Estourou ontem mais esta bomba sobre
Temer e seus asseclas. A revista Época entrevistou Joesley Batista em sua volta
ao Brasil e este botou pra quebrar, bem às vésperas de uma viagem internacional
colocou o presidente golpista em nova saia justa. E agora Michel? Bom, dizem
por aí que o acusado vai processar o acusador... mas que a coisa foi feia, lá
isso foi mesmo. Basta lar a entrevista abaixo.
ÉPOCA – Quando o senhor conheceu Temer?
Joesley Batista – Conheci Temer
através do ministro Wagner Rossi, em 2009, 2010. Logo no segundo encontro ele
já me deu o celular dele. Daí em diante passamos a falar. Eu mandava mensagem
para ele, ele mandava para mim. De 2010 em diante. Sempre tive relação direta.
Fui várias vezes ao escritório da Praça Pan-Americana, fui várias vezes ao
escritório no Itaim, fui várias vezes à casa dele em São Paulo, fui alguma
vezes ao Jaburu, ele já esteve aqui em casa, ele foi ao meu casamento. Foi
inaugurar a fábrica da Eldorado.
ÉPOCA – Qual, afinal, a natureza da
relação do senhor com o presidente Temer?
Joesley – Nunca foi uma relação
de amizade. Sempre foi uma relação institucional, de um empresário que
precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas. Acho
que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele – e
fazer esquemas que renderiam propina. Toda a vida tive total acesso a ele. Ele
por vezes me ligava para conversar, me chamava, e eu ia lá.
ÉPOCA – Conversar sobre política?
Joesley – Ele sempre tinha um
assunto específico. Nunca me chamou lá para bater papo. Sempre que me chamava,
eu sabia que ele ia me pedir alguma coisa ou ele queria alguma informação.
ÉPOCA – Segundo a colaboração, Temer
pediu dinheiro ao senhor já em 2010. É isso?
Joesley – Isso. Logo no início.
Conheci Temer, e esse negócio de dinheiro para campanha aconteceu logo no
iniciozinho. O Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é
um cara cerimonioso com dinheiro.
ÉPOCA – Ele sempre pediu sem algo em
troca?
Joesley – Sempre estava ligado a
alguma coisa ou a algum favor. Raras vezes não. Uma delas foi quando ele pediu
os R$ 300 mil para fazer campanha na internet antes do impeachment, preocupado
com a imagem dele. Fazia pequenos pedidos. Quando o Wagner saiu, Temer pediu um
dinheiro para ele se manter. Também pediu para um tal de Milton Ortolon, que
está lá na nossa colaboração. Um sujeito que é ligado a ele. Pediu para
fazermos um mensalinho. Fizemos. Volta e meia fazia pedidos assim. Uma vez ele
me chamou para apresentar o Yunes. Disse que o Yunes era amigo dele e para ver
se dava para ajudar o Yunes.
ÉPOCA – E ajudou?
Joesley – Não chegamos a
contratar. Teve uma vez também que ele me pediu para ver se eu pagava o aluguel
do escritório dele na praça [Pan-Americana, em São Paulo]. Eu desconversei, fiz
de conta que não entendi, não ouvi. Ele nunca mais me cobrou.
ÉPOCA – Ele explicava a razão desses
pedidos? Por que o senhor deveria pagar?
Joesley – O Temer tem esse jeito
calmo, esse jeito dócil de tratar e coisa. Não falava.
ÉPOCA – Ele não deu nenhuma razão?
Joesley – Não, não ele. Há
políticos que acreditam que pelo simples fato do cargo que ele está ocupando já
o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita a pedir algo a
você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer. Temer é assim.
ÉPOCA – O empréstimo do jatinho da JBS ao
presidente também ocorreu dessa maneira?
Joesley – Não lembro direito.
Mas é dentro desse contexto: “Eu preciso viajar, você tem um avião, me empresta
aí”. Acha que o cargo já o habilita. Sempre pedindo dinheiro. Pediu para o
Chalita em 2012, pediu para o grupo dele em 2014.
ÉPOCA – Houve uma briga por dinheiro
dentro do PMDB na campanha de 2014, segundo o lobista Ricardo Saud, que está na
colaboração da JBS.
Joesley – Ricardinho falava
direto com Temer, além de mim. O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do
PMDB. Acho que R$ 35 milhões. O Temer e o Eduardo descobriram e deu uma briga
danada. Pediram R$ 15 milhões, o Temer reclamou conosco. Demos o dinheiro. Foi
aí que Temer voltou à Presidência do PMDB, da qual ele havia se ausentado. O
Eduardo também participou ativamente disso.
ÉPOCA – Como era a relação entre Temer e
Eduardo Cunha?
Joesley – A pessoa a qual o
Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre
falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele
resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia.
Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio [o operador Lúcio Funaro]. O que
ele não conseguia resolver pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia
resolver, envolvia o Michel.
ÉPOCA – Segundo as provas da delação da
JBS e de outras investigações, o senhor pagava constantemente tanto para
Eduardo Cunha quanto para Lúcio Funaro, seja por acertos na Câmara, seja por
acertos na Caixa, entre outros. Quem ficava com o dinheiro?
Joesley – Em grande parte do
período que convivemos, meu acerto era direto com o Lúcio. Eu não sei como era
o acerto do Lúcio do Eduardo, tampouco do Eduardo com o Michel. Eu não sei como
era a distribuição entre eles. Eu evitava falar de dinheiro de um com o outro.
Não sabia como era o acerto entre eles. Depois, comecei a tratar uns negócios
direto com o Eduardo. Em 2015, quando ele assumiu a presidência da Câmara. Não
sei também quanto desses acertos iam para o Michel. E com o Michel mesmo eu
também tratei várias doações. Quando eu ia falar de esquema mais estrutural com
Michel, ele sempre pedia para falar com o Eduardo. “Presidente, o negócio do
Ministério da Agricultura, o negócio dos acertos…” Ele dizia: “Joesley, essa
parte financeira toca com o Eduardo e se acerta com o Eduardo”. Ele se envolvia
somente nos pequenos favores pessoais ou em disputas internas, como a de 2014.
ÉPOCA – O senhor realmente precisava
tanto assim desse grupo de Eduardo Cunha, Lúcio Funaro e Temer?
Joesley – Eles foram crescendo
no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura – todos órgãos onde tínhamos interesses.
Eu morria de medo de eles encamparem o Ministério da Agricultura. Eu sabia que
o achaque ia ser grande. Eles tentaram. Graças a Deus, mudou o governo e eles
saíram. O mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para
cá, achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o
fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio
Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado.
ÉPOCA – Pode dar um exemplo?
Joesley – O Eduardo, quando já
era presidente da Câmara, um dia me disse assim: “Joesley, tão querendo abrir
uma CPI contra a JBS para investigar o BNDES. É o seguinte: você me dá R$ 5
milhões que eu acabo com a CPI”. Falei: “Eduardo, pode abrir, não tem
problema”. “Como não tem problema? Investigar o BNDES, vocês.” Falei: “Não, não
tem problema”. “Você tá louco?” Depois de tanto insistir, ele virou bem sério:
“É sério que não tem problema?”. Eu: “É sério”. Ele: “Não vai te prejudicar em
nada?”. “Não, Eduardo.” Ele imediatamente falou assim: “Seu concorrente me paga
R$ 5 milhões para abrir essa CPI. Se não vai te prejudicar, se não tem
problema… Eu acho que eles me dão os R$ 5 milhões”. “Uai, Eduardo, vai sua
consciência. Faz o que você achar melhor.” Esse é o Eduardo. Não paguei e não
abriu. Não sei se ele foi atrás. Esse é o exemplo mais bem-acabado da lógica
dessa Orcrim.
ÉPOCA – Algum outro?
Joesley – Lúcio fazia a mesma
coisa. Virava para mim e dizia: “Tem um requerimento numa CPI para te convocar.
Me dá R$ 1 milhão que eu barro”. Mas a gente ia ver e descobria que era algum
deputado a mando dele que estava fazendo. É uma coisa de louco.
ÉPOCA – O senhor não pagou?
Joesley – Nesse tipo de coisa,
não. Tinha alguns limites. Tinha que tomar cuidado. Essa é a maior e mais
perigosa organização criminosa deste país. Liderada pelo presidente.
ÉPOCA – O chefe é o presidente Temer?
Joesley – O Temer é o chefe da
Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o
grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita
perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por
outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio
com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem
demais nem deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa contra mim.
A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha
vida. Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas também morria de
medo de me abraçar com ele.
ÉPOCA – No decorrer de 2016, o senhor,
segundo admite e as provas corroboram, estava pagando pelo silêncio de Eduardo
Cunha e Lúcio Funaro, ambos já presos na Lava Jato, com quem o senhor tivera
acertos na Caixa e na Câmara. O custo de manter esse silêncio ficou alto
demais? Muito arriscado?
Joesley – Virei refém de dois
presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano
passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia,
mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu tinha perguntado
para ele: “Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu
mensageiro?”. Ele disse: “O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não
atenda”. Passou um mês, veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse
dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo
precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até
março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que,
quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.
ÉPOCA – E o Lúcio Funaro?
Joesley – Foi parecido.
Perguntei para ele quem seria o mensageiro se ele fosse preso. Ele disse que
seria um irmão dele, o Dante. Depois virou a irmã. Fomos pagando mesada. O
Eduardo sempre dizia: “Joesley, estamos juntos, estamos juntos. Não te delato
nunca. Eu confio em você. Sei que nunca vai me deixar na mão, vai cuidar da
minha família”. Lúcio era a mesma coisa: “Confio em você, eu posso ir preso
porque eu sei que você não vai deixar minha família mal. Não te delato”.
ÉPOCA – E eles cumpriram o acerto, não?
Joesley – Sim. Sempre me
mandando recados: “Você está cumprindo tudo direitinho. Não vão te delatar.
Podem delatar todo mundo menos você”. Mas não era sustentável. Não tinha fim. E
toda hora o mensageiro do presidente me procurando para garantir que eu estava
mantendo esse sistema.
ÉPOCA – Quem era o mensageiro?
Joesley – Geddel. De 15 em 15
dias era uma agonia terrível. Sempre querendo saber se estava tudo certo, se ia
ter delação, se eu estava cuidando dos dois. O presidente estava preocupado.
Quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio calmos era eu.
ÉPOCA – O ministro Geddel falava em nome
do presidente Temer?
Joesley – Sem dúvida. Depois que
o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O
presidente sabia de tudo. Eu informava o presidente por meio do Geddel. E ele
sabia que eu estava pagando o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei
de ter interlocução com o Planalto por um tempo. Até por precaução.
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