quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Os Estados Unidos e o assassinato de Lumumba



Completados 55 anos de seu assassinato, e, finalmente os EUA admitiram publicamente seus atos nesta sinistra e covarde execução!


"O tempo é senhor da razão” diz o provérbio, segundo o qual o passar do tempo esclarece todas as dúvidas. Foi necessário mais de meio século para os Estados Unidos admitirem sua responsabilidade no homicídio que vitimou Patrice Lumumba, líder da independência do antigo Congo Belga, cujas consequências o tornam um crime de lesa-humanidade. Hoje, já se sabe que o republicano Eisenhower ordenou diretamente a Allen Dulles, diretor da CIA entre 1953 e 1961, que Lumumba fosse eliminado.

A agência montou o “Projeto Wizard” e a missão só foi cumprida no início do governo do democrata John Kennedy, que destinou 500 mil dólares para pagamento das tropas e equipamentos militares, no Congo. Boa parte dessa quantia foi recebida pelos assassinos do primeiro ministro congolês. Em depoimento ao senado estadunidense, em 1975, o então presidente Lyndon Johnson afirmou que no momento em que o presidente dos EUA deu aquela ordem direta a Dulles, provocou no grupo presente à reunião um profundo silêncio que durou de 15 a 20 segundos. Há até pouco tempo, a gravação desse depoimento foi mantida oculta.

Financiado por Leopoldo II, o rei da Bélgica, em 1878, o explorador Henry Stanley chegou à África Central com a missão de fundar entrepostos comerciais com povos da etnia “Bantú”, distribuídos em algumas centenas de reinos, sendo os dois maiores o “Baluba” e o “Congo”. A descoberta de que as montanhas de Katanga, ao sul da região, guardavam milhares de toneladas de diamantes despertou a cobiça das nações européias e de seus aliados. A Conferência de Berlim, entre 19 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885, decretou que aquele território era uma possessão pessoal de Leopoldo II, responsável por um dos maiores genocídios da história da humanidade, e em 1908 foi oficializado como colônia da Bélgica, passando a se chamar Congo Belga.

Através de mineradoras multinacionais e da violenta força de repressão colonial, o Ocidente explorou o Congo e seus povos, na primeira metade do século 20, até surgir um líder eloquente e anticolonialista convicto chamado Patrice Émery Lumumba. Funcionário dos correios, nascido em 1925, em Sancuru, província de Kasai, ele fundou, em 1958, o MNC (Movimento Nacional Congolês). Em 30 de junho de 1960, o país conquistou a independência e a maioria dos colonos europeus fugiu. Realizaram-se eleições que tornaram Joseph Kasavubu presidente, e Lumumba primeiro ministro. Mas a busca de apoio institucional e militar na União Soviética revoltou os governos ocidentais.

O exército belga e a CIA, agora sob ordem do rei Balduíno I, financiaram as lideranças regionais para destituir o novo governo. Convenceram os habitantes de que Katanga, tão rica, não poderia ficar sob o domínio comunista. Dez semanas depois da posse, revoltas eclodiram em todo o país sob liderança de Moise Tshombe. A ONU enviou os boinas azuis da “Força de Paz” sob comando norteamericano. No entanto Lumumba foi sequestrado por mercenários, torturado e fuzilado diante dos “soldados da paz”. Ao assumir o poder, Tshombe enfrentou novas rebeliões. Houve golpes e contragolpes, até 1965, quando Mobutu Joseph Désiré tomou o poder e permaneceu por mais de três décadas.

A política de “africanização” de Mobutu, proibindo nomes ocidentais e cristãos, mudando a denominação do país para Zaire e a da capital de Leopoldville para Kinshasa, também incomodou o Ocidente, que o apoiava. Ele mudou até o próprio nome para Mobutu Sese Seko Koko Ngbendu wa za Banga, que significa “o todo-poderoso guerreiro que, por sua resistência e inabalável vontade de vencer, vai de conquista em conquista, deixando fogo à sua passagem”. Nas duas décadas que se seguiram, o país enfrentou a guerra civil. E então, os ocidentais passaram a financiar o oposicionista, Laurent-Désiré Kabila.

Vencido, em 1997, Mobutu fugiu para o Marrocos, onde morreu. Kabila assumiu o poder e o país voltou a se chamar República Democrática do Congo. O novo governo prometeu democratização, mas tomou medidas autoritárias, gerando novas revoltas, agora patrocinadas pelos governos de Ruanda e Uganda, conforme os interesses das potências ocidentais.

Laurent Kabila se manteve na presidência, graças ao apoio militar de Angola, Zimbabwe e Namíbia, até ser assassinado, em 2001. Em 2006, aconteceram as primeiras eleições presidenciais naquele país, depois de 40 anos. O vencedor foi Joseph Kabila Kabange, filho de Laurent, que ainda preside o país. Resta saber se a significativa indenização devida pelos EUA por sua responsabilidade no assassinato de Lumumba ajudará a fortalecer esse país “democrático” e ressarcirá os herdeiros daquele que foi um dos grandes líderes do continente africano no século 20.

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Um comentário:

Joelma disse...

Lumumba foi um martir, uma vítima... E o pior: a África cujo povo era muito mais civilizado do que apregoam o "colonialistas" como desculpa e justificativa para os seus atos insanos e cruéis, até os dias de hoje é o "cocô do cavalo do bandido" e não se emancipou de fato!
Pela EMANCIPAÇÃO da ÁFRICA... Pela LUTA CONTRA o RACISMO... Pela CONDENAÇÃO de CRIMINOSOS soltos por aí pelas ruas doo mundo. ABAIXO o IMPERIALISMO (que substituiu os colonialistas Vitorianos) ABAIXO a CULTURA HIPÓCRITA do Ocidente racista e sedento do sangue dos fracos e oprimidos!
POOORRAAAA, será que tantas décadas depois vou gritar ao vento as mesmas palavras de ordem de décadas atrás?
Que neste século 21 o chamado "continente negro" encontre a sua LIBERDADE definitiva, e não "mandelizada" como temos visto, a cabeça baixa, as lágrimas a rolar pelo nosso rosto, a conviver com a enrolação desta sociedade Ocidental Cristã!