para cá, suas teorias passaram por bons e maus momentos. O pior deles, sem dúvida, a “mecanização” teórica imposta pelo regime soviético a partir de Stalin – e sua controversa teoria da “construção do socialismo em um só país” (1) – que transformou o pensamento de Marx numa “cartilha” infantil, idiotizada e, por incrível que pareça: inflexível (2).
Mas houve bons e importantes instantes como os do “Movimento Espartaquista” na Alemanha, o da própria “Revolução Russa” (3), até o momento em que Stalin a enterrou, o da “Escola de Frankfurt” ou das teses de Leon Trotsky em oposição ao ditador “fascista” da URSS.
Fundador da esquerda moderna, Marx foi condenado ao “esquecimento” algumas vezes, mas as infindáveis crises do capitalismo sempre renovam o interesse pela sua obra.
O texto do discurso de Engels foi copiado do “MIA – Marxist Internet Arquive” (4).

Friedrich Engels pronunciou as palavras abaixo no dia 18 de março de 1883:

“Em 14 de março, quando faltavam 15 minutos para as 3 horas da tarde, deixou de pensar o maior pensador do presente. Ficou sozinho por escassos dois minutos, e sucedeu de encontramos ele em sua poltrona dormindo serenamente — dessa vez para sempre.
O que o proletariado militante da Europa e da América, o que a ciência histórica perdeu com a perda desse homem é impossível avaliar. Logo se evidenciara a lacuna que a morte desse formidável espírito abriu.
Assim como Darwin em relação à lei do desenvolvimento dos organismos naturais, descobriu Marx a lei do desenvolvimento da História humana: o simples fato, escondido sobre crescente manto ideológico, de que os homens reclamam antes de tudo comida, bebida, moradia e vestuário, antes de poderem praticar a política, ciência, arte, religião, etc.; que, portanto, a produção imediata de víveres e com isso o correspondente estágio econômico de um povo ou de uma época constitui o fundamento a partir do qual as instituições políticas, as instituições jurídicas, a arte e mesmo as noções religiosas do povo em questão se desenvolve, na ordem em elas devem ser explicadas – e não ao contrário como nós até então fazíamos.
Isso não é tudo. Marx descobriu também a lei específica que governa o presente modo de produção capitalista e a sociedade burguesa por ele imaginada. Com a descoberta da mais valia iluminaram-se subitamente esses problemas, enquanto que todas as investigações passadas, tanto dos economistas burgueses quanto dos críticos socialistas, perderam-se na obscuridade.
Duas descobertas tais deviam a uma vida bastar. Já é feliz aquele que faz somente uma delas. Mas em cada área isolada que Marx conduzia pesquisa, e estas pesquisas eram feitas em muitas áreas, nunca superficialmente, em cada área, inclusive na matemática, ele fez descobertas singulares.
Tal era o homem de ciência. Mas isso não era nem de perto a metade do homem. A ciência era para Marx um impulso histórico, uma força revolucionária. Por muito que ele podia ficar claramente contente com um novo conhecimento em alguma ciência teórica, cuja utilização prática talvez ainda não se revelasse – um tipo inteiramente diferente de contentamento ele experimentava, quando se tratava de um conhecimento que exercia imediatamente uma mudança na indústria, e no desenvolvimento histórica em geral. Assim por exemplo ele acompanhava meticulosamente os avanços de pesquisa na área de eletricidade, e recentemente ainda aquelas de Marc Deprez.
Pois Marx era antes de tudo revolucionário. Contribuir, de um ou outro modo, com a queda da sociedade capitalista e de suas instituições estatais, contribuir com a emancipação do moderno proletariado, que primeiramente devia tomar consciência de sua posição e de seus anseios, consciência das condições de sua emancipação – essa era sua verdadeira missão em vida. O conflito era seu elemento. E ele combateu com uma paixão, com uma obstinação, com um êxito, como poucos tiveram. Seu trabalho no Rheinische Zeitung (1842), no parisiense Vorwärts (1844), no Brüsseler Deutsche Zeitung (1847), no Neue Rheinische Zeitung (1848-9), no New York Tribune (1852-61) – junto com um grande volume de panfletos de luta, trabalho em organização de Paris, Bruxelas e Londres, e por fim a criação da grande Associação Internacional de Trabalhadores coroando o conjunto – em verdade, isso tudo era de novo um resultado que deixaria orgulhoso seu criador, ainda que não tivesse feito mais nada.
E por isso era Marx o mais odiado e mais caluniado homem de seu tempo. Governantes, absolutistas ou republicanos, exilavam-no. Burgueses, conservadores ou ultra democratas, competiam em caluniar-lhe. Ele desvencilhava-se de tudo isso como se fosse uma teia de aranha, ignorava, só respondia quando era máxima a necessidade. E ele faleceu reverenciado, amado, pranteado por milhões de companheiros trabalhadores revolucionários – das minas da Sibéria, em toda parte da Europa e América, até a Califórnia – e eu me atrevo a dizer: ainda que ele tenha tido vários adversários, dificilmente teve algum inimigo pessoal.
Seu nome atravessará os séculos, bem como sua obra!”

1. Segundo Marx, a nação é um conceito burguês. Para ele uma revolução proletária deveria ser internacional, como diz no Manifesto Comunista: “(...) As nações são um produto e uma forma inevitável da época burguesa do desenvolvimento social. A classe operária não pode fortalecer-se, amadurecer, formar-se, sem se ‘constituir a si mesma como nação’, sem ser ‘nacional’ (‘de modo nenhum no sentido da burguesia’). Ora, o desenvolvimento do capitalismo destrói cada vez mais as fronteiras nacionais (5), acaba com o isolamento nacional, substitui os antagonismos nacionais por antagonismos de classe. Por isso, nos países capitalistas desenvolvidos é perfeitamente verdadeiro que ‘os operários não teem pátria’ e que a ‘unidade de ação dos operários’, pelo menos dos países civilizados, ‘é uma das primeiras condições para sua libertação...”

2. A dialética, no raciocínio de Marx, propunha-se à flexibilidade e ao realismo frente a momentos históricos diferentes. A “momenklatura” soviética tentou transformá-lo em “anti dialético”, ao defender a permanência de Stalin “sine die” no poder.

3. Na verdade, Marx temia uma “revolução” na Rússia, segundo ele um país atrasado do ponto de vista da industrialização e essencialmente rural. É sabido que em uma de suas “cartas a Kugelman” (Ludwig Kugelman – 1828/1902) ele se referiu a isto.

4. Tive que fazer alguns ajustes na tradução do MIA devido a certos equívocos no original em português.

5. Karl Marx, muito antes de surgirem as multinacionais já previa uma internacionalização do capital, coisa que somente começaria a se materializar cerca de 30 anos após a sua morte.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma grande decepção


Barack Obama fez uma bela (e criativa) campanha publicitária – talvez uma das melhores até hoje – prometeu e aconteceu. Mas o que fez até agora? Talvez um décimo do que falou em seus discursos.

Cantei isso à época em que foi eleito porque não acredito que alguém que chegue àquele posto máximo nos Estados Unidos esteja isento e não tenha compromissos com os grandes grupos econômicos.

Obama vem ao Brasil na semana que vem. Vai falar mais “blá blá blás”, aqui por terras tupiniquins. Talvez prometa muito ao governo e aos brasileiros em geral.

Mas, pode, crer, eu, por antecipação não vou acreditar no que vai dizer. Mas, justiça seja feita, o único crédito que lhe dou foi o fato de um “pardo” um nigger, como dizem pejorativamente os fascistas por lá ter chegado à presidência.

terça-feira, 15 de março de 2011

Wisconsin. Até o Michael Moore entrou em cena


O site de Michael Moore mostrando o ocorrido em Madison, Wisconsin
O cineasta Michael Moore foi a Madison, capital do estado de Wisconsin, porque, segundo declarações "esta é uma guerra de classes". Os protestos foram comparados aos ocorridos no Egito por participantes e analistas como Noam Chomsky, que os definiu como o primeiro sinal da revolta das massas trabalhadores contra medidas semelhantes em outros estados. O reverendo Jesse Jackson, o líder popular Jim Hightower, e importantes líderes sindicais e sociais, juntaram-se aos protestos nas últimas semanas.

Milhares de pessoas (mais de 100 mil, segundo estimativas), cercaram o Capitólio, na capital, cuja população total é de 250 000 habitantes. O que começou como um repúdio às medidas republicanas para limitar severamente (quase anular) direitos sindicais de cerca de 175 000 trabalhadores do governo de Wisconsin, está a transformar-se numa rebelião contra a repressão aos trabalhadores em alguns outros pontos do territorio estadunidense.

A resistência em Wisconsin incluiu vários tipos de táticas não violentas, desde a ocupação do Capitólio (em Madison) até a fuga de 14 senadores democratas do estado para tentar impedir o quórum necessário para a aprovação da lei, imposta pela direita da direita republicana, em manobra parlamentar, agora sujeita a revisão judicial.

Não seria equivocado pensar numa possibilidade de que o movimento cívico venha a se converter numa revolta, com milhares de adeptos e assim crescesse por muitos outros estados da União estadunidense. Aguardemos o avanço da história...

segunda-feira, 14 de março de 2011

A dança do rei “gago” e o enigma do “patinho feio”*. Freud explica?


Dois filmes a que assisti na semana passada, por acaso dois filmes que tratam da mente humana, seus caminhos e possibilidades... Ou, quem sabe, também os seus descaminhos.


I

O primeiro deles, dirigido por Tom Hooper, um realizador britânico que ainda não chegou aos 40 anos de idade, trata da gagueira do príncipe George, o segundo na sucessão ao trono inglês, que torna-se rei devido à renúncia de seu irmão mais velho, que escandalizou não somente a realeza britânica como o mundo todo (o “caso Simpson”). E para agravar a situação, numa época em que, devido ao advento do rádio, o rei precisava fazer discursos.
“O discurso do Rei” (The King’s Speech), Hooper tem o apoio do grande ator Geoffrey Rush, mais um austaliano a somar-se a uma tradição que se iniciou com Errol Flynn, o famoso “Robin Hood” dos anos 30.
Geoffrey, que ficou bastante conhecido na série “Piratas do Caribe” (no papel do Capitão Barbossa), na minha opinião, domina e engole todo o elenco, apesar de Colin Firth --Oscar de melhor ator (1)--, estar muito bom no papel de George VI, o rei gago, pai da atual rainha da Inglaterra, Elizabeth II. Firth, um ator bastante rodado, completou 50 anos em 2010.
Porém, o mais importante foco desta história está na luta pela superação da gagueira de George VI, com a ajuda, de Lionel Logue (Geoffrey), um psicoterapeuta “autodidata” que se empenha na cura de “Sua Alteza Real” e futuro Rei da Inglaterra, despertando para o seu consciente os traumas de sua rígida educação, que, entre outras coisas, fê-lo tornar-se destro à força, situação muito comum naqueles tempos.
O que nos mostra que todo ser humano, seja um simples cidadão comum ou um rei, sofrem da mesma forma problemas os quais teem que enfrentar... E superar a duras penas e muita persistência, sofrimento, e mesmo dor. O que Hooper nos passa com uma grande habilidade.

II

O segundo foi “Cisne negro” (Black Swan) do jovem diretor estadunidense Darren Aronofsky, que realizou apenas cinco filmes (o primeiro foi um Sci-Fi denominado “Pi”), tendo mais dois, até hoje inéditos de seus tempos de estudante.
Neste bem engendrado filme de suspense, um suspense crescente e ininterrupto, no qual, Beth MacIntyre (Winona Ryder), a primeira bailarina de uma companhia, que está prestes a se aposentar, e o posto acaba por ficar com Nina (2) após rigorosa seleção, pois “O Lago dos Cisnes” requer uma bailarina capaz de interpretar tanto o “Cisne Branco” com inocência e graça, quanto o “Cisne Negro”, que representa malícia e sensualidade. Uma personagem que possui sérios e graves problemas íntimos, em especial com sua mãe (Barbara Hershey), uma mulher possessiva, ex bailarina frustrada que projeta sua decepção em Nina, e a mima como um bebê.
Pressionada por Thomas Leroy (Vincent Cassel), um exigente diretor artístico, ela passa a enxergar uma concorrência desleal vindo de suas colegas, em especial Lilly (Mila Kunis). O processo de desintegração mental de Nina, a partir deste “complexo de perseguição” é um verdadeiro estudo psicanalítico de um comportamento psicótico que chega às raias da loucura.
E esta é a realidade alucinante deste filme em que nos confundimos entre a realidade e a alucinação, o que de fato acontece e o que se passa apenas na cabecinha conturbada de Nina. Não é apenas o suspense, mas a tentativa de descobrir o que é ou não, de fato quais são os fatos, que nos prendem à engrenagem da evolução descritiva, a que assistimos, imóveis na poltrona, olhos fixos na tela. Porque a cada instante pode aparecer um pequeno detalhe que nos possa levar ao que é verdade. Ou não.
O final, surpreendente, após um suspense de um crescendo ininterrupto é um exemplo do quanto a “cabeça”, o inconsciente em particular, é capaz de construir e/ou destruir. São os enigmáticos caminhos e descaminhos da mente humana.

III

Como se diz popularmente: “Freud explica”. Ou, em alguns casos: “Esta, nem Freud explica”...

(*) Usei, de forma simbólica, a correlação com o “patinho feio”, para fazer uma comparação entre o Cisne Negro, interpretação que quase afasta Nina do duplo --e difícil-- papel, pois se, doce como era incorporava muito bem o “Cisne Branco”, já para o “Cisne Negro”, seus problemas “psíquicos” dificultavam-na de uma grande “performance”, tornando-se o estopim para o seu comportamento “esquizóide”.

1. “O Discurso do Rei”, ganhou os Óscares de melhor filme, melhor diretor, melhor ator e melhor roteiro original.

2. Natalie Portman (por sinal belíssima) venceu o Óscar como melhor atriz por sua interpretação em “Cisne Negro”.


domingo, 13 de março de 2011

URGENTE: AS MASSAS POPULARES, REVOLTADAS, LEVANTAM-SE NOS ESTADOS UNIDOS


Para ampliar, clique na imagem
A imagem acima reproduz uma página de “La Jornada”, um jornal em castelhano publicado nos EUA. Sério, se quiser saber mais acesse o link no final desta página.
A grande mídia no território estadunidense omite-se, não divulga nada (ou quase nada) sobre os acontecimentos. Aqui no Brasil não se sabe nada, nadinha mesmo sobre isto. É a “Ditadura da Burguesia”, que domina a informação, manipulando-a para o lado que lhe for melhor, mascaradas pela "pseudo democracia", que só permite uma oposição que de fato não a incomode..
No entanto, esta notícia representa o nível a que chegou crise sistêmica do capitalismo nos dias pelos quais passamos. E, importante, na própria sede do império...

A história secreta da Rede Globo (parte 2)



Neste domingo publico o segundo capítulo da “história secreta da Rede Globo”. Já um pouquinho mais adiante, este capítulo mostra a conquista de espaço da emissora predileta dos militares no poder, que tornou-se a sua porta voz.
Época da Copa de 70, o tricampeonato no México, do governo Médici numa tentativa de se formar um perfil “populista” do 3º general presidente, que foi justamente o pior dos militares de plantão. Dos tempos do “Brasil, ame-o ou deixe-o” e da censura severa às músicas de autores como Chico Buarque de Hollanda, que faz aqui um pequeno depoimento sobre o fato, acentuando o papel da TV Globo e sua própria auto censura.
Mostra, claro, o embelezamento em direção ao seu papel de “Vênus Platinada”. E depoimentos de Armando Falcão (1) a defender a “fidelidade” de Roberto Marinho ao governo.
O episódio postado hoje, passa pela demissão de Walter Clark, na verdade deposto de seu “trono” absoluto à frente da direção do canal televisivo, porque, após beber um pouquuinho além da conta numa festa em Brasília declarou numa roda de conversa que a Globo tinha poder até para derrubar o governo. O incidente chegou logo aos ouvidos de Roberto Marinho, que de imediato o pôs para fora da casa...

1. Armando Falcão (1919/2010) foi um político conservador, mais conhecido por ter sido Ministro da Justiça durante o governo Ernesto Geisel, o 4º ditador no processo de 21 anos dos militares no poder.

sexta-feira, 11 de março de 2011

“Antitabagismo é Fascismo”. Mas o que polui mesmo é o individualismo do sistema capitalista

Para ampliar, clique na imagem
Postei esta foto que eu fiz utilizando o Photoshop, no FaceBook, para mostrar simbolicamente o que deveria ser proibido de fato: esta invenção criminosa de Henry Ford com a produção em série de carrinhos individuais. Por que não postá-lo aqui neste blogue? 
Tenho atacado sempre que nos moldes que é aplicado hoje: “Antitabagismo é fascismo”... Publicitário que sou, acompanhei toda a adaptação da Souza Cruz (leia-se British American Tobacco), a diversificar as suas prioridades para outras áreas, como a Aracruz Celulose e tantas e muitas atividades a que se dedicaram. Eles sabiam que o cigarro ia ser massacrado e discriminado décadas antes de acontecer esta campanha anti fumo.
A placa do carro é porque por razões óbvias as "SS" eram milícias armadas dos nazistas. E "1933" foi o ano do “incêndio do Reichstag” além de Hitler ter sido o primeiro governante no mundo que criou uma lei antitabagista, aliás bastante radical.

terça-feira, 8 de março de 2011

Manuel Sacristán, o compromisso do filósofo

  

Salvador López Arnal (*)
Rebelion.org
Traduzido para “Novas Pensatas” por Jorge Vital de Brito Moreira

Manuel Sacristán Luzón nasceu em 5 de setembro de 1925 em Madrid, onde passou sua infância até o estalido da guerra civil espanhola. A família Sacristán-Luzón, que tinha se mudado para Valencia em novembro de 1936, transferiu-se mais tarde para Rivatrigoso e depois para Niza (ambas na Itália) durante os dois últimos anos da guerra, se instalou em Barcelona em 1939. Ali o jovem Sacristán reiniciou seus estudos de bacharel, pertencendo como muitos outros adolescentes da sua época a OJE, a Organização juvenil da Falange.
Em 1944, Sacristán iniciou os estudos de Direito e Filosofia. Tomou conhecimento, no segundo ano, das torturas a que foram submetidos os estudantes contrários ao uniformismo cultural do nacional-catolicismo espanhol, foi decisivo para a sua ruptura com a Falange. Foi uma decisão arriscada, pois diversos testemunhos coincidem no fato de que uma pistola de um chefe falangista estava carregada de balas destinadas ao jovem Sacristán.
Finalizados seus estudos universitários com um premio extraordinário em Filosofia, Sacristán participou ativamente nas revistas Qvadrante e Laye [1] e, depois de conseguir uma bolsa de estudo da Deutscher Akademischer Austauschdienst, partiu para estudar lógica e filosofia da ciência durante os anos 1954-1956 no Instituto de Lógica Matemática e Fundamentos da Ciência da Universidade de Münster dirigido por Heinrich Scholz, un dos professores que nunca esqueceu e a quem dedicou um sentido artigo depois do seu falecimento.
Sua estadia no Instituto de lógica foi decisiva em sua evolução político-filosófica. Não somente pela formação analítica que adquiriu ali mas porque foi naquele período quando se vinculou à tradição marxista e ao Partit Socialista Unificat de Catalunya (PSUC) e ao PCE. Sua renúncia ao posto de professor ajudante no Instituto de Münster esteve motivada por seu compromisso político. A amizade e influencia de Ettore Casari, estudante de pós graduação como ele e membro do PCI, foi decisiva para sua tomada de posição filosófica e cidadã. A sua longa e arriscada atividade no principal partido de oposição anti franquista e seu interesse teórico por um marxismo sem ismos nem dogmas nunca se encaixaram numa cega aceitação dos vértices e das arestas de uma cosmovisão talmudicamente cultivada.
Depois do seu regresso a Barcelona e depois de ter contraído matrimonio em Nápoles com a hispanista Giulia Adinolfi, Sacristán doutorou-se em 1959 com um ensaio sobre Las ideas gnoseológicas de Heidegger, um dos seus mais notáveis e reconhecidos trabalhos. Colaborou na enciclopédia Espasa com um documentado artigo sobre “La filosofía desde la terminación de la segunda Guerra Mundial hasta 1958”, editou as anotações de “Fundamentos de Filosofía” de suas aulas na Universidade de Barcelona e se apresentou em 1962 ao concurso à cátedra de lógica da Universidade de Valencia celebradas em Madrid. O sucedido ocupa um lugar destacado na historia das decisões arbitrarias dos tribunais universitários do franquismo. Foi também nesse período quando insistentes pressões do arcebispado católico forçaram a transferência de sua posição acadêmica na Faculdade de Economia da Universidade de Barcelona.
O papel de Sacristán foi decisivo na reintrodução e cultivo na Espanha da tradição marxista. Dele foi a edição, apresentação e tradução -com o título de Revolución en España- dos primeiros escritos de Marx e Engels publicados legalmente depois da guerra civil. Ele foi o autor do prólogo de sua própria tradução do Anti-Dühring, um texto que deixou sua marca em numerosos intelectuais e universitários da época. Foi também ele, um dos mais destacados estudiosos e divulgadores da obra de Gramsci: sua Antologia do filósofo e político sardo -editada no México em 1970, mais tarde em Madrid (1974)- foi decisiva para o conhecimento da obra gramsciana na América Latina e na Espanha.
Depois de sua expulsão da Universidade barcelonesa em 1965 ao não renovar por motivos não acadêmicos seu contrato de trabalho, Sacristán ganhou a vida durante mais de dez anos como tradutor e trabalhador editorial, enquanto seguia sendo membro do comitê executivo do PSUC até 1969 e militante de base até o final dos 70. Dele são as traduções de Historia y consciencia de clase de Lukács, de Karl Marx, de Korsch, o da estructura lógica de El Capital de Marx de Jindrich Zeleny, além de clássicos como El Banquete, Historia del análisis económico de Schumpeter, La investigación científica de Bunge, Los métodos de la lógica de Quine, os dois primeiros livros do El Capital o a prosa completa do poeta Heine. Foram más de cem os volumes traduzidos; umas 29.000 páginas.
Depois do seu trabalho voluntário como professor de adultos na escola de alfabetização de Can Serra en L’Hospitalet de Llobregat, uma cidade obreira da periferia barcelonesa, Sacristán voltou à Universidade em 1976, dando aulas de Metodologia das Ciências Sociais na Faculdade de Economia. Foi naqueles anos quando iniciou junto com um ampla equipe de colaboradores um de seus grandes projetos: a tradução das obras completas de Marx e Engels (OME). A editora Crítica publicou onze volumes de centenas projetados.
Após o falecimento de sua esposa, em fevereiro de 1980, Sacristán assistiu a um congresso internacional de filosofia celebrado no México a fins de 1981 e ensinou algo mais tarde, durante o curso 1982-1983, dois seminários de pós graduação na Facultad de Ciencias Sociales y Políticas de la UNAM sobre “Inducción y dialéctica” e “Karl Marx como sociólogo de la ciencia”. Foi no México, onde se exilou um irmão do seu pai cuja militância e coerência socialistas Sacristán sempre admirou, onde se casou em segunda núpcias com a professora Mª Ángeles Lizón e foi também durante essa época quando começou-se a editar seus artigos, prólogos e apresentações com o título geral, por ele mesmo elegido, de “Panfletos y Materiales” [2].
De volta à Espanha em meados de 1983, participou ativamente no movimento anti nuclear e ecologista, e nas mobilizações contra a permanência de Espanha na OTAN, e seguiu empenhado na radical renovação das finalidades, procedimentos e categorias centrais da tradição marxista. As suas conferencias durante aqueles anos, em âmbitos acadêmicos e cidadãos, são fieis testemunhas disso [3].
No final de 1984, numa decisão tardia e polêmica, Manuel Sacristán foi nomeado catedrático extraordinário. Faleceu seis meses mais tarde em Barcelona, em 27 de agosto de 1985, instantes depois de haver finalizado una sessão de diálise. De regresso a casa, um infarto terminou sua vida.
Sua concepção do marxismo está bem refletida em una anotação de leitura de princípios dos 80: “Não se deve ser marxista. O único que tem interesse é decidir se nós nos movemos, ou não, dentro de uma tradição que tenta avançar, pela crista, entre o vale do desejo e o da realidade, em busca de um mar em que ambos confluam”. Uma posição metodológica contrária a todo “ismo”, que enlaça diretamente com o próprio Marx, e uma filosofia política, com explicita visão praxeológica, que aspirava a que não habitara o esquecimento na motivação central do jovem Marx e de tantos outros revolucionários: a necessária confluência da realidade e desejo, de conhecimento e finalidades políéticas.

Notas do tradutor:

(*) Salvador López Arnal é Professor-tutor de Matemáticas na UNED e instrutor de informática dos ciclos formativos no IES Puig Castellar de Santa Coloma de Gramenet (Barcelona).

Colabora normalmente na revista "El Viejo Topo", rebelion.org e é co-roteirista e co-editor, junto con Joan Benach y Xavier Juncosa, do filme documentário "Integral Sacristán" (El Viejo Topo, Barcelona). Salvador tem sido um dos mais destacados discípulos do filósofo, lógico, tradutor, professor e escritor Manuel Sacristán Luzón e é, atualmente, um dos mais proeminentes e constantes divulgadores da sua obra: sua produção de diversos livros e de mais de três dezenas de artigos sobre Sacristán dão testemunho veemente da importância dos seus textos para o conhecimento da obra do brilhante filósofo marxista espanhol.

Notas do autor:


[1] Sacristán foi um destacado colaborador e impulsor das revistas barcelonesas Qvadrante, com seu amigo o filósofo Juan-Carlos García Borrón e Laye, junto a Josep Mª Castellet, Esteban Pinilla de las Heras, Jaime Gil de Biedma, Alfons García Seguí, Gabriel Ferrater,... Dirigiu durante os anos da luta anti franquista Nous Horitzons, a revista teórica do PSUC, o partido dos comunistas catalães, e, depois da morte do general golpista assassino Francisco Franco, foi diretor das revistas de filosofia e Ciências Sociais Materiales e Mientras Tanto, enquanto esta última, tem sido a publicação que ele mais se identificou, continua-se publicando na atualidade.

[2] Uma parte substantiva de seus artigos, resenhas, notas, conferencias e apresentações foi impressa nos cinco volumes editados por Icaria com o título geral, elegido pelo próprio Sacristán, de “Panfletos y materiales”: Sobre Marx y marxismo, Papeles de filosofía, Intervenciones políticas, Lecturas y Pacifismo, ecologismo y política alternativa. Sua tese doutoral, Las ideas gnoseológicas de Heidegger, foi reeditada e prologada por seu amigo e discípulo Francisco Fernández Buey pela editorial Crítica em 1995.

[3] Foi decisiva na evolução política de Sacristán sua posição fortemente crítica à ocupação de Praga pelas tropas do Pacto de Varsóvia. Sobre este ponto, veja Salvador López Arnal, La destrucción de una esperanza. Manuel Sacristán y la Primavera de Praga, Akal, Madrid, 2010, assim como os oito documentais dirigidos por Xavier Juncosa, com roteiro do próprio Xavier, Joan Benach e Salvador López Arnal, com o título “Integral Sacristán” (Barcelona, Editorial El Viejo Topo, 2006).

Para uma aproximação à obra lógica e epistemológica de Sacristán, veja Salvador López Arnal, Cinco historias lógicas y un cuento breve (on line: http://www.rebelion.org/docs/104376.pdf ) e Manuel Sacristán y la obra del lógico y filósofo norteamericano W.O. Quine. En el centenario de su nacimiento (on line: http://www.rebelion.org/docs/77902.pdf

Antônio Torres candidato à ABL


Da outra vez torci demais por ele. Não por ser baiano, meu conterrâneo, não por ter sido meu colega de trabalho na Salles. Não por ser um amigo que muito estimo. Mas sim pela sua obra. Seus livros, como Essa Terra, Um cão uivando para a Lua, Os homens dos pés redondos, Balada da infância perdida, Um táxi para Viena d’Áustria, O cachorro e o lobo (1) ou Pelo fundo da agulha, entre outras, são importantes exemplos de um estilo marcante do ponto de vista literário. E continuo torcendo. A ABL (apesar do Sarney) merece tê-lo entre seus imortais. Porque para mim ele já o é... Há muito tempo.

ABL tem dois candidatos à vaga deixada por Scliar
A vaga de Moacyr Scliar na Academia Brasileira de Letras (ABL) já está sob disputa...
Publicado no Estado de S. Paulo (2)

A vaga de Moacyr Scliar na Academia Brasileira de Letras (ABL) já está sob disputa. Com a desistência do poeta Ferreira Gullar, dado como unanimidade entre os acadêmicos até anteontem, o escritor gaúcho, que morreu no domingo, poderá ser substituído pelo romancista baiano Antonio Torres ou pelo jornalista carioca Merval Pereira.

Eles se inscreveram ontem na corrida pela cadeira de número 31, após a Sessão de Saudade, em memória de Scliar. Torres foi até a ABL e conversou com acadêmicos. Pereira mandou uma carta. A eleição será em maio e outros candidatos têm até o fim de abril para aparecer.

Cortejado pela academia há décadas, Ferreira Gullar havia aceitado o convite feito por acadêmicos - seria candidato único, numa eleição pro forma -, mas desistiu ontem. "Acordei em depressão. Tenho muitas amizades lá, mas não é a minha praia. Isso não está me dando qualquer alegria, então por quê?"

Antonio Torres, de 70 anos, tem 17 livros e há dez ganhou o Prêmio Machado de Assis, da ABL, pelo conjunto de sua obra. Merval, de 60 anos, publicou livros-reportagens e artigos. O último, O Lulismo no Poder, foi lançado na ABL, em setembro.

1. Acompanhei a evolução deste livro quase que passo a passo, pois na época ele trabalhava na Rua Dona Mariana e eu na Guilhermina Guinle, e, todas as sextas almoçávamos juntos e ele comentava sobre o livro.

2. Se quiser ver a a matéria original no Estadão Online:

segunda-feira, 7 de março de 2011

A história secreta da Rede Globo (parte 1)


A Rede Globo foi considerada “o produto mais bem acabado da ditadura” ou “Vênus platinada” inspirada na imagem de Jean Harlow, atriz estadunidense que antecedeu Marilyn Monroe como a primeira atriz loira a explorar seu sex-appeal.
Na verdade a TV Globo, depois Rede Globo, nasceu após o golpe de estado de 1964, com capital do Grupo Time Life com sede nos Estados Unidos. Seu crescimento deu-se de maneira assustadoramente veloz durante o período dos “generais presidentes de plantão” no poder.
Impulsionados pelo totalitarismo do regime, Roberto Marinho e sua quadrilha manobrou e derrubou seus principais concorrentes, principalmente a mais rica, a TV Tupi, pertencente aos Diários Associados (leia-se Assis Chateaubriand) e a TV Excelsior, a mais ousada e ameaçadora concorrente, pertencente ao mesmo grupo da Panair do Brasil.
A série que inicio a publicação hoje, tem vários capítulos, tendo seu título inspirado no livro do jornalista Daniel Heiz, tese de mestrado da Universidade de Brasília em 1983, raro nas livrarias, mas disponível na web para download em PDF no endereço abaixo.

domingo, 6 de março de 2011

Pensatas de domingo sobre o "pesadelo" estadunidense

Negros em plantação de algodão no sul dos EUA
em fins do século XIX.
Assisti, ao vivo e em preto e branco à evolução das lutas sociais dos negros por terras, naquele país, acima do Rio Grande. Sem trocadilhos, naqueles anos 60 do século passado não existia televisão a cores no Brasil. E os jornais de cinema também não eram em technicolor.

Lembro que um amigo meu, certa vez contou-me um caso que aconteceu com ele justo na década de 1960, quando fazia seu Mestrado no estado de Illinois, e, em determinada ocasião resolveu pegar um ônibus e passar uma folga mais prolongada em alguma praia quentinha da Flórida.
Viagem longa... Atravessando um país continental num ônibus da Greyhound.
Encontrava-se dormindo à noite quando foi despertado pelo motorista. Sonolento ouviu o cara, um tanto aflito, a lhe pedir que fosse para uma cadeira na frente do veículo. Meio sem compreender nada, sonolento, virou-se para o outro lado, suspendeu o cobertor encobrindo o rosto e tentou reembalar o seu pacífico sono. Entrementes, o sujeito não saiu do seu lado. Depois de algum tempo o motorista explicou-lhe que estavam entrando em um estado em que as leis proibiam negros de andar nos coletivos em lugares à frente dos brancos.
Resumo da ópera: após alguns minutos de discussão, meu amigo inconformado e resmungando foi obrigado a trocar de poltrona com o “sub” cidadão de cor parda, que, humildemente dirigiu-se à poltrona que ele sabia ser o “seu lugar”.
Para nós brasileiros, este caso parece absurdo porque o racismo aqui é camuflado e hipócrita. Mas por aquelas plagas, este pensamento era, e creio, é até hoje comum. Pelo menos à população branca e ignorante lá pelos lados do Mississipi, Missouri, Alabama e outras paragens de um país até hoje atrasado, que o vento nunca conseguiu levar.
E por falar nisso, no início de sua campanha, chegava a pensar se Mr. Obama, caso eleito, chegaria ao final do seu mandato. Afinal, quatro presidentes estadunidenses já morreram de forma violenta em pleno exercício do poder, a saber: Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley e John Kennedy; o que me lembra sempre de que é tradicional e parte da “democracia” local. Para além dos atentados que não resultaram, no caso os de Gerald Ford e Ronald Reagan. Será que teve mais algum?
Mas quando digo “... chegaria ao final, etc”, é porque acreditava que ele poderia ser minimamente coerente com o seu discurso.
Hoje, noto que a “quase todos” decepcionou, em igualmente “quase todos” os sentidos. Levei algumas “boas porradas” neste blogue, quando punha em dúvida que ele fosse “peitar” o establishiment. As pessoas botavam muita fé nele. Apostavam nele. Nunca ligaram sua brilhante campanha à força da propaganda (advertising e marketing), armas fortes do capitalismo ianque.
No entanto, ele é apenas o representante da ala Democrata do “Partido Único”, na “ditadura da burguesia” vigente nos Estados Unidos (1). Está certo que esta corrente é menos à direita do que a Republicana. Os Democratas têm uma tendência “social-democrata”, reformista, de certo modo estatizante. Uma esquerda “cor de rosa”...
Mas o que se tem visto nos EUA, em especial na eleição executiva, é muito semelhante ao que ocorreu no Brasil. Como o sr. Lula da Silva, Obama foi posto na presidência do país única e exclusivamente para conter as revoltas populares.
Porém, o simples fato de ser um nigger (2), pode levar correntes mais radicais da direita, tipo os chamados “hate groups” da vida, a cometer atos de uma loucura doentia e alucinada que tanto marcam a história daquele país (3).
Aguardemos, pois, os fatos e o desenrolar da história. Somente isto poderá nos dizer se o “sonho” de Martin Luther King poderá algum dia se tornar uma realidade. Ou se aquele seu “dream” tão enfático num dos mais belos, cadenciados e emocionantes discursos que jamais tive(mos) a oportunidade de assistir continuará sendo, na verdade apenas mais um capítulo do “american nightmare” estadunidense.


2. O termo NIGGER, é, provavelmente a mais ofensiva palavra em inglês. Seu grau de intensidade tem aumentado acentuadamente nos últimos anos, embora tenha sido usado de forma pejorativa desde a Guerra Revolucionária...


3. Um colega de Faculdade definia os EUA como “uma criança que havia crescido demais no tamanho, mas não na cabeça”. Se pensar bem é isso mesmo!

sábado, 5 de março de 2011

Situação do movimento trotskista na América Latina. Ontem, hoje... E amanhã?

Leon Trotsky nos últimos anos de vida em seu exílio no México


Ontem

Entre 1923 a 1928, Leon Trotsky, com a Oposição de Esquerda, lutou dentro da própria URSS por uma política de fato internacionalista para a III Internacional. Já exilado, em 1930, organizou a Oposição de Esquerda Internacional. Em 1933, a política triçoeira de Stalin havia levado à derrocada da esquerda alemã e à ascensão do nazismo. Trotsky concluiu que era necessário construir uma nova Internacional. A IV Internacional foi fundada em 1938.
O primeiro brasileiro que teria conhecido Trotsky foi Rodolpho Coutinho, dirigente do PCB, que debateu com o revolucionário russo alguns estudos seus em meados dos anos 1920. Mas foi com Mário Pedrosa (1), que muitas das rupturas do partido avançaram para o trotskismo, rompendo com o stalinismo e fundando a IV Internacional no Brasil.
Pedrosa, pernambucano, veio ao Rio de Janeiro cursar Direito, na época em que Livio Barreto Xavier, procedente do Ceará, estava completando seus estudos na mesma faculdade. Pedrosa, cujas qualidades pessoais despertaram atenções no Partido Comunista, foi enviado pela direção para freqüentar a Escola Leninista de Moscou. Acometido de uma doença enquanto passava pela Alemanha, tomou conhecimento das críticas de Trotsky e da situação da Internacional, recusando-se a seguir viagem e retornando ao Brasil. Formou então, quase imediatamente, o primeiro agrupamento oposicionista brasileiro, o Grupo Comunista Lenine, em 1930 (dentro do próprio PCB), depois a Liga Comunista Internacionalista (LCI), constituindo, assim, no Brasil, o primeiro núcleo de tendência assumidamente trotskista.
Também aderiram à LCI, reforçando seu posicionamento, alguns intelectuais europeus, como o poeta surrealista Benjamin Péret ou o combativo militante trotskista italiano Goffredo Rosini, que desapareceu na Guerra Civil Espanhola, segundo versões confiáveis, assassinado pelas tropas stalinistas. Indo um pouco adiante, no início dos anos 30, o trotskismo chegou a ser mais forte que o PCB em São Paulo.
Finalizando, como diz Edgard Leuenroth (2) em seu abrangente estudo sobre o trotskismo no Brasil: “(...) Agrupados em pequenas organizações, ao longo desta trajetória de mais de sete décadas, os trotskistas brasileiros não lograram, excetuando-se ocasiões específicas e determinadas, obter audiência de massa. Isto, todavia, não os impediu de demarcar seu campo e difundir as posições políticas de Trotsky, em especial sua ênfase na defesa da autonomia e da independência da classe operária e das suas organizações políticas, contrapondo-se vigorosamente às tendências acomodatícias, fortemente influenciadas pela defesa da política externa da extinta União Soviética, das variantes comunistas caudatárias das posições de Josef Stalin. Além disso, entre vários aspectos que merecem ser destacados, coube aos trotskistas brasileiros produzir instigantes interpretações sobre a história política do Brasil, como, por exemplo, a feita por Pedrosa e Xavier sobre a chamada Revolução de 1930 e difundida por Fausto, como o destacaram Marques Neto e Silva...”

Entrei para o Partido Operário Revolucionário - Trotskista (POR–T) (3), Seção Latino-Americana da IV Internacional – posadista) (4) em 1965, por discordar da orientação stalinista ou pós stalinista, tanto do PCB quanto do PCdoB, este, à época chamado de “Linha Chinesa”. E por também não estar de acordo com o pensamento de organizações "foquistas" e aventureiras.
Entretanto, de lá para cá, desde que me afastei da militância política em partidos, perdi o fio da meada. O que constatei, principalmente após o advento da internet --que muito facilitou minhas pesquisas--, foi o fato de que existem várias correntes trotskistas em nosso continente. Antes da web, no entanto, encontrava-me completamente desinformado. Cheguei a publicar neste blogue um ensaio como este, porém muito mais incompleto.

Hoje

No movimento trotskista brasileiro, atualmente vamos constatar três tendências. As mandelista, lambertista e morenista (vamos vê-las adiante), em frações despedaçadas por algumas divergências estratégicas, mas não completamente antagônicas. Em 1963, houve uma tentativa de unificação em torno do Secretariado Unificado, que não conseguiu reunir todos os trotskistas. Os posadistas, o Comitê Internacional e a Organização Comunista Internacionalista, ambos liderados por Pierre Lambert ficaram de fora, frustrando todo e qualquer esforço de unificação.
Desde a década de 1970, diversas organizações que reivindicaram as posições da corrente trotskista internacionalmente com o Partido de los Trabajadores Socialistas e depois o Movimento al Socialismo, cujo fundador e principal dirigente foi Nahuel Moreno, corrente internacional que hoje se organiza na Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI). No Brasil o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) está ligado a esta tendência.
Nos anos 1960/70 a onda “foquista” (5) atingiu parte da IV Internacional (Secretariado Unificado), a organização mais forte do movimento trotskista naquele período. Orientados pela direção majoritária de Ernest Mandel, que capitulara à orientação “foquista” (guevarista), muitas seções nacionais do SU – especialmente na Argentina e na Bolívia – aderiram à luta armada, sendo completamente dizimadas nessa atitude “aventureirista”.
E hoje? Vamos tentar (6) decupar como estão aqui na América Latina as facções no movimento que surgiu com a Oposição de Esquerda Internacional liderada por Trotsky contra os caminhos tomados por Stalin em sua teoria (antítese aos pensamentos de Marx) da construção do “socialismo em um só país”.
Existem a LIT– QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional), o PTS (Partido de los Trabajadores Socialistas) argentino, cisão do MAS (Movimento al Socialismo) tambem argentino e da LIT– QI, o POR (Partido Obrero Revolucionário) boliviano, a FT– QI (Fração Trotskista – Quarta Internacional) e a LER– QI (Liga Estratégica Revolucionária – Quarta Internacional), isto para citar as mais representativas. Nos Estados Unidos o SWP (Socialist Works Party) separou-se do pensamento trotskista em 1985, mas foi fundado em 1938 por apoiar Trotsky numa cisão da Liga Comunista da América.
Fica deste resumo uma realidade bastante clara: a falta de unidade do movimento. Um fator muito comum às esquerdas de um modo geral (7).
A direita sempre pensa de forma uníssona, por defender algo muito material, a propriedade e o poder constituído. Desde a Revolução Francesa (1789) isto ficou bastante evidente. Pouco mais de um ano depois, a divisão das esquerdas facilitou o golpe de 18 de Brumário. E o início do império Napoleônico.

E amanhã?

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1. Mario Pedrosa, para além de um militante político e o iniciador da Oposição de Esquerda Internacional no país, foi um grande e respeitado crítico de arte e de literatura, tendo exercido este papel no Correio da Manhã e posteriormente no Jornal do Brasil. Inicialmente filiado ao PCB, foi expulso em 1929 por suas ligações com o movimento trotskista. Ao lado de Lívio Xavier, Arisitides Lobo, Benjamin Péret e Fúlvio Abramo fundou a Liga Comunista ligada à Oposição de Esquerda Internacional.
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3. Antes disso, em meu primeiro contato com uma organização política de esquerda, mantive contatos com a POLOP (Política Operária) também de tendência trotskista.

4. No começo dos anos 1960, um novo grupo destacou-se da IV Internacional, a facção liderada pelo argentino J. Posadas (pseudônimo de Homero Cristali), que desenvolveu uma concepção terceiro-mundista da revolução mundial. Fiz parte desta corrente, no entanto tinha muitas discordâncias quanto a certas direções e posições traçadas por Posadas. Tentamos, eu e o falecido (e saudoso) companheiro e grande amigo Ruy Raposo, uma aproximação com a IV Internacional européia (8), mas foi impossível estabelecer contatos em plena ditadura militar no país.

5. O “foquismo" foi uma tendência de vários setores da esquerda que achavam a guerrilha a única solução para as Américas e todo o Terceiro Mundo.

6. Quando digo tentar, quero me referir às fontes bastante incompletas, com cada partido tentando reivindicar para si uma posição autêntica; o que até parece compreensível, mas lança uma onda de incertezas no tocante às suas diretrizes.

7. Existe uma tentativa intitulada “Refundação da IV Internacional”, cujo primeiro encontro foi em Buenos Aires no ano de 1997, mas nem todas as tendências se integraram a ela.

8. Na mesma ocasião contatamos --o Ruy e eu-- o MCI (Movimento Comunista Internacionalista), organização dirigida por Hermínio Sacchetta, antigo militante trotskista no Brasil, a quem tive a satisfação e orgulho de conhecer. Fomos, no entanto surpreendidos com a queda do POR-T no Rio de Janeiro, fruto de infiltrações de agentes da repressão, devido à imprevidência e descuido de alguns companheiros, não prosseguindo os entendimentos com o brilhante Sacchetta e sua organização.
Veja mais detalhes   em http://novaspensatas.blogspot.com/2008/11/o-dia-em-que-conheci-um-mito.html 

Outras fontes:

quinta-feira, 3 de março de 2011

Plutocracia, autoritarismo e luta de classes: a batalha contra o governo anti democrático do Estado de Wisconsin, EUA

Reprodução da página principal de "Rebelion" de ontem

Jorge Vital de Brito Moreira
Rebelión

Jorge Vital de Brito Moreira é baiano e estudou Ciências Sociais na UFBa. Fez estudos de pós-graduação em Sociologia no México (onde escreveu uma tese sobre o filósofo espanhol Manuel Sacristán Luzón) e Literatura (nos EUA) onde recebeu o título de doutor (Ph.D) com uma tese sobre o escritor brasileiro Antonio Callado. Nos EUA, tem ensinado na University of California San Diego (La Joya), University of Minnesota, Washinton University, Lawrence University e University of Wisconsin.
Publicou ensaios (sobre diferentes escritores brasileiros e latinoamericanos), sendo autor colaborador do livro “Notable Twenty Century Latin America Women” (2001).Em 2007, também publicou na Bahia o livro “Memorial da Ilha e Outras Ficções” (romance e contos). Atualmente escreve artigos e ensaios para o destacado diário www.rebelion.org de grande circulação na Espanha e na América Latina.
Abaixo a reprodução de importante (e pontual) ensaio do professor Jorge Moreira que comenta uma crise que está abalando os Estados Unidos:

Como tenho escrito muitas vezes em textos anteriores, apesar da retórica e do mito (propagado dentro e fora dos Estados Unidos) que vivemos em uma sociedade democrática, os EUA nunca foi um país democrático e provavelmente nunca o será (1). Se nós deixamos de repetir, como um papagaio, o discurso hegemônico da classe dominante e analisamos a estrutura social, conflitos e contradições entre as classes sociais, vamos perceber que os EUA sempre foi uma plutocracia, um país dominado e governado pelos ricos: uma classe de bilionários, donos dos bancos, corporações, grandes empresas de petróleo e do complexo industrial militar do país. E os interesses da plutocracia permanecem sempre bem defendidos pelos dois partidos no poder: vestidos de democratas ou de republicanos, o resultado é sempre o mesmo, pois, a função dos dois partidos não é apenas garantir o domínio dos ricos sobre o conjunto da sociedade como um todo, mas também promover a aparência de que vivemos em um regime democrático (2).
Hoje, poucos sabem que para continuar a sua hegemonia, a plutocracia utiliza não só os dois partidos políticos, mas estabelece um processo permanente de repressão, sublimação, idealização e negação (psicológico e político) dos indivíduos e grupos sociais nos EUA (3). Não obstante o mencionado acima, já podemos observar que há um aumento no nível dos conflitos sócio econômicos no país, com o consequente aumento da consciência social da população quanto à existência da luta classes e à natureza autoritária da sociedade estadunidense. Somente a partir desse entendimento, pode-se chegar à conclusão lógica de que não temos outra alternativa senão lutar para parar o processo de mistificação das nossas consciências e lutar contra a dominação e hegemonia da classe dominante, defendendo os nossos interesses e as nossas vidas.
Os recentes acontecimentos no estado de Wisconsin, EUA, veio a destacar o aumento do nível de consciência da classe operária e sindical, juntamente com maior participação política do proletariado e da classe média (nunca antes visto na história de Wisconsin) no sentido de mobilizar, organizar e lutar para defender seus direitos humanos e os direitos políticos que eles conseguiram durante décadas e décadas de luta social.
Para aqueles que ainda não estão familiarizados com os recentes acontecimentos no estado de Wisconsin (que dão provas irrefutáveis do que estou escrevendo) tratarei de fazer um resumo dos acontecimentos mais importantes: em 14 de fevereiro de 2011, o governador republicano de Wisconsin, o Sr. Scott Walker, apresentou um projeto de lei anti democrático, que, entre outras coisas eliminaria quase todos os direitos de negociação coletiva da maioria dos funcionários públicos alem de cortar os salários e os benefícios deste setor. O governador defendeu seu projeto dizendo que era necessário para equilibrar o débito orçamental de três bilhões e 600 milhões de dólares nos próximos dois anos.
Em resumo, o projeto de lei exige que os funcionários públicos paguem uma parcela maior de seus seguros de saúde e fundos de pensões e elimina dos sindicatos (exceto o dos bombeiros e o da polícia), o direito de negociação coletiva sobre outras questões que não sejam os salários (e este só poderá ser renegociado, se o aumento proposto estiver abaixo do nível da inflação).
Até agora, tudo indica que o principal objetivo do projeto do governador é o de destruir a união AFSCME (Federação Estadunidense de Funcionários do Estado, Condado e Município), que foi fundada em Wisconsin em 1930, destruindo também o WEAC (Conselho da Associação de Educação de Wisconsin), um dos sindicatos de professores mais fortes e mais eficazes no país (4).
Antecipando a resistência dos grupos atingidos pelo projeto autoritário, Walker notificou à Guarda Nacional que deveria estar em alerta para reprimir as medidas que seriam tomadas pelos funcionários revoltados do governo, do condado e do município.
Imediatamente, os trabalhadores afetados decidiram lutar contra o projeto neo liberal e anti democrático da direita estadunidense. No inicio, mais de 13.000 manifestantes se reuniram no Capitólio, em Madison (a capital do estado de Wisconsin, EUA) para uma audiência pública de mais de 17 horas. Com o passar das horas, muitos milhares de manifestantes chegaram no dia seguinte à cidade, e centenas deles começaram elevar suas vozes cantando e gritando defronte do edifício do governador, exigindo “Removamos Walker imediatamente".
A partir dessas manifestações, Madison tornou-se o principal campo de batalha contra as medidas injustas para resolver o buraco orçamental que deverá, de acordo com o discurso oficial das autoridades, estender-se de norte a sul e de leste a oeste.
Em apoio ao movimento de rejeição á imposição unilateral de Scott Walker, as escolas públicas de Madison, Wisconsin, permaneceram fechadas enquanto os protestos continuavam contra a tentativa do governador de eliminar o direito dos servidores públicos à negociação coletiva.
Mesmo o time de futebol americano Green Bay Packers, (os empacadores de Green Bay), o atual vencedor do Super Bowl, vem apoiando publicamente o direito dos trabalhadores à negociação coletiva.
Nesse ponto, não há a menor dúvida: se o governador Walker conseguir impor seu projeto para Wisconsin então os estados do meio oeste sofrerão este tipo de ataque dos seus governadores, sem mencionar todos os outros estados dos EUA que também seriam alvos de projetos de corte fascistas como o de Wisconsin.
Como sabemos, a resposta (fácil e pouco discutida) dos governadores dos EUA para a crise financeira e fiscal (que atinge a maioria dos estados dos EUA) se reduz a que eles querem sobrecarregar os cortes no orçamento para o ano fiscal de 2012, nos ombros dos trabalhadores já extremamente prejudicados pela crise econômica social.
A luta entre defensores e opositores da medida de Walker ganhou uma nova dimensão quando os 14 senadores de Wisconsin, os congressistas democratas, abandonaram o estado como medida para bloquear a aprovação da legislação, obrigando os seus colegas republicanos a discutir e negociar uma alternativa. Graças à atitude corajosa dos senadores, o povo do estado e da nação foram capazes de ler e entender a periculosidade do documento.
Entretanto, o líder republicano ordenou que a polícia do estado fosse caçar os senadores desaparecidos, mas a polícia não conseguiu encontrar nenhum deles (5).
A semana culminou com um protesto massivo por parte dos trabalhadores em Madison, onde mais de 25.000 manifestantes foram às ruas para boicotar os cortes previstos pela legislação anti-sindical. Muitos dos manifestantes colocaram cartazes nas paredes dos edifícios onde se comparava o governador Walker com o ex ditador do Egito, Hosni Mubarak.
Dai em diante, os protestos se espalharam pelos estados de Ohio, Indiana e Pensilvânia alem de outros, onde o Partido Republicano governa.

I I

Nesta luta não faltou a presença e a voz de intelectuais e artistas proeminentes da esquerda americana: Noam Chomsky (6), Amy Goodman, Michael Moore e David Brooks (do jornal correspondente mexicano "La Jornada"), são alguns daqueles que teem defendido publicamente os protestos dos manifestantes.
Não foi possível impedir a nociva participação de um grupo de jornalistas (a soldo da ultra-direita) do canal Fox Nets tais como Bill O'Reilly, Sean Hannity ou o extremista mistificador Glenn Beck e o fascista Rush Limbaugh, que, imediatamente saíram em defesa das posições fascistas do governador.
Como não podia deixar de acontecer, o partido racista e anti trabalhadores denominado "Tea Party", organizou uma contra manifestação nas escadarias do Capitólio de Madison. Aproximadamente duas mil pessoas ligadas a este partido, ganharam a proteção de mais de 500 policiais fortemente armados; mas pouco depois, foram neutralizados pela extraordinária multidão que estava na cidade de Madison para apoiar os trabalhadores.
Logicamente, no meio de protestos dos manifestantes apareceram também os nomes e as vozes de conhecidos políticos oportunistas (de ambos os partidos), que tentaram utilizar os eventos para tirar proveito da situação em benefício próprio. O presidente Barak Obama, por exemplo, disse na semana passada que os acontecimentos no Wisconsin eram um "ataque aos sindicatos". Naturalmente, esta verdade provocou a reação imediata de Scott Walker que disse: "Washington deveria se concentrar em equilibrar o seu orçamento". Em seguida, Obama guardou silêncio. Dias depois, ele visitou o estado de Ohio, mas não disse mais nada sobre ou a favor da luta democrática dos trabalhadores.
Nesse ponto é preciso recordar: temos que ser inteligentes para não nos deixarmos iludir pela retórica demagógica dos políticos do partido democrata como Obama e outros do seu estilo; não devemos esquecer que o presidente Obama decidiu recentemente (traindo e ferindo aos seus eleitores) prolongar a escandalosa isenção de impostos concedida por George W. Bush para favorecer a parte mais rica da população dos EUA.
Tão escandaloso quanto o anterior, é não querer discutir em profundidade as causas da crise financeira e econômica em que estamos afundando. Até agora, o que tem circulado (através da grande mídia ou da retórica de políticos de ambas as partes, dos pronunciamentos de autoridades do governo e dos economistas de orientação neo liberal e neo keynesiana) é o "blame game" (o jogo da culpa) com a pergunta: “De quem é a culpa da crise econômica e financeira? De uma maneira desonesta, a resposta conclusiva (não cientifica, mas totalmente ideológica) é que para sair da crise que nos estrangula faz-se necessário fazer os cortes no orçamento, sacrificando os trabalhadores.
É claro que o governador de Wisconsin não quer discutir (nem os dois partidos, nem seus líderes, nem parte da população) o escandaloso fato de que no dia 31 de janeiro de 2011, a dívida pública total dos Estados Unidos, atingiu mais de US $ 14 trilhões de dólares com as previsões de que a dívida chegará a 15 trilhões de dólares (até o fim de 2011) (7).
Eles também não estão interessados em falar (nem os governadores, nem os dois partidos, nem seus líderes, governa nem a sua elite), sobre a imensa fortuna que foi destruída --cerca de 3 trilhões de dólares-- pela administração republicana de George W. Bush (e agora do democrata Barak Obama) com as guerras do Iraque (8) do Afeganistão, do Paquistão, e, a julgar pela maior parte do orçamento nacional que está sendo destinado por Obama para os atuais gastos militares, a destruição da riqueza nacional (do que produzimos mais o que devemos para a China, o Japão, o Brasil, o Afeganistão e o Irã, o nosso "maior inimigo") continuará a elevar-se de uma forma vertiginosa nos próximos anos.
Ao invés de continuar a apoiar a agenda neo liberal para salvar os bancos da crise financeira com dinheiro público, e de transferir (de um modo falso e desonesto) a culpa pelo desastre econômico (causado pela classe rica) para as classes trabalhadoras e média, os partidos políticos e a população dos EUA deveriam enfrentar a realidade autoritária da absurda drenagem e destruição da nossa riqueza nas guerras que são produzidas para aumentar os lucros do complexo industrial militar, dos bancos e das corporações associadas.
Em vez de cortar programas sociais na área da educação, saúde, habitação (e em outras áreas necessárias à preservação da vida da classe trabalhadora e média) para equilibrar o orçamento dos EUA em prol das guerras. Em vez de cortar programas sociais que tratam de evitar a crucificação da classe trabalhadora; em vez de cortar os salários e os direitos trabalhistas aumentando o nível de declínio do padrão de vida dos trabalhadores. Em vez de aumentar o nível de exploração dos trabalhadores para equilibrar o orçamento (proposto por republicanos e democratas para servir aos ricos), deveríamos começar a discutir como cortar o déficit de 15 trilhões de dólares, reduzindo os custos monstruosos com as cinco guerras atuais dos EUA, pois são elas que estão nos levando a decadência e ruína como nação e como civilização.
E agora, sem perder de vista o acima exposto, devemos voltar ao imediatismo concreto da luta contra o projeto do governador Scott Walker: "o Serviço Publico de Advocacia" (The Public Service Advocate) do AFT-Wisconsin e outras fontes de pesquisa constatam que o governador Walker tem uma estreita relação política com os irmãos Charles e David Koch, dois dos conservadores mais poderosos os EUA. Em 2010, o Comitê de Ação Política da Koch deu um milhão de dólares para o partido republicano e 43 mil dólares ao governador Walker, formando a segunda maior contribuição financeira para a sua campanha eleitoral vitoriosa. Como é sabido, os irmãos Koch são donos de uma das maiores empresas privadas de energia do mundo, com operações em todo o estado de Wisconsin.
As relações suspeitas do governador com os irmãos Koch teem sido um dos fatores importantes na luta política de Walker para destruir os sindicatos e pôde ser melhor avaliada quando Ian Murphy (um jornalista local e blogueiro do Buffalo Beast) fingindo ser um dos Irmãos Koch, telefonou para Walker e plantou-lhe uma armadilha, a fim de expor o governador e as contradições entre sua retórica e suas reais intenções políticas.
O blogueiro disse que telefonou para falar sobre a situação da agitação política (ver a transcrição da conversa em http://www.buffalobeast.com/?p=5045). O fato mais surpreendente é que o governador, que se recusa a falar com um representante do movimento de resistência ao seu plano fascista, respondeu imediatamente ao telefonema do suposto David Koch. Ian Murphy que gravou o que aconteceu mostrou que o governador está submisso aos irmão Koch. Walker é um indivíduo tão subordinado ao poder dos ricos que não percebeu (por causa da emoção de conversar com um legítimo plutocrata e seu benfeitor) que o telefonema era de um jornalista, e não de um dos irmãos Koch.
Para aqueles que leram a pagina com o título "Koch’s Whore" (a Prostituta do Koch) do blog “Buffalo Beast”, ou ouviu a gravação do diálogo entre o governador e o repórter disfarçado de David Koch, não podem deixar de concordar com a análise jurídica e política do representante do TAUWP, Mark Evenson, no sentido de que devemos demandar a demissão de Scott Walker de seu posto de governador do estado de Wisconsin por violar as declarações básicas do seu juramento quando assumiu o cargo de governador. Evenson escreveu: "Em suas primeiras semanas como governador Scott Walker já traiu os cidadãos do estado de Wisconsin. Walker violou o seu juramento de posse. Especificamente, ele não desempenhou o cargo de um modo "justo" e "fiel". Pelo contrário, ele violou a sua promessa de lealdade para com os cidadãos de Wisconsin ao prostituir-se para os bilionários irmãos Koch, donos da empresa Koch Industries, Inc., sediada em Wichita, Kansas (e, claro, ser a puta dos interesses de uma poderosa empresa fora do estado de Wisconsin) (9).
A denúncia do caráter corrupto e antidemocrático do governador Walker e seu partido atingiu o seu climax, quando a imprensa local informou que o deputado republicano Bill Kramer autorizou, na Assembléia do Estado, a votação do projeto anti sindical e anti democrático do governador, encerrando a votação (para a surpresa das 100.000 pessoas que se reuniram em Madison) sem os votos dos democratas que ainda não tinham votado. Esta pseudo votação (que resultou num desonesto 51 a 17 a favor da medida do Governador) deixou o povo trabalhador perplexo e furioso, desencadeando o repudio massivo de parte da população do estado de Wisconsin que manifestou a sua indignação gritando “vergonha!”, “traição!”, “covardia!”, contra os representantes republicanos.
Face ao exposto, a única coisa que nos resta fazer é a de nos organizar e lutar para alcançar o afastamento definitivo do cargo de governador do senhor Scott Walker ("Removamos Walker imediatamente!") através do processo constitucional (de acordo com as diretrizes legais e políticas do representante do TAUWP), que demanda a sua demissão imediata junto à realização de uma nova eleição. Nesta eleição, vamos ter de escolher um novo governador, democrático e legítimo, que defenda (ao invés de atacar) os interesses coletivos e democráticos dos trabalhadores e da classe média pauperizada do povo de Wisconsin.

Notas:

1) Recentemente, os Estados Unidos, de forma unilateral e antidemocrática, vetou (por ser um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU) a resolução que condenava os assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados. A resolução apelava aos demais países colaborarem a parar a colonização israelense nos territórios. O texto do projeto (apoiado por mais de uma centena de países) também reiterou a ilegalidade dos assentamentos israelenses, obtendo o voto dos outros 14 membros do Conselho de Segurança, mas os Estados Unidos com seu veto unilateral e antidemocrático, cancelou mais uma vez (de forma prepotente e indigna), a oportunidade de promover realmente a paz, a justiça e a democracia no Oriente Médio.

2) As eleições dos EUA entre democratas e republicanos são tradicionalmente financiadas pelos grupos econômicos mais poderosos nos EUA. Para piorar a situação que já era ruim para a "democracia" americana, a Suprema Corte do país tomou a decisão em 2009 de alterar a lei existente para promover mais ainda os interesses dos poderosos. Assim, as corporações ligadas às companhias de petróleo, ao Complexo Industrial Militar, aos grandes bancos de Wall Street, às companhias de seguro de saúde foram --contra os interesses da maioria dos americanos-- os beneficiários da decisão da Suprema Corte dos EUA.

3) Para o benefício das novas gerações de jovens, acredito que não se deve esquecer que o senador (1947/1957) republicano, Joseph Raymond McCarthy, nasceu no estado de Wisconsin. Ele foi o criador do longo processo de repressão conhecida como “macarthismo”, um termo usado para descrever as sistemáticas acusações de subversão, deslealdade e traição, sem evidências ou elementos de provas (caça às bruxas) para acusar as pessoas de serem comunistas. Em poucas palavras, “macarthismo é a versão estadunidense da Inquisição católica nos tempos modernos.

4) Apenas 5 estados dos EUA (Carolina do Sul, Carolina do Norte, Geórgia, Texas e Virginia) não têm negociação coletiva para os professores. A classificação destes estados em termos de resultados de seus alunos em exames nacionais para o vestibular (ACT / SAT) são os mais baixos do país: Carolina do Sul - 50, 
Carolina do Norte - 49, 
Geórgia-48, 
Texas - 47, 
Virginia - 44. Se alguém perguntar qual é o ranking de Wisconsin? saberá que o Estado, com o seu direito à negociação coletiva para os professores, está em segundo lugar no país. Vamos mantê-lo dessa maneira. Ir para o site: http://www.lawyersgunsmoneyblog.com/2011/02/but-i-thought-union-busting-solved-all-educational-problems  

5) Ontem, o presidente da Law Enforcement Wisconsin Association (Associação para o fortalecimento da lei em Wisconsin) , emitiu um comunicado lamentando o aval dado para o governador Walker, em novembro de 2010, epoca da eleição. Veja o site: http://www.channel3000.com/politics/26933675/detail.html  

6) O filósofo e pensador Noam Chomsky disse em "Democracy Now" que o que acontece em Wisconsin é o começo do que é realmente necessário aqui nos EUA: um levantamento da democracia pois a democracia os EUA tem sido quase eviscerada.

7) http://en.wikipedia.org/wiki/United_States_public_debt "A partir de 31 de janeiro de 2011, o total do saldo da Dívida Pública dos Estados Unidos foi 14,3 trilhões de dólares que corresponde a 96,4% do produto interno bruto anual (PIB de 2010). Usando os valores para 2010, a dívida total (96,3% do PIB) é a mais alta no ranking de outras 12 nações.

8) Ir para http://en.wikipedia.org/wiki/Iraq_War site "O custo financeiro da guerra .... com o custo total para os EUA. Gasto estimado em 3 trilhões.

9) Ver o e-mail Evenson para os colegas e os amigos de TAUWP. De: evensonm@uwplatt.edu; Assunto: Vamos apelar à demissão! Venham para Madison, no sábado; Data: 25 fev 2011 09:13:24 CST; Para: colegas e amigos do TAUWP.

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