domingo, 17 de junho de 2012

Recuerdos de domingo


Pensatas soltas, ou nem tão soltas, mas recordações que apenas passam pela cabeça. Lembranças de vários tempos, lugares diversos... enfim, coisas que são engraçadas de lembrar, e tornam o domingo mais leve e... Gostoso.

Valência na Espanha, além de ser uma cidade muito bonita, teve uma importância muito grande para mim. Foi o primeiro lugar em que avistei o Mar Mediterrâneo e nele molhei os pés. Havia chegado ao Maré Nostrum dos Romanos. Depois de horas dirigindo, desde Madrí, cheguei cansado. Encontrei um hotel bem central tomei um banho, e, refeito fui para a varanda do quarto. Passou um sujeito na rua e deu um berro em alto e bom som: “La Philosophie!!!”. Achei o grito muito curioso. Estaria bêbado, drogado? Nunca soube, mas também jamais me esqueci daquele instante.

La Licorne era uma boate e a casa de “mulheres fáceis” mais luxuosa de São Paulo. Corria o ano de 1971, e uma noite, com um colega de trabalho, catalão de nascimento, resolvemos dar uma olhadela nas tão afamadas beldades do lugar. Chegamos, pedimos duas cervejas, mas não tínhamos como bancar as habituées, que, por sinal faziam jus à fama e ao preço. Levamos um papo com algumas, mas logo nos retiramos. Pagamos uma nota preta pelas louras “geladas”. Quando saíamos, encontramos o Jô Soares completamente de porre no local.

O País Basco é lindo. Montanhas, serras maravilhosas serpenteando a autoestrada de uma qualidade fora de série. Queriamos chegar a Bilbao ainda naquele dia. E chegamos. Procurava um hotel de nome curioso: “Conde Duque”. Rodei a cidade inteira atrás dele, a Virginia com o Guia Michellin na mão, e eu nada de chegar ao tão procurado local. De repente, parei o carro e disse, quase desabafando que desistiria de ir para o tal hotel. Guga, apontou para o lado oposto rindo às pamparras. Quando olhei, lá estava o letreiro: Hotel Conde Duque. Parece até brincadeira.

O meu colega catalão, cujo sobrenome era Fortanet, era uma boa figura e um excelente amigo. Morava com a esposa e uma filhinha no bairro do Ipiranga, em uma casinha nos fundos da casa da sogra. Um dia me convidou para comer uma comida típica na casa deles no domingo. Fui, e foi a primeira das dezenas de paellas que saboreei na vida. Deliciosa, por sinal.

E por falar em paellas, e voltando à Comunitat Valenciana, ou ao Ayuntamento de Valência propriamente dito. Depois de muito folhear os guias turísticos, descobri que a ruazinha atrás do nosso hotel só tinha restaurantes do típico prato local. Claro, à noite estava lá. Comi uma, deliciosa e regada a um excelente vinho de La Rioja. Sai dali satisfeito da vida. De madrugada fui para o banheiro enjoado, passando mal. Em outras palavras: vomitei mesmo. Tinha um puto de um crustráceo daqueles que não estava lá essas coisas. Acontece.

A propósito, a melhor paella que comi na Espanha foi em Vigo, na Galicia. Não é pra menos. A cidade galega é famosa pelos seus frutos do mar e as barcaças que os armazenam em sua belíssima baía. Vigo é uma das cidades mais bonitas que conheci...

Houve um outro caso engraçado com o Fortanet. Uma tarde, estávamos no trabalho e ele virou-se para mim e falou: “Passa-me el cenecero!” Lendo assim não é tão difícil, mas ao escutar fiquei olhando para ele sem entender, pois falara muito rapidamente em seu estranho portunhol, com forte mistura de catalão, o que lhe embaralhava mais ainda o modo de se expressar. Daí ele repetiu, e repetiu mais uma vez, e outra. Só lá pela quarta vez consegui entender que se tratava do cinzeiro que estava ao meu lado.

Rio de Janeiro. Início dos anos 70. Onze da matina, jornal debaixo do braço eu chegava no Veloso (já era Garota de Ipanema, mas fazíamos questão de chama-lo pelo velho nome). Pedia um chope na pressão. Tomava uns três ou quatro, antes de ir à praia já devidamente informado pela leitura, calibrado pelos golos e tendo visto vários belíssimos rabos rebolantes naquela esquina que, por isso mesmo, entrou para a história da música brasileira... Quiçá mundial. Tempo bão, sô!

Comecei a sentir um cheiro de feijão queimado. O detalhe é que a agência em que trabalhava em Sampa, ficava em cima da Churrascaria Rubayat, nos tempos em que esta ainda era na avenida Vieira de Carvalho, no centro velho de São Paulo. Virei para uma colega e disse: “Está feijando queimão!”. Ela ficou olhando para mim sem entender bulhufas. Repeti o comentário. Demorei um bom tempo para concluir que estava falando tudo trocado. Quando a ficha caiu, morremos de rir.

2 comentários:

André Setaro disse...

A foto que você ilustrou o post me deu água na boca. No mais, excelente relato.

Jonga Olivieri disse...

Paellas são maravilhosas!