domingo, 25 de março de 2012

Pensatas de domingo... Os cinemas da minha vida!


Domigo passado falei da noite e de bares do Rio da minha juventude. Hoje, resolvi falar de cinemas. Cinemas que marcaram minha infância e continuaram até os anos 1990; antes que os shoppings acabassem com as salas de exibição de rua.
Os três Metros no Rio eram caracterizados pelo ar condicionado, numa época em que isto ainda era raro. Lembro que lá em casa tinha apenas um daqueles mágicos aparelhos muito propícios para a temperatura escaldante da cidade. Mas olha, passar na porta do Metro Copacabana em dia de “verãozão” carioca era uma dádiva dos deuses. Tinha gente que ficava parada na porta só pra refrescar um pouquinho e ganhar forças para continuar a caminhada.
Naquele cinema assisti várias vezes, ainda criança, os famosos “Festivais Tom & Jerry” que passavam todas a manhãs de domingo com as maldades daquele ratinho sádico contra o idiota do gato, a vítima que se supunha ser o “vilão”. Mas, também a Metro era quem produzia os filmes de Tarzan, e, pelo menos alguns dos musicais de Elvis Presley, isso também e ainda nos finais dos 50 e início dos 60. O cinema ia abaixo quando o roqueiro começava a cantar. E exibir o seu característico rebolado.
Ao lado, quase coladinho mesmo, ficava o Art Palácio que me despertou quando na adolescência começava a me interessar pelo cinema europeu. Vi muitos filmes da Nouvelle Vague, como “Trinta anos esta noite” de Louis Malle e italianos, a exemplo de “La dolce vita” de Fellini, obra que me marcou profundamente. Era uma sala mais simples, porém ampla, como grande parte dos cinemas da época.
E até digo isso porque no posto seis, tinha um mini cinema, o Alvorada, que se intitulava “cinema de arte” e que também exibia filmes europeus em quantidade. Por exemplo, “Morangos Silvestres” e “O sétimo selo” de Bergman eu assisti ali. Cinemas do gênero surgiram depois, tais como o Riviera, também no mesmo posto seis que tinha a característica de promover festivais de países cuja cinematografia era pouco conhecida por essas bandas. Como o tcheco, o polonês, o japonês, o indiano e por aí afora. Aquela sala, proporcionou-me ver filmes como “Um dia, um gato” de Vojtech Jasny ou “A faca na água” de Polansky.
Copacabana tinha muitos cinemas. O Ritz foi um dos primeiros a ser derrubado e ficava entre a Figueiredo Magalhães e a Siqueira Campos. Lembro de ter assistido um filme de Cantinflas no Ritz. Na própria Siqueira Campos ficava o Flórida. Mais o Ricamar, o Rian, que tinha o privilégio de ficar na avenida Atlântica, de frente par o mar. O Alaska, cinema quase na vertical. E um no Leme que eu nem me lembro mais o nome. Além do famoso Caruso que também era excelente.
Saindo de Copacabana, o saudoso Veneza e o velho São Luis. E digo o ”velho” porque os que foram construídos no lugar dele são arremedos daquela esplendorosa sala exibidora. Também no Largo do Machado um poeira em que eu ia muito, o Politeama. Era enorme. Pra se ter uma idéia hoje há um grande super mercado no mesmo lugar. Pertinho dali, indo na direção do Catete o exótico Azteca (foto acima). Depois veio o Condor Largo do Machado, que também distribuía muitos filmes europeus. O Condor, quando acabou sofreu uma reforma e virou dois, os Largo do Machado I e II.
Um capítulo a parte foi o Paissandu, que – criminosamente (1) – cerrou as portas em 2008. Naquela sala, para além dos grandes lançamentos do cinema de vanguarda no mundo, ainda havia o Festival de curta metragens patrocinado pelo Jornal do Brasil. Mas filmes como “Cinzas e diamantes” de Jerzy Andrzejwski e “Kanal” de Wajda passaram em sua tela. Ou “O incidente” de Larry Peerce, uma película da Escola Independente de Nova Iorque. O Paissandu foi a marca de uma geração que levou o seu nome.
No Leblon, o próprio Leblon, o Miramar que como diz o nome, como o Rian, também ficava na praia. Em Ipanema o Astória, o Ipanema e o Pirajá. Até no jardim Botânico, tinha o Floresta, um poeira horroroso que caracterizava os chamados cinemas de bairro. Mas eram baratíssimos; e viviam cheios.
Botafogo tinha vários poeiras. O Nacional, quase na esquina da Real Grandeza com Voluntários. Este depois passou por uma reforma, subiu de categoria e foi rebatizado como Bruni Botafogo. Mas tinha também o Botafogo que um dia havia sido o Star. E o Guanabara. Um “poeirão” quase na praia, esquina com a rua da Passagem. Este cinema tinha a característica de nas noites de verão abrir as portas laterais para que ficasse mais fresco. Neste bairro, depois surgiram o Ópera e os Coral e Escala, esses cinemas gêmeos, que estrearam com os filmes de André Cayatte “Confissões de um homem casado” num e “Confissões de uma mulher casada” no outro. Os Coral e Escala, com a decadência viraram salas de filmes pornô durante muitos anos, e hoje o local abriga o excelente complexo do Unibanco Arteplex.
Na cidade havia também os cinemas “passa tempo”. Tinham este nome porque exibiam curtas, na época chamados de shorts, desenhos e filmetes de todo o tipo. Nunca longa metragens. Como seu nome dizia, tinha um relógio grande embaixo da tela e eram muito usados para se passar o tempo enquanto se esperava um compromisso qualquer. Você podia ficar o tempo que precisasse neles. O Cineac Trianon era o mais famoso deles e ficava na Avenida Rio Branco. Tinha um longo hall de entrada com atrações, como um famoso faquir que ficava dias sem água ou comida em cima de pregos numa redoma de vidro, cercado de cobras.
E na Tijuca? A praça Saens Pena era uma mini Cinelândia. Tinham muitos cinemas ali, como o famoso Olinda. E nos arredores, como na Haddock Lobo e Conde de Bonfim. Mais longe um pouco, andando na direção da cidade havia o Madrid. E um outro cineminha (poeira) quase no Estácio, que eu não lembro o nome. Mas foi lá que uma ocasião, despenquei de Botafogo para assistir “O ladrão de Bagdá” em reprise, pois queria ver este famoso filme antigo de Korda com o ator indiano Sabú. Os poeiras tinham a vantagem de passar muitas reprises. Talvez por ser mais barato, mas era muito bom que isso acontecesse.
Tem ainda o capítulo dos subúrbios, mas desses não conheci nenhum. No entanto Madureira, Cascadura e Méier, ao que consta tinham muitos cinemas. E bons.

(1) Considero criminoso a prefeitura não haver tombado o Paissandu. Quando a rede Estações resolveu fechar a sala, as autoridades poderiam ter interferido para que continuasse a existir. Houve até um abaixo assinado neste sentido, mas...

5 comentários:

Joelma disse...

Bons tempos do "cinema de rua".

Jonga Olivieri disse...

Sim, tempos muito diferentes. A "tchurma" de hoje não faz ideia de como foi!

André Setaro disse...

Conheci,Hulot, a maioria dos cinemas citados por você, porque costumava, como você sabe, passar as férias todo ano no Rio no Palácio Cantanhede, de "Tia Ethan". O Asteca, ainda adolescente quando o conheci, confesso que me assustou. Vi muitos filmes no Politheama, Largo do Machado, homérico poeira, mas que passava programa duplo. Lembro de uma vez, em 1963, quando fui ver '20 quilos de confusão', de Norman Jewison, com Tony Curtis, no maravilhoso São Luiz, de uma balança na porta, que dizia: "criança até 20 quilos não paga!". Bobagem, mas serve para ilustrar o marketing ingênuo da época. Paissandú, Alvorado, Miramax, Metro, Art-Palácio, Pathé, Victória, Odeon, Palácio, entre tantos outros, fui a eles várias vezes. Mas os cinemas de minha afetividade, os cinemas, por assim dizer, de minha vida, estão em Salvador, e creio que você os conheceu a todos. O Guarany, na Praça Castro Alves, era a sala exibidora que mais me encantava. Para se ver a ingenuidade de um menino. Quando tinha 8 anos, indo com minha mãe e irmãos ao Guarany, ela me disse: "Dilton agora é porteiro do Guarany". Dilton era marido de Ocridalina, costureira de minha mãe. E passei a admirá-lo com aquela posição herética - antigamente porteiro tinha linha, olhando sempre para a frente como um soldado, rasgando o ingresso com o movimento só das mãos, e trajado com uma espécie de smoking.

Jonga Olivieri disse...

Fantásticas as suas recordações, André.
Tambem achava o Azteca um cinema meio apavorante com aquelas figuras na frente (vide foto) E por acaso lá assiti "A última esperança da Terra" (Omega Man), um filme de Sci-Fi meio terrorífico... Coisas da vida!

Anônimo disse...

Muito completa a retrospectiva...
L.P.