quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Gorbachev e Obama. Uma comparação

Li no UOL uma matéria sobre Emmanuel Todd que previu entre outras coisas a queda do império soviético, e agora prevê a do estadunidense. Vejam abaixo o que ele (Todd) diz sobre o Afeganistão:

"(...) será a guerra que eles irão perder. É uma guerra perdida, uma catástrofe que se desenvolve. A grande questão para os historiadores será entender por que os dois grandes impérios, o império soviético e o império americano (sic), decidiram morrer militarmente no Afeganistão.
Há algo de surpreendente. Não sou crente, mas se tivesse alguma crença, eu veria nas duas guerras do Afeganistão uma espécie de maldição divina. Uma região do mundo totalmente desprovida de interesse: é um problema para os metafísicos, para os moralistas, não para os especialistas em geopolítica."

A seguir a matéria de Haroldo Ceravolo Sereza do UOL Notícias que nos dá uma ideia do pensamento de Todd:

“Em 1976, um demógrafo francês, após analisar dados sobre a população soviética, publicou seus estudos com um título ousado: "A Queda Final - Ensaio sobre a Decomposição da Esfera Soviética" ("La Chute Finale - Essai Sur La Décomposition de la Sphère Soviétique").
Antes que Ronald Reagan chegasse ao governo dos Estados Unidos, antes que a Igreja Católica escolhesse um papa polonês e muito antes que as palavras ‘Glasnost’ e ‘Perestroika’ fossem popularizadas no Ocidente pelo secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev, Emmanuel Todd previu que problemas estruturais estavam minando de forma definitiva o poder do PC.
Um dos dados que mais chamaram a atenção de Todd foi a supressão, nas estatísticas oficiais, de dados relacionados à mortalidade infantil. Isso indicava que elas deviam estar subindo. Essa e outras informações oficiais indicavam que o planejamento econômico centralizado no modelo stalinista estava em crise.
Treze anos depois, as previsões começaram a se confirmar.
‘A Rússia saiu de forma muito elegante do comunismo, sem muito sofrimento, sem grande derramamento de sangue, quase nenhum. A história real é cheia de paradoxos, não é a história dos sistemas ou das ideias puras. A verdade é que quem venceu o nazismo foram os russos. O grande paradoxo da história é que o sistema stalinista contribuiu largamente para salvar a humanidade’, disse Todd, em entrevista ao UOL Notícias.
Na combinação de estatística e geopolítica, Todd foi além. Passou a defender que também o sistema imperial norte-americano vivia uma crise, e o mundo, depois da bipolaridade da Guerra Fria e da tendência unipolar dos anos 1990, conheceria o poder multipolar. É a tese central do seu livro ‘Depois do Império: a Decomposição do Sistema Americano’ (Record, 2003).
Sobre o governo norte-americano de Barack Obama, ele faz uma ligação com a crise do sistema soviético: ‘Será que Obama é o presidente da renovação ou será o Gorbachev americano? Quando vemos a massa de problemas não resolvidos, volta do desemprego, guerra do Afeganistão... Há, no entanto, uma última força para os EUA. É que o mundo tem medo do vazio.’
Para Todd, as estruturas familiares ajudam a explicar porque o sistema soviético ruiu enquanto o Partido Comunista chinês sobreviveu, apesar de até hoje a China manter fortes traços da organização stalinista.
‘Se pensarmos que na China há 1,3 bilhão de pessoas hoje, e que na Rússia há 140 milhões, vamos perceber que, do ponto de vista populacional, a maior parte do comunismo sobreviveu’, diz ele. Na sua opinião, o sistema familiar chinês, mais autoritário que o russo, ajudou o PC chinês a ter condições de comandar uma aproximação controlada com a economia capitalista.”
...
É importante ressaltar que o Afeganistão (invadido sem sucesso desde os tempos de Alexandre) também foi invadido pelos britânicos durante o período Vitoriano, que instalam-se em Cabul em 1839 iniciando uma guerra que se estenderia até 1842, causando severas perdas às tropas da Grã Bretanha que se retiraram da região.

4 comentários:

maria disse...

Muito interessante a matéria sobre o Emannuel Todd;
O mais incrível são as suas previsões sobre a Rússia e o que ia acontecer.
Gostei muito.

Jonga Olivieri disse...

Tambem achei, Mary, mas a matéria é do Haroldo Ceravolo Sereza, conforme está na matéria.

Ieda Schimidt disse...

Curiosamente Todd fala uma verdade quando afirma que "a história real é cheia de paradoxos, não é a história dos sistemas ou das ideias puras. A verdade é que quem venceu o nazismo foram os russos. O grande paradoxo da história é que o sistema stalinista contribuiu largamente para salvar a humanidade".
Caramba, isto é de uma precisão fantástica. Poucas vezes li um raciocínio tão conclusivo, claro e dialético em seu conteudo.
Até porque ele diz que "o grande paradoxo da história é que um sistema totalitário (o stalinismo) derrotou um outro totalitário (o nazismo).
Mas a comparção entre a era Gorbatvhev e Obama, pode ter lá as suas verdades. Os EUA estão numa crise que é o desdobramento da crise de 1929 (que nunca acabou), mas sofreu uma pausa de quase 80 anos e voltou com toda uma gravidade, acentuada pela volta ao liberalismo desenfreado, que foi o,'leit motiv' da primeira.
Esta tua postagem é muito significativa.
E gostei demais do raciocínio dialético de Todd. Vou conhecer um pouco mais de seus trabalhos pesquisdo na internet (ai, como hoje é fácil!). Vale a pena.

Jonga Olivieri disse...

Você tem razão quanto a crise. Ela começou a se expressar em 29. Depois teve recaídas de tempos em tempos. Algumas mais graves, outras menos, mas nenhuma como a atual. Marx previa isto: as crises cíclicas do capitalismo.
Quanto a Emmanuel Todd, também quero pesquisar mais sobre ele.
Ele tem pelo menos um livro publicado no Brasil e citado na matéria: "Depois do Império: a Decomposição do Sistema Americano" (Record, 2003).