terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Explicando “Ocupar Wall Street”

A capa da revista
Editada em Vancouver, no Canadá, a revista Adbusters, tem como objetivo desestabilizar as estruturas de poder existentes no mundo e forjar uma mudança na forma como as pessoas viverão neste século. O seu editor chefe, Kalle Lasn, garante que foi com essa certeza que a revista iniciou um movimento que promete abalar as estruturas do sistema politico estadunidense neste ano eleitoral.  
Inspirado pelos acontecimentos da Primavera Árabe, Lasn e sua equipe criaram uma peça publicitária em que uma bailarina pairava sobre o touro símbolo de Wall Street. O texto fazia apenas uma pergunta: “Qual a sua exigência?” e pedia para as pessoas levarem uma barraca para o centro financeiro de Nova Iorque no dia 17 de setembro do ano passado.
A chamada catalizou a insatisfação, em especial dos jovens, com a crise econômica internacional, com a concentração de riquezas e com a influência cada vez maior das corporações sobre governos em todo o mundo. Milhares de pessoas atenderam ao pedido e ocuparam praças e outros espaços públicos nas principais capitais dos Estados Unidos e em mais de 1.500 cidades em 83 países. Lasn, um estoniano de 69 anos radicado no Canadá desde a década de 1980, ainda se surpreende ao analisar a dimensão do movimento.
Somente para complementar, alguns pequenos trechos reproduzidos abaixo, da longa entrevista exclusiva ao Opera Mundi e à Carta Maior, ele fala da decepção com o governo de Barack Obama, explica as origens do movimento, por que é contra as grandes corporações e como trabalha para criar um terceiro partido nos Estados Unidos.

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Como surgiu a ideia do Occupy Wall Street?
Quando começou a acontecer a mudança de regime na Tunísia, um momento muito excitante para o ativismo em todo o mundo e especialmente para nós, que vínhamos pedindo por esse tipo de revolução há 20 anos. Depois houve no Egito uma mudança de um regime duro instigada por jovens a partir do uso das mídias sociais e que levou as pessoas às ruas para exigir mudanças. Tudo isso nos fez pensar que nos Estados Unidos também há um tipo de regime. Não é como o do Egito, mas ainda assim é um regime que tem o poder, em que as megacorporações têm o poder de controlar Washington, o coração da democracia americana (sic), e Wall Street, que têm o poder de controlar o destino econômico da América (sic). Muitos jovens nos EUA sentem que todos os aspectos de suas vidas, como o tipo de sapato que compram, a música que escutam, ou a comida que comem, são de alguma forma controladas por poucas e poderosas megacorporações. Foi assim que começamos: precisamos de uma mudança de regime suave na América (sic) e como podemos realizá-la.

O senhor se surpreendeu com a força do movimento?
Sabíamos que em Nova York seria uma grande explosão, um big bang. As pessoas estavam se organizando e bastante excitadas. O movimento chegou a Chicago e depois a Los Angeles, começou a cruzar fronteiras aqui no Canadá e, em meados de outubro, de repente havia mais de mil ocupações em todo o mundo. Nós apenas ficamos boquiabertos assistindo a tudo isso na Al Jazeera.

Qual sua avaliação do governo do presidente Barack Obama?
Todos acreditamos em Obama e na visão que ele apresentava. Mas assim que assumiu o poder ele começou a recuar em todas as decisões importantes que precisavam ser tomadas, como a questão dos presos em Guantánamo, a regulamentação do mercado financeiro e mesmo em relação à guerra no Afeganistão. Obama sempre ficou em cima do muro e não mostrou a ousadia que parecia ter. Ele deve ser reeleito, mas sem o apoio entusiasmado dos jovens americanos (sic). E também porque os candidatos republicanos não têm carisma, visão e parecem um bando de perdedores.

Adbusters pretende apoiar Obama, como na eleição anterior?
Nós o apoiamos no passado. Ficamos tão impressionados com a visão dele sobre a direção que os EUA deveriam seguir, da política externa, mas estamos desiludidos. Este ano lutaremos pela criação de um terceiro partido nos EUA. Por muito tempo as opções políticas no país eram a Pepsi-Cola ou a Coca-Cola, os Republicanos ou os Democratas. As garrafas parecem diferentes, mas o conteúdo e o sabor são parecidos. A discussão sobre a plataforma do partido começará na Internet e se conseguirmos alguns milhões de pessoas para apoiar o novo partido faremos uma convenção. Não há qualquer chance de vencermos as próximas eleições, mas acho que podemos fazer o papel do desmancha prazer e, em quatro ou cinco anos, teríamos possibilidades reais de nos tornarmos uma nova e poderosa voz política nos EUA.

O que leva alguém que nasceu na Estônia, viveu na Austrália, Japão e se radicou no Canadá a fazer política nos Estados Unidos?

Viajei muito quando tinha 20 e poucos anos. Fui à Índia, Afeganistão, Panamá e, para mim, o mundo é o mundo. Tudo está conectado e pude ver como as pessoas em alguns dos países mais pobres do mundo estavam sofrendo e levando uma vida terrível por causa da forma como o primeiro mundo tratava o terceiro mundo. Todos vivemos no mesmo mundo, e o que acontece com o Goldman Sachs ou o que algumas pessoas fazem em Wall Street pode me fazer sofrer aqui no Canadá, podem te fazer sofrer no Brasil, na Índia. Vivemos num mundo globalizado e temos que nos acostumar a isso. Não há nada estranho nem engraçado sobre uma pessoa que nasceu na Estônia e vive no Canadá lutar por um sistema diferente nos Estados Unidos.

6 comentários:

Joelma disse...

Gostei de algumas idéias deste Kalle Lasn. Na verdade li esga matéria interia e acho que ele tem alguns posicionamentos um tanto quanto dúbios.
De qualquer jeito é uma nova força que vem surgindo nos EUA e tem que ser devigamente avaliada...

Jonga Olivieri disse...

Temos que aprofundar a questão, os interesses que possam estar a querer se apropriar (ou não) dos movimentos "Occupy...".
O império tem como se infiltrar em tudo, deturpar tudo, reutilizar tudo a seu favor. Vide o PT!

Ana Paula Duarte disse...

Será que o sr. Lasn conseguirá efetivar um novo partido político nos EUA?
Olha, acho meio difícil modificar-se o viciadíssimo jogo da política norte-americana!
Bem, por outro lado está acontecendo um puta dum desgaste das instituições e pode haver uma brecha neste sentido. O negócio é aguardar.

Jonga Olivieri disse...

Tudo muito difícil naquele país de merda chamado Estados Unidos da América! hehehe!

Mário disse...

Nem sabia desta revista. Isto para ver-se como divulgam mal este movimento. A grande imprensa boicota informações sobre ele!

Jonga Olivieri disse...

Sin duda!