domingo, 4 de outubro de 2015

Pensatas de domingo. Em busca do espaço/tempo ganho no Brasil


Este texto de Jorge Vital de Brito Moreira é um importante depoimento de um brasileiro morando no exterior por cerca de 30 anos e suas observações sobre aspectos da nossa atualidade.

Estou de volta à Gringolândia: regresso de uma viagem ao Brasil e gostaria de escrever umas linhas relatando um pouco da experiência de um brasileiro/estadunidense no nosso grande país. Estive um mês e quinze dias em terras brasileiras e durante este período realizei/realizamos duas extraordinárias viagens por cidades dos estados da Bahia e Pernambuco. Como tenho muita coisa pra contar vou dividir este relato em duas partes: na primeira parte darei uma visão geral da viagem; na segunda, darei uma visão mais particular e detalhada das relações sociais e humanas (amizade, família e pessoas nas ruas) no Brasil.

Parte I

O percurso da primeira viagem compreendeu, por um lado, as importantes cidades de Salvador, Feira de Santana, Senhor do Bomfim, Juazeiro, Santana do Sobrado, Sobradinho, Casa Nova e Remanso, no estado da Bahia. Por outro lado, no estado de Pernambuco, o percurso começou na moderna, ampla e arejada cidade de Petrolina, e incluiu as importantes cidades de Santa Maria de Boa Vista, Cabrobó, Belém do São Francisco e Petrolândia. Depois de Petrolândia, voltamos ao estado da Bahia onde visitamos a famosa e importantíssima cidade de Paulo Afonso. Logo, atravessamos as cidades de Cicero Dantas, Ribeira do Pombal, Tucano até chegarmos a cidade de Araci. De Araci regressamos a Salvador, depois de parar em Feira de Santana (a princesa do sertão baiano).
Este grande percurso foi efetuado num automóvel da marca francesa Peugeot e contou com a presença do amigo e professor aposentado, Israel Pinheiro (o proprietário do veículo) e do seu filho Gabriel Pinheiro, enquanto eu, acostumado carona nas viagens pelo Brasil, ajudava a dirigir o automóvel quando o jovem Gabriel se cansava e o pai dormia no “berço esplendido” do banco traseiro do automóvel.
 Chegar no Rio São Francisco, ver a barragem do Sobradinho, conhecer as obras de transposição do Rio São Francisco e visitar a cidade e hidroelétrica de Paulo Afonso, constituíam-se no objetivo central da viagem por Pernambuco e Bahia.
Antes do começo da viagem, passei a primeira semana da minha visita na cidade do Salvador onde tive a oportunidade de observar alguns importantes fenômenos que atraíram imediatamente a minha atenção. Um dos que mais atraíram a minha atenção na cidade foi o enorme crescimento da população soteropolitana. No estado da Bahia, não somente na cidade de Salvador, mas na de Feira de Santana também, o aumento da população invadiu meus olhos, e, acredito, invadirá os olhos de qualquer pessoa que tenha visitado o estado nestes últimos anos.
 O que mais me impressionou no crescimento populacional foi a forma assimétrica, desorganizada e caótica em que se processa a ocupação e o uso do solo pela população e pelos transportes nestas duas cidades. Nas duas, a proliferação da população de baixa renda (formada, de acordo aos conceitos da economia politica capitalista, pelo proletariado super explorado e por seu exército industrial de reserva) se evidencia de modo ostensivo na ocupação do espaço urbano via a extensa proliferação das favelas de nossas cidades.
Um segundo fenômeno que magnetizou a minha atenção (em quase todas as cidades que atravessamos de carro ou caminhando), foi o notório aumento do numero de igrejas cristã-fundamentalistas (tais como a “Igreja Universal do Reino de Deus”, “Testemunhas de Jeová”, “Igreja Batista’, e muitas outras) não somente em Salvador e Feira de Santana mas em outras cidades do estado da Bahia. Elas estão crescendo agressivamente por lá. Na minha viagem anterior ao Brasil, eu costumava brincar com meus amigos dizendo: “Quando me aposentar vou voltar pro Brasil e vou fundar uma igreja evangélica na cidade do Salvador.  Não existe melhor negócio para ganhar dinheiro fácil na “Bahia de Todos os Santos”. Atualmente, meus amigos me informam que a proliferação destas igrejas protestantes é um fenômeno que pertence ao Brasil inteiro, não somente ao estado da Bahia. E o prof. Israel Pinheiro, um dos grandes amigos baianos, acaba de me prevenir: - Seu Jorge, não se surpreenda se o Brasil virar uma republica evangélica dentro de uns poucos anos!
Um terceiro fenômeno que captou/captava a minha atenção foi que o nosso país se encontra numa crise econômica, social e politica assustadora. No nível econômico, a minha  experiência sensorial complementava o que eu já tinha lido nos negativos dados empíricos da estatística nacional: estes dados mostravam a desaceleração da economia agroexportadora, a queda na acumulação de capital, o aumento do desemprego e a diminuição do valor dos salários nos custos de produção das mercadorias brasileiras. No plano político, pude testemunhar a significativa decadência do prestígio político do PT (Partido dos Trabalhadores e de seus lideres atuais) e o avanço ideológico da direita antidemocrática (PMDB, PSDB e outros partidos) e da sua abominável doutrina neoliberal dentro do Brasil.
            Um quarto fenômeno que magnetizou a minha atenção foi o relacionado com a extraordinária proliferação de motos como meio de transporte popular (particular e público) e do uso dos sofisticados telefones celulares nas principais cidades que percorremos: principalmente entre a população (de média e baixa renda) nas cidades de Salvador, Feira de Santana, Bomfim, Juazeiro, Petrolina, Casa Nova, Remanso, Paulo Afonso. Na cidade de Juazeiro e Petrolina, a marcante impressão que ficou foi a seguinte: quando estava nas ruas destas cidades não decorria um só minuto sem que visse a intensa circulação de diversas motos, perto e longe do espaço onde me encontrava fisicamente num determinado momento.

(Fim da primeira parte)
           

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