domingo, 8 de abril de 2012

Pensatas de domingo. A Internacional Capitalista


"Dentro da globalização tem-se a tendência a flexibilizar a produção, espalhando a produção por várias partes do globo. Dessa forma, uma das consequências da globalização é dar novo destino ao espaço, que pode se valorizar, revalorizar ou desvalorizar, mas em qualquer um dos casos criando um novo (referencial) simbólico". (Heitor Ney Mathias, economista, em "As ruínas da cidade industrial")

A etapa globalizada do capitalismo “pós moderno”, em plena “barbárie”, mostra uma coisa que de há muito se suspeitava: o capital não tem mais pátria.
Surgindo nos burgos (um burgo designa uma cidade comercial, que se desenvolvia fora das muralhas do núcleo urbano primitivo, senhorial), a burguesia organizou-se a partir da Idade Média, culminando na formação de países e nações, tais como os conhecemos hoje.
O feudalismo tinha uma composição muito distinta de nações (um feudo é uma porção de terra concedida por um senhor a um vassalo em troca de obrigações de fidelidade mútua). Os “países” eram aglomerados de feudos que se identificavam através de língua e costumes, muito mais do que por sentimentos patrióticos. As guerras eram muito mais religiosas, e, quando entre feudos, apenas para a ampliação daqueles que buscavam crescer. A partir da revolução burguesa, particularmente na Inglaterra e na França, o sentimento patriótico começou a se incorporar à ideologia da burguesia e seus interesses econômicos mais imediatos. O conceito nação, tal e qual o conhecemos, começou a se consolidar então.
Mas, a burguesia, ao alcançar a sua etapa imperialista, iniciou uma transformação gradual em que ao capital, não havia mais o interesse em se manter aprisionado a fronteiras.
Poder-se-ia dizer que, na evolução deste processo, nos dias de hoje, o capital multinacional teria mais interesse em se manter e ter suas sedes em plataformas oceânicas estabelecidas em águas internacionais, nas quais não teria necessidade de fidelizar-se a nenhuma nação. Alem do que estaria livre de impostos e outros compromissos.
Karl Marx previa a necessidade de uma revolução proletária ser de cunho internacionalista, baseado no fato de que os interesses desta classe explorada não eram nacionais. Outrossim, naquela época, à burguesia era necessàrio manter pátrias para defender suas propriedades. Todavia, Marx não chegou a presenciar o desenvolvimento do capitalismo em sua etapa imperialista, tendo ele morrido antes deste acontecimento.
Coube aos pensadores do Materialismo Histórico entre finais do século XIX e início doXX viver este período. Vladimior Ilitch Ulianov (Lenin), escreveu em 1916 “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, no qual já apontava distorções no comportamento da burguesia, como a do empresário Basil Zaharoff, que, numa guerra entre a Turquia e a Rússia czarista, armava simultaneamente os vasos de guerra de um dos países, e a defesa costeira da outra. Era um marco do capitalismo sem pátrias nem bandeiras. E uma nova forma de lucro incessante.
Hoje, Zaharoffs existem às centenas. A internacionalização do capital, retirou da burguesia os interesses nacionais, o que pressupõe a existência de uma “Internacional Capitalista”. Por outro lado, a formação das elites operárias nos países mais desenvolvidos, criou um sentimento nacionalista no proletariado. Um nó górdio no pensamento de Marx. Um novo desafio aos caminhos das mudanças sócioeconômicas que podem propiciar o fim da exploração do homem pelo homem.
A atrofia da praxis, pós Marx, gerado principalmente através do poder exercido pela burocracia soviética, também colaborou para que saídas para esta “arapuca” se tornassem mais difíceis. No século XX, alguns pensadores Materialistas Históricos independentes reposicionaram a questão, mas, suas palavras foram difíceis de ser ouvidas, abafadas tanto pela burguesia, quanto pela momenkatura na URSS. Sempre me refiro ao livro de Michael Lowy e Daniel Bensaid, intitulado: “Marxismo, modernidade, utopia”, uma publicação da Xamã Editora, que faz uma análise muito atual da situação. E que merece ser lido por quem tenha algum interesse pelo assunto.
Enquanto isso, temos que tentar sobreviver, na “barbárie” do sistema vigente, sabendo que os “capitalistas de todo o mundo estão unidos”. Se é que isto seja mesmo possível. E aí, a principal contradição de um internacionalismo impossível de se consolidar.

2 comentários:

André Setaro disse...

E diria mesmo que não existem mais nações, porém grandes grupos do capitalismo internacional que controlam os países.

Jonga Olivieri disse...

Esta é a "moral da história"...