quinta-feira, 7 de junho de 2012

Desemprego, pobreza e guerra EUA, Israel, OTAN


Jorge Vital de Brito Moreira

A semana passada, o Departamento do Trabalho dos EUA, anunciou que a economia estadunidense criou apenas 69.000 empregos no mês de maio e a taxa de desemprego subiu para 8,2 por cento. A noticia tirou o sono daqueles que acreditavam que os EUA tinham saído da crise econômica ou estavam no caminho certo para a total recuperação econômica.
Para aumentar o desconcerto das pessoas por aqui, a UNICEF informou esta semana que a taxa de pobreza infantil nos EUA está entre as piores do mundo desenvolvido. Segundo a UNICEF, dos 35 países ricos, só a Romênia tem uma taxa de pobreza infantil maior que a dos EUA.
Enquanto a situação dos trabalhadores e das crianças vai de mal a pior, o presidente Barack Obama e o atual prefeito da cidade de Chicago, o sionista Rahm Emanuel (amigo e ex-chefe de gabinete do Presidente Obama) organizaram e patrocinaram  a reunião de cúpula da OTAN, realizada nos dias 20 e 21 de maio, naquela cidade com o dinheiro público.
Mas a reunião de cúpula da OTAN foi contestada pelas manifestações de milhares de pessoas contra esta organização, contra a administração de Barack Obama, contra as guerras no Afeganistão e a guerra do Iraque; e contra as guerras nos países do Médio Oriente e da Ásia.  Entre as manifestações, destacou-se a marcha que  foi liderada conjuntamente por Membros Afegãos para a Paz e Veteranos do Iraque Contra a Guerra (IVAW). "Estamos aqui para protestar contra a OTAN e para convidar todos os representantes da OTAN para acabar com essa guerra desumana, ilegal e brutal contra o nosso país e nosso povo", disse a liderança afegã na manifestação.
No sábado, milhares de manifestantes marcharam até a residência do prefeito Rahm Emanuel para demonstrar seu repúdio pelos cortes nos serviços sociais que ele fez para financiar a gigantesca operação de segurança dos participantes da reunião de cúpula da OTAN, entre outras coisas.
Apenas um dia antes, um grupo de enfermeiras conduziram uma marcha no centro de Chicago para protestar contra medidas de austeridade. Durante a marcha, os manifestantes gritavam:"Eles dizem ‘corte’, nós dizemos vamos nos defender”.
Não é necessário ser um expert em ciências políticas ou econômicas para se dar conta da relação entre a  guerra de classes deflagrada pelos ricos contra os trabalhadores e a classe media dos EUA (e do mundo), e as suas guerras externas, imperialistas (financiadas com o dinheiro público) para beneficiar Israel, as corporações petroleiras, os gigantescos bancos dos EUA (e Europa),  e a indústria de armas de destruição massiva da população dos países do terceiro mundo que estão sendo bombardeadas sistematicamente pelas  forças dos EUA e da OTAN.
Assim, a administração de Barack Obama tem recebido não somente o repúdio das marchas de protesto, mas também de destacados professores, intelectuais e escritores estadunidenses. Recentemente, o eminente professor canadense Michel Chossudovsky,  atual diretor do Global Research  afirmou no seu artigo “Quem era Osama? Quem é Obama? (publicado por em castelhano pelo periódico rebelion.org em 07/05/2012/) que “o presidente Barack Obama é um mentiroso político e um criminoso de guerra”.
A decepção com o governo do presidente Obama, já tinha sido  antecipada  pelo prestigiado escritor e filosofo negro Cornel West (professor da Universidade de Princeton). Na entrevista concedida ao novo website  Truthdig, Cornel West afirmou (para o jornalista Chris Hedges) que o presidente Barack Obama  é "a mascote preta dos oligarcas de Wall Street e a marioneta preta dos plutocratas corporativos. E agora tornou-se o chefe da máquina americana  de assassinar e está orgulhoso disso.” (... a black mascot of Wall Street oligarchs and a black puppet of corporate plutocrats. And now he has become head of the American killing machine and is proud of it.)
Naturalmente, Cornel West sabe muito bem do que está falando, porque foi um dos mais destacados nomes no apoio da candidatura de Obama. West recebeu a eleição de Barack Obama com grandes expectativas; a de que Obama iria se concentrar no que ele, West, considera a grande luta pelos direitos civis do século XXI: a pobreza e a desigualdade econômica.  Mas nada disso, como sabemos, aconteceu. Neste sentido, Obama é a maior decepção da política estadunidense.
Atualmente, o diretor do filme “INSIDE JOB, Charles Ferguson, lançou um  novo livro intitulado "Predator Nation: Corporate Criminals, Political Corruption, and the Hijacking of America (“Nação Predadora: criminosos corporativos, a corrupção política e o desvio de América") onde analisa os documentos judiciais ligados à crise econômica divulgados recentemente e se pergunta: Where Are the Criminal Prosecutions for the Financial Crisis? (Onde estão os processos criminais da crise financeira?)
Podemos repetir a pergunta anterior com uma pequenissima variação: Where are the Criminal Prosecutions for War Crimes? (Onde estão os processos criminais dos crimes de guerra?) para nos referirmos à escandalosa notícia de que os esforços feitos pelo fundador da Wikileaks, Julian Assange, para evitar a extradição para a Suécia recebeu um significativo revés. A Suprema Corte da Grã-Bretanha (uma instituição submissa aos interesses dos EUA) ratificou o mandado de prisão que foi emitido, injustamente contra ele, em dezembro de 2010. A recente decisão contra Assange (fruto da votação de 5 a 2) foi emitida dois anos depois da prisão do soldado Bradley Manning, por ter supostamente vazado milhares de documentos confidenciais do governo dos EUA para Wikileaks.
Ambos os casos (o de Assange e o de Manning) servem para demonstrar que cada dia que passa existe menos justiça e menos legalidade nos EUA (supostamente “a maior democracia do mundo”) e nos países desenvolvidos pois enquanto os justos que descobrem e revelam a verdade são punidos,  os criminosos de guerra continuam livres para continuar cometendo seus crimes impunemente.
Como se sabe, Assange não foi formalmente acusado de cometer qualquer crime, e ainda assim teve que se submeter à prisão domiciliária por um "mandato de detenção europeu”. É importante ressaltar que o “mandato de detenção” com a acusação de estupro, coerção ilegal e assédio sexual não foi emitido por um juiz, mas por um procurador que quer questionar Assange na Suécia. Julian Assange já se ofereceu para se reunir com as autoridades suecas na Embaixada da Suécia em Londres ou na Scotland Yard, mas a proposta foi rejeitada. Assange e seus defensores argumentam que o mandato é parte da tentativa do governo dos EUA para prender Julian Assange e encerrar as revelações e denuncias de Wikileaks.  Muitos outros estão convencidos de que “o mandato” é uma tentativa do governo dos EUA para castigar publicamente a Assange pois em abril de 2010,  Wikileaks divulgou um vídeo do exército dos EUA (sob o nome "Assassinato Colateral"), que mostra como um helicóptero Apache mata pelo menos 12 civis iraquianos, entre os quais um cinegrafista da Reuters e o motorista.
Por seu lado, o brilhante filosofo e linguista Noam Chomsky defende WikiLeaks acusando o presidente Obama pelos assassinatos no Afeganistão e Paquistão com os aviões não tripulados (drones). Nesta entrevista, Chomsky compara os crimes do presidente Obama com os do seu antecessor George W. Bush, Noam Chomsky diz: “Existe uma diferença entre Bush e Obama. Se a administração Bush não gostava de alguém, ele era sequestrado e enviado para um centro de tortura; se a administração Obama não gosta de alguém, ordena matar para não ter centros de tortura em todos os lugares.”
Para fortalecer a imagem de Barack Obama como um governante totalitário desprovido, como George W. Bush, de qualquer escrúpulo moral ou legal, o jornal The New York Times revelou esta semana que o presidente Obama supervisiona pessoalmente uma "lista secreta de assassinatos" que contém nomes e fotografias de indivíduos que devem ser assassinados como parte da guerra com os drones dos EUA. Segundo o jornal, Obama aprova pessoalmente cada assassinato seletivo a ser efetuado no Iêmen, na Somália, assim como nas operações mais complexas ou de risco no Paquistão. Entre os que têm seu nome na lista secreta encontram-se cidadãos norte-americanos, assim como adolescentes do sexo feminino de apenas 17 anos de idade.
Glenn Greenwald, advogado constitucional que escreve sobre política e leis para a revista Salon.com afirma: "O presidente dos EUA acredita que ele tem o poder de ordenar o assassinato de pessoas, em absoluto sigilo, sem o devido processo, sem transparência e sem controle de qualquer tipo.” "Eu realmente acredito que o poder do presidente hoje é, literalmente, o mais radical que um governo e um presidente pode obter, e Obama tem aumentado este poder agressivamente sem que até agora tenha sido motivo de controvérsia”.
Mas os questionamentos e as denuncias contra a administração atual não param de crescer. Recentemente, Vijay Prashad,  professor de Estudos Internacionais  (International Studies) no Trinity College in Hartford, Connecticut, EUA, preocupado com o aumento da propaganda em favor de uma guerra contra o presidente da Síria, Bashar -al-Assad, tem pedido a reavaliação do ataque da OTAN à Líbia.
Depois de um ano do “levante” que derrubou o coronel Muammar al- Gaddafi na Líbia, há uma preocupação crescente com as guerras da OTAN, pois a Líbia permanece altamente fragmentada em regiões e facções. De acordo com dados recentes, existem mais de 500 exércitos de milícias em todo o país, que perpetram contínuas violações aos direitos humanos que são similares àquelas realizadas durante o regime de al-Gaddafi.  Assim, Vijay Prashad, escritor e jornalista da destacada revista Counterpunch, se manifesta: "Existe a necessidade de avaliar o que aconteceu na Líbia, como resultado não só das atrocidades cometidas pelo governo al-Gaddafi no momento da rebelião, mas também, das atrocidades que foram cometidas como resultado da natureza da intervenção da OTAN”. "Acredito que realmente devemos questionar o uso e o abuso dos direitos humanos como um lubrificante para a intervenção militar em outros países.”
Por seu lado,  a Rússia se opõe à resolução da ONU contra o presidente da Síria al-Assad.  Nas Nações Unidas, a Rússia se recusa a apoiar uma resolução do Conselho de Segurança apoiado pelos Estados Unidos para exigir que o presidente Bashar al-Assad  entregue o poder a um presidente delegado. De acordo com a Associated Press, a Rússia insiste em que nenhuma força estrangeira será usada no país. A Rússia também acusa as nações ocidentais e as árabes (como Arábia Saudita) de colocar a Síria na "estrada para uma guerra civil." A Rússia e a China também tem acusado os Estados Unidos e outros países ocidentais de usar e abusar do mandato da ONU para derrubar o ditador líbio Muammar al- Gaddafi
Gostaria de concluir sintetizando o que disse anteriormente sobre um conjunto de relações sociais, econômicas e políticas, a partir das ultimas informações e noticias que circularam pela imprensa e TV do país e do mundo.  Estas são informações que me parecem cruciais para compreender as relações fundamentais entre a crise econômica capitalista, a política de austeridade do governo, o desvio de dinheiro publico pelo Estado totalitário para expandir as guerras imperialistas dos EUA e da OTAN aumentando o desemprego e a pobreza infantil, piorando a qualidade de vida da classe trabalhadora e da classe média.
Em síntese, a política militarista totalitária do governo capitalista imperialista de Barack Obama dos EUA tem sido a principal responsável pela continuação da crise econômica  e das guerras intermináveis contra os países do terceiro mundo. Cada dia que passa, o desemprego, a fome, a miséria e as guerras vão aumentando a probabilidade de uma hecatombe nuclear e a ameaça de extinção da vida dos habitantes deste planeta. Para que? Para continuar ampliando o domínio de Israel nos territórios árabes e os lucros capitalistas das corporações do petróleo, das armas de guerra e dos grandes bancos e instituições financeiras de EUA e Europa.
Desde nosso ponto de vista, ao contrário da esperança hipócrita do guerreirista Barack Obama, a única esperança a que devemos nos dedicar é àquela fundada na luta de resistência dos movimentos políticos e sociais que combatem a injustiça social e as desgraças materiais produzidas há séculos pelo capitalismo. Somente movimentos políticos e sociais como os “Indignados” na Espanha, “Ocupemos Wall Street” nos EUA (e outros similares) em aliança com a reorganização da classe trabalhadora em bases anti-capitalistas e revolucionárias, serão capazes de lutar para produzir as mudanças políticas imprescindíveis para estabelecer uma sociedade feliz para a maioria da humanidade.

Um comentário:

André Setaro disse...

De um posto privilegiado, o Professor Jorge Moreira, morando e trabalhando nos EUA, pode, com mais acuidade, demonstrar, em seus artigos, a farsa do capitalismo na Uti.